Capítulo 26

O Natal chegou e, conforme planejado, passei a noite do dia 24 com minha família. Com muito sacrifício de escolha, comprei os presentes do pessoal e o da Clara. A noite foi tranquila, descontraída e com muitas comidas que adoro. Minha avó e minha mãe queriam era que eu engordasse e se não fosse o fato que eu não paro quieta, realmente isso teria acontecido.

No dia 25 fui almoçar no apartamento do Sr Augusto e toda a família da Clara estava lá, minha namorada estava radiante de felicidade e muito, mas muito linda como sempre.

A semana passou corrida e nós duas não tínhamos motivos mais para brigar, eram muitos mimos vindo  das duas partes e foi nesse clima que ficamos na festa de Réveillon. No momento da contagem regressiva eu, a Bruninha, o Carlinhos e mais alguns amigos estávamos cada um com uma garrafa de champanhe, mas nesse momento a Clara virou-se para mim e colou nossos lábios. O beijo que aconteceu foi carinhoso e delicioso, estourei a bebida que estava em minhas mãos – nas costas da Clara – e apertei ainda mais nosso abraço com um dos braços e com o outro continuava segurando a garrafa. Separamo-nos somente para podermos nos olhar, sorrimos e nos beijamos novamente:

-Te amo! – sussurrei em seus lábios e com os olhos abertos, ela sorriu:

-Eu também te amo!

Ficamos mais alguns minutos naquele contato e depois fomos falar com os nossos amigos.

***

Três meses se passaram e a gente realmente se acertou, não existiam mais brigas, eram somente algumas discussões naturais que qualquer casal tem se vendo poucas vezes imaginem a gente que se via todos os dias. Dormíamos juntas todos os dias e trabalhávamos juntas. Mas, apesar dessa convivência, eu estava adorando aquilo. Era tudo muito novo para mim, nunca tinha passado por nada parecido.

Nós duas estávamos muito mais tolerantes com a outra, apesar de termos criado o nosso mundinho, sempre saiamos a sós ou com meus amigos e até com os dela. É verdade, tive que aprender a sair com seus amigos, caso contrário, as brigas aumentariam e provavelmente não estaríamos juntas.

Voltei a jogar handebol dois meses depois daquele fatídico dia que mesmo sentindo dor, eu insistia. Ele não me incomoda mais, finalmente fiz o tratamento adequado, claro que depois de muita insistência da minha namorada porque realmente detesto médico, hospital, medicação ou qualquer coisa do tipo.

Voltei a freqüentar o Centro Espírita e sempre ia com a Dani, descobri as razões de muitas coisas que aconteciam comigo, mas outras ela ainda fazia certo mistério dizendo que estava muito cedo para eu  saber. Uma das coisas mais interessantes que descobri é que nós duas há várias vidas passadas prometemos sempre virmos juntas como amigas ou irmãs, uma sempre ajudando a outra por qualquer motivo que fosse e estava explicado o porquê da nossa simpatia assim logo no dia que nos conhecemos. Ela me explicou também que ela já sabia, pois frequentava o Centro há mais tempo e soube “me reconhecer”, por isso que ficava falando todas aquelas coisas misteriosa que eu ficava super curiosa para saber o que ela tentava falar por trás daquilo tudo.

Descobri, também indo ao Centro, que em uma dessas tantas vidas que viemos juntas, nós éramos  irmãos – eu do sexo masculino e ela do feminino –, eu tinha oito filhos – até agora não acredito que “produzi” tanto – e um deles – o mais novo – tinha Síndrome de Down. Era o que tinha mais carinho comigo e vice versa, era o que não dormia enquanto não chegava do trabalho, só ia para a cama se eu o levasse. Quando eu tinha que viajar a trabalho, ele memorizava o dia que eu voltaria e ficava sentado na cadeira próxima a porta me esperando. Mesmo que estivesse com muito sono, não sossegava enquanto não me visse, não me beijasse, abraçasse e o colocasse para dormir. Estava aí mais uma explicação. Até hoje eu tenho muito carinho por crianças com esse tipo de distúrbio.

Os preparativos para a fundação da ONG estavam indo de vento em polpa, tudo as mil maravilhas. Realmente eu e a Clara trabalhávamos muito bem juntas: quanto uma tinha alguma ideia, a outra completava, tínhamos uma sintonia perfeita. Faltava pouco para a conclusão do projeto.

Minha relação com minha família estava bem, na medida do possível: com minha mãe realmente estava muito bem, inclusive levei a Clara algumas vezes lá na casa dela, minha avó estava encantada com minha namorada. Faziam uma grande farra sempre que íamos para a casa dela no interior, minha avó fazendo um grande número de comidas e doces. Tudo para agradar minha morena. Meu padrasto fez uma cirurgia para a retirada de um câncer na próstata, ele estava bem, ainda não havia necessidade de fazer quimioterapia,  se recuperava muito bem. A Clara não saia do meu lado um só minuto nesses dias e eu não deixava um minuto sequer a minha mãe sozinha. Ela é do tipo de pessoa durona, mas era minha mãe, eu a conhecia o suficiente pata saber o quanto que ela estava sofrendo mesmo o médico deixando claro que tinha 85% de chance da cirurgia correr de forma tranquila.

Meu pai. Com meu pai a relação é um pouco mais complicada. Ele realmente esteve em Salvador em janeiro como prometido, ficou uns dez dias, mas só nos vimos duas vezes porque ele estava com a esposa que não suporto ficar no mesmo lugar que ela. A Clara até tentava me convencer a procurá-lo para tentarmos conversar a sós, mas a mulher não o deixava um segundo sequer sozinho, parecia que tinha medo que eu fizesse alguma coisa. Isso me dava a certeza que ela é louca, isso sim. Mais uma vez ele esqueceu o dia do meu aniversário e ele estava na mesma cidade que eu na época, mas não fiquei triste com isso, realmente já estou acostumada com essas atitudes, aliás, falta de atitude me deu pai.

Já a Clara foi perfeita nesse dia desde o presente – uma Shadow preta –, o almoço, nosso jantar entre amigos e familiares até com surpresas na cama que por sinal, continuava inovando como sempre, ela era um presente a parte.

Resolvi comprar a kit net que eu morava, não estava mais a fim de ficar pagando aluguel, queria uma  coisa minha, mesmo tão pequena, mas eu gostava de ficar ali. Usei parte do dinheiro que recebi do Vc3 assim que fui contratada, afinal de contas, um apartamento desse tamanho nem é tão caro.

***

Eu estava na casa da Clara, ela não deixou ir trabalhar porque amanheci com o corpo um pouco fabril,  mas conversávamos o tempo inteiro via celular, MSN ou emails sobre trabalho e também a provocava um pouquinho. Por volta das 19h ela me disse que estava indo para casa, liguei para o restaurante italiano que tem ali perto e fiz um pedido para esperá-la. Cerca de quarenta minutos depois escutei o barulho na fechadura:

-Oi amor, você está melhor? – me abraçou por trás.

-Estou sim, linda. Deve ter sido só uma indisposição mesmo – virei e beijei-a.

-Que bom.

-Vai tomar seu banho, amor, fiz um pedido no Bella Napoli, vou colocar nosso jantar na mesa.

-Adivinhou. Hoje estou faminta.

-Eu sei que você nem almoçou, linda. Mesmo de longe, estou de olho em você – beijei sua boca levemente.

-Mas que namorada mais preocupada que fui arranjar – sorriu.

-Se eu não cuidar de você, quem vai fazer isso? Não posso confiar em você para esse tipo de função.

-Você está querendo dizer que não sei cuidar de mim?

-Você gosta e sabe cuidar dos outros, mas nem se importa com você. Pelo menos não com sua saúde, mas com relação a estética… Cada vez mais linda – ela se derreteu ainda mais em meus braços.

Ficamos namorando um pouquinho:

-O que acha de um filme depois do jantar?

-Ótima ideia, então vai logo para o banho que vou arrumar as coisas.

Deixei a mesa pronta e estava a espera da Clara, ela retornou do quarto vestindo somente um micro short e uma camiseta e sua pele exalava seu cheiro natural que eu tanto gosto, cabelo molhado. Sorri imaginando como terminaria nossa noite. O clima estava quente – o que não é uma novidade em Salvador –, eu estava usando um short – não tão curto quanto o dela – e uma camiseta também. O jantar transcorreu de maneira tranquila, muito agradável. Ela comentou como foi seu dia na empresa:

-Ah, amor! Provavelmente terei que fazer uma viagem um pouco mais longa do que as outras, cerca de dez a quinze dias.

-Por que tanto tempo?

-Alguns contratos novos a serem assinados e outros a serem renovados. Vai ser uma correria enorme entre Rio e São Paulo.

-Já sabe quando você vai?

-Acho que na próxima semana, a Bruna ficou de confirmar.

-Poxa, vou ficar tanto tempo sem te ver?

-Eu também não queria toda essa distância e nem esse tempo, mas é necessário.

-Eu sei, amor. Pode ir tranquila, mas já sabe que quero falar com você todos os dias, não é?

-Isso nem precisa pedir – disse sentando em meu colo de lado – mas, bem que você poderia ir me visitar no fim de semana, né? – Fez uma carinha linda de pidona.

-Vou pensar no seu caso – ela me bateu levemente no ombro – brincadeira, amor, você acha mesmo que quero alternativa?

-Acho bom – beijou-me suavemente os lábios.

-Mas, será que enquanto você não me abandona aqui em Salvador, podemos começar com nossas despedidas? – passei a mão direita em suas pernas.

-Podemos sim, mas não esqueça que vamos assistir a um filme ainda hoje.

-Claro, claro… – sorri porque tanto eu quanto ela sabíamos que essa história de filme não ia dar certo – pipoca?

-Amor, a gente terminou de jantar agora.

-Eu sei, linda. Mas, você sabe que eu adoro pipoca.

Ela sorriu.

-Claro que sei. Vamos, eu te ajudo a limpar isso aqui e você faz a pipoca.

-Sim, senhora! – sorri – mas, antes eu quero uma coisa.

-Que coi…

Não a deixei completar a frase porque roubei um beijo seu. Perdemo-nos naquele contato por alguns minutos até levantarmos e fazermos conforme combinado.



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