Nosso Estranho Amor

63. Será possível uma reconciliação?

–Bom Ágatha… Creio que já tomamos muito do seu tempo e você deve ter muito trabalho pra fazer. –disse já começando a procurar as minhas chaves que nem eu mesma sabia onde havia largado.

–Tá me expulsando da sua casa, Giovanna? Hoje é meu dia de folga. –a ruiva indagou me deixando completamente sem graça.

–Não é nada disso, apenas não quero que perca seu tempo comigo… –disse me enrolando ainda mais com as palavras. –Se está de folga deve querer estar ao lado da sua namorada, passeando com ela… Não precisa se preocupar com a Iara, meus pais vão cuidar muito bem dela… –estava fazendo um papel ridículo falando sem parar.

–Giovanna, neste momento estou onde mais gostaria, ao seu lado. –a ruiva disse me surpreendendo. –Realmente imploro que você me perdoe por tudo o que falei pra Kathleen.

–Ágatha, todo mundo errou, vamos simplesmente passar uma borracha no passado. Juro que jamais imaginei que a Kat e a Iara se tornariam tão amigas, não forcei absolutamente nada, mas fico muito feliz por tudo o que está acontecendo. O importante é nos tratarmos bem, sem mágoas, brigas ou coisas do gênero. Não vamos estragar a amizade das meninas. –falei verdadeiramente o que pensava.

–Estou pagando pela minha própria boca. Lembro que quando estava na sua casa, naquela noite que dormimos juntas e acabamos discutindo… Eu disse que nossas filhas jamais seriam amigas, e que iria aceitar namorar com a Sabrina porque a Iara já estava gostando dela como uma mãe, mas estava completamente enganada. Além da Iara e da Kat virarem amigas, posso afirmar que a minha filha simpatizou muito mais com você do que com a Sabrina, nunca vi ela abraçar alguém tão forte como fez hoje. –a ruiva disse se aproximando mais de mim enquanto mordiscava o meu pescoço. Fui me afastando dela com uma força descomunal.

–Não quero que pense que estou me intrometendo muito na sua vida ou que estou querendo saber demais, mas Ágatha… Como justamente você que tinha tanta impaciência com crianças resolveu ser mãe? Confesso que fiquei bastante surpresa quando retornei de viagem e a Daniela me falou que você tinha uma filha. –comentei de maneira sincera.

–Giovanna, a maternidade me escolheu sem aviso prévio. Pouco tempo depois de ingressar na Promotoria fui chamada para investigar a acusação de maus tratos contra duas crianças pequenas, um menino de um ano e uma menina de quatro anos, a violência foi praticada pela própria mãe que era usuária de drogas e portadora de esquizofrenia. Os maus tratos foram tão graves que o Iago, irmão da Iara acabou morrendo pouco tempo depois. –Ágatha chorava emocionada durante o relato, eu também chorava, era muita maldade. –A Iara foi enviada a um orfanato para ser adotada, mas nós sabemos como é a realidade desse país,.. Crianças negras e mais velhas acabam sendo rejeitadas pela grande maioria dos casais… Por causa do trauma vivenciado, a Iara ficou algum tempo sem falar, até que quando ela completou cinco anos, durante uma intervenção em que eu estava presente, realizada com a assistente social e com a psicóloga, ela fez um desenho pra mim e disse que me amava porque eu era a única pessoa que tratava ela bem e que não ligava pra cor dela… –agora a ruiva já se desmanchava em lágrimas e eu também. –Depois desse dia não tive dúvidas de que iria lutar para conseguir a guarda dessa menina, foi muito difícil conseguir fazer ela me chamar de mãe, mas foi minha maior vitória quando consegui levar a Iara pra casa e ela passou comigo no aniversário de seis anos. Hoje luto na justiça pra conseguir a guarda definitiva dela, mas o fato de não ser casada acaba atrapalhando um pouco. Confesso que minha atitude de querer prejudicar a Kat na carreira foi extremamente descabida, mas já estava cansada de ver a Iara sendo maltratada, judiada primeiro pela mãe louca e depois por ser negra. –Ágatha nessa altura já chorava no meu colo, tentava limpar as minhas lágrimas e consolar, mas eu não conseguia, não parava de chorar com todo esse relato.

–Ágatha, não sei nem o que dizer depois de tudo o que ouvi. Mas posso afirmar que a Iara teve a maior sorte do mundo por te conhecer, você fez toda a diferença na vida dessa menina, foi você que ensinou pra ela o significado da palavra amor. Sabia que não estava enganada quando sempre te defendia e sabia que você não era uma pessoa ruim, violenta e possessiva como muitas pessoas queriam me fazer pensar. Você teve sim os seus erros, mas cara… Ágatha, você é linda e maravilhosa com um coração gigante, apenas precisa deixar transparecer esse lado. –disse acariciando os longos cabelos ruivos, mas na mesma hora a ruiva se sentou, entrelaçou nossas mãos e se pôs a me olhar demoradamente.

–Você diz isso porque é uma pessoa muito bondosa Gi, mas não sou uma pessoa boa. Te fiz muito mal. Você se afastou da família da Pietra que tanto te amava, da Daniela que é sua melhor amiga, perdeu o seu emprego por minha causa, acho que nunca vou me perdoar por causa disso… Várias foram as vezes em que vi que você tinha medo de mim, mas não era o seu medo que queria, era o seu amor. –Ágatha falava chorando e eu também chorava, não tinha como ficar imune. –Só que eu fiz tudo errado, absolutamente tudo. Eu sempre vi o meu pai tratando a minha mãe de maneira agressiva, egoísta, possessiva, controlando todos os passos dela e isso desde que era criança. Achei que isso era amor e dessa forma iríamos nos dar bem, mas eu estava errada, eu fracassei. –a ruiva continuava chorando.

–Meu bem, você não errou sozinha nessa história. Eu também errei e não foi pouco. Fui muito egoísta, fria e mesquinha, apenas me importava com os meus sentimentos, fiz a Pietra sofrer, mas principalmente você porque te coloquei no meio de um fogo cruzado. Ainda não sabia que te amava, aliás, te amo até hoje, mas mesmo assim queria você aprisionada a mim, estava bastante apegada. Sabia de toda sua insegurança e seus ciúmes, mas mesmo assim não agi de maneira correta. Naquela vez na boate… Fiquei possessa quando vi que a Elisa queria ficar com você e bati nela, mas eu não tinha nenhuma moral pra isso, nenhuma mesmo. –respondi enxugando algumas lágrimas que ainda insistiam em cair pelo meu rosto. –Inúmeras vezes provoquei brigas por achar que estava sendo traída, isso porque como eu era uma fraca, achava que você também seria cafajeste. Você pode ter errado, mas eu também contribui e muito para essa toxidade do nosso relacionamento.

–Ai Giovanna, parece que nós nos fizemos mais mal do que bem… –ouvi Ágatha sussurrar baixinho. –Hoje em dia você é capaz de ter certeza de quem ama ou se não ama ninguém? –a ruiva indagou mirando os meus olhos o mais fundo que podia. Os verdes e os olhinhos mel nesse momento apenas respondiam a todos os questionamentos com sinceridade. Dessa vez não havia sinais de orgulho e ciúmes, estávamos desarmadas.

–Ágatha, confesso que meu processo de amadurecimento demorou muito tempo, anos na verdade, mas volto a repetir o que já te falei antes na minha casa. O que mais tenho certeza nessa vida é do meu amor por você, pela Kat e pelos meus pais, e se você permitir, quero que todo esse amor se estenda para a Iara. Hoje percebo que sempre te amei, desde quando nos conhecemos deveria saber que você veio para ficar. Só que pela minha imaturidade e pelo meu egoísmo não fui capaz de perceber. Deveria ter compreendido de forma mais rápida que o que sentia pela Pietra não é e nunca foi amor, foi gratidão por ela e a família terem me tratado muito bem quando estive longe dos meus pais e pelos anos que ficamos juntas, paixão, um gostar de amigas, atração sexual, mas todos esses sentimentos chegaram ao fim, tiveram prazo de validade, só que o meu pensamento em você nunca passou, isso porque o amor não tem fim. Hoje percebo que quando deixei a escola de lado para viajar com você para Santa Catarina, não foi porque estava de saco cheio da escola e dos meus alunos, mas sim porque não queria permanecer longe do meu amor. –terminei o meu relato com os olhos banhados em lágrimas. Estava emocionada por tudo o que havia falado, por ter aberto meu coração dessa maneira tão sincera.

–Naquele bilhete que você deixou na minha cama antes de viajar, você disse que era para eu reconstruir minha vida e encontrar um novo amor, só que não deu Giovanna, simplesmente não deu… Porque você sempre esteve presente nos meus pensamentos, no meu coração, em cada parte de mim. Eu já havia encontrado o verdadeiro amor ao seu lado. Depois que você se foi, muitas mulheres passaram pela minha vida, quiseram namorar e até casar, mas não dava. Todas elas competiam com a sua lembrança, com esse sorriso que me bambeava as pernas, com esses olhinhos verdes mais brilhantes do que esmeraldas que sempre imploravam para que assistíssemos filmes de terror agarradinhas, com o seu jeitinho tímido, com esse corpo que era o único capaz de me proporcionar orgasmos deliciosos, com o seu puxão de orelha me alertando para reduzir o consumo de doces pra não ficar diabética ou com um dente cariado. –nessa hora Ágatha esboçou um sorriso me fazendo rir. –Todas conheciam apenas o lado arrogante e metido da promotora Médici, mas não a minha Giovanna. Somente a minha Gi era capaz de despertar a Ágatha doce e medrosa que tinha medo de altura, que sabia da minha loucura por doces e animais, que se apaixonou por mim pela minha pessoa, não pela minha beleza, profissão ou dinheiro. Além do mais, você sempre foi a única capaz de conquistar o meu coração e o coração do Enzo. –a ruiva terminou o relato ainda chorosa.

Aos poucos nossas bocas foram se aproximando, meu coração parecia não caber mais no peito. Com certeza iria acontecer um beijo até que um barulho no mínimo inusitado nos interrompeu.

–Ágatha, você está com fome. Vou preparar algo pra gente comer. –respondi rindo.

–Que vergonha! Não acredito que meu estômago resolveu me fazer passar esse mico. –a ruiva disse tímida me fazendo rir.

Como sabia do amor da Ágatha por doces, comemos algumas barras de chocolate que havia na geladeira, de quebra ainda comemos umas panquecas e esvaziamos uma vasilha de sorvete de morango.

–Meu pai vai me matar quando souber que acabei com o sorvete preferido dele. –respondi sorrindo.

–Depois você ainda diz que a louca dos doces sou eu, mas foi você que comeu mais. –a ruiva disse com um sorriso tão lindo que putz… Com certeza precisaria de um babador. –Gi, gostaria de te fazer uma pergunta…

–Pode falar. Respondo o que você quiser. –disse apertando aquelas bochechas rosadas.

–Eu percebi que você está sem a sua aliança… A Tainá estava na sua casa. Há quanto tempo vocês estão tão próximas? Tá rolando alguma coisa? –em outras épocas essas perguntas me deixavam irritadas, hoje me arrancavam risadas. Não acredito que a minha ruivinha estava com ciúmes da Tainá.

–Sim Ágatha, está rolando algo entre a gente… –disse e notei o olhar de pânico da ruiva. –Está rolando uma grande amizade. A Tainá e eu trabalhamos na mesma empresa, nos reencontramos logo que voltei pro Rio. No início fiquei cismada em sermos amigas, mas aos poucos ela e o namorado foram demonstrando que eram de confiança. A Kathleen andava muito rebelde, os sobrinhos da Tata, principalmente o Cadu ajudaram muito a minha filha a se socializar melhor. E se eu não estou mais usando aliança é porque já tem um tempinho que eu e a Pietra demos entrada no nosso pedido de divórcio, só está restando assinarmos os papéis. –Ágatha não conteve o sorriso depois de ouvir essa informação. –Eu sei que não tenho o direito de me meter na sua vida Ágatha, mas a Tainá mudou muito. Vocês eram muito amigas, acho que tá na hora de se entenderem. Não deixa essa amizade linda morrer.

–Sim, tentei negar para mim mesma durante todos esses anos, mas morro de saudade da minha melhor amiga. Acho que você e a Daniela precisam retomar essa amizade mesmo com as diferenças entre a Kathleen e a Paula, vocês podem ajudar as meninas. Você me ajuda com a Tainá e eu te ajudo com a Dani. Que tal?!

–É uma excelente ideia, mas acho que já chega de falar dos outros. –disse acariciando os longos cabelos ruivos do amor da minha vida.

–E sobre o que você pretende falar, loirinha?  –Ágatha disse se aproximando mais de mim e mirando minha boca.

–Não sei, deixo a sugestão com você…

Nem pude terminar de falar e a ruiva passou o chocolate derretido sobre a minha boca para em seguida encostar seus lábios nos seus. Dessa vez, não estávamos com pressa, no início foi apenas um beijo tímido onde sentia o toque dos nossos lábios e sentia mordidinhas no meu lábio inferior. Posteriormente abri um pouco a boca e minha língua foi devorada pela língua da Ágatha. Durante nossos beijos lágrimas rolaram de nós duas, esperamos ansiosamente esse momento há muitos anos.

Aos poucos a ruivinha foi colocando o peso do corpo sobre o meu me fazendo gemer abundantemente. Queria sentir aquele corpo gostoso colado no meu, por isso tentava desesperadamente tirar o vestido de Ágatha, mas sem sucesso. Percebendo minha falta de jeito, a ruivinha tratou de tirar o traje indesejado, assim como se desfez da minha saia e da minha blusa. Fiquei com água na boca quando vi aquela deusa nórdica apenas com uma lingerie preta extremamente sensual. O desejo era tanto que logo nossas roupas ficaram jogadas por aquela casa.

Ágatha gostava de me dominar e eu não tinha do que me queixar. A deliciosa promotora desceu enchendo meu corpo de beijos e chupões, passando pelo meu pescoço e chegando até meus seios onde se pôs a chupar demoradamente. Logo aquela língua afoita percorria habilidosamente toda a extensão da minha vagina e eu apenas sabia gemer horrores, não era só sexo, algo carnal, estava fazendo amor com a mulher da minha vida. Não demorou para inundar a boca da ruiva com o meu líquido.

Queria retribuir todo prazer que apenas a ruivinha era capaz de me proporcionar, então mais do que depressa me enfiei entre aquelas pernas, antes de devorar aquela maravilha, cheirei seu sexo, era lá que estava meu cheiro preferido, o cheiro da minha mulher. Passei algum tempo fazendo carinhos deliciosos naquele clitóris, mordiscando demoradamente até sentir Ágatha gozar na minha boca e me puxar para perto do seu corpo.

Fiquei recostada sobre o tórax da Ágatha sentindo seus carinhos no meu cabelo e sentindo seu coração bater tranquilamente mesmo com uma dona agitada. Não sabia o que dizer, no fundo estava com medo de que a ruiva não me quisesse ao seu lado mesmo depois de todo o sofrimento que vivenciamos por causa dos nossos erros.

–Amor, será que agora que você vai se divorciar da Pietra… Nós estaremos livres para começar uma nova vida e recuperarmos todo tempo perdido? –a ruiva indagou timidamente.

–Isso é um pedido de namoro Srta. Médici? –perguntei encarando aquela ruiva linda o mais fundo que podia.

–Sim, bem, é… Se você aceitar, não sei… –foi impossível não rir com a fala embaraçosa da Ágatha.

–É claro que aceito meu anjo, mas prefiro primeiro assinar todos esses papéis do divórcio e você também trate de se livrar daquela sem sal da Sabrina. Aquela mulher é muito nojenta. –falei em um tom de raiva.

–Parece que alguém foi mordida por um bichinho chamado ciúmes. –a ruiva brincou tirando onda com a minha cara. –Não sabia que librianos eram ciumentos.

–Não é ciúme, é cuidado. –falei bagunçando os cabelos do meu amor.

–Então ciumentinha, quero que você coloque esse sexo bem no meu rosto. Tô louca pra te beber novamente. –a ruiva disse já batendo na minha bunda e me arrancando gemidos.

Oi meninas, tudo bem? Estão gostando da história? Acreditam que esse será o início de uma reconciliação entre a Gi e a Ágatha ou tá bom demais para ser verdade? Já sabem que os comentários, críticas e sugestões de todas são mais do que bem-vindos. Até sábado!



Notas:



O que achou deste história?

4 Respostas para 63. Será possível uma reconciliação?

  1. Que seja reconciliacao, por favor. Lindo o capítulo.
    Precisamos de amor
    , de histórias assim pra nos inspirarmos.

  2. Esperei tanto por esse dia. To explodindo de paixão pelas duas. Obrigada Nath por nos proporcionar uma leitura que nos deixa cheias de sensações incríveis.

    • Acho que nesse capítulo ficou inegável perceber o quanto as duas se amam.
      Muito obrigada pelo comentário e pelo carinho em saber que estar gostando da história.
      Beijos 🙂

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