Capítulo 16

– Estava tentando fugir de mim?

– Claro que não, Du! – beijou-me – estava tentando levantar para preparar algo para comer.

– Pra que levantar se o que eu quero está aqui em meus braços? Tem comida melhor? – sorri.

– Boba! Já percebi que você a cada dia que passa, fica mais viciada em mim, mas estava falando mesmo é em comida, aquela que alimenta e dá forças – caiu na gargalhada.

– Bom, a melhor coisa a fazer é unir o útil ao agradável: comer na cama e na mesa das formas que desejar.

– Eduarda! Você é uma ninfomaníaca! – tentou fingir seriedade, mas não conseguiu e sorriu.

– Nunca escondi isso de ninguém, linda! E vai me dizer agora que você não gosta desse meu lado?

– Se eu disser que não gosto, meu corpo me desmente – disse voltando a me beijar.

Depois de um longo tempo, finalmente conseguimos levantar e já passava da hora do almoço.

– Caramba, Du. Nem adianta tomarmos o café da manhã. Já são 13h, você está me levando para o mau caminho – sorriu.

– Então façamos o seguinte: já que as 16h tenho jogo e você vai assistir, vamos comer alguma coisa na rua e vamos direto para o Quartel dos Aflitos, o que acha? Mau caminho não, ótimo caminho, diga-se de passagem – roubei-lhe um beijo.

– Tudo bem, ótimo caminho, estou adorando sair da minha mesmice – passou os braços ao redor do meu pescoço – proposta aceita – beijo de brinde.

– Mas, eu tenho outra proposta – sorri maliciosamente.

– Qual?

– Banho juntas?

– Não senhora, se tomarmos banho juntas, aí que não sai almoço e nem jogo. Não esqueça que você é uma ninfomaníaca.

E foi realmente o que aconteceu: fomos para o banho separadamente e pouco tempo depois estávamos prontas e essa foi a parte mais engraçada:

– Pra que você está pegando as chaves do carro?

– Ué, você não quer ir de ônibus, não é?

– E quem disse que vamos de ônibus ou no seu carro?

Devido ao silêncio e a cara de interrogação que a Clara lançou para mim, apontei para o canto da sala que estavam os capacetes.

– Você está querendo dizer que nós vamos de moto?

– Eu não estou querendo dizer nada, estou afirmando.

– Mas, e meus cabelos?

– Isso é o de menos, você faz um coque sem precisar prender e quando você for tirar o capacete, dá um charme maior – beijei-a levemente.

Finalmente consegui convencê-la de ir comigo na moto, não era medo, era vaidade. Durante o almoço a Dani ligou para a Clara nos chamando para irmos para sua casa à noite para uma pequena reunião com a Bruna e Rafa também, aceitamos e seguimos para o local do jogo:

– Duda, você será nossa salvação.

– Oi para você também, Andressa.

– Oi, foi mal, Duda.

– Sim, manda logo a bomba.

– Você vai para o gol.

– Como assim?

– A Ana não veio. Virose.

– Virose não, os médicos não sabem o que ela tem e dão essa desculpa.

– Que seja, ela não veio e você vai para o gol.

– Tudo bem, vou para o gol. Agora, quem vai fazer os gols com você?

– Eu me viro com o restante do time.

– Se vira o caralho! É mais fácil a gente se virar com a defesa do que com o ataque.

– Sugestão?

– Coloca a Rafa no gol e nós vamos para frente. Quando o time adversário for atacar, recuamos para ajudar a nossa goleira. Isso é handebol gente, podemos tentar e já viram que o outro time nem tem tanta gente alta? Dá para tentarmos bloquear o ataque.

– Vamos tentar então.

– Podemos não dar o nosso show, mas podemos ainda vencer.

Terminei de conversar com o time e acompanhei a Clara até a arquibancada onde a Bruna já a esperava. Peguei a camisa e o short e fui para o vestiário. O jogo estava tranquilo, nenhum dos dois times tinha muita liberdade para se afastar no placar, realmente se nossa goleira oficial não faltasse, teríamos grandes chances de arrancarmos no número de gols porque a Rafa estava fazendo falta na linha.

A partida estava terminando, minha equipe vencia por dois gols de diferença, o time adversário estava no ataque e resolvi partir para o tudo ou nada pedindo para as meninas armarem a jogada 3×3. Tentaram fazer o gol, mas Rafa foi mais esperta defendendo e ligando a Andressa comigo no contra-ataque.

Pegamos as adversárias meio que de surpresa e só tinham duas da defesa. Andressa fez que ia arremessar a bola ao gol e jogou para mim.

Tudo o que aconteceu foi muito rápido. Peguei a bola e pulei com a intenção de jogar por cima da defesa e foi o que fiz, mas ao aterrissar, fui empurrada por uma das defensoras, perdi o equilíbrio e acabei caindo por cima da outra do time adversário. Tentei proteger minhas articulações, mas o joelho foi impossível.

Bati o esquerdo no chão. Como o sangue estava quente, não senti muita dor, assim que levantei fui para cima da garota que me empurrou e com as duas mãos espalmadas em seu peito, empurrei-a:

– Você não tem o que fazer, merda? Não sabe perder, não joga.

Imediatamente o time adversário veio para cima de mim e o meu também, mas para me proteger. A confusão dispersou e todas as minhas amigas do time, a Bruna e a Clara foram ver como eu estava. Tentei tranquilizá-las dizendo que estava tudo bem e que só o joelho que estava incomodando um pouco, mas nada do que o gelo não resolvesse.

Voltei ao vestiário, tomei um banho para esfriar os ânimos, voltei para onde o pessoal estava e decidimos ir a um barzinho que tem ali perto. Pedi gelo ao dono do estabelecimento e conseguimos esquecer o ocorrido conversando e relembrando algumas cenas engraçadas da partida, inclusive a cara de pânico da garota que me empurrou na hora que levantei e fui para cima dela. Na realidade eu não ia fazer nada além de assustá-la. A compressa realmente ajudou a aliviar a dor, fomos embora por volta das 19h e seguimos direto para a casa de Dani.

Chegando lá, continuamos na zoação. Resolvemos ficar na varanda, todas sentadas no chão. A noite se resumiu em conversas, piadas uma da cara da outra, vinho, namoro… foi um término de dia muito agradável.

Não tínhamos receio de nenhum tema. Rafa até arriscou tocar no assunto: fantasias e/ou taras sexuais. Foi o momento que dei mais risada porque eu, minha amiga e Dani falávamos numa boa, mas as nossas namoradas ficavam roxas de tanta vergonha.

Eu estava encostada na parede e a Clara estava entre minhas pernas, mas de lado para poder conversar e namorar um pouco. Meu joelho acidentado estava esticado por trás da minha namorada e o direito estava por cima das pernas dela e ela acabou encostando sua cabeça em meu ombro no exato momento que foi jogada a pergunta:

– Qual a melhor transa: a primeira, a programada ou a rapidinha?

Todas ficaram entre a primeira e a rapidinha, mas quando chegou minha vez:

– A da saudade. A melhor transa é aquela que você está louca para rever a pessoa que gosta e o tempo lhe castiga.

– Uau, então a de ontem foi a melhor para você, amiga? – Rafa me questionou.

– As de ontem – sorri e bebi um gole do meu vinho.

– Adorei as de ontem também, mas gostei muito de uma que tentei tirar certa pessoa do comando. Entrou em pânico e deu um “show” no sofá.

Todas caíram na gargalhada e foi a minha vez de ficar sem graça. Não pela transa em si, mas pela lembrança de quase não ter acontecido nada naquela noite por causa do meu nervosismo e falei no ouvido da Clara:

– Sei que você adorou, mas não esqueça que por pouco não estrago nossa noite. Não tenho boas lembranças.

– Fica tranquila, Du. Você foi perfeita naquela noite, tanto que foi a melhor de todas para mim até ali.  Aliás, você está superando todas até hoje – disse no mesmo tom que eu usei e quando terminou, beijou levemente meus lábios.

Mais algumas perguntas sobre o mesmo tema foram lançadas e todas elas deixavam a Clara muito sem graça, nunca imaginei que ela fosse assim tão tímida com esse assunto, já que na cama é totalmente sem vergonha. Mais uma vez ela encostou sua cabeça em meu ombro com uma nova pergunta:

– Quem já usou brinquedos e quais foram?

E novamente eu e a Clara ficamos por último, cada uma falou o que já usou e o que ainda tem vontade.

Rafa e Paula – mulher da Dani – não concordaram quando foi citado o pênis artificial pela própria Dani.

– Ah, não. Se eu quisesse uma coisa dessas, usava um de verdade.

– Isso é relativo, Rafa. Olhando pelos dois lados: para quem está usando é interessante porque fica com as mãos livres para fazer várias outras coisas com a parceira. Já para quem está “recebendo” deve ser bom porque além das duas mãos da outra pessoa estar livre, é um objeto que está ali dando prazer no lugar de um dedo e em um corpo realmente desejado, sem todos aqueles pelos nojentos, aquela musculatura grotesca, as mãos cheias de calos. Enfim, não preciso ficar aqui relatando tudo o que não gosto num homem, não é verdade?

– É a mais pura verdade, mas antes você não defendia dessa forma. Pelo o que lembro, a senhorita era a favor de usar o que tiver vontade, mas não tinha argumentos assim, tão convincentes. Não querendo ser muito curiosa, mas você sabe como sou: vocês andaram usando?

Olhei para Clara e ela enterrou ainda mais o rosto em meu ombro, beijei-lhe a cabeça e pisquei para as meninas que estavam esperando resposta.

– O que é isso Rafa? Só estou defendendo as pessoas que se interessam nesse tipo de diversão – sorri e a conversa continuou na mesma animação. Esse povo gosta mesmo de falar de putaria, viu? Eu estava me divertindo horrores.

Levantei para ir ao banheiro e senti a sala rodar um pouco. É nisso que dá beber vinho e ainda por cima, sentada. Parei, bebi muita água para não ter ressaca e passei a ingerir minha boa e velha amiga Coca-Cola.

Já era bem tarde quando decidimos dormir, quero dizer, decidimos ir para a cama, porque dormir eu demorei muito porque além da Clara ter um enorme fogo, eu bebi. Ou seja, um resto de noite de muito sexo de excelente qualidade e de diversas maneiras.

Acordei antes da Clara, quando olhei o relógio em meu pulso: 12:07h. Depositei um beijo em sua boca e tentei levantar sem acordá-la, mas não consegui pela forma que dormimos: ela encaixou todo o corpo no meu:

– Boa tarde, linda!

– Que horas são? – perguntou espreguiçando-se e voltando a se aninhar em meu corpo.

– 12:09h – passei meus braços ao redor da sua cintura.

– Humm, aqui está tão bom, mas estou com fome.

– Então vamos almoçar?

– Vamos sim, mas tomamos banho separadas, viu? – sorriu.

– Sim, senhora!

Quando a Clara saiu do banho, foi me pirraçar um pouco na cama e quando o clima estava começando a esquentar, ela se levantou e saiu do quarto.

– Essa você me paga, viu? – gritei – Nem sei se ouviu – falei mais baixo.

Segui as vozes para encontrar o pessoal, fui a última a aparecer, todas olharam assustadas para meu joelho:

– Duda, você precisa ir ao hospital – Dani chegou perto para verificar.

– Que nada, gente. Não precisa.

– Deixa de manha, Du. Você tem que ir ao hospital sim.

– Eu vou fazer o que no hospital? Todos os médicos assinaram um acordo com os laboratórios para receitarem muitos remédios a qualquer pessoa que chegue lá. Não estou a fim de dar lucros a eles – tentei descontrair, todas riram, menos a Clara.

– Você pode deixar de piadinhas? – disse numa seriedade que desconhecia.

– Poxa, linda! Se eu for ao hospital terei que imobilizar o joelho, não vou poder jogar no próximo fim de semana, não poderei pilotar minha moto, vou ter que depender de um monte de gente para fazer as coisas. E além do mais, odeio remédio – tentei persuadi-la.

– Tudo bem, você é quem sabe.

– Hei, não precisa ficar chateada. Se a dor piorar, prometo que vou, certo? E quem vai me levar é você por causa da sua insistência – sorri e beijei-lhe suavemente nos lábios, consegui convencê-la temporariamente.

O dia transcorreu tranquilamente, eu decidi não beber. Mas, ficamos conversando, comendo besteiras, jogando o que a gente inventasse. A noite passamos na casa da Clara para pegarmos roupas para ela e seu carro e seguimos para meu AP. Ficamos namorando num amasso delicioso até as 0h e decidimos dormir porque o dia seguinte realmente seria cansativo.

Acordei com a Clara me enchendo de beijos por todo o meu corpo, puxei-a para a cama e não conseguimos resistir: fizemos amor e quando estávamos começando as carícias para mais um delicioso gozo, minha namorada interrompe:

– Du, a gente precisa trabalhar – disse manhosamente.

– Eu sei, linda, mas só mais um pouquinho. – sussurrei em seu ouvido.



Notas:



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