Sinopse: Eduarda, protagonista e narradora da história, inconscientemente, preparou sua vida pessoal e profissional para encontrar a mulher que derrubará todos os muros que construiu ao seu redor, um a um. E, o melhor, consciente e com sua permissão. Mas nem tudo são flores e não seria esse o relacionamento perfeito, se é que ele existe.

Um amor antigo, uma amizade tão velha quanto e uma dívida carnal giram em torno das duas amantes pondo o sentimento a prova no momento que é mais do que necessária a escolha dos amores: materno ou carnal.

Amizade, companheirismo, cumplicidade, paixão: essas são algumas das palavras que definimos o amor. Mas ele é mais do que isso. Não basta dizer “eu te amo”. Tem que dizer, mas de coração aberto. As atitudes valem mais, muito mais do que palavras, do que frases.

Até que ponto podemos abrir mão do que é nosso, do que conquistamos, do que sonhamos para estar ao lado de quem amamos? Sinceramente? Não sei. O espiritualismo tem muitas explicações, mas só você pode saber.


CAPÍTULO 1

“Vamos levantar, pentear os cabelos, escovar os dentes, tirar remela dos ‘zói’, vum’bora macho, deixa de ser preguiçoso rapaz, vamos, levantando com estilo fazendo… E vamos lá: é 5, 6, 7, 8, e vamos lá é 5, 6, 7, 8… Braço para cima, braço para baixo, vai, vai, acorda, levantando e vai, vai, ai primo, acorda pelo amor de Deus!”

Abri meus olhos e estiquei o braço até alcançar o celular:

— Um dia ainda jogo você longe. Que despertador mais irritante — levantei sorrindo.

Segunda-feira, dia chato para qualquer pessoa normal, mas para mim não existia dia assim porque todos os meus amigos não me acham normal. Sabe que tem horas que até chego a concordar com eles? Onde já se viu achar o segundo dia da semana tão bom quando o sexto ou o sétimo?

Bom, mais um dia útil começando. Tenho que correr, senão perco o ônibus, e se isso acontecer, chego atrasada no trabalho e, consequentemente, terei que compensar isso e nem estou afim, afinal, tenho aula uma hora depois do meu horário de trabalho e isso significa que terei que atrasar também na faculdade. Não, definitivamente não.

Ah, quase ia esquecendo, preciso me apresentar para vocês: Sou Eduarda, não Maria Eduarda como todos acham, minha mãe quis simplificar as coisas para mim logo no meu nascimento. Meu nome ficaria muito grande e perece que ela me conhecia antes mesmo de me olhar pela primeira vez na maternidade: adoro simplificar as coisas. Bom, tenho 23 anos de idade, faço faculdade de história em uma universidade particular. Não que eu tenha condições de pagar, muito pelo contrário, sou bolsista mesmo, aquela que o governo federal incentiva as faculdades privadas isentando-as de pagar alguns impostos em troca desse “benefício” aos alunos carentes, podemos dizer assim.

Minha formatura é no fim desse ano, adoro meu curso, mas não quero trabalhar com professora, quero ser historiadora, é muito mais instigante e emocionante do que ficar falando para um monte de pessoas desinteressadas em uma sala de aula.

Digo isso porque são poucas as pessoas que gostam de história, a grande maioria acha que é inútil saber o nosso passado, pode uma coisa dessas? Eles acham inútil saber o motivo de estarmos em um país tão rico e ainda em desenvolvimento, eles acham inútil saber o motivo da superpopulação do estado de São Paulo, acham inútil também saber o motivo de toda essa roubalheira em Brasília… Mas, não os culpo de pensarem assim, afinal nossos queridíssimos e amados políticos não fazem a mínima questão de mudar essas ideias dos nossos atuais adolescentes — “o futuro da nação” (só para descontrair um pouco) – por isso mesmo que não investem na educação — dentre outras prioridades — isso é para que nossos jovens não “caiam na real” e acabem os tirando do poder e, consequentemente, tirando o dinheiro fácil dos seus bolsos, malas, cuecas ou qualquer lugar que se possa carregar e/ou esconder alguns papéis que são causadores de estatísticas que nos dão a noção da loucura que estamos vivendo, pois vários e vários jovens acabam entrando no mundo do crime porque seus pais não têm condições de pôr uma comida na mesa diariamente, não têm condições de comprar um caderno para levar para a escola, aliás, muitos hoje só vão “estudar” por causa da merenda escolar.

Volto a afirmar que tudo isso tem uma explicação plausível se formos lá atrás pesquisar, desde a época que Portugal encontrou nosso país. A população portuguesa que veio para nossa terra até 1808 era composta por marginais porque lá não tinha mais prisões suficientes para todos, portanto, deu no que deu.

Bom, não estou aqui para discutir o motivo das injustiças e diversidades sociais, estou aqui para falar um pouco sobre mim, desculpem-me se por alguns momentos acabar desabafando com vocês, é que tem horas que me sinto sufocada com tudo isso que está acontecendo em nosso país. Quero deixar bem claro que não sou afiliada a nenhum partido político, muito pelo contrário. Todos eles me enojam.

Mas, voltando a minha apresentação: prefiro mesmo é ser historiadora e o que me levou a essa decisão foi a cidade que eu nasci e moro até hoje, sou simplesmente apaixonada por Salvador. No decorrer da minha história vocês ficarão sabendo dos vários motivos desse sentimento avassalador.

Ah, no momento estou trabalhando como teleoperadora por causa da carga horária, pois tenho também que fazer o estágio obrigatório para a minha formatura. Antes era uma correria enorme, não tinha tempo nem para me coçar durante a semana, tive que conversar a gerente do RH da empresa a minha situação e por causa do meu histórico, consegui flexibilizar meus horários em alguns dias: segunda, quarta e sexta eu tinha estágio pela manhã até as 11:30h, saia correndo para o trabalho e pegava as 12:30h para sair 17:30 e compensar o restante nos dias que não tinha estágio.

Imaginem aí a minha cara de cansaço que eu ficava até a sexta-feira. Mas, mesmo assim não mudava meu humor. Conversava, brincava com todo mundo e ainda dava um jeitinho para paquerar porque não sou de ferro, né gente? Mas, por incrível que pareça, nunca fiquei com nenhuma menina ou mulher da empresa, pois muita gente gosta de se sentir a “namorada” dia seguinte e isso era o que eu menos queria por causa da minha correria do dia a dia e não tinha tempo para namorar, queria mesmo era curtir, beijar na boca e ser feliz. Outra coisa: tenho 1,70m, faço parte da minoria em minha cidade, sou branca, já fui magra e também gorda, hoje por não ter tempo para comer e por ter praticado muito esporte há algum tempo, posso dizer que meu corpo é bonito, algumas partes dele se sobressaem, não comento sobre o assunto. Tenho cabelos cacheados castanho claros um pouco acima dos ombros, meus olhos ficam no meio-termo, tem horas que é castanho claro e tem horas que ele fica num tom quase mel, nem eu sei qual a original.

Ah, acho que não comentei com vocês, sou Gay — óbvio, né? –, não gosto de títulos como homossexual, lésbica, sapata ou coisas do tipo. Costumo brincar com um amigo que somos G³ (garota que gosta de garota, no caso dele é garoto, meio louco isso, mas acho até divertido). Todos que gostam de pessoas do mesmo sexo é Gay e pronto! Para que ficar inventando nomes? Perda de tempo, isso sim.

Outra coisa, moro sozinha numa kit net alugada no centro da cidade (Campo Grande), bem óbvio para uma historiadora, mas moro aqui porque é perto de tudo, perto do Shopping Gay de Salvador — não que eu goste de shopping, mas as vezes é necessário ir a um cinema, comprar algo rápido e até se encontrar com alguém, e o chamamos assim porque é o ponto de encontro de muitos casais do meio, mas não rola nada além do encontro, depois arranjam outro lugar para literalmente se divertirem — perto também da maior estação de ônibus do estado, ou seja, posso ir e vir a qualquer lugar da cidade sem nenhum problema e tem várias e várias vantagens de morar aqui que vocês acabarão sabendo no decorrer do relato.

Caramba, eu falo muito, mas estou me superando com vocês. Assim não chego hoje no estágio. Como sempre, saí correndo para conseguir pegar o bendito ônibus e quando chego ao ponto, ele já estava lá, como se me aguardando. Bom, minha viagem não é muito longa, cerca de trinta minutos. E como sempre pego meu MP4 e escuto minhas músicas favoritas no máximo volume — vários amigos meus já pagaram o maior mico me chamando na rua e eu nem olhei porque eu realmente nem escutava.

Ao chegar à empresa que faço o estágio e fiz meu “ritual”: cumprimentei todos os conhecidos com abraços, aperto de mão ou somente um leve aceno com a cabeça. Eu sou assim, tenho que falar com todos que conheço, senão meu dia não é o mesmo. Logo quando cheguei fui chamada pelo supervisor juntamente com outros estagiários das outras áreas:

— Lá vem bomba! — pensei.

— Bom dia a todos! — Júlio nos cumprimentou.

— Fala Duda, qual é a boa? — sussurrou Paulo para não atrapalhar o comunicado de Júlio.

— Até agora estou por fora, mas estou curiosa para saber o motivo dessa reunião extraordinária — eu disse no mesmo tom.

— Preciso da total atenção de todos nesse momento — continua Júlio. — Bom, solicitei a presença de todos os estagiários que estão se formando no fim do ano, primeiro para parabenizá-los pelo ótimo desempenho, posso garantir que foi uma das melhores turmas que aqui estiveram. Como todos sabem, até o fim do contrato de vocês, estaremos chamando um por um para fazer a avaliação de desempenho e contratar quem acharmos necessário para o bom andamento da empresa, afinal de contas, necessitamos de resultados — fez-se um breve silêncio — e tenho outro comunicado a fazer: existe uma empresa no mundo da música que está recrutando algumas pessoas com novas e boas ideias e vieram aqui para conversar com vocês e terem noção de quem ela vai propor o emprego, pois é gente, EMPREGO. Como são poucos que nossa empresa vai contratar, então ele está aqui para analisar a todos e isso começa hoje mesmo.

“Sim, e o que eu tenho haver com isso? Eu faço História e não música” — pensei já querendo me retirar.

Como que respondendo a minha dúvida, um cara alto com uma boa aparência e que fez meu “radar” acionar — quase o quebrando –, começa a falar:

— Bom dia, meu nome é Carlos e sou o responsável pelo recrutamento de vocês. Bom, muitos devem estar se perguntando o que está fazendo aqui, não é verdade? Explicando: trabalho para o Vc3 Entretenimento. Somos uma empresa que não visa somente à produção musical, trabalhamos com a produção cultural, queremos propagar a cultura no geral, por isso mesmo que estamos aqui no Instituto em busca de novos profissionais que tenham a mesma visão que a gente para darmos continuidade ao trabalho.

A partir deste momento não conseguia escutar mais nada. Era tudo o que eu queria, poderia colocar meu projeto da ONG Cultural em prática. Anos de pesquisas e de trabalho. Estava ali a minha chance de entrar no mercado de trabalho com o pé direito e ainda por cima tirando o meu sonho do papel.

— Por hora é só gente, qualquer novidade peço ao Júlio para entrar em contato com vocês, ok? — continuou Carlos.

— Voltando ao trabalho, meu povo — Júlio nos chamou a realidade.

Eu estava feliz? Meu Deus, eu estava radiante, se meu sobrenome era bom humor, a partir daquele momento, tornou-se o primeiro. Dei continuidade às minhas atividades no instituto com a minha cabeça trabalhando a todo o vapor. O que mais queria era chegar em casa e verificar meu projeto, queria dar mais uma olhada para ver se não precisava de mais alguma coisa, sei lá, queria ele perfeito.

O restante da minha manhã foi tranquilo, saí do instituto no horário de sempre e pra variar fui correndo para o ponto de ônibus para ainda chegar ao trabalho e enfrentar aqueles clientes que por algum motivo tolo ou justo estavam ligando para a central de atendimento.

Cheguei, faltavam quinze minutos para fazer o login. Era o tempo exato que precisava para fazer um lanche, isso mesmo, um lanche porque almoçar mesmo para mim durante a semana era uma regalia.

Quando entrei na empresa, consegui falar com alguns amigos que estavam próximos a entrada e fui logo procurar um lugar para mim, tudo correu como o planejado e as 12:30h exatamente eu já estava apta a trabalhar.

Ufa, 17:30h mais correria. Precisava estar na faculdade as 18:30h, mas o trajeto durava uns 25 minutos, dava para ir com uma certa calma e mais uma vez lanchar. 22:10h, fim da última aula e o que eu mais queria? Ir para casa. Cheguei as 23:00h e só deu tempo mesmo de tirar qualquer coisa da geladeira, pôr no micro-ondas e entrar no banheiro para tomar uma “chuveirada” morna com o intuito de relaxar o corpo para ele lembrar-se que já estava na hora de dormir. Saí do banheiro nua mesmo, comi e me joguei literalmente na cama, pois não tinha mais ânimo para nada.



Notas:



O que achou deste história?

Uma resposta para Capítulo 1

  1. Olá! Eu estava acompanhando essa historia aqui! fiquei chateada quando o site saiu do ar! E o pior deu problema no meu tablet, perdi os favoritos! Nao lembrava o nome da historia e nem da autora! rss. Feliz com a Volta do Lesword e de achar sua historia! agora eu so estou vendo aonde parei! rsss.
    Torço que apesar de tudo a Duda e a clara fiquem bem! O que mais me chamou a atenção foi ser um romance espirita e como sou espirita também me interessou muito!
    Beijos
    Fique na paz
    Mascoty

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