*

— O que vai em seus pensamentos?

Melina tracejou os lábios de Voltruf com as pontas dos dedos e aconchegou-se mais a ela. Adorava o contato dos seus corpos livres das barreiras impostas pelos tecidos.

— Você — respondeu a amante. — Pensava em você e no que fiz de tão bom para tê-la nos meus braços.

— Você sabe ser muito doce quando quer — beijou-lhe o pescoço.

— Isso é ruim? — Voltruf perguntou, confusa com o tom que ela tinha usado.

— De modo algum, desde que só mostre esse lado para mim — sorriu. — Sou um pouco ciumenta. Nem a idade, nem a experiência arrancaram isso de mim.

Volt devolveu o sorriso para ela, antes de beijá-la devagar.

— Bom, acho que você pode comemorar o fato de que eu não sou uma auriva — admirou o riso dela e o acompanhou prazerosamente.

— Com efeito, das castas do seu reino, eles prezam a liberdade de muitas maneiras; e fidelidade amorosa não é muito o seu forte. É claro, existem algumas exceções.

O pequeno momento de silêncio, recordou Voltruf de que estava com saudades de casa. Não exatamente de Flyn, e sim de Marie. A mestra ordenada de sorriso discreto, olhar penetrante e imensa bondade, que lhe ofereceu a oportunidade de permanecer naquele mundo enquanto desejasse, pois ainda não estava preparada para partir. Melina se parecia com a sobrinha, não em aparência, mas em bondade e gentileza.

— Nunca me passou pela cabeça que um dia estaríamos compartilhando este momento — confessou, de repente. — Me acostumei a admirá-la em silêncio, com a certeza de que não podia tocá-la da forma que queria.

— Pois, pela minha passou tantas e tantas vezes, que aqui estamos — declarou Melina em meio ao riso. — Fosse por você, isso nunca aconteceria.

Volt se afastou um pouco, estalando os lábios. Era mais charme do que irritação.

— Eu compreendo, querida. Entendo seus receios, pois eles também são meus. Estou apenas mexendo contigo — disse a grã-mestra, fazendo um carinho no rosto dela. — Desde que estejamos juntas, não pretendo perder mais tempo me preocupando com isso.

Descansou a cabeça no ombro dela, suspirando forte.

— Gostaria de pensar como você…

— Então, pense! E esqueçamos o resto! — beijou-lhe a ponta do queixo e voltou a descansar a cabeça no ombro dela.

— Poucos dias se passaram desde que começamos a compartilhar esses momentos — Voltruf começou a falar —, mas isso é diferente de tudo que já experimentei. Não sei como explicar.

Notando o olhar inquisitivo de Melina, que havia erguido a cabeça para fitá-la melhor, disse:

— Esqueça… é apenas bobagem da minha cabeça — a fez deitar, novamente.

E sorriu, beijando a testa dela.

— Descanse um pouco. Você ficou de fazer uma nova sessão de cura com Lenór amanhã, é bom estar relaxada.

Mesmo tendo optado pelo silêncio, Melina compreendia o que ela quis dizer. Também tinha aquela sensação de estar fazendo algo proibido e, ao mesmo tempo, a certeza de que devia ser assim entre elas.

Resvalava para o sono, quando percebeu o corpo de Voltruf ficar tenso.

— O que houve?

Um momento se passou até ouvir a resposta.

— Coisas ruins…

A frase acendeu um alerta em Melina, visto que costumava ser usada pelos florinaes para definir a presença de criaturas sombrias.

— Sombras?! — Ela sentou na cama, de repente.

Voltruf tratou de acalmá-la.

— Não! Não se trata disso. É ruim, mas é uma presença sutil.

Deslizou para fora da cama e foi até a janela. Farejou o ar, como faria em sua forma animal.

— O que você está sentindo? — perguntou Melina, enfiando-se dentro da túnica de dormir, que fora largada no chão horas atrás.

— Você não consegue perceber?

Melina fechou os olhos por um instante, unindo as mãos à frente do corpo e as separando devagar. Uma luz suave se espalhou à volta dela e desapareceu como um sopro de fumaça. Quando abriu os olhos, seus sentidos estavam mais aguçados que os de Voltruf.

— Sim. Percebo agora. E, como você disse, não é uma sombra, tampouco uma daquelas criaturas no abismo. Mas, certamente, é ruim. O que acha que é?

— Acho que não é “o quê”, e sim “quem” — esclareceu a outra.

— Oh, a mulher com o punhal feito de um Coração Negro — supôs Melina.

Voltruf balançou a cabeça, aquiescendo. Por fim, deu de ombros.

— De qualquer forma, já não a sinto tão perto. Então, acho que não precisamos nos preocupar. Pelo menos, por esta noite.

Voltou para junto dela, fazendo um carinho no rosto delicado.

— Volte a dormir, minha bela.

Melina admirou o sorriso sereno em seus lábios; gostava de ouví-la falar daquela maneira, com voz macia e alheia ao seu cotidiano. Então, escorregou o olhar pelas curvas do corpo nu e esguio, com um suspiro preso na garganta. Colocou as mãos na cintura dela, e o sono a abandonou completamente quando a empurrou de volta para a cama.

**

Aisen sentou na beirada do abismo, as pernas para dentro da fenda mortal.

A dor que vibrava em seu corpo, apesar de quase insuportável, não era maior do que a tristeza que a tomava. Por maior que fosse o ódio que dedicava a Yahira, ele não superava o amor que ainda tinha por ela. E o fato de que aquele sentimento não foi o bastante para salvá-la de si mesma e da ambição daninha que a fez trair Amani e o seu povo a torturava tanto quanto as feridas físicas, oriundas do amaldiçoado pedaço de metal em seu corpo.

— Você não tem nada melhor para fazer do que me espionar? — ela perguntou, de repente, tentando enxugar as lágrimas com as costas das mãos.

Dimal sentou ao seu lado, silencioso. Ele estava na praça quando viu Yahira se aproximar de Lenór. Observou a conversa delas discretamente, preparado para entrar em ação, caso necessário. E quando Yahira partiu pacificamente, ele a seguiu.

Suas intenções eram simples: livrar-se de uma inimiga. E não fizera questão de ser discreto na perseguição, pois ser traiçoeiro não fazia parte da sua natureza. A mulher estava ciente da companhia e, de vez em quando, olhava para ele por sobre o ombro.

O conduzia para a floresta onde, era certo, o embate aconteceria. E Dimal estava ansioso por isso. Entretanto, os planos mudaram quando Aisen surgiu no caminho dela. Dividido entre a curiosidade e o desejo de cumprir a missão a qual tinha se proposto, ele aguardou, limitando-se a observá-las de longe na parca luminosidade que a lua crescente e as poucas estrelas no céu ofereciam.

O vento forte levou para ele parte da conversa, além de sensações desagradáveis.

Dimal não era um mago como sua irmã, Dalise, mas esse laço de sangue, além do rígido treinamento palatin, o ensinaram a reconhecer a presença da magia através de outros sentidos. E assim que Yahira retirou o punhal da cintura, compreendeu que fora um tolo ao duvidar das palavras de Aisen, quando ela afirmou que não tinham chance de combatê-la na floresta. Ainda que não tivesse visto nenhuma fagulha de magia ser lançada entre as duas mulheres, ele percebeu o poder da guerreira inimiga em seu íntimo. Uma mistura de medo e desespero, que percorreu suas entranhas como se fosse o sangue nas veias. Algo diferente de qualquer coisa que já tivesse experimentado.

Com um suspiro, ele revistou os bolsos da túnica até encontrar o que buscava, então o ofereceu para Aisen. Imaginou que ela desprezaria aquela gentileza, porém, a daijin aceitou o lenço e escondeu o rosto nele por um momento, enxugando as lágrimas e depois o sangue no nariz.

— Eu sinto muito — disse ele.

A resposta de Aisen foi um riso nasal, que devido às lágrimas soou como um rosnado.

— Você é um idiota — ela resmungou, após um momento.

— Dizem que os melhores guerreiros são os tolos — retrucou Dimal.

— Na verdade, eles são os primeiros a morrer. E era isso que estava prestes a fazer perseguindo Yahira.

— Você me dá bem pouco crédito — ele deu um meio sorriso presunçoso, ainda que soubesse que a daijin estava certa.

— É justo o contrário — afirmou Aisen. — A questão é que Yahira não é uma guerreira qualquer, ela tendo uma arma milenar em mãos ou não.

— E é bem bonita também, você tem bom gosto! — a provocou.

Aisen percebeu o tom brincalhão, contudo, continuou a falar seriamente:

— Ela já foi a “mão direita” de Amani, assim como eu fui a “esquerda”. E o que você parece estar encarando como uma brincadeira ou uma possível afronta a sua competência como guerreiro, na verdade, é apenas zelo pela sua vida. Independente da minha ligação com Yahira, ela é o inimigo. E é assim há muito tempo.

Dimal olhou para o vazio escuro abaixo deles, o vento frio açoitando sua face dolorosamente, como se fosse um aviso da sua fragilidade mortal.

— O vento me trouxe um pouco da conversa de vocês… — contou.

Ela baixou a vista para o lenço, achando engraçado o fato de um guerreiro como ele andar com algo tão delicado nos bolsos. Levou a ponta que ainda estava limpa até os olhos. Disse:

— Acho que vou ficar com isso por enquanto. Se não se importar.

Compreensivo, Dimal pousou uma mão no ombro dela, apertando levemente. Ele admirou Aisen desde o seu primeiro encontro. Não por beleza ou interesse romântico; apenas a reconhecia como uma igual. Contudo, deixou-se envolver por uma pequena desconfiança após sua negativa em atacar os zaidarnianos na floresta.

Se Dalise estivesse ali, faria coro com ela, chamando-o de idiota. E ele reconhecia que, às vezes, seu orgulho falava mais alto e o cegava.

— O tempo que precisar — ele respondeu, aumentando a pressão da mão no ombro dela.

Ao longe, encoberta pelas sombras da noite e as árvores da floresta, Yahira observava-os. E, como havia muito tempo não acontecia, aquele sentimento daninho e cruel chamado ciúme se remexeu em suas entranhas.

Ela sorriu, irônica.

Afinal, apesar das recentes promessas assassinas, dos caminhos distintos que escolheram, de quase se matarem no passado, e tantas outras coisas que as separaram, Aisen sempre seria a única mulher que amou.

***

Lenór observava a noite que envolvia a cidade, sentada na janela. Embora seu corpo ansiasse pelo descanso, a mente agitada não lhe permitiu dormir. A maioria dos seus pensamentos estavam voltados para Rall e Gael, mas outros assuntos também exigiam atenção. Entre eles, o encontro daquela noite.

Vanieli havia lhe contado o pouco que sabia sobre Yahira, enquanto retornavam para casa.

— Não era um segredo, se é o que está pensando — disse ela. — Com tudo que houve nos últimos dias… entre nós e depois com Gael, acabei esquecendo de comentar. E estou certa de que Aisen também não deve ter encontrado a oportunidade.

Era desagradável ser a última pessoa a saber dessas coisas, porém, Lenór entendia a situação. Havia tanto para se preocupar… Além disso, recordava que Aisen desejava ter uma conversa importante com ela, antes de toda a confusão com Ravis. Assunto que ficou esquecido enquanto preparava a partida do filho e Rall.

A sua aparente tranquilidade sobre a questão chamou a atenção de Vanieli.

— Você não parece incomodada com essa visita. Por quê?

— Porque ela dizia a verdade.

— Você é boa em ler as pessoas, Lenór, mas isso não pode ser infalível. Ela podia ter te matado!

— Ela tentaria. Possivelmente conseguiria, mas não seria tão fácil quanto sugeriu. — Deu de ombros, percebendo que o comentário tinha desagradado a esposa. — Como disse, acho que ela falou a verdade. Pelo menos, meia verdade.

Sorriu para o arquear de sobrancelhas de Vanieli e explicou:

— Penso que estava mesmo curiosa sobre nós duas, entretanto, acredito que ela veio até aqui na esperança de ver Aisen.

— Não posso acreditar que se arriscaria de tal forma apenas para vê-la. E por qual motivo, se pelo o que entendi, as duas quase se mataram no passado?

Lenór parou de andar, erguendo a face para o céu noturno, antes de voltar a fitá-la.

— Gostaria que você pudesse enxergar as coisas como eu. Então, seria mais fácil de entender. Às vezes, é muito desagradável saber quando os outros estão mentindo, noutras, muito útil. — Sorriu. — Sim, como você disse, não é infalível. Mas sou muito boa nisso para duvidar das minhas percepções. Pelo menos, no tocante a uma mulher como Yahira. Ela é confiante demais para se dar ao trabalho de vir até aqui contar mentiras. Fato é que as palavras dela, os gestos, até mesmo o jeito de olhar mudaram quando Aisen se tornou parte da conversa.

Vanieli ressonou alto, fazendo-a abandonar a contemplação da cidade para olhá-la. Havia um tímido e alegre sentimento bailando em seu peito naquela noite.

Ela, que era tão boa em ler as pessoas, como havia afirmado  quase como se tivesse um dom mágico  sabia que Vanieli disse a verdade quando lhe propôs serem amantes. Assim como, também era verdade o que declarou na praça, horas atrás.

Contudo, não conseguia se desvencilhar completamente da decepção causada por aquela infeliz proposta. O que, às vezes, a fazia se questionar se o seu poder de observação não tinha sido corrompido pelo desejo do coração, cegando-a para a possibilidade de Vanieli estar jogando com os seus sentimentos para conquistar o que desejava: alguns momentos de luxúria.

No fundo, ela sabia que todos esses questionamentos não passavam de medo. Medo de se decepcionar, de se entregar outra vez para alguém que também iria abandoná-la, da sua própria incapacidade de ser suficiente para Vanieli. E também existia a possibilidade de tudo não passar de mera curiosidade por parte da Kamarie, cuja inexperiência podia estar projetando falsos sentimentos.

Ela suspirou, olhando para a lua. Baixou a vista para o pátio em tempo de ver Aisen e Dimal cruzando-o. E apesar da distância, as tochas pelas quais eles passaram, revelaram o sangue nas vestes da daijin. Em outro momento, teria ido até eles e exigido a explicação que lhe era devida, naquela noite, porém, sentia que estava em seu limite e decidiu ficar ali admirando o firmamento enquanto o sono não vinha.

De repente, a atmosfera aconchegante do quarto começou a mudar. A temperatura caiu rapidamente e o grito de Vanieli preencheu o ambiente, arrastando um arrepio pela coluna de Lenór.

Na cama, a moça começou a se debater, gritando e falando coisas desconexas. Lenór tentou chegar até ela o mais rápido que a bengala permitia. Contudo, a temperatura caiu ainda mais e ela percebeu pequenos cristais de gelo se formando no ar. Apressou o passo quando eles começaram a se movimentar de forma perigosa e um instante se passou até novo grito escapar da Kamarie e o gelo ser empurrado em todas as direções.

Lenór se jogou no chão para escapar do ataque inconsciente da esposa. Alcançou a cama no momento em que novos cristais gelados começaram a tomar forma. Vanieli se debatia, como se estivesse tentando escapar de alguém no pesadelo e foi preciso usar um pouco de força para evitar que se machucasse.

— Lenór! — ela chamou, não uma, mas várias vezes.

Dizia seu nome em um desespero crescente, até que o último grito lhe escapou, o corpo serenou e abriu os olhos. Lágrimas escorreram deles ao fitarem o rosto de Lenór, que libertou os braços dela para, em seguida, ser envolvida por eles.

— Comandante! Damna Vanieli! Vocês estão bem?

A voz de um dos soldados de vigia no corredor lhes chegou, alta e preocupada. Ele bateu na porta e repetiu a pergunta. 

— Sim! — respondeu Lenór. — Espere um momento.

Ela soltou Vanieli e escorregou para fora da cama. Jogou uma manta sobre os ombros, ocultando as vestes de dormir, pegou a bengala do chão e mancou até a porta. Vanieli acompanhou seus passos com o coração ainda acelerado e a respiração ofegante; notou a bagunça no local, causada pelo seu destempero inconsciente, ao mesmo tempo que captou o timbre assustado do guarda, quando Lenór abriu a porta por meros centímetros.

— Está tudo bem, Diodor. — Ela garantiu, explicando em seguida: — Minha esposa estava tendo um pesadelo e foi um pouco difícil acordá-la.

O guarda fez uma nova pergunta, a qual Vanieli não prestou atenção, pois fitava as mãos trêmulas, enquanto um arrepio percorria a coluna espalhando o frio. Lenór dispensou o guarda, fechou a porta e foi até a mesa, onde despejou água em um copo e lhe deu.

Vanieli mal conseguiu sorver o líquido ante o tremor nas mãos.

— Esse foi bem ruim — disse a comandante, recuperando o copo e indo depositá-lo na mesa.

Desde que começou o treinamento em magia, Vanieli não tivera pesadelos. Pelo menos, nada tão intenso.

— Já tinha começado a esquecer de como é a sensação de ser acordada no meio da noite com gritos — Lenór gracejou, sentando na beirada da cama e puxando-a para um abraço.

Vanieli apertou-se a ela com força e chorou por alguns minutos, enquanto reunia forças para dizer:

— Eu sonhei com você.

— Eu sei. Não parava de chamar o meu nome. Mas agora que comentou, achei que não conseguia lembrar do que sonhava.

— Normalmente, não. Porém, sei que era com você que estava sonhando. — Apertou-se mais a ela. — Foi diferente, não sei explicar como. Só sei que era você e, ao mesmo tempo, não era. E eu tive…

A voz falhou e um soluço lhe escapou junto com as lágrimas que molharam o ombro da esposa.

— Isso não importa, agora — Lenór a tranquilizou.

— Você não entende… — Vanieli se afastou. — Eu te vi morrer.

— Bom, já passamos por isso — respondeu Lenór, lhe fazendo um carinho no braço. — Então, não é um sonho premonitório. Venha, descanse um pouco.

Contudo, a mente de Vanieli ainda estava voltada para o sonho.

— Eu te vi morrer tantas vezes e de tantas maneiras diferentes! — escorregou a mão pela face. — Algumas vezes jovem, noutras… por velhice, por tragédias, por doença, por assassinato!

— Está começando a me assustar! — Lenór juntou o rosto dela entre as mãos. — Foi apenas mais um sonho. Está tudo bem.

Porém, Vanieli não acreditava nisso. Pela primeira vez em muito tempo, ela recordava claramente do que sonhou. E a sensação de que não era a primeira vez que tinha aquele sonho tornava-se tão sólida quanto as lembranças dele.

— Eu não quero te perder, Lenór — choramingou. — Não suportaria ficar sem você de novo!

Emocionada, Lenór deixou suas barreiras caírem. Enxugou as lágrimas dela com as pontas dos dedos e a trouxe para junto do corpo, outra vez. Enfiou o rosto entre os cabelos cacheados, aspirando o perfume deles, enquanto a sentia estremecer em meio a um soluço.

Afastou-se o suficiente para ver o reflexo das chamas na lareira nos olhos dourados dela. E afirmou:

— Você nunca irá me perder, Kamarie. Basta não me afastar de você, nem partir meu coração. — Pousou os lábios sobre os dela, delicada., e Vanieli entreabriu os seus para recebê-la, carinhosa.

Desde seu deslize, era sempre ela quem procurava Lenór. Roubava beijos estalados dela, noutras vezes eram mais intensos. A comandante correspondia, porém limitava-se a isso, quase como se estivesse respondendo a uma obrigação.

A iniciativa dela voltou a deixar Vanieli agitada, dessa vez, de felicidade. A moça envolveu seu pescoço, apreciando cada movimento da língua dela na sua boca. Gemeu baixinho, completamente entregue aos sabores daquele beijo, que chegou ao fim para dar lugar a muitos outros.

Beijos miúdos, beijos estalados, beijos longos, tranquilos e carinhosos. Foram minutos longos assim, recheados de cuidado e ternura; sem segundas intenções, apenas desvelo. E quando Lenór, finalmente se afastou, a fez deitar novamente. A cobriu com cuidado e juntou-se a ela entre os lençóis. Vanieli aconchegou-se ao seu corpo, feliz e sentindo-se segura, então se entregou ao sono como se os tormentos do descanso anterior jamais tivessem existido.

Por sua vez, Lenór permaneceu desperta. Agora, com a mente voltada para o momento que tinham acabado de compartilhar, sem saber exatamente o que estava sentindo — felicidade, confusão  ou medo.

De qualquer forma, não pretendia se jogar de cabeça em uma relação incerta. Ao menos, não sem ter certeza do que Vanieli realmente sentia. Pois, palavras podiam ser somente isso; um conjunto de sons sem um significado real.



Notas:

Oi, gente!

Desculpem o capítulo curto e a demora na postagem. Minhas férias não foram tão soltas quanto eu gostaria, por uma série de fatores pessoais e alguns probleminhas de saúde na família, então a produção textual não vingou. 

Tentando retomar os capítulos semanais.

Beijos e obrigada pela compreensão! 

PS: O capítulo não passou por revisão, perdoem possíveis erros ou partes desconexas.




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