40.

Sangue escorreu do nariz de Yahira quando recebeu o soco de Aisen. O impacto a fez inclinar a cabeça para trás. Cambaleante, recuou um passo e esquivou-se do ataque seguinte. Kladis — a corrente — serpenteou seu corpo e dividiu-se ao ponto de envolver ambos os braços.

Tanto tempo se passou desde que ela e Kladis lutaram em harmonia, que o momento pareceu quase irreal. E enquanto se esquivava de outra investida de Aisen, percebeu certa leveza em seus pensamentos, como se a última década optando pelo uso do punhal sombrio tivesse erguido uma cortina de escuridão neles.

Ela podia sentir um fiapo de alegria em Kladis, que ressoava em si mesma. Pois aquela, como todas as armas que Amani forjou e nomeou, tinha uma consciência mágica que ligava-se diretamente à alma do seu usuário. Bastava um pensamento para que ela se expandisse ou se movesse do jeito desejado. E Yahira quase se esquecera de como fazê-lo, o que, por alguns segundos, lhe causou tanta estranheza que chegou a achar a ideia ridícula.

Por sua vez, Aisen usava Adrakis enrolada em um dos braços, para defesa. Enquanto isso, a outra mão conduzia a ponta espiralada e afiada em direção ao ataque. Às vezes, a corrente se comportava como um chicote, cortando o ar violentamente e obrigando Yahira a manter-se distante. Outras vezes, Aisen fazia a corrente ficar mais grossa e enrijecida, de forma a parecer uma haste.

Aquelas correntes eram, de fato, armas incomuns, que em mãos corretas e habilidosas, ofereciam uma gama de opções para o combate.

Yahira inclinou-se para o lado, desviando do ataque de Aisen, porém, não foi tão rápida e a ponta resvalou no seu rosto, deixando um corte profundo. Se tivesse retardado o movimento, teria perdido o olho esquerdo. Em resposta, girou o corpo, atirando a corrente aos pés de Aisen, que percebeu o movimento e saltou.

A luta delas parecia uma estranha e mortal dança. E enquanto atacava e se defendia, Yahira percebeu que estava se divertindo. Afinal, Aisen sempre foi a sua melhor adversária. Contudo, era preciso admitir que o fato de possuírem as mesmas armas, concebidas para serem usadas em conjunto, limitava o combate.

Recuou alguns passos, impondo uma distância segura entre si e Aisen, o que lhe permitiu recuperar o fôlego e resvalar o olhar pelo entorno, percebendo coisas que inicialmente lhe escaparam. O círculo no chão era ritualístico, simbólico. Não havia necessidade de ser traçado com magia, mas foi exatamente isso que Aisen fez. Existia poder naquelas linhas, e era forte o suficiente para inibir sua ligação com o punhal.

Ela voltou a encarar a ex, girando sobre a cabeça uma das extremidades da corrente e obrigando Aisen a se manter distante. Yahira reparou que a mancha de sangue crescia no peito dela, encharcando a túnica até a altura do umbigo. Era notável o esforço que Aisen fazia para continuar lutando.

Estava curiosa, mas, em vez de saciar a curiosidade, optou por provocar a ex-companheira. 

— O problema de lutar com a mulher com quem treinou, que foi a sua companheira de batalha e usa a mesma arma que você, é que não há surpresas. Eu conheço todos os seus truques e você os meus, amor.

Esperou uma resposta afiada, mas Aisen ficou em silêncio por alguns instantes, como se estivesse considerando suas palavras seriamente. Por fim, ela disse:

— Tem razão — e saiu da posição de combate. Baixou os braços e as correntes escorregaram deles até se acumularem aos seus pés. — Vamos fazer de outro jeito, então?

Yahira a fitou, descrente. Quase riu, mas era típico de Aisen complicar o que já era difícil. Parou o movimento circular que fazia com Kladis e se aproximou dela. Estavam muito perto da beirada do abismo e o vento forte e gélido açoitava seus corpos impiedosamente.

Ergueu uma das mãos devagar e a tocou no exato local em que sangrava. Aisen rilhou os dentes, reprimindo um gemido de dor.

— Tem certeza, amor? Talvez seja melhor fazermos isso outro dia. Não quero uma vitória assim.

Aisen segurou a mão dela com força.

— Me poupe da sua falsa condescendência. Isso acaba esta noite. E faça um favor para nós duas, pare de se conter.

— Lutar assim não tem graça, prefiro ter uma adversária com capacidade total de combate. Quero um desafio de verdade e você era melhor nisso.

Aisen aumentou a pressão na mão dela. A puxou, de repente, e com a mão livre desferiu um soco no seu rosto. Yahira se endireitou, cuspiu o sangue que se acumulou na boca e sorriu.

— Sua teimosia era charmosa anos atrás, agora é apenas burrice. — Ergueu a mão, teatralmente, e deixou Kladis cair ao lado de Adrakis. — Pois bem, que assim seja, amor.

A corrente mal tocou o solo e elas recomeçaram a luta de uma forma quase animalesca. Os socos e chutes ficaram cada vez mais violentos. O sangue brotava de cortes e arranhões, transformando o aspecto de ambas.

Fisicamente, Yahira era mais forte e tinha mesmo, como Aisen acusou, contido sua força. Agora, estava determinada a finalizar o combate rapidamente, castigando a adversária com golpes brutais em seus pontos mais sensíveis. Por sua vez, Aisen era uma lutadora muito ágil, conseguia se esquivar dessas investidas com certa facilidade. Por isso, Yahira resolveu levar a luta para o chão, onde seu domínio seria inegável. Pelo menos, era o que acreditava.

No solo, o embate ficou ainda mais angustiante. Aisen não estava disposta a facilitar para ela, então as duas rolaram na terra molhada, trocando socos, mordidas e cabeçadas, enquanto tentavam imobilizar uma a outra.

Em dado momento, Yahira ficou por cima de Aisen, que em seguida conseguiu libertar uma das pernas e a projetou para longe. Enquanto ela se recuperava, Aisen atirou-se em suas pernas, jogando-a no chão novamente. Yahira a chutou no rosto, fazendo-a rolar para o lado e ficou de pé.

A observou por um instante e desferiu novo chute em seu rosto, porém, Aisen a bloqueou. Chutou outra vez, ela se defendeu novamente e prendeu sua perna com as mãos, fazendo-a perder o equilíbrio ao empurrá-la para trás. Movimento que aproveitou para ficar de pé.

Aisen a fitou com a respiração entrecortada, os punhos erguidos. A sua determinação era algo que Yahira sempre admirou e buscou para si mesma. Soprou o ar com força, decidida a não deixar a luta se prolongar mais. Quando ela correu em sua direção, inclinou o corpo para o lado, desviando do soco direcionado ao seu rosto, segurou o punho dela, usou uma das pernas como apoio e a empurrou com a outra mão. Aisen caiu de costas no chão e Yahira pressionou o joelho no pescoço dela.

Aisen não se moveu, ficou inerte, os olhos fitos nos seus. Yahira só precisava fazer um pouco mais de pressão e tudo estaria acabado.

— Parece que chegamos ao fim, amor — falar isso pareceu romper algo dentro do seu peito, mas Aisen ainda não estava preparada para desistir. Ela juntou um punhado de lama na mão e jogou no rosto dela. Yahira levou as mãos aos olhos, enquanto a ex invertia suas posições. Ela socou seu rosto algumas vezes e acomodou-se sobre seu tronco. Naquele instante, Yahira soube que havia perdido, principalmente, quando Aisen trocou os punhos cerrados pelas mãos em volta do seu pescoço, apertando-o com tanta força que imaginou que iria quebrá-lo.

— Você nos destruiu! — gritou ela, aumentando a pressão das mãos.

Yahira tentou empurrá-la, mas o ressentimento da ex era tão forte que ela mal se mexeu. Em vez de sentir raiva ou decepção consigo mesma, uma estranha paz começou a tomá-la na espera pelo instante final. Entretanto, sua natureza a impedia de morrer pacificamente. Sendo assim, tentou socá-la no flanco direito e quando não obteve resultado, deslizou a mão pelo chão úmido em busca de algo que pudesse ajudá-la a escapar daquela prisão mortal, uma pedra, um pedaço de madeira, qualquer coisa capaz de se tornar uma arma… Não havia nada, exceto, a corrente Adrakis da própria Aisen, que estava a um palmo de distância dos seus dedos. Um caminho longo demais para percorrer naquela posição, além do fato de que estaria desonrando os termos que aceitou para o combate.

Lágrimas deslizaram pelo rosto sujo de sangue e lama de Aisen, enquanto ela sussurrava algo que estava além das capacidades do seu entendimento naquele átimo. O segundo final se aproximava e Yahira só conseguia pensar que aquela era a primeira vez que a via chorar. Isso não aconteceu nem mesmo quando o filho delas morreu. Aquela visão a encheu de sentimentos tão contraditórios que, se pudesse falar, não saberia o que dizer.

A vista nublou e a sombra da morte cresceu às costas de Aisen, tomando a forma de um homem de aspecto estranho e macabro, cujas mãos de dedos alongados ostentavam garras afiadas. Yahira cumprimentou a Morte em pensamento e, no instante seguinte, lutou contra a inconsciência que se aproximava, principalmente, quando se deu conta de que o ser às costas da ex-esposa não era a personificação dela. Pelo menos, não a Morte  que esperava.

A criatura mostrou um sorriso pontiagudo e fincou as garras em Aisen, cujo sangue escorreu pelos lábios unindo-se ao da túnica. A sua agonia libertou Yahira que, por sua vez, focalizou as garras que se projetavam no peito dela com horror. A criatura ergueu a daijin facilmente e a inspecionou, como se estivesse em busca de algo que, rapidamente, ficou claro que Aisen não tinha. Então, ela a descartou, atirando-a em direção ao abismo, como se fosse um boneco de pano.

Em pânico, Yahira mal teve tempo de sugar a primeira lufada de ar para os pulmões. Ela esticou-se o suficiente para pegar Adrakis e, contrariando tudo o que prometeram ao iniciar o combate, pulou no abismo atrás da ex-companheira.

A criatura berrou em fúria, olhou para o abismo e depois para a floresta. Podia sentir as dezenas de pessoas que a atravessavam, então foi naquela direção, mas interrompeu-se ao perceber a presença do punhal sombrio. A arma vibrava, sussurrando em seus ouvidos. 

Eram palavras suaves, hipnotizantes.

Se aproximou dela. Cada palavra assentando nela uma clareza de pensamentos que havia muito não sentia. De repente, a sede e a fome que a consumiam não era tão importante quanto aquele objeto. Estendeu a mão para pegá-lo, mas antes de tocá-lo uma flecha em chamas fincou-se aos seus pés.

Da floresta, Melina e Voltruf surgiram.

— Eu sinto muito, — disse a grã-mestra — mas você nãe ficar com isso.

Em resposta, a criatura berrou. Seu grito agrediu furiosamente os ouvidos das duas mulheres, mas não as impediu de agir. Voltruf atirou pequenas lascas de gelo nela, fazendo-a recuar alguns passos, enquanto Melina atirava uma segunda flecha no chão que, por sua vez, envolveu o punhal em um círculo de fogo.

Com o objeto longe do seu alcance, a sobriedade da criatura tornou a desaparecer. Ela urrou e atacou Voltruf, que assumiu a forma felina e se atirou sobre ela, cravando os dentes em seu pescoço. Em meio a grito de dor, a criatura enfiou suas garras no flanco do tigre, o que fez Voltruf soltá-lo e retornar a forma humana. O espírito começou a circundar a criatura, cujos olhos sem íris a seguiam, prestes a dar um bote, o que fez um momento depois, obrigando Melina a intervir, criando uma barreira de fogo entre os dois.

A criatura se voltou contra ela, mas Voltruf tornou a assumir a forma animal, bateu uma das patas no chão e manipulou o solo, afundando-a nele até a altura dos joelhos. Novamente, ouviram um berro assombroso, enquanto ela tentava se libertar.

Melina se aproximou devagar, apenas o suficiente para não ser tocada por suas garras. Ergueu uma das mãos, tracejando um círculo invisível no ar. Falou:

Protector prisor — assim que finalizou as palavras, um círculo em chamas surgiu alguns metros acima da criatura. Era adornado por letras estranhas e despencou sobre ela como se pesasse toneladas. Mas, em vez de queimá-la, o círculo encolheu até aprisioná-la.

— Você está bem? — perguntou a Voltruf.

— Vou ficar — garantiu o espírito, fazendo uma careta de dor.

Seu sangue gotejou no solo e fitou o punhal, cujas chamas que a grã-mestra criou, já não ardiam. Não se atreveu a pegá-lo e percebeu que Melina também relutava em fazê-lo.

— O que aconteceu aqui? — a ordenada se perguntou.

Voltruf farejou o cheiro do sangue no local, depois seu olhar foi atraído pelo brilho da corrente Kladis. Girou sobre o calcanhar, avaliando o lugar com mais apuro. Aisen havia lhe dito que pretendia confrontar Yahira naquela noite, mesmo que isso a deixasse em falta com o dever de proteger Lenór.

As marcas no chão lhe contaram a história do combate entre as duas daijins, o qual narrou para Melina como se tivesse assistido cada golpe. Se aproximou da beirada do abismo.

— Elas estavam aqui, — apontou para o chão e depois olhou para a criatura aprisionada — então ele apareceu.

Tocou nas gotas de sangue acumuladas ali.

— É recente. Ainda posso sentir um pouco de calor no sangue. — Levou os dedos até o nariz. — Pertence a Aisen.

Observou os respingos em volta e a trajetória deles e, antes que pudesse dizer o óbvio destino das duas mulheres, Melina correu em direção a borda do abismo. Aguçou os sentidos com a magia que lhe era nata e, mesmo na escuridão, conseguiu exergá-las.

Algumas dezenas de metros abaixo, Yahira agarrava-se a uma rocha, fazendo um esforço sobrehumano para se sustentar com apenas uma das mãos, enquanto a outra era envolvida pela corrente Adrakis. Na outra ponta da corrente, estava Aisen.

— Ei! — Melina gritou, chamando a atenção de Yahira. — Aguente firme, estamos indo até vocês.

Enquanto ela e Voltruf, buscavam um meio de chegar até elas, Yahira encontrou apoio para um dos pés. A rocha que segurava era larga o suficiente para abrigá-la, só precisava conseguir subir um pouco mais.

Ela não conseguia enxergar Aisen, mas Adrakis pulsava com a mesma velocidade e intensidade da sua respiração. O que, por um lado, era uma boa notícia. Por outro, era muito ruim, pois os pulsares estavam se tornando cada vez mais espaçados e fracos.

— Aisen! — ela chamou, mas não obteve resposta.

Yahira tentou encontrar apoio para o outro pé, mas o local escolhido não era firme o suficiente e escorregou. O movimento brusco fez o peso que sustentava parecer maior e a corrente fina cortou sua mão. Gritou de dor e ouviu um gemido baixo vindo de Aisen, e torceu para que ela estivesse retornando à consciência.

Inspirou fundo, erguendo o olhar para a beirada do abismo. Um pequeno círculo de fogo desceu até elas, iluminando-as. Uma das mulheres fez uma estaca se projetar do paredão rochoso e saltou para ela. Fez isso novamente, um metro abaixo e outro depois.

— Estou chegando — ela gritou para Yahira, cujos músculos davam indícios de cansaço.

— É bom se apressar! — gritou de volta e baixou o olhar para Aisen, que permanecia inerte. Então, falou chamou a corrente: — Adrakis.

Por se tratar da arma de Aisen, não esperou que ela a respondesse, mas a corrente o fez através de um pulsar mais intenso. Ao menos, pensou que fosse uma resposta.

— Por favor, me ajude a subir nessa rocha. Em breve, não terei mais forças para nos sustentar. Iremos morrer.

Em teoria, Adrakis só deveria obedecer Aisen, assim como Kladis só obedecia a ela, Yahira. Contudo, como todas as armas com consciência mágica forjadas por Amani, havia uma possibilidade de que ela agisse em prol da vida da sua mestra. Houve uma pausa longa, em que Yahira pensou ter sido um pedido em vão, mas então a corrente começou a serpentear o seu braço. Era tão fina, que sua passagem deixou cortes profundos na sua carne.

Yahira aceitou a dor, entregue ao espírito da esperança. Quando a corrente alcançou a mão que agarrava a pedra, ela ouviu a voz de Aisen, tão fraca, que mais parecia um sussurro do vento:

— Então, que a morte nos leve.

Adrakis pulsou mais forte, espalhando um brilho suave em seus contornos e Yahira voltou a fitar a ex, encontrando em seu olhar uma expressão resoluta, antes da corrente envolver a rocha e a despedaçar, atirando as duas no vazio.

***

O rei Dakar trincou os dentes, rodeado por seus protetores, além de Lorde Vans e um general.

— Maldita Azuti! — ele esbravejou ao ouvir os berros de dor dos soldados ali perto.

Ele não podia enxergá-los, graças à espessa cortina de névoa que os cercava.

— Como ela está fazendo isso?

— Não é magia — garantiu Lorde Vans e calou-se quando o som de uma grande árvore caindo lhes chegou.

De repente, o silêncio se fez presente e a névoa começou a dissipar. Logo, começaram a chegar notícias das tropas mais afastadas. Como nos ataques anteriores, várias mortes foram causadas por desabamentos de árvores, outras, por criaturas que não puderam ser identificadas ou capturadas.

Os homens tinham medo e esse medo era mais profundo do que o temor das consequências que enfrentariam por desertar. Aos poucos, eles fugiam, se espalhando pela floresta com destino à zaidar.

Em poucas horas, o rei Dakar experimentou as consequências do medo que ele cultivou no povo de Cardasin ao fabricar histórias e aparições de demônios na floresta que cercava as terras do Castelo do Abismo.

Esse terror, apesar de destinado aos cardasinos, também foi incutido no seu próprio povo e exército. Afinal, poucos soldados participaram da sua tramóia. Assim, a maior parte dos zaidarnianos acreditava nas mentiras que plantou.

E ainda havia Lenór Azuti, a comandante cardasina que lutou com demônios, que caiu no abismo de Tensin e sobreviveu. A mulher sobre a qual histórias surgiam entre as fileiras do seu exército, coisas absurdas, mentiras descaradas, que a pintavam como uma espécie de heroína e, ao mesmo tempo, um demônio.

— Senhor, talvez seja melhor nos reagruparmos e analisar uma nova estratégia de ataque…

— Será um homem morto se terminar essa frase, General! — rosnou o rei. — Eu não tenho medo daquela mulher, nós não vamos recuar, não importa os truques que ela use. Nós vamos destruir aquele castelo e tomar Cardasin!

A névoa se dissipou completamente e os zaidarnianos se viram no meio de uma clareira.

— Não me lembro deste lugar — Lorde Vans falou, enquanto os soldados se alinhavam atrás deles. — As árvores foram cortadas aqui…

— A névoa — disse um dos protetores. — Sem enxergar, fomos conduzidos para cá.

Junto às árvores, do outro lado da clareira, duas tochas surgiram e não demorou para que a voz de Lenór se projetasse:

— Zaidarnianos, vocês foram avisados. Ainda há tempo de desistirem.

O rei fez um gesto largo para os homens e berrou de volta:

— Acha que um pouco de fumaça e homens fantasiados irão nos deter, Comandante?

Ela deu um passo à frente, a tocha iluminando seu rosto, quase irreconhecível pela pintura vermelha que o atravessava. Ergueu a outra mão e dezenas de tochas se acenderam entre as árvores, no entanto, não foi ela a responder o rei, e sim, Mardus.

— Não há motivos para derramar mais sangue, primo. Seus planos foram frustrados, suas ações também. Cardasin ainda tem um rei! — os soldados às suas costas urraram em resposta. — Neste exato momento, se render não é um sinal de fraqueza, e sim, de sabedoria.

Dakar rangeu os dentes, afinal, suas suspeitas de que o primo permanecia vivo se confirmaram. Praguejou mentalmente.

— Assim como a Comandante Azuti declarou em seu acampamento, — Mardus prosseguiu — não haverá retaliações por parte de Cardasin, se você desistir dessa insanidade agora. Por favor, faça isso em nome da sobrevivência do seu povo. Vamos conversar sobre um acordo de paz.

Mas Dakar já tinha ido longe demais para desistir.

— Só haverá paz neste reino quando eu me tornar o seu rei! — declarou.

Um momento se passou até Mardus reunir forças para responder:

— Então, lamento pelas vidas que se perderão. Sobretudo, lamento por você.

Ele encarou Lenór e a amiga baixou a mão, projetando a voz até o rei inimigo:

— Seja bem-vindo aos seus últimos momentos de vida, Rei Dakar.

As tochas se apagaram e a batalha começou.

— Ataquem! — o rei zaidarniano ordenou aos berros.

Os soldados avançaram pela clareira em uma corrida desabalada, acalorada pelos gritos de guerra. Entretanto, os cardasinos não saíram da floresta, nem se mexeram, até que a comandante fez novo gesto e Dimal se uniu a ela. O palatin acendeu uma flecha e a posicionou no arco, olhou para Lenór a espera da ordem final:

— Atire.



Notas:

Ainda estou por aqui. Não desistam de mim, rs…

Beijos e obrigada pela paciência.




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5 Respostas para 40.

  1. Aguardando ansiosamente pelo desfecho dessa estória maravilhosa!
    Simplesmente adoro sua escrita!

  2. Tia, pelamor, dois plots em im capítulo é muito pto meu coração. Que mal pergunte: quando sai o próximo?

  3. Wow! Que batalha entre Aisen e Yahira!!!
    Senti que ainda tem um trisquinho de amor por Aisen em Yahira, talvez todo aquele odio e vingança era porque estava sob o efeito daquela arma amaldiçoada. Já em capítulos anteriores eu sentia esse trisquinho de amor em Aisen, mas nesse capítulo ela mostrou toda magoa e ressentimento que possui, e é lógico que não tiro as razões dela.
    Elas não podem morrer…

    Capítulo fantástico.

    Parabéns, autora.
    Já cola no próximo aí aproveitando a inspiração, para não demorar tanto… rsrsrs

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