Nosso Estranho Amor

65. Minha vida sem a Ágatha

A decisão da promotora estava tomada, não haveria mais futuro ao lado do amor da minha vida, e o que poderia fazer diante dessa escolha? Ficar extremamente revoltada, estragar o relacionamento dela e fazer a ruiva voltar para mim a qualquer custo? Se fosse no passado a resposta seria sim, faria de tudo para que as coisas saíssem do meu jeito e como bem queria, algo que valia para os meus namoros e até vida profissional, mas o meu amor pela Ágatha não permitiria que agisse de maneira tão baixa, fria e egoísta, apesar de tudo, amava essa mulher de verdade, deixaria a minha ruivinha seguir tranquilamente sua vida.

Após o meu divórcio com a Pietra, a princípio fiquei indecisa se moraria na enorme casa que tinha na região metropolitana, a qual sempre funcionava como um refúgio para mim, ou se voltaria a morar com os meus pais. Considerando que a Kat não dormia comigo todas as noites visto que a guarda era compartilhada e era obrigada a ficar sozinha naquele casa enorme e com meus pensamentos voltados para a Ágatha, optei por morar com a dona Grazi e o Sr. Marcos, pelo menos até estar emocionalmente mais forte para lidar com a rejeição da ruiva, minha mãe era meu maior apoio nesse momento. Graças a Deus o Renan estava morando com a família bem longe dali, não teria meu irmão para me infernizar.

Fazia dois meses que tive a conversa definitiva com a minha ex-noiva, nesse período não trocamos mais uma palavra sequer, apenas a via de longe chegando à escola acompanhada da Iara e da tal Sabrina, e precisava me controlar para não chorar, minha vontade era de mudar minha filha de escola e resolver todos meus problemas, mas é óbvio que meu nível de imaturidade não chegaria a esse ponto, ainda mais agora que via a Kathleen se socializar tão bem com as crianças da mesma idade, ser uma verdadeira menina de ouro.

Para fugir dos pensamentos que a todo momento buscavam a ruivinha passei a dar muito mais atenção à minha filha e me afundar no trabalho, realizando inúmeros cursos para me qualificar no ramo da administração, não era a toa que consegui duas promoções dentro da Empresa, um prêmio de melhor funcionária do mês e meu salário aumentou significativamente, e eu não sabia mais o que fazer com tanto dinheiro. E foi em uma noite como tantas outras que estava assistindo um filme com a Kat no meu colo, lhe dando um achocolatado na mamadeira que dona Graziela interrompeu o nosso momento.

–Kat, por favor, me deixe a sós com a sua mãe. Preciso conversar com a Gi. –minha mãe não estava deixando espaço para dúvidas.

–Por que vovó? O filme tá legal, então quero pelo menos minha chupeta. –minha filha dizia procurando o objeto na prateleira.

–Você não tem mais idade para usar chupeta. Vá jogar dominó com o seu avô!

–Posso sair do quarto, mas vou brincar de boneca, não dominó, não gosto. –minha filha rebateu.

–Anjinho, o que sua avó quer dizer é que precisamos ter uma conversa de adulto. Você pode ir brincar do que quiser desde que não faça muita bagunça. –disse rindo do rosto emburrado da minha princesa.

–Sendo assim eu vou, e sabem que não faço bagunça, isso é coisa de bebê… Com licença mãe e vó. –Kathleen disse saindo do meu quarto ainda com a mamadeira e eu morria de orgulho da minha menina que cada vez estava mais educada, comportando-se como uma verdadeira mocinha apesar da pouca idade.

Percebi que minha mãe estava bastante calada e me encarava de maneira curiosa, não sabia exatamente o que pensar ou qual seria o rumo daquela conversa.

–Mãe, você poderia parar de me olhar tanto e dizer sobre o que quer conversar? Qual é o problema? –indaguei meio sem jeito.

–Não é um problema, quero que entenda que são vários, Giovanna! Mas acho melhor começarmos por partes.

–E por onde pretende começar? –indaguei suspirando fundo.

–De madrugada a Pietra me ligou, ela está extremamente preocupada com a Kat. Sabe que ontem a minha netinha foi dormir na casa da minha ex-nora, né?!

–Claro que sei, a Pietra também é mãe da Kathleen, só não sei porque ela está preocupada com a nossa filha. A Kat está com ótimas notas, tem amigos, a carreira dela continua decolando… –nem pude terminar de falar e dona Graziela me interrompeu furiosamente.

–Giovanna, você sabe que não suporto quando tenta fugir de conversas muito sérias, você tá querendo sair pela tangente, mas não vou deixar. A Pietra está estranhando porque a Kat não quis ir dormir no próprio quarto, dormiu apenas com ela. Se já não bastasse esse fator preocupante, a Kathleen só está dormindo com chupeta e voltou a usar mamadeira. No fundo não é a minha neta que está me preocupando, mas sim você Gigica. Sua filha tem seis anos, mas está tratando a menina como se fosse um bebê de meses, até na maneira que você fala com ela, e nós sabemos exatamente o porquê de tudo isso, indiretamente está descontando sua tristeza e sua carência na Kat trazendo a menina para dormir na sua cama depois dela ter um quarto lindo. –minha mãe falou me fazendo perceber a seriedade do assunto. –A Pietra acha que a Kat está com algum problema, mas nós sabemos que o foco do problema está em você. Não vou negar, tive muita vontade de abrir o jogo com a sua ex sobre tudo o que está acontecendo, mas a Pietra ainda te ama e com certeza não seria justo contar sobre o quanto você está sofrendo pela ausência e pela negativa da Ágatha. Por isso estou aqui numa boa para conversarmos, você não pode continuar desse jeito. –minha mãe iniciou uma conversa e já iria cortar o mal pela raiz, não estava a fim de tocar nesse assunto.

–Mãe, eu já entendi o recado. Não se preocupa que a partir de hoje vou conversar com a Kat pra ela ir dormir no quarto dela, retirar a mamadeira e a chupeta se isso tá preocupando tanto a Pietra e você. Mas, agora preciso terminar algumas planilhas da empresa.

–Giovanna, já disse que é você o maior foco da minha preocupação. Não quero te ver se afundando no trabalho ou procurando fugas. Filha, você ainda é jovem, reconstrua sua vida. Seu mundo não deve girar ao redor de Ágatha Médici, ela não deve ser o ar que você respira. –só de ouvir esse nome fiquei mais do que chateada.

–Acontece que a Ágatha é a única mulher que sou capaz de amar mesmo contra a minha vontade e sabendo que ela não me quer. Tentei há muitos anos reconstruir minha vida ao lado da Pietra e apenas fiz a morena sofrer, não vou me envolver com outra pessoa, colocar outra mulher no meio da minha bagunça emocional. –disse já sentindo lágrimas nublarem meu rosto.

–Essa mulher nunca te fez bem, foi completamente abusiva, ciumenta, insegura, não esteve ao seu lado quando mais precisou, na sua gravidez e nem quando estive internada, esse amor não faz o menor sentido, não consigo entender porque nunca foi capaz de amar a Pietra que faz de tudo por você… –não ia permitir que minha mãe falasse mal da ruiva, por isso lhe cortei logo de uma vez.

–Mãe, o amor não precisa fazer sentido, por mais estranho que seja, nós apenas o sentimos. E já está na hora da senhora saber que foi a Ágatha que salvou a sua vida, o rim que te mantém viva hoje em dia é o dela. Ela deu a maior prova de amor doando o órgão e sem fazer alarde do ato heroico que teve, a Pietra demonstrou um nível extremo de egoísmo, de me querer ao lado dela de qualquer forma. Sabe por que o amor da minha vida não contou sobre a verdade antes? Porque ela quis me deixar livre pra eu poder escolher quem amava, a Pietra sabia de toda a verdade desde o início e acabei me deixando levar confundindo atração sexual e paixão com amor. Eu me casei com a Pietra, ela me queria ao lado dela de qualquer forma, mas isso apenas resultou na infelicidade de ambas, nessa guerra não houve vencedores. –nessa hora o choro parece que não iria me abandonar tão cedo. Mesmo em estado de choque diante da descoberta de quem salvou sua vida, minha mãe veio para  perto de mim me abraçando apertadamente e se colocando a chorar junto comigo.

–Confesso que estou bastante surpresa diante dessa descoberta e preciso qualquer dia agradecer sua ex-noiva, mas isso não me impede de ficar chateada com essa promotora por te fazer sofrer…

–Mãe, eu menti para a Ágatha, traí ela, quebrei a confiança dela, não agi de maneira correta desde o início com a única mulher que amo. A minha ruivinha era uma pessoa muito doce e fofa no início do nosso relacionamento, mas eu transformei a Ágatha naquela pessoa insegura e ciumenta. –disse me arrependendo amargamente de todos meus erros. A única coisa que queria nesse momento era ter o dom de voltar ao passado e arrumar tudo.

–Gigica, o passado não volta. Você teve sim os seus erros, mas estava disposta a mudar e mostrar para a Ágatha a nova pessoa que você se tornou, principalmente depois da maternidade. Ela não quer dar uma nova oportunidade para tentarem, devemos respeitar a decisão dela, mas não deve ser motivo para você passar o resto da sua vida com remorso, se culpando e se impedindo de ser feliz. Pode não mudar seu passado, mas mude seu futuro. –minha mãe disse enquanto limpava cada uma das lágrimas que teimavam em escorrer pelo meu rosto. Sabia que ela tinha razão.

Depois daquela conversa bastante importante que tive com a minha mãe sabia que precisava mais do que nunca colocar em prática os seus conselhos, estava na hora de crescer. Com certeza a parte mais difícil era na reunião de pais/responsáveis, festas escolares e quando precisava levar minha filha ao apartamento da Ágatha para brincar com a Iara ou realizar algum trabalho da escola, Sabrina não dava trégua, marcava território direto para que não me aproximasse da ruiva de jeito nenhum. Por vezes, Dani e Tainá tentaram dar uma forcinha para que eu e a Ágatha pudéssemos ficar juntas, mas logo que percebiam meu enorme desagrado diante da situação desistiam. Sei que as intenções das nossas amigas eram as melhores, mas ninguém deveria se intrometer em um assunto que dizia respeito apenas a mim e a Ágatha.

Um ponto que me machucou bastante foi quando Kat também percebeu minha infelicidade por não estar perto da ruivinha e recebi mais uma notícia inesperada.

–Mãezinha, por que não arruma uma namorada? Não acha a mãe do Nando bonita? Ia ser legal se namorassem. –Kat indagou certa vez enquanto lhe ajudava a decorar um texto da novela.

–Dona Kathleen, posso saber por que está tão preocupada com esse assunto? A mãe do seu amiguinho é muito bonita, mas isso não quer dizer nada. Tenho uma filha muito linda, talentosa, família, amigos, um emprego que amo, estou bem desse jeito meu anjo! –não queria por nada nesse mundo que Kat se preocupasse comigo.

–Uma vez você falou que não é legal mentir, mas agora tá mentindo pra mim. Sei que não está feliz, mamãe. Você não namora a mãe do Nando porque ama a Ágatha, mas precisa seguir em frente e não se prender a algo que não tem mais volta. –Kathleen falou tão convicta e madura que por um instante suspeitei que ela sabia de algo que não me contou.

–Acho que você tá amadurecendo rápido demais. Não esqueça que tem apenas seis anos, mocinha. Tá querendo me dizer algo? –perguntei de maneira brincalhona, mas não esperava a resposta que ouviria de Kat.

–Hoje, na escola, a Iara me falou que a mãe dela e a Sabrina iam se casar, viajar e que ela vai ganhar um irmão, acho que elas vão ter um bebê. Parece que a Ágatha tá grávida. –fiquei pálida diante dessa fala. A Ágatha estava gestante? Como isso aconteceu e de maneira tão rápida?

–Você tem mesmo certeza do que ouviu, Kat? –perguntei ainda em estado de choque.

–Sim, mamãe. Por isso acho que você deveria namorar e fazer essas coisas nojentas que os adultos gostam com a mãe do Nando. –mais uma notícia que não esperava receber.

–Meu anjo, agradeço de coração a sua preocupação comigo, mas pode ter certeza de que a mamãe vai superar e você pode ficar tranquila. –disse pegando minha filha no colo e enchendo a loirinha de beijos.

Depois dessa notícia de que a Ágatha provavelmente seria mãe novamente, mais do que nunca tentava me afastar dela em todos os lugares possíveis. Pude contar com a compreensão da Pietra e dos meus pais, então sempre que tinha alguma atividade envolvendo a Kat e a Iara juntas, eu me afastava ao máximo.


Oi meninas, tudo bem? Cá estou de volta. Sei que muitas devem querer me fuzilar desde o capítulo passado, mas se coloquem no lugar da Ágatha. Será mesmo que ela ia confiar na Giovanna depois de tudo o que ela fez, das mentiras, traições, etc? Não se preocupem que com o passar do tempo tudo vai se encaixando. Apesar da história ser ficção, muitas coisas procurei colocar próximo da realidade e a nossa evolução como ser humano e o próprio perdão não acontecem do dia pra noite. Podem dar um sinal de vida e comentar mesmo que seja pra xingar a autora kkkkk. Beijos!



Notas:



O que achou deste história?

6 Respostas para 65. Minha vida sem a Ágatha

  1. Cara autora, primeiramente gostaria de agradecer por você nos presentear com essa história. Haverão elogios? Muitos. Críticas também. Mas quero que você olhe pelo lado bom. Nós, leitores, estamos lendo sua escrita, que por sinal é ótimo. Não pense que as críticas são pra te colocar pra baixo nem para te desanimar a escrever. Muito pelo contrário, críticas construtivas só nos ajudam a crescer, pois são a partir delas que é possível melhorar.

    Eu gostaria muito que em minha vida as pessoas que comigo convivem fizessem criticas construtivas em minha vida.

    Tem uma frase de Santo Agostinhoque eu gosto muito e carrego comigo desde o dia que eu escutei. ” Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem”

    Beijos de luz.

    • Bom dia, moça! Muito obrigada por esse comentário carinhoso. Confesso que as vezes a falta de criatividade dá as caras e perco a inspiração para escrever, então nem sempre os capítulos vão sair da maneira que gostaria, então sou bem receptiva a críticas e elogios, é sempre bom saber onde posso melhorar.
      Muito obrigada pelo comentário.
      Beijos 🙂

  2. Concordo do tempo. Do perdão. Mas ter outra criança no caminho sei não.
    A vida já estar tão cheia de desamor. Ao menos por aqui podia ser tudo um mar de rosas.

    • Bom dia, moça!
      Isso da criança está apenas na teoria, uma suposição, algo que a Kat ouviu por aí, vamos ver…
      Obrigada pelo comentário.
      Beijos 🙂

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