Capítulo 3

Na sexta-feira fiz toda a minha rotina e fui para o instituto. Quando cheguei, mais uma vez, antes de iniciar meus trabalhos, sou interceptada pelo meu queridíssimo chefinho Júlio.

– Bom Dia Júlio, qual a bomba de hoje?

– Bom dia Duda. Não se preocupa que hoje vai ser uma rapidinha, tá? – fala num tom zombeteiro.

– Ai Júlio, você falando assim me dá até ânsia de vômito – fiz cara de nojo.

– Diz para mim que você não ia adorar?

– Sinceramente? Odeio a sensação do pós-vômito.

Nós dois caímos na gargalhada. Era sempre assim, sempre tínhamos que zoar um com a cara do outro, esse é um cara que posso dizer que foi amizade à primeira vista.

– Bom, vamos falar sério agora? – Júlio nos chamou à realidade.

– Sou toda ouvidos.

– A Clara quer conversar com você na segunda-feira às 9h aqui mesmo no instituto.

– Quem é Clara?

– A dona do Vc3.

– Não era o Carlos?

– Sim, ele é sócio dela com mais outra pessoa e é a Clara a responsável pela parte social da empresa. Ele só veio aqui na segunda-feira passada representando-a porque a mesma estava em reunião.

– Humm, então ela quer conversar comigo sobre o projeto da ONG?

– Exatamente! E você não vai mostrar o projeto na íntegra a ela enquanto não assinar o contrato de trabalho, combinados?

– Mas essa era a minha intenção Júlio. Não sou louca de mostrar um projeto desses para uma pessoa que nunca vi em minha curta vida.

– É assim que se fala Dudinha. Provavelmente na segunda vocês conversarão sobre como, onde vai trabalhar e claro, sobre salário. Tenho certeza que ela tem uma ótima proposta para você.

– Essa notícia parece que estou escutando Nando Reis de tão prazerosa que é – disse rindo.

– Pois então, pense direitinho no que vai conversar com a Clara e traga o pré-projeto para ela dar mais uma olhada, ok?

– Fechado chefinho, mais alguma coisa?

– Não Duda, pode ir.

Caralho, eu não cabia em mim de tanta felicidade, meu sorriso que já é fácil, agora estava de uma orelha a outra, de uma coisa eu tinha certeza: não ia contar isso para ninguém antes que estivesse tudo certo. Não gosto de falar nada a ninguém sobre minhas coisas antes de tornar-se concretizado, acho que as energias negativas podem se aproveitar disso, as boas energias se espalham. Prefiro que elas fiquem concentradas, assim dificilmente dá algo errado. Nada estragaria meu fim de semana.

Quando cheguei ao trabalho, Diego foi me procurar para fazer uma intimação: acompanhá-lo com outros amigos nossos da empresa ao “Beco dos Artistas” – literalmente é um beco com vários barzinhos onde 97% dos frequentadores são gays. Confirmei a minha presença, mas disse que passaria em casa antes, pois tinha acordado as sete da matina e meu corpo pedia por um banho e roupas limpas, ele concordou, já que eu morava tão próxima do “B.A.”.

Foi o que realmente fiz, ao terminar o expediente, fui para minha casa e cumpri com o que já havia combinado com Diego. Quando cheguei ao Beco, liguei para meu amigo com o intuito de saber em qual bar todos estavam, e como foi de se esperar:

– Digo, cadê vocês?

– Estamos no Camarim, mais precisamente na boate – disse Diego aos gritos, já que o som estava muito alto, mas ele não lembrava que eu ainda estava do lado de fora e estava escutando perfeitamente bem e não precisava gritar, pensei nisso e não pude evitar o sorriso.

– Beleza, já cheguei e estou entrando.

Bom, o Beco é composto por quatro bares, sendo que o Camarim é o mais badalado, podemos dizer assim. Esse bar é composto por três ambientes, todos no térreo: um é o local para os casaizinhos quase não tem iluminação, outro é o local que ficam mais alguns grupinhos assistindo a alguns DVDs que passam num telão e tem a tal boate que não é lá essas coisas não, mas é a única que se você chegar entes das 22h, só paga R$4,00, após isso, paga-se R$5,00. Parece até uma piada, mas é um lugar razoável para quem está com pouca grana e quer curtir com os amigos.

É! Foi isso mesmo o que eu disse, curtir com os amigos, porque dificilmente encontra-se gente que se possa ao menos beijar na boca, das duas uma: ou você vai com acompanhante, ou fica somente curtindo a noite com a galera. Ah, tem também uma terceira opção: seus amigos levar alguma amiga que você não conheça ainda. Fora isso, desista! Mas, lá é um local muito bom para descontrair, aparece cada figura que eu nunca imaginei existir.

A boate é pequena, aos sábados tem show de gogo girls. Geralmente fica cheia até 1:30h da madrugada, depois disso as pessoas têm algumas outras opções: vão para uma outra boate chamada Tropical, para o bar da Ray (onde as paredes suam) – não indico nenhuma das duas opções –, para casa ou para algum motel já que ali próximo tem tantos. Eu não vou mentir que já fui para alguns deles com minhas ex.

À noite até que foi divertida, meus amigos estavam inspirados em fazer loucuras na boate, beberam muito e deram um showzinho a parte na dança. Adoro quando isso acontece, pois fico me divertindo com as caras e bocas que vejo as pessoas babando, show de bola.

***

Como não cheguei tarde em casa, aproveitei para ir cedo para o trabalho, afinal de contas no domingo eu estava folgando e eu queria me ver livre daquele local logo no início da tarde daquele dia. Faltando quase uma hora para o fim do meu expediente meu celular vibra no meu bolso, verifico no visor, finalizo a ligação do cliente, ponho uma das minhas pausas e vou atender:

– Fala! – atendi

– Oi amiga, saudades…

– Saudades? Olha só quem está falando de saudades. Você me abandona e depois fica aí me ligando cheia de dengo – curti um pouco.

– Poxa, eu te ligo morta de saudades de você, faço uma declaração e sou tratada dessa forma? – disse com voz manhosa.

– Ahhh, deixa disso vai. Você sabe que te amo e adoro curtir com sua cara.

– Ehh, eu sei. Acho que você tem necessidade disso, né?

– Necessidade de que?

– De zoar com minha cara – disse rindo.

– Não só com a sua amiga, mas de todas as pessoas que eu amo.

– Ahhh, então quer dizer que é assim? Achei que era exclusividade minha.

– Idiota!!! – ri e continuei – Diz logo o que você quer porque ainda estou trabalhando e estou na minha pausa que por sinal já deve está no fim.

– Quero sair com você hoje, será que a senhorita me dá essa honra?

– Humm, deixe-me pensar. – fiz uma pausa – posso consultar minha agenda?

– Imbecil!!!

– Também te amo, viu Rafa – caí na gargalhada.

– Anda logo, você vai ou não?

– Claro que vou né? Onde já se viu, eu recusar um convite para sair à farra contigo? – ri e completei – Sim, mas para onde vamos?

– O que acha de assistirmos o pôr do sol na Ponta do Humaitá, depois irmos à sorveteria da Ribeira e de lá a gente decide o que fazer?

– Perfeito! Faz tempo que não fazemos isso.

– Poxa, é verdade. Sinto saudades desse tempo.

– Eu também, mas vamos fazer o seguinte: estou livre daqui à uma hora, vou para casa almoçar e nos encontramos as 16:30h no Monte Serrat, pode ser?

– Fechado, quando você estiver saindo de casa me liga, ok?

– Combinado, agora me deixe ir antes que estoure o tempo da pausa.

– Vai lá, até mais tarde, beijos.

– Beijos.

Rafa. Ela é uma das minhas melhores amigas, nos conhecemos há cerca de onze anos e já aprontamos muito juntas. Aprontar é modo de falar, já nos divertimos muito. Era sempre assim, uma sempre zoando, xingando com a outra, mas isso é um privilégio somente nosso, ninguém pode fazer o mesmo, pois é certo comprar briga.

Temos um pacto de proteção silencioso, pois nunca conversamos sobre isso, a verdade é que ninguém podia se meter a besta com a outra que já tinha se tornado um “inimigo”. Desde os doze anos que sempre combinávamos essas farras, o que mais nos interessava era comer e bem, cada fim de semana combinávamos de fazer alguma coisa e nos revezávamos em qual casa faríamos a bagunça, era pipoca, batata-frita, refrigerante, sorvete, brigadeiro. Tudo o que qualquer criança gosta e mesmo depois de “grande”, continuamos a fazer as mesmas coisas sempre que podemos.

Hoje damos muita risada ao lembrar tudo o que já fizemos: era muito engraçado ver que só éramos nós duas de meninas na rua e os garotos sempre baixavam a guarda. Brincávamos no meio da rua literalmente de futebol, sete pedras, corrida de patins, vôlei com carros, ônibus, motos e pessoas passando, tínhamos que parar toda hora, mas se isso não acontecesse, parecia que perdia a graça, sabe? Quando acontecia de não estarmos ali, a rua tinha um silêncio mórbido, até os donos dos estabelecimentos sentiam nossa falta.

Bom, voltei ao trabalho com um sorriso de saudade no rosto, o que não passou despercebido por Lari:

– O que houve, amiga? Você saiu daqui para atender uma ligação e volta com esse sorrisinho…

– Foi uma velha amiga que me ligou e marcamos para nos encontrarmos hoje para matarmos um pouquinho a saudade.

– E isso é um motivo para esse sorrisinho triste?

– Não estou triste Lari, muito pelo contrário. É que acabei lembrando algumas coisas e bateu aquela saudade, sabe?

– Sei bem como é, mas fica assim não amiga, afinal de contas vocês vão se reencontrar hoje, não é verdade?

– É sim, você tem razão, não podemos voltar no tempo. Vamos viver o hoje, literalmente – disse isso dando um beijo estalado na sua testa e tirando minha pausa para retornar ao trabalho.

Cinquenta minutos depois, faço o meu logout e tento sair o mais rápido daquela empresa, mas é uma tarefa difícil, pois muitos querem programar algo para fazer e se divertir a noite. Não dou minha resposta se vou comparecer ou não, mas disse que ligava para Diego mais tarde para confirmar.

Como havia combinado com Rafa, nos encontramos no Forte de Monte Serrat, por incrível que pareça, pontualmente no horário marcado.

Depois de beijos e abraços, caminhamos até o topo do monte onde se localiza o forte e sentamos na grama mesmo para apreciar o show que a “mãe-natureza” estava nos oferecendo gratuitamente e também para tentarmos colocar os assuntos em dias, pois por diversos motivos, tinha mais ou menos quatro meses que não nos víamos. Foi um papo gostoso, descontraído, sem cobranças pelo sumiço. Queríamos mesmo era matar a saudade.

Quando a noite chegou, trouxe também uma lindíssima lua cheia. Continuamos por mais algum tempo por lá e decidimos ir para a sorveteria da Ribeira, a mais famosa da Bahia.

Compramos nossos sorvetes e decidimos ficar um pouco distante do local, pois era um sábado, estava muito cheio e eu detesto lugares que tem muita gente aglomerada. Sentamos em um banco de cimento que fica no outro lado da rua.

Relembramos tantas coisas que fizemos juntas, tantas bagunças e entre uma lembrança e outra, dávamos muitas gargalhadas. No meio da conversa, Rafa comenta comigo que em um banco não muito distante do que nós estávamos sentadas tinham duas mulheres que não paravam de olhar para a gente, fiquei curiosa e resolvi virar para verificar.

Pereciam que estavam divertindo-se muito também, mas uma delas sustentou o olhar e pude prestar um pouco mais de atenção nela: não era um exemplo de beleza, mas tinha algo encantador nela que eu estava tentando descobrir até que Rafa disse que eu estava olhando muito para elas e que era para maneirar um pouco já que ali “não era um lugar para isso”.

– Você está dando bandeira que está a fim da mulher.

– Eu? Você vem com uma conversa que tem duas mulheres ali atrás conversando e que não param de olhar para cá, eu me viro para ver quem é e você diz que estou dando em cima da criatura? Tá maluca?

– E você não estava?

– Ká ká ká – ri ironicamente – essa é ótima né Rafa? Não estou aqui para ficar com ninguém e acho que você é quem bem sabe disso, afinal quem foi que me ligou?

– Foi mal, amiga!!! É que achei que se você fosse ficar com a garota ia acabar indo embora mais cedo e me deixar aqui – disse isso com cara de cachorro sem dono.

– Hei Rafa, para com isso, tá? Desde quando que faço isso com você? E se eu fosse ficar com a mulher que está ali, é claro que ia dar a idéia pra você ficar com a outra, né? Ou acha que não reparei que ela também não tira o olho de cima de você? – disse rindo da cara etada que ela fez – Você está precisando beijar na boca amiga. E fuder também, é claro – disse entre gargalhadas.

– Até que não seria má ideia.

Ela me acompanhou na risada e continuamos nossa conversa relembrando nossos quase doze anos de amizade. Em um determinado momento, Rafa diz que vai ao banheiro e me chama para ir junto:

– Vou não Rafa, não estou com vontade.

– Poxa Duda, pelo menos pode me fazer companhia?

– Pra que você quer que eu vá? Quer que eu abra o zíper da sua calça, é? – disse tentando controlar o sorriso.

– Idiota!

– Vai logo que ainda temos que resolver para onde vamos depois.

Rafa nem se deu o trabalho de responder, eu adorava irritá-la, ela sabe que sempre faço isso só para zoar com ela e todas às vezes minha amiga cai em qualquer brincadeira, mas essa de ir ao banheiro juntas sem vontade de fazer o que realmente deve, isso é o cúmulo para mim. Esse é um lugar que acho tão nojento, principalmente porque não é o de minha própria casa, isso é demais.

Enquanto eu estava divagando sobre a louca proposta que minha amiga acabou de me fazer, não senti que alguém se aproximava de mim, quando percebi, já havia sentado do lugar que Rafa estava e me olhava seriamente. Sustentei o olhar querendo que ela quebrasse o silêncio já que foi ela quem chegou ali “sem ser convidada”. Mas, a mulher misteriosa não falava nada, parecia em estado de transe, meio que hipnotizada, sei lá.

Não desviava o olhar de maneira alguma, se fosse há algum tempo atrás, tenho certeza que eu não conseguiria ficar naquela posição de ser “estudada” por muito tempo, mas resolvi sustentar o olhar e dizer através dele que era para ela falar alguma coisa.

– Queria conversar com você já tem certo “tempo”, mas sua amiga não dava espaço, estava curiosa para ver seus olhos mais de perto, seu sorriso.

– Você é sempre assim tão direta?

– Quando quero alguma coisa, sim.

Dei meu sorriso mais sacana que encantava qualquer pessoa porque ali estava mais do que claro o que ela queria de mim.

– E o que você quer?

– Sair com você.

– Não posso – queria ver até onde ela ia.

– Por que não? Sua namorada não deixa?

Desmanchei o sorriso, mas continuei com um olhar sacana.

– Não tenho namorada. A minha amiga acabou de ir ao banheiro e combinamos de passarmos a noite toda juntas, queríamos matar um pouco a saudades que a correria do dia a dia acabou fazendo com que nos distanciássemos um pouco.

– Se sua amiga é o problema, agora é a solução.

– O que você quer dizer com isso?

– Olhe quem está indo de encontro a ela.

Foi o que fiz, virei em direção a que Rafa foi e vi que a amiga da desconhecida estava conversando com ela e pelo visto estavam em um papo animado, podemos dizer assim.

– Para onde você quer ir? – perguntei voltando em sua direção.

Cedi, afinal não tinha nada a perder. Rafa parecia empolgada com a conversa e a pessoa que estava comigo perecia um tanto quanto interessante. Como disse anteriormente, ela não é um exemplo padrão de beleza, mas como não gosto de nada no padrão, isso contribuiu.

– Não conheço muito a Cidade Baixa, mas pode ser por aqui mesmo se preferirem. – sorriu de uma maneira encantadora.

– Bom, precisamos conversar com as outras duas para saber se têm alguma sugestão, não acha?

– Verdade, vou chamá-las.

– Espera – segurei em seu braço para impedir que ela saísse. Precisava conhecer um pouco daquela pessoa que provavelmente ia beijar mais tarde e talvez… – Não está esquecendo nada? – ela fez uma cara que deixou claro que não entendeu e devido ao seu silêncio, continuei – seu nome – disse sorrindo.

– Ops, desculpe-me – riu e continuou – Clara.

– Eduarda – ela sorriu mais uma vez e ao invés de sair para encontrar as meninas, sentou novamente ao meu lado.

Cumprimentamo-nos devidamente, claro que dei dois beijinhos em seu rosto e próximo a sua boca, né? E que boca linda era aquela, meu Deus? Não sou de ficar nessa de beijinho de comadre, acho isso falso.

Ficamos num belo duelo de olhares. Estávamos num estado meio de encantamento até que Rafa e a amiga de Clara chegaram quebrando esse momento que eu estava achando muito bom, pois dificilmente uma pessoa faz isso comigo, não entendo direito o motivo, mas quase ninguém sustenta meu olhar por muito tempo.

– Para onde vamos? – Rafa perguntou.

– Bom, como amanhã não trabalho, para mim tanto faz, não preciso acordar cedo mesmo. Não estou preocupada com o lugar, aliás, Rafa, você sabe mais do que ninguém a minha teoria sobre isso, não é verdade? – disse sem me dar ao trabalho de desviar os olhos de Clara, eu realmente estava gostando daquele “desafio”.

– Claro, claro… Quem faz o lugar somos nós… – disse rindo – mas, vocês podem parar com esse flerte descarado e também opinar para onde vamos? – completou em meio a risadas.

Foi Clara quem quebrou o “encanto” porque não conseguiu não rir, ela olhou para Rafa e foi aí que pude ver direito aquela mulher de um olhar desafiador. Ela tinha cabelos muito lisos que chegavam à cintura e de um negro da mesma intensidade dos olhos, lábios e nariz bem desenhados, morena num tom claro.

Com o pouco que pude observar, falava num tom de voz firme, mas tranquilo para não precisar repetir.

Usava uma roupa bem casual, parecia que tinha o intuito de passear com amiga. Vestia uma saia jeans não muito curta, mas por causa das lindas pernas grossas, ao sentar mostrava muita coisa. Estava também com uma blusinha verde com um decote que aumentava a curiosidade para ver o que tinha por traz, não era nada vulgar, por isso o interesse de qualquer pessoa para saber. Parecia ter na faixa dos 27 ou 28 anos.

Enquanto Rafa e a amiga de Clara discutiam sobre os possíveis lugares que poderíamos ir, fui flagrada pela que estava ao meu lado a admirando e quando levantei meu olhar dei de cara com um lindo e safado sorriso, e o que fiz? Retribui à altura, nenhuma das outras duas tinha reparado, fato que favoreceu para que Clara lançasse um olhar que não tinha como não perder o fôlego.

– Ôôô Duda, você pode falar alguma coisa e deixar de babar a Clara?

Dessa vez eu que quebrei o encanto dos olhos, não pude evitar encarar minha amiga e dizer uma piadinha:

– Ela não me parece nem um pouco incomodada Rafa, muito pelo contrário – não tive como deixar de rir com a cara que minha amiga fez.

– Tá bom, tá bom, mas não podemos ficar a noite inteira aqui, né?

– Agora tenho que concordar com você amiga, não podemos ficar a noite toda aqui paradas – disse olhando e sorrindo novamente para Clara.

– Tá bom, mas você pode dar uma opinião? Não querendo exigir muito – virei para prestar atenção em minha amiga e ela continuou – Mercado do peixe ou Beco da Rosália?

– Casa Rosada!

– Humm, não tinha pensado nessa possibilidade – disse Rafa.

– Isso não é uma coisa que você faz com freqüência, amiga – não consegui conter o riso.

– Idiota!

– Meu Deus! Vocês são amigas mesmo? – perguntou a amiga de Clara.

– Melhores amigas uma da outra – disse tentando controlar o riso, pois a cara que Rafa fazia não me deixava parar de rir.

– Imaginem se não se gostassem – completou Clara.

– Sim, mas para onde vamos? – minha amiga não estava gostando de ser motivo de gargalhadas.

– Onde é essa Casa Rosada? – indagou Clara.

– É aqui pertinho, fica no Bonfim.

– Humm, então pretende fazer travessuras próximo a Igreja do Bonfim – afirmou Clara.

– Bom, detesto frases prontas, mas dessa vez terei que usar uma: “tudo o que é ‘proibido’ é mais gostoso” – respondi com certa malícia na voz que tenho certeza que não passou despercebido das demais.

– Lá é voltado para o público LGBT? – perguntou a amiga da Clara.

– Não, mas acho que vocês não estavam se importando com isso porque as outras opções que tínhamos não são para voltadas para o público gay.

– Como você mesma disse anteriormente: “nós que fazemos a festa e não o lugar”.

– Certo, então vamos para lá mesmo? – perguntou Clara.

As outras duas concordaram em ir, realmente não conheciam a Cidade Baixa que nada mais é do que a área baixa e litorânea de Salvador, uma planície relativamente estreita ligada à cidade alta pelo Elevador Lacerda.

Somente ao levantar que lembrei que não me apresentei à amiga da Clara. Durante o caminho até o carro que as meninas estavam é que fiz isso. Seu nome era Bruna e não eram somente amigas, eram irmãs. Sorri com a informação.



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