— Como é que eu nunca vi isso? — Vanieli perguntou, mais para si do que para Lenór.

As duas seguiam por um corredor estreito e empoeirado, adornado por teias de aranha e restos mortais de pequenos roedores.

— Eu passo metade do dia na biblioteca! — Ela exclamou, deixando escapar uma expressão que misturava incredulidade e ironia.

Quando Lenór saiu do quarto, ela decidiu que não conseguiria mesmo dormir, então se trocou e foi para a biblioteca. Estava agachada, analisando as possíveis leituras daquela noite, quando Lenór entrou na biblioteca sem percebê-la. Ela se dirigiu para o fim do salão onde, oculta por uma prateleira abarrotada de pergaminhos e livros, havia uma tapeçaria empoeirada e puída que camuflava uma porta.

A passagem levava até uma salinha atulhada com uma diversidade de objetos, que iam desde uma coleção de livros roídos por ratos, até espadas e facas enferrujadas. Para a imaginação fértil de Vanieli, aquelas coisas tinham sido o pequeno tesouro sentimental de alguém. Provavelmente, pertenciam ao falecido Senhor do Castelo, Lorde Caldes. Entretanto, não foi para admirar objetos antigos, poeira e ferrugem que Lenór foi até ali.

Na parede oposta à porta havia suportes que sustentavam uma pequena coleção de armas, claramente feitas pelo mesmo artesão. Havia uma espada longa e outra curta, punhal e facas com o mesmo tipo e modelo de empunhadura. Eram objetos bem trabalhados, mas nada que pudesse ser chamado de impressionante, exceto quando Lenór tentou retirar uma das três facas do suporte. A arma não se soltou, em vez disso, ouviu-se um clique e a parede se moveu, revelando outra passagem.

Foi nesse momento que Vanieli se fez perceber e quando Lenór tentou fazer com que retornasse para a biblioteca, alegando que o local para onde estava indo era potencialmente perigoso, a moça decidiu que ela não iria se livrar da sua companhia.

— Não faça tanto caso por isso. — Disse a comandante, interrompendo o passo e usando a tocha para iluminar a escadaria íngreme à frente. — A procura de Rall pela nascente que abastece a cidade rendeu mais que uma situação indigesta com os zaidarnianos. Há mais ou menos um mês, ele encontrou a entrada de um túnel entre as raízes de uma grande árvore. Esse túnel nos levou a outros e todos passam sob a cidadela. Desde então, estamos explorando. Procuramos as plantas do castelo e qualquer outra informação que pudesse nos nortear a respeito dessas passagens, contudo, nada encontramos. Sondei Enzio sem revelar do que se tratava, entretanto ele se mostrou ignorante a respeito de qualquer possível rota de fuga secreta, caso o castelo viesse a ser atacado.

Fitando os poucos degraus que a luz amarelada e tremeluzente da tocha permitiam ver, Vanieli franziu o cenho.

— Você tem razões para desconfiar de Enzio? — Indagou.

— Eu não confio em ninguém deste lugar, Vanieli. Ainda não sei o que está se passando por aqui, mas estou certa de que isso tem a conivência dos locais. Se não todos, alguns. Estive em vários lugares deste mundo, ouvi dezenas de lendas e histórias. Algumas reais, outras inventadas, Porém, nada tão confuso e desconexo como o que se conta por aqui. — Passou a mão no queixo antes de pousá-la sobre o cabo de uma das espadas na cintura. — E agora esses zaidarnianos andando pelas nossas terras como se fossem os donos delas. É coincidência demais para o meu gosto.

Ela parecia mesmo irritada com o fato de que ainda não tinha alcançado todas as respostas que buscava. Vanieli concordava que ela poderia estar certa sobre a ajuda interna, contudo, preferia acreditar na honestidade daquela gente sofrida.

Mesmo assim, não podia negar que seus instintos também a alertavam para a presença de algo estranho e perigoso na cidade.

— Enfim, há dois dias descobrimos que um dos túneis vinha até aqui. — Lenór prosseguiu, apontando para a escadaria, que descia em direção a uma escuridão silenciosa. — Essas escadas terminam em um salão abaixo do castelo, onde existe meia dúzia de galerias que levam a outras galerias. É um verdadeiro labirinto.

Enquanto Vanieli fitava os degraus estreitos, tentando desvanecer a estranha agitação que a tomava, ela explicou:

— É mais fácil vir aqui à noite, quando não estou em evidência e pensam que me encontro desfrutando de um sono tranquilo nos braços da minha bela esposa Kamarie. Adel tem me ajudado com isso.

Um suspiro de concordância escapou de Vanieli, enquanto passava a mão pelos tijolos empoeirados da parede.

— Nossas ações não deixam de ser reportadas para as lideranças dos clãs. — Falou, resignada. — Uma das cartas que recebi da minha mãe, me questionava sobre o meu comportamento “escandaloso” ao beijar você em público. Ela pediu para que fôssemos mais comedidas.

Se mostrou envergonhada e, ao mesmo tempo, indignada com o fato, embora compreendesse as preocupações maternas. Lenór pousou a mão no seu braço, em um carinho rápido.

— Estou certa de que Damna Jeine não quis repreendê-la. Como sua mãe, é natural que esteja preocupada. Ainda mais, perante a situação atual do reino.

Algum tempo após a partida delas da capital, várias mulheres solicitaram o direito de entrar para o exército, além de casais formados por pares iguais terem assumido seus relacionamentos publicamente e exigido o direito ao casamento. Esses corajosos eram poucos, porém expressivos, visto que alguns pertenciam à nobreza. Elas tinham recebido relatos preocupantes sobre agressões verbais, ecamentos e até mesmo assassinatos.

Espelhando o gesto de Vanieli, Lenór soltou um suspiro pesaroso.

— Sei o que está pensando, — disse ela — mas nada disso é nossa culpa. Grandes mudanças sempre vêm acompanhadas de grandes oposições. Cardasin acabará se acostumando a esses novos tempos.

— Saber disso, não torna a situação menos triste e odiosa. — Vanieli declarou, mordiscando o lábio inferior para conter sua revolta.

A face da comandante se tornou melancólica e Vanieli resolveu retornar ao assunto que as levou até ali no meio da noite.

— Esqueçamos isso por um tempo, está bem? Vamos nos focar aqui. — Fez um gesto rápido, que envolvia as paredes estreitas a sua volta. — Termine de me contar sobre isso.

Com um inclinar de cabeça positivo, Lenór continuou suas explicações:

— Bem, ainda é apenas uma desconfiança. Todavia, acho que os nossos “amigos” fantasiados da floresta são os responsáveis pelas histórias de criaturas e maldições que afligem este lugar. Afinal, eles se esforçaram bastante para parecerem seres místicos, quando nos atacaram e ao meu irmão.

— Já tinha pensado sobre isso, também. — Vanieli contou. — Se disfarçarem revela a existência de outro objetivo, além do assassinato de Mirord e o nosso. Creio que é justo supor que, reforçar as histórias de criaturas e maldições, faz com que o Castelo do Abismo permaneça isolado do resto do reino. Correto?

— Você não é apenas um rostinho bonito, Kamarie. — Lenór a provocou. — Cheguei à mesma conclusão. Porém, ainda não sou capaz de imaginar o real motivo para todo esse teatro.

Vanieli varreu o chão poeirento com o pé, enquanto mordiscava o lábio. Era um gesto inconsciente, que Lenór apreciava assistir.

— Imagino que você também já pensou sobre isso. Ou, talvez não. Pode ser apenas uma bobagem da minha cabeça. Todavia, preciso lhe perguntar. Acha que esses inimigos misteriosos são de Zaidar?

— Acho que existe uma boa chance de que sejam. — Lenór foi sincera.

Depois do que houve com Rall, na floresta, essa ideia se tornava cada vez mais sólida para a comandante. Ela tornou a fitar a escadaria empoeirada, onde a falta de manutenção permitiu que alguns degraus começassem a rachar nas beiradas.

— Passei um bom tempo me questionando a respeito. Zaidarnianos ou não, ainda me intrigava como poderiam entrar na cidade para sabotarem a ponte sem serem percebidos.

— Acredita que estão usando esses túneis?

— Sim. — A comandante confirmou. — É praticamente uma certeza, desde que Rall os encontrou. Até agora, mapeamos túneis que nos levaram até a praça central, aos dormitórios militares, à base da muralha e ao castelo.

Vanieli se recostou na parede, passando a vista pelo teto escuro e bolorento.

— Suas noites têm sido bastante agitadas, ultimamente. — Era perceptível sua mágoa por ter sido deixada de fora das novidades. — Tudo isso me parece perfeitamente plausível, porém não explica como conseguem derrubar a ponte. Precisariam de muito tempo e um pequeno exército para realizar tal feito. Ainda assim, alguém os teria visto.

— Aí é onde entram as noites de lua cheia. — A esposa apontou. — Você, com certeza, sabe e sente que a magia é mais forte nessas noites.

— Espera um pouco, Lenór! — Ela agitou as mãos. — Acredita que há magos envolvidos? Mas o povo de Paludine odeia magos! Se estivermos falando mesmo de Zaidar, é ainda pior. Usar magia por lá tem a morte como punição.

Uma expressão cética dominou o rosto da comandante. Ela deu de ombros, balançando a tocha para afastar um inseto que escalava a parede em que a esposa se recostava.

— O ódio é facilmente deixado de lado diante da necessidade, Vanieli. É uma questão de encontrar o motivo certo. Contudo, isso não passa de conjectura e abre mais questionamentos do que responde aqueles que já temos. De todo modo, ordenei ao Capitão Elius que dispusesse homens de confiança nos túneis, enquanto houver lua cheia. Estou indo até lá inspecioná-los. Por isso, acho que não é bom você me acompanhar. Se minhas suposições estiverem corretas, é muito perigoso.

Vanieli fez um gesto vigoroso.

— Nem comece! Agora que me instigou, quero mesmo ver esses túneis. Além disso, para que andou me ensinando artes marciais de Barafor, se não confia em mim ao seu lado?

— Não se trata de confiança. Sabe bem disso. Só não quero que se machuque. Adel disse que…

— Hm, Adel! – Vanieli a cortou. – Certamente, você preferiria que ela estivesse aqui, e não eu.

— Afinal, qual é o seu problema com Adel? — Lenór quis saber, deixando de lado o que pretendia dizer.

A face morena da esposa revelou traços desconfortáveis. Porém, Vanieli soou firme na resposta:

— Há algo nela que me faz desconfiar. — Cruzou os braços. — Eu ainda não sei o que é; não entendo bem essas impressões que me assaltam em alguns momentos. Todavia, sempre que estou na presença dela, uma ideia fica martelando na minha mente: Tenha cuidado com ela, é perigosa! Eu sinto muito se não consigo evitar isso e acabo externando meu desconforto para você dessa forma.

Passou a mão na face, fugindo do olhar curioso da esposa.

— Ah, esqueça! Não é hora pra discutir coisas assim. Vamos ver esses túneis de uma vez!

Sem dar chance para que Lenór respondesse, ela apontou para as escadas e indagou:

— Então, por que não me contou sobre isso antes?

Ciente de que tentar demovê-la da ideia de acompanhá-la era um esforço inútil, Lenór lhe ofereceu uma mão como apoio e iniciaram a descida das escadas.

— Tome cuidado. Não parece, mas esses degraus são bastante escorregadios. — Alertou, antes de responder: — Não contei, porque você não estava bem. Os pesadelos não a deixavam descansar e se encontrava dispersa. Até mesmo nossas aulas de defesa se tornaram custosas para você. Não absorvia as lições, tampouco conseguia se manter fisicamente disposta à prática. Então, achei que seria melhor não oferecer outra coisa para manter a sua mente trabalhando.

Fez uma pausa breve, tomando cuidado para não pisar na beirada instável de um dos degraus.

— Me sinto aliviada por você estar melhorando. — Contou. — Cheguei a temer que todo esse esgotamento a deixasse doente.

— Graças a você! — Um sorriso se desenhou no rosto de Vanieli. — Não tenho ideia do que você faz, mas as suas mãos são…

Como demorou a encontrar um adjetivo adequado, Lenór completou a frase:

— Prazerosas?! — Ela exibiu um sorrisinho lento e cafajeste.

A mão de Vanieli apertou a dela e as duas chegaram ao fim da descida. Sem dar importância a onde estavam, a moça disse em tom leviano:

— Não era a palavra que estava buscando, porém concordo com essa definição. Depois da dor, há mesmo um momento de prazer e relaxamento, quando você encerra esse “ritual”.

Ela chegou mais perto da esposa, com ar divertido.

— Por sua causa, acho que estou me tornando algum tipo de pervertida. Primeiro a dor, depois o prazer! Chego mesmo a ansiar por isso!

A comandante deixou escapar uma gargalhada alta e jocosa, atirando a cabeça para trás.

— Imagine o que mais essas mãos poderiam fazer com o seu corpo! — Lenór brincou e, ainda rindo, colocou a tocha em um suporte na parede.

— Às vezes, dá uma vontade de aceitar suas provocações, apenas para comprovar o seu exagero e poder passar isso na sua cara depois!

— Estarei ao seu dispor, quando você não estiver brincando. – Lenór falou, acompanhando seu olhar atento e curioso pela galeria em que se encontravam.

Tratava-se de um vão, quase do tamanho do saguão de entrada do castelo. De fato, não havia nada espetacular ali. Todavia, as diversas entradas para túneis escuros e misteriosos, atiçavam a curiosidade. Elas estavam espalhadas pelo lugar, em espaços regulares, como se aquele vão fosse o coração de um emaranhado de caminhos.

Vanieli continuou no assunto, passando as mãos no cabelo para retirar uma teia de aranha.

—  Estou certa de que isso seria verdade, não fosse o fato de que você não me vê como uma opção para ser sua amante. Estou enganada?

Fez uma careta para a teia, quando se livrou dela.

— Nós brincamos muito com a natureza da nossa relação. Mas é só isso, um gracejo que nunca irá adiante. Contudo, confesso que a ideia chegou mesmo a passar pela minha cabeça. Seria somente prazer, nada de romance. — Riu baixinho, observando a reação de Lenór, todavia ela se mostrava muito séria. — Mas você deixou muito claro, mais cedo, que aprecia o romance e eu não sou mulher para isso.

— É um grande passo para alguém que parecia estar em pânico diante de uma cama, há alguns meses. — Observou a Azuti.

— Você mesma me aconselhou quando nos casamos. — A Kamarie retrucou. —  “Aproveite toda e qualquer experiência que surgir”, são suas palavras, Lenór. E em tão pouco tempo de convivência, você tem me proporcionado inúmeras oportunidades de aprendizado. Esta seria apenas outra, entre as muitas coisas que tem me ensinado.

Ela mostrou um sorriso provocante, enquanto a esposa estreitava o olhar, adivinhando suas intenções. Lenór ficou assim por um momento, então mostrou um sorriso jocoso para ela e disse:

— Boa tentativa, Kamarie.

Por sua vez, Vanieli caiu em um riso alegre e quase infantil.

— Naaa… Você acreditou! Mesmo que por um momento, acreditou que eu estava falando sério. Admita!

Lenór voltou a se aproximar dela.

— Que bom que gosta de se divertir às minhas custas. — Ironizou.

— Só um pouquinho! — Vanieli fez um gesto com a mão, aproximando os dedos indicador e polegar, enquanto piscava para ela. — Você precisava ter visto a sua cara!

A comandante balançou a cabeça sorrindo devagar. Ela juntou as mãos às costas, mirando a entrada de um dos túneis, enquanto dizia:

— Você sabia que, na maioria das vezes, brincadeiras escondem desejos reais?

Relembrou rapidamente a conversa com Rall na biblioteca. Era duro admitir que ele podia estar certo. Contudo, o que o amigo lhe disse não era nenhuma novidade para ela. Grande parte da sua melancolia nos últimos dias, vinha da consciência do fato de que quanto mais tempo passava com Vanieli, mais percebia o quanto se sentia solitária.

Esteve sozinha por tanto tempo, apegada às lembranças, arrependimentos e dores, que esqueceu como era estar com alguém e dividir momentos de cuidado e companheirismo como os que estava vivenciando com Vanieli.

Rall tinha razão, depois da morte de Najili, ela se afastou das pessoas e rejeitou qualquer possibilidade de ter um contato mais íntimo com alguém. Sua vida passou a girar em torno de Gael e, somente por ele e Rall, não entregou-se completamente ao desânimo de se sentir, mais uma vez, à parte do mundo.

Casar-se com Vanieli, assim como afirmou para o amigo, era conveniente para alcançar seus objetivos de ajudar Mardus e vingar a morte de Mirord. Só precisariam fingir um bom relacionamento, enquanto isso. Contudo, “fingir” era o que menos faziam. Sem perceber, Vanieli tornou-se um refresco em sua vida. E a amizade que compartilhavam, como Rall bem observou, começava a tomar outros rumos para Lenór.

Vanieli interrompeu o riso, voltando a sentir um incômodo semelhante ao de mais cedo, na biblioteca particular dela. Lenór a fitava da mesma forma que naquele momento. Limpou a garganta, deixando o riso de lado, embora seu semblante permanecesse suave.

— Fale apenas por si, Lenór. Para mim, não passa de brincadeira, como tantas outras que já fizemos sobre o assunto.

Lenór inspirou fundo, com ar resignado e afastou as lembranças das palavras de Rall. 

— Tem certeza? — Indagou. — Pergunto, porque me parece mais que isso, às vezes. Por exemplo, penso que toda essa sua desconfiança em relação a Adel…

— Ah, lá vem você de novo, metendo Adel na conversa! — Vanieli bateu o pé. — Até parece que teria ciúmes dela contigo! Só estava mexendo com você, assim como gosta de brincar comigo. — Garantiu, pousando as mãos nos ombros dela com ar provocativo.

— Verdade? — Lenór insistiu. — Posso comprovar isso?

Outra vez, Vanieli notou algo estranho no jeito que a esposa a olhava e achou por bem encerrar a discussão. Sorriu, em meio a uma piscadela e fez menção de se afastar, porém, Lenór não permitiu.

A comandante colocou as mãos na sua cintura e a trouxe para mais perto, até que não sobrou espaço entre seus corpos. Ela deslizou a mão por suas costas, até alcançar a nuca e um arrepio percorreu o corpo de Vanieli quando percebeu que, dessa vez, Lenór iria realmente beijá-la.

Lenór a segurou firme, ainda lutando contra o desejo de ir adiante, pela segunda vez naquele dia. O combate não durou muito, e ela pousou os lábios sobre os de Vanieli.

Foi um beijo muito diferente daquele que trocaram meses antes, quando a Kamarie quis ganhar uma discussão. Dessa vez, foi Lenór a se apossar da boca dela que, embora rígida no início, acabou sucumbindo ao contato e retribuiu o beijo com ardor.

Os lábios da comandante eram tão vorazes que Vanieli chegou a gemer de prazer entre eles.

Por sua vez, Lenór a empurrou contra a parede próxima e suspirou de satisfação ao ouvir novo gemido dela que, apesar da ausência de palavras, praticamente implorava para que fosse adiante. E, antes mesmo de imaginar o próximo passo, ela puxou os cabelos fartos e cacheados de Vanieli, fazendo com que ela lhe oferecesse o pescoço para o seu deleite.

Escorregou os lábios na pele perfumada, esquecida de onde estavam e o que foram fazer ali. Pressionou a perna entre as coxas dela, fazendo Vanieli soltar novo suspiro. Então, escorregou a mão livre para dentro da blusa dela e encontrou a pele sedosa e arrepiada ao seu toque. Dessa vez, foi a própria Lenór que liberou um sussurro prazeroso ao tatear os seios intumescidos de excitação, enquanto Vanieli enfiava a mão entre seus cabelos, desfazendo parte da trança, que findava na altura da nuca.

 

 

 

 

A cabeça da comandante girava, entregue à enxurrada de sensações que o corpo transmitia e já esquecida que três longos e dolorosos anos tinham se passado, desde que quis tocar alguém daquela forma.

Ergueu a face e vislumbrou um sorriso nos lábios de Vanieli, que vagava entre o desejo e a incerteza. Aquilo a fez perder a confiança no que fazia. E, de repente, era Najili quem estava entre os seus braços, parecendo tão confusa e assustada como ela própria se sentia.

Essa visão, de um passado não tão distante, a fez se afastar de Vanieli, como se tivesse tocado em brasa ou, pior, cometido o maior dos pecados.

Ofegante e emudecida, Lenór encarou os olhos quase dourados da esposa, que parecia tão desconcertada quanto ela pelo o que esteve prestes a acontecer naquele lugar frio e sombrio. Lenór acalmou a respiração baixando o olhar para o chão. Ela não sabia o que era sentir vergonha por suas ações há muito tempo, contudo, naquele momento era só nisso que pensava. Tinha vergonha por ter se deixado cair na provocação de Vanieli, por ter se achado no direito de beijá-la tão ardentemente e por ter se sentido tão bem com isso.

Recompondo-se, ela forçou um sorriso eloquente e disse:

— Não é o meu método costumeiro para comprovar um ponto, mas neste caso acho que serviu ao propósito. Não acha?

Ainda ajustando as vestes, Vanieli empinou o nariz, abrindo um sorriso pretensioso.

— A única coisa que você conseguiu comprovar é que eu estou há muito tempo sem satisfazer minhas necessidades e um beijo um pouco mais intenso já me deixou queimando como uma fogueira!

— O beijo de uma mulher. — Lenór recordou.

Vanieli riu baixinho, embora estivesse realmente embaraçada. Alisou os cabelos, recolocando os fios no lugar. Disse, de forma brejeira:

— Admito que você fez a brincadeira se voltar contra mim com maestria. E agora estou quase desejando torná-la uma proposta real.

Ela riu novamente, tentando afastar o nervosismo.

O que começou como uma simples brincadeira, transformou-se em um momento verdadeiramente prazeroso e, nesse ponto, ela não brincou quando disse que aquele breve instante quase a fez considerar tornar-se esposa de Lenór no sentido mais puro de um casamento. Bem ali, recostada àquela parede. Mas tudo não passou da vontade do corpo de ter um momento de luxúria após tanto tempo sem isso.

Por sua vez, Lenór caminhou até o meio da galeria com a esperança de afastar a euforia que a dominava. Eram tantos sentimentos, que tornou-se sufocante ficar ali por mais tempo. Tomou a direção do túnel onde estavam os soldados e Vanieli acompanhou seus passos.

— Você está bem? — Vanieli indagou, de repente.

A comandante inspirou fundo e voltou-se para a esposa.

— Estava apenas pensando que as suas convicções não são tão fortes assim. — Falou em tom provocativo, a fim de disfarçar sua própria perturbação.

Vanieli riu, constrangida. Pensava em uma resposta adequada, quando uma sensação desagradável percorreu seu corpo. Ela olhou a entrada do túnel para o qual se encaminhavam e segurou o braço de Lenór.

— Temos que sair daqui, agora! — Informou.

Antes que Lenór pudesse formular uma pergunta, ouviram a gritaria que vinha do túnel e depois o som das espadas dos soldados a se chocarem. Uma luta feroz se desenrolava lá dentro. A comandante fez questão de ir na direção do combate, porém Vanieli a segurou com mais força.

— Não vá! É ruim! É muito ruim!

Momentos depois, o som da luta deu lugar a berros de desespero. Um dos soldados apareceu na entrada do túnel. Cortes profundos rasgaram a couraça dele, deixando suas entranhas deslizarem para fora do corpo. Ele encarou as duas mulheres sem realmente vê-las, então caiu de joelhos e tombou para o lado, agonizando por mais um instante antes de morrer.

Uma forte corrente de ar percorreu o túnel, trazendo o cheiro de morte. Lenór não precisava ter os dons de Vanieli para compartilhar a sensação de mau presságio com ela. Atirou a tocha para longe e arrastou a esposa para a escuridão de outro túnel.

Ela retirou uma das espadas da cintura, entregou a Vanieli e se armou com a outra. Ficaram naquele canto, encobertas pelas sombras, ouvindo o bater forte dos corações enquanto o terror percorria suas veias.

Alguém saiu do mesmo túnel que o soldado. A tocha estava tão distante daquele ponto que a parca luminosidade só permitiu que elas percebessem os contornos de um homem alto e magro, cujas mãos grandes possuíam dedos longos e estranhamente afiados. Ele agachou-se ao lado do corpo, deslizando a mão pelo peito do defunto, como se estivesse à procura de algo.

A comandante tentou chegar mais perto da entrada do túnel para ver melhor o inimigo, contudo, Vanieli fincou as unhas no braço dela, implorando com aquele gesto para que não fizesse isso. Ela estava apavorada.

Aparentemente inconformado por não encontrar o que estava procurando, o inimigo liberou um berro animalesco, que fez os pelos da nuca de Lenór se eriçarem e firmou a certeza de que, embora aparentasse, aquilo não era humano.

O rugido brutal reverberou nas paredes rochosas dos túneis e se infiltrou nos ouvidos das duas mulheres como se fossem agulhas. A dor tornou-se insuportável e ficou difícil para elas manterem-se de pé. Lenór perdeu o equilíbrio ao mesmo tempo que o sangue escorreu dos seus ouvidos. Ela tombou para a frente e Vanieli a segurou.

A Kamarie também se sentia desnorteada com o som, mas logo ficou claro que era mais resistente a ele do que a esposa. Ela carregou a comandante até o fim do túnel, grata pelo rugido da criatura ter chegado ao fim. Ainda zonza, Lenór indicou a direção que deviam seguir, afinal ela já havia explorado e memorizado aquele túnel.

— Não consigo ver nada. — Vanieli sussurrou, temerosa de que a criatura pudesse ouví-la.

Percorreram mais alguns metros, auxiliadas pelas paredes. Ouviam, vez ou outra, as garras da criatura arranhando as paredes do salão em meio a sua fúria. Alcançaram outra bifurcação e, novamente, Lenór indicou a direção.

— Você não podia ter ficado com a tocha?! — Vanieli reclamou, mas bem sabia que o fogo atrairia a criatura assim que ela entrasse no salão, pois não conseguiriam alcançar o fim do túnel em que se esconderam antes disso.

Ela percebeu o corpo de Lenór tremer, antes dela endireitar a postura e se afastar sem perder o contato consigo.

— Sente-se melhor?

Após um longo suspiro, a comandante sussurrou:

— Ainda tonta, mas bem. Vamos prosseguir, estamos perto da saída.

Com passos cautelosos, mas apressados, as duas recomeçaram a andar. Lenór recordava cada centímetro daquele túnel, portanto, sabia que não havia obstáculos no caminho. O vento fresco as envolveu quando viraram no fim do corredor e adentraram em outro. Ao fim deste, a luz do luar se insinuava por uma abertura.

— É a saída! — Vanieli se adiantou, ansiosa por escapar das paredes estreitas e do perigo que as rondava.

Ela chegou cada vez mais perto da abertura e estava a ponto de cruzá-la, quando Lenór a alcançou e a puxou de volta para si. Na pouca luz oferecida pelo luar, Vanieli vislumbrou o vazio além da passagem. O vento soprou forte e silvou, como se zombasse da morte para a qual ela esteve prestes a pular. Afinal, aquele túnel levava diretamente ao abismo.

— Achei que você tivesse dito que estávamos perto da saída. — Engoliu em seco.

A resposta de Lenór foi um dedo erguido, que pedia silêncio. Entre o forte som do vento e a escuridão absoluta no túnel, algo arranhava as paredes antigas, trazendo um arrepio à coluna da comandante.

Ela empurrou Vanieli para mais perto da beirada do abismo e apontou para uma pedra larga ao lado da abertura. Havia outra mais estreita à frente, e mais outras além dessa, formando um caminho mortal para lugar nenhum.

— Vá! — Lenór ordenou.

— Está maluca?! — A esposa sussurrou de volta, baixando a vista para a escuridão abaixo.

— Quer ficar aqui e tentar a sorte com aquela coisa?

A Kamarie fez uma careta atormentada.

— Se eu cair e morrer, faço questão de vir te assombrar até o fim dos seus dias!

Lenór a segurou firme, para que ela pudesse se projetar para a pedra. Vanieli recostou-se ao paredão, trêmula.

— Continue subindo. — A comandante ordenou. — Há outra abertura à frente. Estarei bem atrás de você.

Contudo, antes que ela pudesse seguir Vanieli, a criatura surgiu na entrada do corredor. “Aquilo” mostrou os dentes pontiagudos para ela, eram tão brancos que nem mesmo a escuridão pôde ocultá-los.

A comandante a encarou de volta, notando a familiar sensação do combate inevitável, tomar conta do seu corpo. Seus músculos enrijeceram para em seguida relaxarem, enquanto ela erguia a espada em posição de defesa.

Falou alto:

— Vanieli, quando chegar ao túnel siga em frente até o fim dele, depois vire à esquerda e estará a poucos metros da saída na floresta. Encontre um bom esconderijo e me espere.

— Mas do que você está falando?! Nós vamos juntas! — A Kamarie gritou de volta.

A criatura urrou, espalhando o terror pelo ar e ela se apertou mais contra o paredão rochoso. Daquele ponto, só conseguia ver parte das costas de Lenór e os cabelos dela refletindo a luz do luar.

— Vá! — A comandante tornou a mandar e depois desapareceu do seu campo de visão completamente. Instantes depois, Vanieli ouviu o som da luta.

Ela mirou o fim do caminho de pedras, onde uma espécie de trepadeira se balançava pela força do vento. Na luminosidade escassa, assumia uma aparência quase fantasmagórica.

Naquele ponto estava o caminho para a salvação, entretanto, Vanieli não conseguia se mexer. Ir adiante, como Lenór pediu, parecia completamente errado. E para acentuar essa certeza, a costumeira e inexplicável sensação que a acometia em momentos difíceis, voltou a se manifestar. Dessa vez, ela não alertava para o perigo, pois ele já estava ali.

Vanieli não soube interpretá-la até ouvir o som dos primeiros passos de Lenór. Seu corpo inteiro tremeu, como ocorreu no dia em que foram atacadas na floresta. Então, voltou para o interior do túnel a tempo de ver a esposa correndo para a criatura.

As garras longas cruzaram o ar em direção ao pescoço da comandante, contudo ela mudou sua trajetória e utilizou a parede como apoio para saltar sobre o inimigo, visando fincar a espada no pescoço dele, que percebeu sua manobra e girou o corpo, evitando a lâmina.

Os pés de Lenór mal tinham tocado o chão, quando ela ergueu a espada para travar o ataque das garras do monstro, notando que eram tão rígidas quanto a sua lâmina. Ela deu um pequeno salto para trás, afastando-se do ataque da mão livre da criatura. As garras resvalaram na sua couraça, deixando marcas profundas.

O túnel estreito não permitia muita liberdade de movimento para ambos, e isso tornou-se desvantajoso para a comandante, visto que os braços do seu adversário eram longos e a mantinham afastada do corpo dele. Lenór recuou alguns passos para escapar de novo ataque e continuou recuando e bloqueando os ataques dele até que suas costas trombaram contra a parede.

O monstro liberou um gemido estranho, como se cantasse vitória por tê-la encurralado, porém, o que parecia ser o fim do combate, tornou-se uma oportunidade. Quando ele chegou mais perto, Lenór se agachou e fincou a espada na coxa dele. Enquanto ouvia um urro de dor, ela recolheu a espada e rolou entre as pernas do monstro. 

Antes que ele pudesse se virar, Lenór já estava estocando suas costelas. Ela sentiu a lâmina afundar na carne com resistência, notando-a dura como se ele estivesse vestindo uma couraça, mas na verdade ele estava quase nu. A comandante torceu a lâmina, ouvindo-o gemer de agonia e sentiu as garras dele alcançarem a sua perna.

A comandante recuou e os dois se encararam na penumbra, como se fossem inimigos antigos realizando o tão desejado combate. O pouco que a luminosidade do ambiente lhe permitia enxergar, deu a Lenór a visão de um homem de feições atormentadas. Um rosto comprido, com nariz adunco, presas longas e afiadas.

A criatura piscou, baixando a vista para a espada que ela segurava com força. Rosnou baixinho e depois soltou um urro longo e horripilante. Como havia acontecido na câmara, Lenór foi afetada pelo som. Ela se ajoelhou com uma das mãos no ouvido e o monstro se aproximou, mas antes que pudesse tocá-la, a comandante voltou a investir contra ele, interrompendo o ataque sonoro.

A espada dela subiu em um corte transversal, deixando um caminho sangrento no seu peito nu.  Entretanto, antes que Lenór conseguisse realizar uma nova investida, foi atirada contra a parede. Ela bateu a cabeça e escorregou, deixando uma mancha de sangue nos tijolos. O monstro a pressionou contra o chão, erguendo a mão livre e apontando as garras para o coração dela.

Desnorteada pela pancada, a comandante buscou se livrar do inimigo, arqueando o corpo na tentativa de empurrá-lo para longe. Contudo, desde o momento em que o viu na galeria, soube que se o deixasse chegar perto o suficiente, não teria chances contra a sua força sobre-humana.

Em pânico, Vanieli assistiu a cena à espera do momento em que Lenór se libertaria, contudo, esse momento não chegou. A mão do monstro estava em volta do pescoço dela e suas tentativas de se libertar tornavam-se cada vez mais débeis. E, assim como ocorreu meses antes, o corpo de Vanieli moveu-se por instinto.

Mais uma vez, para defender Lenór, a magia se desprendeu dela e atingiu o inimigo que a ameaçava, jogando-o para longe da comandante. Ouviram o estalar de ossos quando ele atingiu a parede oposta e despencou no chão. Dessa vez, Vanieli não se permitiu contemplar com perplexidade o que havia acabado de fazer. Agarrou-se a euforia do medo e da magia, que ainda percorria suas entranhas. Ela correu para Lenór e a ajudou a ficar de pé, enquanto o inimigo fazia o mesmo.

— Você pode fazer de novo? — Lenór perguntou com voz entrecortada e tão fraca, que a Vanieli quase não conseguiu entendê-la.

— Não tenho certeza! — A Kamarie respondeu, a conduzindo na direção do abismo.

Entretanto, as duas sabiam que ela não poderia repetir o feito, visto que, da última vez em que algo do tipo aconteceu, veio a desmaiar momentos depois. Considerando isso, era assombroso que ainda estivesse de pé e auxiliando Lenór.

Quando elas alcançaram a beirada do abismo, a criatura urrou, com a promessa de vingança e uma Lenór cambaleante voltou a se colocar em posição de combate. Ela passou a mão sobre os olhos, limpando o sangue que o corte na testa despejava sobre eles.

O vento soprou forte esvoaçando seus cabelos e atraiu seu olhar para o abismo. Se conseguisse fazer o movimento correto, ela poderia atrair a criatura e jogá-la no abismo. Todavia, seus planos ficaram esquecidos, quando a coisa mais estranha e inimaginável aconteceu.

Vindo do corredor que levava até a galeria de onde elas tinham fugido, o miado de um gato se fez ouvir e, instantes depois, o animal de estimação de Gael apareceu.

O felino encarou o monstro com o pelo arrepiado, então correu e saltou sobre ele, deixando um rastro de garras no seu rosto, antes de ser atirado para longe. O animal caiu aos pés de Lenór que, ainda surpresa, o viu ficar de pé e investir contra a criatura outra vez.

A gata saltitava entre as pernas do monstro, fincando as garras na pele macilenta deste, causando ferimentos tão profundos, quanto a espada de Lenór causou.

Ainda confusa com a cena e o apoio inesperado, Vanieli ajudou Lenór a pular para a pedra ao lado da abertura. Elas escalaram as pedras seguintes, ouvindo os miados furiosos do felino e o rugido do inimigo. Alcançavam a última pedra, quando a gata se aproximou delas. O pêlo continuava eriçado e ela rosnou para a abertura, de onde a mão do inimigo se projetou.

Por sobre o ombro, Vanieli avistou o monstro pular para a primeira pedra.

— Droga! — Ela empurrou Lenór para o interior do novo túnel. — Temos que sair logo daqui. Você consegue correr?

— Se eu posso correr ou não, é o menor dos nossos problemas, agora. — A comandante falou, olhando para o fim do túnel. A construção havia desabado naquele ponto.

— Não diga que aquela era a nossa saída!

— Já que você pediu com jeitinho, não direi.

Ela voltou a empunhar a espada, vasculhando a bolsa que costumava carregar na cintura. Vanieli se encostou à parede oposta, mirando a criatura que chegava cada vez mais perto de onde estavam. O vento soprou forte, balançando as plantas que encobriam parte da entrada do túnel naquele lado.

— Alguma ideia? — Perguntou, sentindo o pânico tomar conta do seu corpo, entremeado ao cansaço do uso da magia.

Lenór inclinou o corpo, a fim de olhar para a criatura. A gata tinha se adiantado até a pedra que ficava no meio do caminho até ali. O rosnado dela aumentou na medida em que o monstro se aproximou e o casal observou a hesitação do inimigo ante aquela criaturinha de pelo escuro e arrepiado. Era muito curioso, todavia não tinham tempo para pensar nisso.

— Sim, eu tenho uma ideia, mas não gosto dela. — Lenór respondeu.

Finalmente, encontrou o que buscava na bolsa. Era uma caixinha de madeira, não muito maior que a palma da mão. A abriu e, sobre um fundo almofadado, bolinhas de vidro refletiram a luz da lua. A comandante pegou duas, fechou a caixa e voltou a guardá-la.

— Espero que isso funcione… — Ela disse, antes de sair do túnel.

Fez um som sibilante com a boca e a gata abandonou seu posto para ir até ela. Lenór atirou uma bolinha na criatura. O vidro se partiu, e o líquido que ela abrigava se espalhou pelo peito nu. Vanieli não conteve um suspiro de decepção por ver que nada aconteceu, enquanto isso o inimigo continuava seu avanço pelo caminho de pedras.

A comandante aguardou que ele se aproximasse o suficiente para que ela não pudesse errar e atirou a segunda esfera de vidro. Como a primeira, ela se partiu. O líquido que continha se uniu ao da esfera anterior e chamas irromperam no peito da criatura. Elas se espalharam rapidamente pelo corpo dela, que debateu-se em agonia sem perceber a aproximação de Lenór.

Sem delongas, a comandante ergueu a espada e a desceu em um golpe brutal, que decepou uma das mãos inimigas, aumentando seu urro de dor; este, muito semelhante àquele que prejudicava os ouvidos e equilíbrio dela. Lenór sentiu a dor e a aproximação da tontura causada pelo som, porém, antes que essas sensações a tomassem completamente, apoiou-se no paredão e chutou o monstro. Ele despencou em direção ao abismo e agarrou a perna dela, que segurou em uma rocha pontiaguda para não ser arrastada para a morte.

Lutando para sustentar o peso do seu corpo e o do inimigo, Lenór tentou estocar a mão que lhe envolvia a perna sem muito sucesso e foi Vanieli a pôr fim na sua agonia. A moça usou a espada que ela lhe dera e, um pouco desajeitada, desferiu um golpe no braço do monstro.

Ela o golpeou outra vez e mais outra. E a cada nova investida, a espada brilhava cada vez mais forte até que o monstro soltou a comandante, caiu e foi engolido pelo abismo.

Ajoelhada sobre a pedra, a Kamarie fitou a escuridão, ouvindo apenas o uivo do vento e a respiração entrecortada de Lenór, que deslizou as costas pelo paredão até sentar ao seu lado.

 


 

Vou logo avisando que o próximo capítulo promete fortes emoções! 😉

Então se tu leu e gostou? Curte aí e comente! Façam-me feliz! Hehe….

Beijos e até a semana que vem!

 



Notas:



O que achou deste história?

18 Respostas para 15.

    • kkkkkkkkkk… Mil desculpas pela demora na resposta e por não ter disponibilizado o capítulo extra, Silvia. Mas saiba que fiquei muito feliz em receber teu comentário e peço perdão pela demora na resposta.

      Espero reencontrá-la em outros capítulos.

      Beijos!

  1. Cheguei a ficar sem ar com os acontecimentos, muita tensão. E a parte mais gostosinha desse capítulo, serasse que Vanieli vai se entregar aos sentimentos pela Lenór, o beijo já rolou Kkkkk
    Tá demais, cada capítulo melhor q o outro.

  2. Estou em suspense da primeira a última letra a descoberta do túnel, o beijo é essa criatura eu tinha certeza de que era só armação mas agora não sei de mais nada imprecionada com essa gata mas penso que Adel não vá curti muito e eis que no último instante Vanieli a salva mais uma vez
    Agora o desenho tem que ser comentado a parte pq ficou MUITO LINDO E MUITO SEXI tive que colocar na,minha coleção

    • Eitxa! Muito feliz em ler teu comentário, Rose!

      Por favor, me desculpe a demora na resposta, ando numa correria danada. Sinto muito, sei que é injusto com quem tirou um tempinho para deixar um recadinho.

      O desenho foi feito com muito carinho pra vocês e fico muito satisfeita que tenha gostado dele ao ponto de adicionar a sua coleção. 😁😁😁😁

      Beijos!

  3. Mulher de Deus!!! Pense num tormento ter que esperar uma semana inteirinha, depois de um capítulo desses! Chega logo! ??
    Nem precisa dizer, né?! Adorei

    Té pra semana.

    Abrs, o/

  4. Wow!! A cada provocação uma esquentadinha a mais.. Logo logo esse relacionamento irá ferver. Yes!

    Tinha parado com a leitura desta para ler A ordem. Gostei demais. Mas sempre dou uma olhada rápida no capítulo postado. rsrs. Agora irei retomar essa do início novamente.
    Amei o desenho.

    Beijo

    • Olá, Fabi!
      Que bom que tu curtiu A Ordem. E que maravilha que você está sempre por aqui.

      Desculpa a demora na resposta, tá?

      Beijos e até o próximo!

    • Haha… Confesso pra tu que prefiro cachorros, mas admito que os gatos também são legais. rs…

      Beijos!

  5. Com a Tattah me dou o direito de ser repetitiva ao extremo.

    TÁ BOM D+++

    Tu tá arrasando guria.

    Bjs,

  6. Nossa, que maldade nos deixar ansiosas por uma semana, esperando o próximo!
    Solta um extra aí, autora…
    Estória fantástica! Parabéns pelo talento Tattah!!
    Bjusss

    • Oi, LeSuh!

      Que bom que está curtindo. Por favor, me desculpe a demora na resposta.
      Sou uma autora malvada, deixar vocês na ansiedade é muito divertido. Hehehe… Brincadeira.
      Assim que possível, soltarei capítulos extras, mas tudo depende do tempo para escrever.

      Obrigadão pela companhia!

      Beijos!

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