Capítulo 14

Acordei com o som irritante do meu celular, levantei de uma forma que a Clara não acordasse. Tomei meu banho, me vesti e ia deixar um bilhete para ela, mas eu não ia ficar bem porque ela viajaria há poucas horas e não queria me despedir assim.

Fui até a cama e comecei a beijá-la no pescoço, colo, seios… queria, mas não podia descer mais porque senão chegaria atrasada nos trabalhos. Clara acordou e me presenteou um de seus lindos sorrisos:

– Bom dia – beijei-lhe a boca.

– Bom dia Du! O que faz acordada a essa hora? Volta para a cama… você me acendeu, agora vem aqui.

– Bem que eu queria, linda, mas não posso. Tenho que passar em casa para trocar de roupa porque hoje tenho trabalho, lembra?

– Poxa – fez carinha de triste – tudo bem. Vou ter que viajar sem me despedir direito da minha namorada.

– Hei, deixa de exageros – beijei seu pescoço – adorei o que fizemos ontem e essa madrugada também, foi uma prova que eu lhe desejo uma boa viagem e fiz de uma forma para você sentir saudade e querer voltar logo – sorri.

– Mas, eu quero mais – disse com voz de dengo.

– Eu também quero, linda, mas agora não posso. Olha o meu lado, por favor.

– Tudo bem, tudo bem… mas, quero compensar quando voltar.

– Sim senhora, farei isso com prazer – sorri e beijei-a – bom, agora preciso ir, caso contrário, chegarei atrasada no meu primeiro dia.

Clara me abraçou e me beijou longamente. Desejei-lhe ótima viagem, ela me desejou boa sorte no meu primeiro dia de trabalho e saí. Passei em casa, troquei de roupa e fui para a empresa de ônibus mesmo porque minha moto ainda não havia chegado.

Ao chegar no escritório do Vc3, fui encaminhada para a sala do Carlos, conversamos um pouco e fui informada que ainda não seria apresentada a pessoa responsável pela parte social da empresa e por enquanto ficaria discutindo alguns detalhes desse e de outros projetos com ele mesmo até pelo menos o final da semana.

Aproveitei também para dar uma olhada em tudo o que a empresa já tinha feito na área social, constatei que não foi muita coisa, mas o suficiente para que o governo e as pessoas interessadas no ramo tivessem uma visão diferenciada da empresa. Gostei do que vi: projetos, estrutura e equipe. Tudo de ótima qualidade como já havia suspeitado.

Esse primeiro dia foi mesmo para ter noção das funções que teria ali dentro, conversei muito com meu chefe temporário e nos aproximamos o suficiente para discutirmos juntos os meus trabalhos. Por volta das 12h recebi um SM da Clara:

“Estamos em terras paulistanas, te ligo mais tarde. Saudade, beijos”.

Fiquei feliz e respondi com um trecho da música “N” do Nando Reis:

“Espero que o tempo passe, Espero que a semana acabe, Pra que eu possa te ver de novo, Espero que o tempo voe, Para que você retorne, Pra que eu possa te abraçar e te beijar de novo. Saudades também, beijo”.

Saí de lá às 17h e fui para a faculdade me encontrar com meu orientador do TCC, ele aprovou meu trabalho e agora era só esperar o grande dia para a apresentação.

Quando estava chegando em casa, senti meu celular vibrar no bolso, verifiquei no display e atendi:

– Oi mãe.

– Oi filha, como está?

– Bem, e você?

– Estou bem também.

– O que manda?

– Vai fazer o que amanhã?

– Depende da hora, por quê?

– Sua avó está vindo passar uns dias aqui em Salvador, porque não dorme aqui amanhã?

– Acho uma ótima idéia, devo chegar por volta das 18h aí.

– Tão cedo?

– É que estou saindo do trabalho às 17h e não preciso mais ir à faculdade.

– Ótimo, amanhã nos vemos então.

– Certo, boa noite mãe, beijo.

– Boa noite, beijo.

Encerrei a ligação e tomei meu banho, preparei meu jantar e fiquei assistindo filme até que peguei no sono não sei de que horas até que horas. Fui acordada com a música SIM de Nando Reis, era o toque do meu celular. Estava com tanto sono que nem vi quem era:

– Alô – resmunguei.

– Te acordei? Desculpe-me, sei que é tarde, mas só pude ligar agora. Não queria dormir sem falar contigo – Disse num fôlego só. Reconheci a voz.

– Acordou sim, mas acabei dormindo um pouco cedo por causa do cansaço. Não tem problema quanto ao horário e também não queria dormir sem falar com você, só não te liguei porque não sabia se podia.

Sei lá, fiquei com receio de interromper alguma reunião.

– Pode ligar a qualquer hora, Du. Se eu estiver ocupada, falo contigo rapidinho e retorno a ligação assim que puder.

– Não me dá ousadia, linda – ri – como foi a viagem?

– Foi tranquila, acabei de chegar ao hotel. Estou sentindo falta de certo corpo para me ajudar a dormir – disse com voz de dengo.

– Você também me viciou, sabia? Estou com saudade – disse a última frase num fio de voz.

– Pelo visto a semana vai demorar a passar tanto para mim quanto para você.

Ficamos mais alguns minutos conversando até o cansaço nos vencer e desligarmos.

O restante da semana correu tranquilamente, mas muito devagar. Realmente estava com saudade da Clara, do seu corpo, dos seus beijos, das nossas conversas. É… Dessa vez acho que me pegaram de jeito de verdade.

Na quinta-feira recebi mais um SMS da Clara, coisa que estava constante entre a gente durante a semana que ficamos separadas devido ao seu trabalho:

“Enfim amanhã mataremos toda essa sufocante saudade. Quero você em meu apartamento às 20h. Beijo.”

Como eu fiquei o restante do meu dia? Super feliz e extremamente ansiosa. Se a semana demorou a passar, imaginem a quinta-feira. Tive a sensação que meu relógio parou, eu estava muito agitada, não estava me reconhecendo:

– O que você tem, Duda?

– Eu? Nada, por quê?

– Está numa agitação fora do normal.

– É ansiedade Carlos, minha namorada está voltando de viagem amanhã.

Disse isso no impulso. Não me arrependi porque não tenho nada a esconder, mas no fundo consegui confirmar a minha suspeita de que Carlos também é Gay.

– Está apaixonada, hein, Duda? – disse rindo.

– Não sei direito Carlos, tem pouco tempo que nos conhecemos, mas ela conseguiu despertar em mim algo que desconhecia. Faz muito tempo que não namoro, ficava só me divertindo, mas com ela perdi a vontade de ficar nessa. A gente se viu na segunda-feira, mas parece que tem meses.

– É, menina. Você está realmente apaixonada.

– Se isso é paixão, estou adorando e não quero que acabe nunca – sorri e fui acompanhada pelo meu chefe.

O restante do meu dia correu sem muitas novidades. Estava adorando meu novo emprego, mas não tinha nada de muito empolgante porque ainda não estava trabalhando com minha real equipe e isso provavelmente só iria acontecer na próxima segunda-feira. Quando eu estava saindo, senti meu celular vibrar, verifiquei no visor, atendi:

– Fala Dêssa.

– Fala Duda, como está?

– Bem, e você?

– Bem também.

– O que é que você manda?

– Eu não mando em nada, mas tenho uma proposta a lhe fazer.

– Fala.

– Sábado às 16h na quadra do Quartel dos Aflitos tem jogo contra um time de uma amiga minha, está afim?

– Futsal ou Handebol?

– Handebol.

– Beleza, estou dentro.

– Ah, fala com Rafa para ir também, viu?

– Pode deixar.

– Então tá, até sábado então. Beijo.

– Beijo.

Fazia um bom tempo que eu não jogava handebol com as meninas porque eu só podia no domingo e elas só marcavam no sábado, aí viu né? Sem chance. Jogo desde os 13 anos. Sempre adorei praticar qualquer tipo de esporte, mas acabei me identificando mais com esse por insistência de um professor de educação física que tive aos 14 anos porque ficou admirado com a força que eu conseguia arremessar a bola chegando ao pondo de fazer gol antes do meio da quadra.

Como minha ansiedade estava muito grande, resolvi dormir na casa de minha mãe novamente tentando não pensar muito no que estava por vir no dia seguinte. Conversei muito com ela e minha avó, duas mulheres tão diferentes, mas que eu amava muito.

Minha avó pela paciência que sempre teve, por sempre me ouvir, sempre perdíamos a noção das horas quando resolvíamos pôr o papo em dia e naquele momento era o que mais precisava. Entre uma conversa e outra naquela noite, Clara me ligou, conversamos um pouco e ela disse que precisava dormir porque o dia tinha sido muito cansativo e queria repor as energias para esgotá-las novamente comigo na noite de sexta-feira.

Quando desliguei, percebi que minha avó tinha escutado toda a conversa e me surpreendeu dizendo que queria conhecer a mulher que finalmente conseguiu transpassar o muro que eu tinha erguido ao meu redor. Sorri com o que ela disse e concordei em apresentá-las. Ficamos mais algum tempo nessa conversa e resolvi dormir.

Enfim a sexta-feira chegou, acordei mais cedo do que precisava, mas realmente não consegui dormir direito. Cheguei cedo ao trabalho e fiquei ali tentando ocupar minha mente e até que consegui porque Carlos me pediu para destrinchar o projeto da ONG e deixar pronto até o final do expediente porque eu teria uma reunião com a minha equipe na semana seguinte.

Fiz o que me pediu com enorme facilidade já que eu conhecia o projeto de cor. Estava tão entretida que acabei esquecendo de ir almoçar. Fui as 14h, quando retornei, fui chamada na sala de meu chefe. Ficamos discutindo alguns tópicos até que escutei a porta da sala ser aberta.

Carlos estava sentado em frente a sua mesa, eu estava em pé ao seu lado e virei meu rosto para ver quem era e não acreditei.



Notas:



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