Nosso Estranho Amor

9. Conhecendo melhor a Ágatha

Assim que estava saindo do restaurante senti uma mão me pegar por trás pela cintura impedindo que eu fosse embora.

–Giovanna, onde você pensa que vai? Sei que me atrasei muito, mas nosso almoço ainda tá de pé, não tá?

–Ágatha?? -apenas balbuciei me virando para ela, não esperava que ela fosse aparecer.

–Eu mesma, parece até que tá vendo fantasma. Vamos almoçar?

–Tá achando que eu sou alguém fácil e que você pode manipular para atender todas as suas vontades? Nosso almoço era há muito tempo atrás, agora preciso retornar pra escola, daqui a pouco estarei em sala de aula. -respondi chateada.

–Giovanna, não foi minha intenção atrasar, sempre sou pontual. Estava no fórum em uma disputa de guarda familiar de uma criança de dois anos que sofria maus tratos, no outro lado da cidade, a audiência demorou mais do que imaginava, você não imagina o quanto estou cansada mentalmente. Não vai me dizer que viajei de carro por mais de uma hora pra você me tratar dessa forma. -Ágatha estava indignada e eu balançada.

–Tá usando uma criança de dois anos e a parte dos maus tratos pra amolecer meu coração?

–Não, só tô contando a verdade, mas se amolecer vou ficar feliz. -respondeu com aquele sorriso que me desarmava mesmo em meio ao semblante cansado.

–Ágatha, não tô mais chateada, mas mesmo assim preciso voltar pra escola, nessa tarde quatro turmas me esperam.

–Você já almoçou?

–Não, tinha até perdido a fome. Por quê?

–Será que você não arruma ninguém para dar essas aulas no seu lugar? Entra em contato com a escola e inventa qualquer desculpa. Hoje a tarde também tenho dois clientes pra atender, mas posso ligar pra minha secretária e desmarcar, qualquer coisa pra passarmos a tarde juntas. -me etei com essa atitude da Ágatha.

–Não sei, será que isso não seria uma atitude pouco racional? Nós temos nossos compromissos profissionais e…

–Gi, entenda que as vezes é necessário deixar o racional de lado e fazer pequenas loucuras que alegrarão nossos dias.

–Tá bom, você me convenceu.

Enquanto a Ágatha entrava em contato com o escritório dela, eu ligava para a escola inventando que estava com dor de cabeça e não poderia dar aulas, como nunca havia faltado antes, a diretora me liberou para descansar, e o Jair, nosso monitor de português daria aula no meu lugar.

–Pronto linda, sou toda sua. -respondi para a ruiva. -O que vamos fazer?

–Por enquanto vamos almoçar, depois vou te raptar. -me lançou um olhar sacana enquanto entrelaçava nossas mãos direitas.

–Devo me preocupar? -perguntei rindo.

–Não, você estará em boas mãos.

Fizemos nossos pedidos, algum tempo depois já estávamos almoçando, notei que a ruiva adorava uma comida calórica, de sobremesa ainda pediu um mousse de chocolate.

–O que foi? -Ágatha perguntou reparando que não parava de olhá-la.

–Você é muito boa de boca, literalmente. -respondi mordendo os lábios.

–Modéstia a parte, mas sou mesmo. Você que o diga, minha boca te fez gozar muitas vezes. -pela primeira vez não estava envergonhada na frente da Ágatha, estava curtindo as sacanagens que ela falava.

–Reconheço esse seu talento também, mas quero dizer… Você come muito, como consegue manter esse corpaço todo em forma? Faz muita academia? -indaguei curiosa.

–Sou sedentária ao extremo, não faço academia e nem qualquer outro esporte, mas há pessoas que são privilegiadas pela genética, eu sou uma dessas.

–Se eu for comer tudo o que quero vou ficar muito gorda, engordo até se beber água. -respondi rindo.

–Você fica gatinha de qualquer jeito. Agora podemos ir?

–Claro.

Fomos andando em direção ao carro da Ágatha que fez o favor de abrir a porta do veiculo para eu entrar, de quebra ainda prendeu o cinto de segurança.

–Você é uma verdadeira dama. Obrigada anjo! -pode parecer bobo, mas nenhum dos meus ex-namorados ou a Pietra havia aberto a porta do carro para mim ou tido qualquer outra atitude gentil.

–Não há de quê, prepare-se para isso e muito mais. -já dentro do carro pudemos nos beijar.

–Já estava com saudades dessa boca e dessa língua. Ainda não me disse para onde vamos. -disse enquanto a Ágatha dava a partida.

–Se não se importar gostaria de te apresentar a minha casa, lembra que ainda quero conversar contigo.

–Tá bom.

Cerca de uns vinte minutos depois estávamos em um dos bairros coloniais e tradicionais da cidade. A Ágatha estacionou em frente a uma casa grande e bem antiga, porém muito bem decorada de dois andares. Assim que entramos reparei na decoração da casa, uma mistura de pintura barroca com alguns traços cubistas.

–Sua casa é muito linda e bem decorada. -disse analisando cada canto daquela bela sala de estar.

–Meus pais são arquitetos, então não poderia ser diferente. -respondeu rindo, e que riso delicioso.

Mesmo a contragosto, Ágatha me deixou preparar nosso almoço (sim, ela me convenceu a almoçar novamente para que tivéssemos muita disposição…). Enquanto íamos almoçando resolvi começar uma conversa para conhecê-la melhor.

–Com quem você mora, bebê? É só curiosidade mesmo. -a casa era muito grande para a Ágatha morar ali sozinha.

–Adoro quando me trata desse jeito tão carinhoso. Moro com meus pais, o Enzo, a minha irmã e meu cunhado. -Ágatha me respondia carinhosamente enquanto almoçávamos.

–Você só tem uma irmã? -indaguei curiosa.

–Não, nós somos quatro irmãos no total, dois casais, meus irmãos moram bem perto, jantam aqui quase sempre. A Alana é a primeira na lista com 32 anos, depois vem esta linda pessoa que vos fala com 26, meus pais continuaram tentando visto que queriam um filho homem, então Deus multiplicou o problema deles por dois, enviou os gêmeos Arthur e Alexandre que hoje estão com 22 anos.

–Você só tem um sobrinho? -continuei perguntando.

–Sim, até hoje só a Alana teve coragem de encarar esse desafio que chamamos de maternidade, o Enzo é apenas um, mas é como se valesse por vários. Mas por que todas essas perguntas, princesa? -Ágatha me encarou com aqueles olhos mel.

–Só vontade mesmo de te conhecer melhor, saber sobre a sua vida. -respondi timidamente.

–Agora quero saber sobre você, Gi. O que ainda não me contou?

–Minha vida não é tão interessante assim. Tenho apenas um irmão, ele é mais velho do que eu e meu melhor amigo, moro com ele. Sempre me considerei hétero, tive namorados na adolescência e no inicio da vida adulta, depois conheci a Pietra, assumi nosso namoro para os meus pais, eles não aceitaram e fui expulsa de casa, desde então nunca mais falei com eles. -disse lembrando da humilhação que sofri pela minha família. -Hoje trabalho como professora, mas também sou formada em administração.

— Menina inteligente… -a ruivinha não largava minha mão por nada. -Não consigo entender porque alguns pais têm essa atitude tão homofóbica, parece que o preconceito supera todo tipo de amor que deveriam sentir pelos filhos. -Ágatha comentava indignada.

–Você sempre soube que era lésbica? -perguntei curiosa.

–Sim, desde a pré adolescência me sentia atraída pelas meninas, sentia vontade de beijá-las e fazer coisas a mais com elas se é que me entende. -Ágatha sorriu marotamente. -E todos esses desejos nunca senti pelos meninos.

–E sua família aceitou numa boa?

–Meus pais e até alguns tios disseram que sempre desconfiavam da minha sexualidade, o importante para eles é que eu seja feliz, então sempre respeitaram minha orientação sexual. O problema mesmo é que já tem alguns anos que meus pais e até os meus irmãos ficam cobrando pra eu apresentar uma namorada, eles querem me vê casar, dá pra acreditar nisso?

–É perfeitamente normal, Ágatha. Você é uma mulher linda, educada, inteligente, então por que não apresentar uma namorada pra eles? É bom sentir o coração acelerar e se sentir nos céus, isso é se apaixonar.

–Coração acelerar? Isso parece mais inicio de ataque cardíaco fulminante. -a ruiva brincou e eu comecei a rir.

–Boba! -disse ainda contendo o riso. -Vai dizer que nunca se apaixonou por ninguém ou teve vontade de apresentar uma nora para os seus pais?

–Como boa sagitariana sempre fui desapegada das mulheres, durante todos esses 26 anos de vida nunca havia me apaixonado por ninguém, mas como pra tudo existe uma primeira vez na vida, acho que isso tá prestes a mudar. -a ruiva disse me puxando para mais perto dela.

–E por que você acha isso? -perguntei me sentando no colo da ruiva, de frente para ela.

–Sabe a sensação de frio na barriga e coração acelerado? Você começou a me fazer sentir isso e muito mais desde a primeira vez em que te vi. -respondeu pousando a cabeça no meu ombro.

–Ágatha, então por que você fugiu de mim? Te dei meu número, minhas redes sociais e você nem ao menos enviou uma mensagem. Se não fosse pelo fato do Enzo ser meu aluno, acho que nunca mais iriamos nos falar. Não entenda como uma cobrança até porque você não me deve explicações, é mais uma dúvida mesmo. -queria entender o que se passava naquela cabecinha ruiva.

–Certa vez alguém já falou que nosso instinto de proteção nos instiga a fugir daquilo que não conhecemos, foi justamente o que aconteceu comigo. Desde o dia fatídico em que você me pegou na cama com a sua ex, a enorme culpa que senti por está te fazendo sofrer mesmo que involuntariamente, seu modo simples e ao mesmo tempo irresistível, seu sorriso, vontade de te proteger… Desde que te vi não consegui mais sequer beijar, sentir a menor atração por qualquer outra mulher, passei a ficar mais em casa até meus pais estranharam, não teria graça ir pra balada, vê várias meninas e você não tá por perto, percebi que estava lascada, pela primeira vez na vida estava completamente apaixonada, tentei me afastar, mas não deu certo, de uma forma ou de outra o destino nos uniu novamente. -com todo esse desabafo da Ágatha senti uma enorme vontade de abraça-la, beija-la e dizer que tudo o que ela sentia por mim era reciproco, e era o que eu iria dizer.

–Linda, acho que nem nos meus melhores sonhos poderia imaginar que fosse correspondida dessa maneira. -em vão tentava conter as minhas lágrimas, mas era impossível, eu estava bastante emocionada. -Confesso que na primeira vez que te vi a minha vontade maior era de te bater, mas depois que nos encontramos no restaurante e que te conheci melhor, não parei sequer de pensar em você. Estava muito ansiosa para que você pudesse me ligar e pudéssemos sair outras vezes, como isso não aconteceu, achei que havia desistido e até tivesse conhecido mulheres mais interessantes. Passei todo o mês de julho ansiosa pra te vê novamente, você sumiu, então achei que nem lembrasse mais de mim. -terminei timidamente baixando o olhar, o qual a Ágatha tratou de levantar.

–Eu também esperei que você me ligasse, como isso não aconteceu, até pensei na hipótese de que você estava namorando com a Pietra novamente e…

–Não fale mais nada, mocinha. Depois do nosso primeiro beijo nem Pietra e nem qualquer outra pessoa do mundo faria com que eu te esquecesse, seria impossível.

–Tem uma parte dessa casa que adoraria te mostrar, é o meu lugar preferido. -Ágatha disse entrelaçando nossos dedos.

–E qual seria esse lugar?

–O meu quarto. -recebi um olhar safado.

–Suas intenções não são nada boas, né ruivinha?! -disse grudada a Ágatha.

–Na verdade são as melhores possíveis, você é a primeira pessoa além da minha família é claro que deixo entrar aqui. -a ruivinha disse enquanto adentrávamos no quarto dela, na verdade era uma suíte.



Notas:



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