Nosso Estranho Amor

64. Infelizmente, estava bom demais para ser verdade.

Os dias que se seguiram foram os melhores da minha vida, a amizade entre minha neném e a Iara crescia cada vez mais, Kat continuava bastante empenhada nas gravações da novela, de uma criança egoísta e mimada, realmente agora estava mais amistosa e doce com todo mundo. Pietra retornou de viagem, inicialmente não ficou nada feliz com a proximidade da Ágatha com Kathleen, mas depois que ficou a par de tudo o que aconteceu por mim e pela boca grande chamada Natalie, a engenheira relaxou mais e concordou com a amizade das meninas. Enquanto Ágatha e Tainá se reconciliaram, Dani e eu também retomamos a grande amizade existente entre a gente, no começo foi difícil porque Paula implicava e muito com a minha filha, mas aos poucos fomos nos entendendo. Definitivamente não rolaria uma amizade entre Kat e Paulinha por causa do bendito Eric, só que pelo menos ensinamos as duas a se respeitarem.

Confesso que no fundo me remoía de ciúmes porque a Ágatha disse que iria dar um basta no namoro com a tal Sabrina, mas não foi bem o que vi acontecer, muito pelo contrário… Nas redes sociais as duas continuavam em um relacionamento sério mesmo que todos já soubessem que eu e Pietra não estávamos mais juntas. Por falar na morena, nos próximos dias, eu, Kat e minha ex-esposa embarcaríamos para os Estados Unidos a fim de resolver todo trâmite legal da nossa situação e sobre a guarda da nossa filha, passaríamos cerca de duas semanas no país.

–Ágatha, eu quero saber se você e essa mulher realmente vão se separar ou se você tá me fazendo de besta. –falava chateada vendo uma foto que a tal Sabrina havia acabado de postar agarrando o pescoço do MEU amor.

–Giovanna, eu vou me separar. Quando você voltar de viagem tudo estará resolvido na mais perfeita ordem. –a ruiva rebatia do outro lado do celular, mas não sentia firmeza na sua voz. Era como se a Ágatha estivesse dividida entre continuar namorando a Sabrina e nos dar uma nova oportunidade.

Com essa simples conversa terminei de me arrumar para a viagem e retornei para o país em que vivi por anos, a diferença que agora sabia que seria para arrumar minha vida, não bagunçar. Todo o processo burocrático não foi tão complicado quanto pensei que seria. Pietra e eu nos divorciamos amistosamente e optamos pela guarda compartilhada da nossa filha. Nessas semanas ficamos na casa que optamos por não vender, o imóvel iria para as mãos da Kathleen futuramente e ela resolveria o que julgasse ser melhor. Estávamos a poucos dias de voltarmos para o Brasil quando conversávamos animadamente no sofá da ampla sala após Kat ter ido dormir.

–Cara, ainda não acredito que você vai ficar morando mesmo no Rio. Pensei que ficaria em Atlanta ou Nova York. –disse rindo observando seu visual rock roll.

–Pinguim, não faria o menor sentido. Minha família está no Brasil, trabalho na construtora… E o principal, a Kat está morando no Rio, não teria condições de ficar me dividindo entre dois países.  –conhecia muito bem a engenheira para saber que havia algo a mais nessa história.

–Pietra, trate logo de falar a verdade. Tem alguma mulher na parada, né? Você cortou seu cabelo, voltou ao estilo de muitos anos atrás, anda toda feliz sorrindo que nem boba para a tela do celular. Desembucha! Quero saber quem é a felizarda.  –disse enchendo minha ex-esposa de cócegas.

–Seu faro está mesmo certo. Durante o Congresso de Engenharia, conheci a Elyse. –a morena não escondia seu sorriso apaixonado. –Ainda estava um pouco abalada com a notícia da separação aliado ao fato que nunca gostei de saltos. Quando subi no palco para ministrar uma palestra, acabei me desequilibrando e caí em cima de uma garota e derramei café nela. Ela me chamou dos piores nomes, mas eu só prestava atenção no movimento daquela boca e no quanto queria domar a fera. No fim daquele dia ela veio me pedir desculpas, disse que estava estressada por causa do TCC e acabou descontando em mim, aí começamos a nos tornar amigas, tô gostando muito dela. Nunca pensei que iria gostar de alguém bem mais jovem do que eu. –fiquei muito feliz com todo esse desabafo da morena.

–Agora fiquei curiosa. Qual a idade dessa menina? Já rolou algo a mais? Aposto que ela deve ser loira, você sempre teve uma queda por loiras. Ela é do babado? –falei com um sorriso maroto.

–A Elyse tem 22 anos, tá terminando o curso de engenharia civil. Minha atração maior era por loiras, mas a Lyse é negra, muito mais gata do que a própria Thaís Araújo, aquele sorriso colgate me desconcerta. Ela é lésbica e defensora assídua do movimento LGBT, apesar da pouca idade, é extremamente madura. Até agora só rolou dois beijos entre a gente, ela fica se fazendo de difícil, mas quando voltar ao Brasil vou conhecer os pais dela. –morria de rir da empolgação da minha ex-esposa. –Quero também levar a Kathleen pra conhecer a Lyse.

–Se já conquistou a mãe, agora tem mais é que conquistar a nossa loirinha. Pietra, eu fico extremamente feliz por saber que você está seguindo com a sua vida e não guarda mais raiva ou mágoa de qualquer coisa que tenha acontecido entre a gente, e sempre me senti culpada por não conseguir corresponder ao seu amor. Espero que seja muito feliz com a Elyse. –respondi sem graça.

–Giovanna, não vou negar que ainda te amo e não sei se um dia vou deixar de te amar, mas reconheço que o nosso momento, a nossa história já terminou, e não terminou com esses papéis de divórcio assinados, terminou desde o dia em que você conheceu a Ágatha na minha casa, desde aquele dia o coração de vocês já estavam entrelaçados para ficarem juntas, eu é que não queria aceitar. Por falar nisso, vocês já se acertaram? A Kathleen fica falando pra todo mundo que a promotora Médici é a nova madrasta dela. Vocês estão namorando? –Pietra indagou me deixando pensativa.

–Eu não sei. Depois que todo mal-entendido foi esclarecido entre a Kat e a Iara, nós conversamos bastante nos próximos dias. A Ágatha disse que terminaria com a Sabrina enquanto eu estivesse nos Estados Unidos, mas não é isso que estou vendo. Hoje mesmo entrei no perfil dela e as coisas continuam do mesmo jeito. As duas estão namorando… –respondi visivelmente desanimada e decepcionada.

–Pinguim, assim que você voltar para o Brasil, tenha uma conversa mais do que definitiva com a Ágatha. Se ela ficar te enrolando e não te quiser, faça a fila andar. Ela não é a única mulher desse mundo e que estaria interessada em você. Não tô dizendo que é pra sair por aí namorando, mas se alguma gata quiser ficar contigo e você sentir atração, não fique a mercê dos desejos e dos caprichos da promotora. –a morena falou me alertando e sabia que ela tinha razão.

Dois dias depois já estava de volta no Rio de Janeiro. Nesse dia minha filha ficaria com a Pietra, então aproveitei que sair mais cedo do trabalho e fui ao apartamento da Ágatha. Qual não foi a enorme surpresa desagradável quando chego no local e a porta é atendida por Sabrina totalmente a vontade com um short curto, uma blusa folgada e descalça. A mesma não escondeu o desagrado em me ver ali.

–Posso saber o que você quer com a minha namorada? –minha vontade era de esganar aquele rostinho de porcelana. –Ela está no banho.

–O assunto a tratar é apenas com a Ágatha, não tenho absolutamente nada para falar com você.

A mulher me fuzilava com o olhar, mas estava pouco me lixando. Cerca de vinte minutos depois Ágatha apareceu vestida em um robe de seda, ainda com os cabelos molhados, completamente gostosa. Ela não escondeu a surpresa por me ver ali.

–Giovanna, o que você tá fazendo aqui? Por que não me disse que estava vindo? –a ruiva indagou sem jeito.

–Precisava falar com você, achei que não faria mal algum vir sem avisar. Podemos conversar?

–Amor, o dia de hoje não estaria reservado apenas pra nós duas? Você não anda me dando atenção, e justo hoje que a Iara está na casa dos seus pais você vai me ignorar? –Sabrina indagou me deixando perdida se a ruiva havia ou não comentado alguma coisa sobre o término do namoro delas, pois não era o que parecia.

–Sabrina, por favor, me espera no quarto. Vou conversar com a Giovanna e prometo que não demoro. –a ruiva falou me surpreendendo.

Assim que a namoradinha da promotora nos deixou a sós na sala, aguardei que Ágatha pudesse falar alguma coisa, mas como não foi o que aconteceu, o jeito seria eu mesma começar essa conversa.

–Será que você pode me explicar o que foi essa ceninha romântica e de ciúmes protagonizada pela Sabrina? –perguntei fingindo uma calma que estava longe de sentir.

–A Sabrina é minha namorada, falei toda a verdade pra ela sobre o nosso relacionamento de muitos anos atrás, é perfeitamente normal que ela sinta ciúmes. –a ruiva falou me surpreendendo.

–Ágatha, será que você não lembra da conversa que tivemos antes da minha viagem? Você afirmou que iria conversar com essa mulher e se separariam. –falei lembrando do quanto fiquei feliz com essa notícia.

–Só que eu mudei de ideia, Giovanna. Eu vou continuar o meu namoro com a Sabrina e futuramente pretendo me casar com ela. A Sabrina será tão mãe da Iara quanto eu. –nessa hora tive vontade de abrir um buraco e me enterrar. Foi muito doloroso ouvir essa revelação do amor da minha vida.

–O que você tá falando? Não faz isso com a gente… –sussurrei sentindo algumas lágrimas molharem o meu rosto. –Você não me ama mais? –indaguei encarando os olhos castanho-claros o mais fundo que podia.

–Giovanna, não se trata de uma questão de amor, na verdade se trata de confiança. Você me traiu duas vezes enquanto estivemos juntas, tinha medo de mim. Depois que terminamos, e você já estava com a Pietra, voltamos a transar dias antes do seu casamento e quando você voltou a morar definitivamente no Brasil. Nossa relação sempre foi extremamente tóxica. Até hoje faço terapia para controlar os meus acessos de raiva e por sorte vem dando resultado. Hoje estou mais madura e não quero uma relação repleta de mentiras, traições, ciúmes, desconfianças e brigas desnecessárias. Não é esse o exemplo que quero dar para a minha filha. –Ágatha comentou calmamente.

–Amor, eu sei que nós duas não nos fizemos bem, nós erramos bastante, mas o que custa nos dar mais uma chance? Vamos tentar e fazer valer a pena dessa vez. Eu também tenho meus momentos de fúria que estão sendo controlados graças à ajuda da psicologia e graças a Kathleen, a maternidade vem me fazendo amadurecer bastante. Será que você não consegue enxergar as coisas sobre o meu ponto de vista? –tentava de qualquer jeito apelar para os sentimentos da Ágatha.

–Giovanna, se nós não nos fizemos bem no passado, nos machucamos e nos magoamos, não é agora que seria diferente. Com você ao meu lado, fico mais insegura e vulnerável. Não tenho a certeza necessária de que o término do seu casamento foi porque você não ama a Pietra ou se foram por causa de novas traições ou por ela ter deixado de te amar. A gente volta a namorar e você voltar a ter recaídas com a sua ex-esposa não é o que quero pra minha vida. Demorei muito para me reerguer e não quero voltar a cair. –a ruiva comentou emocionada.

–Ágatha, entenda que eu não amo a Pietra, inclusive ela já está até com outra mulher que conheceu no Congresso, só sinto pela minha ex um grande carinho e amizade. Se você me der uma oportunidade não te trairei novamente, serei a namorada que nunca fui, mas preciso apenas de uma chance para que eu possa te mostrar o quanto mudei, hoje sou capaz de ser verdadeira com as pessoas, entender quem eu amo, e o amor da minha vida é você. –disse ainda sentindo algumas lágrimas nublarem o meu rosto.

–Agora que entendi tudo. A Pietra está com outra pessoa, vocês se divorciaram pra ela ficar com outra mulher, você ama ela, mas agora eu sou sua segunda opção já que ela não te quer. –não pude esconder minha insatisfação diante de tudo o que ouvi.

–Porra, para de se fazer de besta ou escutar apenas a parte que te convém. Você ouviu a parte que disse que você é o amor da minha vida e quero uma nova oportunidade ao seu lado? –perguntei sem esconder minhas lágrimas.

–Claro que ouvi, mas que garantia eu tenho de que é verdade o que você falou? –Ágatha perguntou menos desarmada.

–Ágatha, você tem a minha palavra, quero te fazer feliz…

–Desculpa, mas pra mim sua palavra é a mesma coisa que nada, não consigo mais acreditar nas suas falsas promessas. –não consegui disfarçar meu olhar magoado diante da fala da ruiva.

–Antes você dizia que o que nos impedia de sermos novamente felizes era porque havia a Pietra no nosso caminho, nossas filhas não se davam bem, nossas famílias não iam gostar, mas tudo se resolveu. Meus pais super já apoiam a gente, a sua mãe também gosta de mim, seu pai nunca foi com a minha cara, mas saberia conviver com esse fato. Você poderia ao menos ser sincera e dizer que não quer nada comigo ao invés de jogar a culpa para os outros. –disse limpando minhas lágrimas. Não iria mais me humilhar pela ruiva.

–Tem razão, Giovanna. Se nós não vamos voltar a ter um relacionamento não é por causa das nossas famílias, da Iara ou da Kathleen, mas simplesmente porque definitivamente não consigo mais confiar em você, e não vai rolar um namoro sem confiança que é um dos ingredientes principais de qualquer relação. –chorei diante da contestação desse fato, mas sabia que era verdade.

–Posso pelo menos tentar te reconquistar e provar o quanto mudei e sou uma nova pessoa? –indaguei um pouco esperançosa.

–Não Giovanna, não construa falsas esperanças. Se você me ama tanto assim, respeite minha decisão. Me deixa seguir com a minha vida ao lado da Sabrina e da minha filha, não seja um obstáculo na nossa relação. Foi a Sabrina que ficou ao meu lado quando você viajou e me ajudou a ser alguém melhor. Por favor, esqueça de mim! –a ruiva falou e notei lágrimas banharem o meu rosto. Não esperava por essa decisão do meu amor.

–Está bem, Ágatha. Se você está começando a se apaixonar pela Sabrina e ela é tão importante na sua vida, só me resta desejar boa sorte e que possam ser felizes mesmo que isso doa em mim. Adeus! –ainda ia desmoronar em um choro sofrido, mas que fosse longe daquele apartamento onde não era bem-vinda.

Oi meninas. Será mesmo que será o fim do romance entre a Gi e a Ágatha e cada uma delas irá seguir o seu caminho separadamente? O que acham que vem por aí? Conto com os comentários de vocês, eles são muito importantes para mim.

Beijos 🙂



Notas:



O que achou deste história?

4 Respostas para 64. Infelizmente, estava bom demais para ser verdade.

  1. Nossa tava tudo tao acertado entre as duas.
    Creio que Gi merece uma chance. Até porque elas se amam. É ter voltar a ter uma conversa franca, e restabelecer a confiança.
    Quero elas juntas.

    • Com traições e mentiras não era de se impressionar que a Ágatha perdesse a confiança na Gi, mas nem tudo tá perdido… Só dá tempo ao tempo.
      Beijos 🙂

    • Penso da mesma forma,Karine. Isso nos desmotiva muito. Não consigo entender essa mudança abrupta de ideia da Agatha. Cheguei a pensar que ela fez isso por conta da guarda da Lara… Tipo, se a Sabrina teria ameaçado ela ou algo do tipo… Mas levando em consideração que a Agatha é promotora de Justiça, não deixaria se intimidar.

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