Capítulo 46

Minha irmã estava sentada em um banquinho e eu estava no chão com as pernas cruzadas para frente, tocando distraidamente até que ela pediu para começarmos a tocar algumas músicas do Nando Reis, sorri com minhas lembranças e concordei. Tocamos de “Sou dela” a “All Star” passando por “Sim”, “Luz dos olhos”, “Não vou me adaptar”, “Nos seus olhos”, “Espatódea”, entre várias outras músicas dele que tanto gosto e que me fazem lembrar a Clara.

Em um momento que parei para beber um pouco do vinho. Levantei meu olhar e vi a mulher que amo, estava cumprimentando o pessoal e ficou nos olhando tocar um pouco afastada, só fez acenar para mim e para Dani e esta por sua vez sorriu e começou a tocar uma música do Frejat que eu tinha aprendido há pouco tempo e ela sabia disso: “Eu não quero brigar mais não”:

“Eu amo o cheiro do seu cabelo, / Eu amo o nosso amor/ Assim sem dor-de-cotovelo. / Vamos pra bem longe daqui,/ O vira-lata e a gata/ Meu bem, pode levar o novelo.

Não consegui evitar o sorriso e estava cantando junto com a Dani, mas baixinho. Era quase só um movimento dos lábios.

O nosso amor não é só/ De pele e de pêlo,/ Se quiser ter um neném/ Tudo bem, vamos tê-lo./ O nosso amor/ Vai da água pro vinho,/ Às vezes é feito baixinho/ Às vezes acorda o vizinho/ Penso em você e o meu/ Coração se aquece,/ Penso em nós dois e as/ Peripécias da espécie/ Esquece a nossa última briga/ Lembra o primeiro beijo/ E ouça essa cantiga/ Eu não quero brigar mais não/ Eu quero você toda pra mim/ Vou começar pedindo a tua mão/ Você é aquela que o meu coração habita/ Única e favorita,/ Estrela da minha vida/ e da minha escrita/ Eu vivo sorrindo de orelha à orelha/ Você com a pele bonita/ Que fica sempre vermelha,/ Quando eu te amo,/ De forma infinita./ Somos Bambam e Pedrita/ Eu não quero brigar mais não/ Eu quero você toda pra mim/ Vou começar pedindo a tua mão/ Eu quero uma mulher normal do povo,/ Não quero uma mulher global de novo/ Quero uma mulher que me ame/ no Natal e no Ano Novo/ Amor do caviar, do pão com ovo/ Namoro num fusquinha ou num porto”
Só consegui olhar novamente para a Clara depois que a música terminou, ela sorriu lindamente esvaindo um pouco a nuvem de tristeza que eu tinha percebido que estava sobre sua cabeça. Continuamos a tocar mais algumas músicas, mais uma vez afirmei a tese em minha cabeça que “todo bêbado acha que é cantor”. Dani não cansava nunca.

Passei o violão para a Bruna e fui ao banheiro. Precisava respirar com um pouco mais de alívio, coisa que eu não estava conseguindo sendo observada pela Clara. Voltei pouco tempo depois para o mesmo local que eu estava, percebi que a minha ex namorada tinha sumido, mas logo depois reapareceu e voltou com o ar triste que tinha chegado, não aguentei ver aquela cena e fui ver o que estava acontecendo.

-Oi.

Beijei seu rosto, quase desfaleci com o delicioso perfume que exalava de sua pele. Sentei ao seu lado, mas de frente para onde o pessoal estava cantando

-Oi – respondeu com um triste sorriso – porque parou de tocar? Estavam tão bem. Realmente você e a Dani formam uma ótima dupla.

-Ela está bêbada e não cansa nunca. Meus dedos já estavam começando a ficar doloridos – sorri.

-Você toca muito bem.

-Obrigada – sorri sem graça.

Ficamos mais um tempo em silêncio ali uma ao lado da outra curtindo o som da galera, riamos em algumas situações, mas a Clara continuava triste e estava tentando me enganar.

-O que você tem? – Perguntei olhando para ela, ia saber se estivesse mentindo.

-Nada, por quê?

-Você está tentando esconder alguma tristeza.

Ela suspirou profundamente, percebi que tinha tocado em algum ponto nada agradável e que ela não queria que eu soubesse.

-Tudo bem, não quer falar, sem problemas. Qualquer coisa, estou por aí.

Levantei para voltar para o grupo que continuava animado. Olhei para Rafa e ela nos observava, balançou a cabeça negativamente, senti o suave toque da mão da Clara em meu braço.

-Fica.

Sentei no lugar que estava antes e continuamos em silêncio, estávamos prestando atenção na bagunça da galera, mas resolvi quebrar esse silencio:

-Tem certeza que não quer falar sobre o que te atormenta?

Ela suspirou profundamente e ficou mais um tempo quieta.

-Enfim o que todos esperavam aconteceu.

-O que houve?

-Regina me pediu um dinheiro – já imaginava o que vinha pela frente – dizendo que seu pai só a deixou com a casa que os dois compraram juntos e levou quase tudo para o apartamento dele – pausa – mas, ela cometeu um erro: não avisou sobre mais essa mentira para o filho e ele acabou me falando ontem pelo telefone, acho que sem querer, que seu pai depois que teve o AVC não voltou mais lá nem para pegar uma cueca sequer.

-Você já falou com ela depois disso? – nada do que vinha da Regina me surpreendia mais.

-Não, ela não me ligou e nem eu liguei para ela hoje, coisa que nunca aconteceu, acho que ela já sabe que eu sei.

-Foi muita grana?

-O suficiente para reequipar toda a casa e alguns meses de supermercado.

A voz dela estava trêmula, sabia que ela estava tentando segurar aquele choro ao máximo, principalmente porque eu estava ali.

-Você sabe que não é pelo dinheiro, mas ela me traiu.

-Vem cá.

Puxei-a e ela deitou a cabeça em meu colo, meu coração disparou com essa proximidade. Fiquei alisando seus cabelos, ela enfim chorou, colocou toda a raiva e angustia para fora através daquelas lágrimas, dos soluços.

Meu coração ficou apertadinho por vê-la naquele estado. Eu queria e podia falar tantas coisas do tipo que eu havia avisado que ela não deveria ter confiado naquela mulher, mas aquele não era o momento. O que a Clara menos precisava era ouvir sermão.

Depois de muito tempo ouvindo a barulho da muvuca que estava um pouco mais a frente e os soluços da Clara, ela foi se acalmando, mas continuamos ali naquele contato, nenhuma de nós queria sair dali. Muitos já havia ido para os quartos dormir, outros estavam namorando por aí e algumas como a Dani e a Cris e Rafa com Bruna estavam ainda cantarolando algumas canções, com uma melhor qualidade – sorri ao constatar isso e minha amiga sorriu para mim, balancei a cabeça negativamente para informar que não era nada daquilo que ela estava pensando.

Clara levantou o corpo para me fitar, ela ficou me olhando. Não desviava os olhos dos meus. Era o contato que eu tanto gostava, o contato que voltei a enxergar a mulher que amo, enxuguei o restinho de lágrimas que ainda molhavam seu rosto. Ela voltou a me abraçar apoiando o queixo na curva entre meu pescoço e o ombro e sua respiração estava me arrepiando.

Nunca fui tão sensível, mas depois que conheci a Clara, tudo mudou. Ri com esse pensamento e ela sem sair do lugar, perguntou do que eu estava rindo, mas sussurrando, me arrepiei ainda mais e disse que não era nada. Eu estava de frente para ela, mas continuávamos sentadas no mesmo banco, pois era comprido. Fechei os olhos para aproveitar aquele contato que senti tanta falta, pois não sabia quando ia poder abraçá-la novamente, mesmo sabendo o que a Regina tinha feito, não sabia do nosso futuro. Fomos muito duras uma com a outra, ambas estávamos machucadas.

Curtimos aquele contato ao máximo. A Clara começou a acariciar minhas costas e suas mãos pararam em minha nuca, seus dedos entrelaçado entre meus cabelos, suspirei e continuei com os olhos fechados. Ela beijou levemente meu pescoço, segurei seu rosto. Olhei por alguns segundos em seus olhos e vi o que queria: ela estava de volta. Beijei-a de uma forma saudosa. Totalmente diferente do beijo do nosso reencontro em Curitiba que foi calmo, esse tinha muita saudade, tinha angustia, tinha mágoa que estava sendo extravasada das duas partes, mas eu não queria pensar nisso naquele momento, queria aproveitar que a Clara estava ali comigo.

O beijo continuou, mas a intensidade foi dando lugar ao carinho, estávamos saboreando os lábios, a língua uma da outra, explorando todos os cantos já tão conhecidos e que havia tanto tempo que não eram visitados. Não sei qual o tempo que ficamos ali, mas sei que precisamos parar para respirar direito. Olhamo-nos, sorrimos e voltamos a nos abraçar, a nos beijar e palavras eram soltas entre os lábios, algumas delas conseguíamos entender, outras não.

-Estava com tanta saudade, Du…

Clara dizia isso apertando minha nuca, minhas costas, mordendo levemente meu lábio inferior. Vi e senti lágrimas caindo dos seus olhos, enxuguei com os beijos que eu dava em seu rosto, ela voltava a sorrir. Ficamos só nos fitando, ela sorria ainda mais.

-Eu te amo! – sussurrou, sorri junto com ela.

-Eu também te amo – respondi no mesmo tom.

Ficamos nos curtindo, nos acariciando, nos beijando. Tocando-nos para ter certeza que aquilo era verdade.

-Teve um momento que eu já tinha perdido as esperanças.

-Eu achava que você não ia me perdoar nunca por ter duvidado entre vocês.

-Não se preocupa com isso, o que importa é que você sabe que não menti e que agora está aqui comigo.

Voltamos a nos beijar carinhosamente:

-Aeee… Até que enfim que vocês voltaram. Não aguentava mais isso.

Dani gritou de onde estava e todas olharam para a gente, levantamos e fomos de mãos dadas para onde nossas amigas estavam. Conversamos, demos muita risada, voltamos a tocar e cantar. Tudo enfim estava na mais perfeita ordem. Quando decidimos sair dali já estava começando a amanhecer.

-Vamos a praia para o primeiro mergulho do dia ainda amanhecendo? – sugestão da Cris.

-Eu topo – disse a Clara toda empolgada

Todas toparam a loucura gostosa. Trocamos de roupa e seguimos para a praia, nós seis. Somente eu e a Clara que não estávamos bêbadas e tivemos que nos preocupar com nossas amigas. Assim que chegamos fomos direto para o mar e depois que demos alguns mergulhos, automaticamente fizemos uma pequena roda entre a gente em uma parte um pouco mais rasa da praia: eu estava abraçando a Clara, Dani com a Cris e Bruna com a Rafa:

-Foi por causa dela que você não ficou com a Ana ontem, Duda?

-Foi sim – respondi natural e rapidamente.

-Como assim? – a Clara me perguntou.

-Acho que falei besteira.

-Calma, não falou besteira nenhuma, Cris. Clara, vem aqui comigo que te explico.

Puxei-a para nos afastarmos um pouco das meninas, virei a Clara de frente para mim e expliquei toda a história para ela e ainda bem que consegui convencê-la. A Clara passou os braços ao redor do meu pescoço.

-Quer dizer então que ontem você foi ao Babalotim só com a Dani, né?

Continuei segurando sua cintura que não soltei em nenhum momento.

-Fui sim, mas ela se acabou lá, beijando a Cris, e a tal da Ana Flavia não quis mais falar comigo depois que disse que não ia ficar com ninguém, porque tinha terminado com uma mulher que ainda amo.

-Ama? – sussurrou em meu ouvido.

-Muito.

Tomei posse de seus lábios e mais uma vez perdemos a noção do tempo que ficamos ali nos curtindo e nos divertindo com nossas amigas que estavam deveras animadas com o nosso provável retorno. Voltamos para casa por volta das 8h, eu estava faminta e já tomei meu café da manhã enquanto as outras iam para seus quartos, inclusive a Clara, mas essa foi para o meu.

Assim que terminei fui atrás dela que já estava deitada e parecia dormindo. Tomei meu banho e deitei sem fazer barulho e nem movimentos bruscos a abraçando por trás e escutei um delicioso suspiro que minha amada soltou.

-Estava com saudade de dormir assim com você, mas a gente não vai dormir agora.

Virou-se em minha direção e não me deu chance alguma de responder, pois ela sentou na altura do meu sexo e começou e beijar todo o meu corpo, iniciando em minha boca e percorrendo toda a minha pele com lábios, língua e mãos. Eu já me contorcia sob seu corpo. Sentia uma saudade enorme daqueles toques, dos beijos, do cheiro e ela estava me enlouquecendo mais rápido do que já fazia. Senti sua língua brincar com o bico de um dos meus seios e logo em seguida abocanhá-lo enquanto uma de suas mãos brincava com o outro e a outra mão livre começava a passar pelas minhas pernas e parou entre elas a fazendo soltar um pequeno gemido satisfeita com o estrago que estava fazendo: eu estava prestes a gozar.

Percebi que ela queria prolongar um pouco aquela tortura, puxei-a pelos cabelos e recomeçamos nosso beijo, mas a Clara saiu do contato, sorriu cinicamente e desceu rápida a boca até o meu sexo. Quando ela sentia que meu gozo se aproximava, diminuía o ritmo até meu corpo se acalmar. Eu não aguentava mais, procurava alguma coisa na cama para segurar em vão.

Os travesseiros já não estavam lá, a cama não tinha cabeceira porque era de alvenaria, só me restava o lençol que eu já estava tirando todo do lugar.

-Amor…

Ela sorriu pelo meu desespero ainda com a boca em meu sexo e o ar quente que ela acabou liberando me enlouqueceu ainda mais. Puxei-a novamente pelos cabelos e a fiz se encaixar entre as minhas pernas. Não parávamos de nos beijar. A dança que nossos corpos realizavam juntos já estava fora do nosso controle, eles já tinham vontade própria, um já sabia o que o outro queria, encaixavam-se perfeitamente.

Palavras desconexas eram sussurradas entre gemidos e suspiros até que nossos corpos explodiram juntos num gozo perfeitamente delicioso. Sem dar tempo para nos recuperarmos, troquei de posição com a Clara, fui diretamente para seu sexo e o saboreei com vontade. Quanta saudade que sentia de beijar, tocar, sentir aquela mulher que estava mais uma vez entregue a mim, aos meus carinhos. Não saí daquele paraíso enquanto a Clara não me presenteou com seu delicioso líquido em minha boca e dedos. Sequei até a última gota. Amamo-nos mais algumas vezes com mais calma, nos curtindo por mais algumas horas.



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