Capítulo 33

-Estava indo para onde?

-Al…moçar – não conseguia falar direito, as lágrimas não deixavam.

-Vem, eu te levo.

Segurou em minha mão e me puxou, me deixei ser levada, não me importava para onde, só queria continuar na companhia daquela mulher que eu tinha mais do que certeza que era a que eu queria passar o resto – longo período – da minha vida. Quando dei por mim, estávamos em um restaurante de comida a quilo, quando a Clara viu a quantidade de comida que eu coloquei no meu prato, ela pegou de minha mão e refez colocando quase o triplo do que já tinha e depois me devolveu, olhei para ela surpresa:

-Essa é a quantidade que você está acostumada a comer, nem reclame. Você está muito magra, amor. Parece até que quem está doente é você. Vamos, preciso cuidar de ti.

Sorri e não disse nada. Fiquei feliz porque ela estava cuidando de mim, fazia questão disso e, além do mais, me chamou de amor novamente. Quanta saudade que eu estava de ouvir aquilo, sentir seu cheiro, a textura da sua pele, olhar em seus olhos, ver seu sorriso.

Nesse dia a Clara não me deixou voltar ao hospital. Liguei para o médico e ele me informou que desde a minha saída o quadro de saúde do meu pai era estável. Fiquei aliviada, pelo menos não piorou. A Clara queria saber todas as informações de como ele estava, falei tudo e ela me levou para a pousada. Eu realmente estava exausta, não conseguia fazer nada, precisava desse final de dia fora do hospital.

Tomei um banho assim que chegamos e me joguei na cama. Na mesma hora a Clara ficou de calcinha e sutiã, deitou também se encaixando atrás de mim e fazendo carinho em meus cabelos, meu rosto até que dormi, dormi muito. Acordei somente no dia seguinte e já tinha um café da manhã a minha espera:

-Bom dia, meu amor! – Clara me abraçou e eu correspondi – Dormiu bem?

-Bom dia! Dormi como há mais de vinte dias não durmo – sorri me espreguiçando – realmente estava precisando descansar.

-Ontem quando te encontrei, você estava com a fisionomia exausta.

Sentei, segurei sua mão e a puxei para sentar em meu colo:

-O que seria de mim sem você, hein?

-Um trapo humano igual ao que fiquei com todos esses dias afastada de você.

Encaramo-nos por um longo momento. Eu observava sua fisionomia, seus olhos, sua boca, seu nariz, sobrancelhas… Os traços do seu rosto. Não conseguia acreditar que a Clara estava ali comigo. Eu estava rememorando seu rosto, seus gestos que estava tão acostumada e que tanto gostava. Seu celular interrompeu meu momento admiração, ela levantou e atendeu.

Aproveitei para ir ao banheiro, quando voltei ela estava em pé encostada na parede com as mãos para trás:

-Aconteceu alguma coisa?

-Não, nada demais – sorriu lindamente – Minha sogra que ligou para saber se eu cheguei bem e se consegui encontrar você – fiz cara de interrogação e ela completou – Tá bom, ela me disse o nome do hospital que seu pai está internado.

Sorri, realmente não conseguia entender o que estava acontecendo e acho que se eu tentasse seria impossível. Fui me aproximando da Clara e incrivelmente ela me pareceu tímida:

-O que foi? – Perguntei quase sussurrando.

-Seu olhar.

-O que tem ele?

-Faz tempo que não o via assim.

-Assim como? – Estava já com meu corpo quase colado ao seu.

-Ao mesmo tempo em que transmite carinho, tem muito desejo.

Não respondi mais nada, tive que agir e da melhor forma possível.

Nossos lábios se tocaram, estávamos ainda de olhos abertos. Movimentei meu lábio inferior levemente só para ela sentir o carinho, percebi o arrepio do seu corpo da mesma forma que aconteceu comigo. Passei a ponta da língua nele, a Clara gemeu baixinho e fechou os olhos me deixando livre para nos satisfazer.

Segurei firmemente sua cintura – do jeito que eu sabia que ela gostava – e a trouxe para mais perto de mim. Nossos corpos estavam totalmente colados não tendo mais espaço para nada entre nós duas. Ela passou os braços ao redor do meu pescoço, acariciou a minha nuca e misturou os dedos com os cachos do meu cabelo. Gemi contra seus lábios a não consegui mais resistir.

Mergulhei minha língua em sua boca explorando cada cantinho que eu conhecia tão bem. A Clara gemia junto comigo. Saboreei seus lábios, sua língua. Estava quase gozando só com aquele beijo. Desci minha boca pelo seu pescoço, mordia, beijava, lambia, sugava e ela gemia ainda mais alto e esfregava seu corpo ao meu, inclinava sua cabeça para trás facilitando a exploração. Minhas mãos já percorriam seu corpo: seios, barriga, virilha…

-Du… – não respondi – Acho melhor você atender.

-Atender o que? – já estava com a boca em um dos seus seios, tinha acabado de abaixar as alças do seu sutiã.

-Seu celular… está tocando… insistentemente.

-Deixa ele lá – estava beijando seu pescoço novamente.

-Pode ser importante, amor.

Parei, me afastei dela só para olhá-la, a Clara sorriu:

-A gente continua assim que você fizer esse troço parar de tocar, mas não vale desligar a ligação e nem o celular.

Respirei fundo e sorri pegando o celular:

-Alô! – puxei a Clara para a cama.

-Eduarda? – já sabia quem era.

-Diga – a Clara me olhou assustada com o meu tom de voz.

-Onde você está?

-Não importa, o que você quer comigo?

A Clara estava sentada na cama comigo de frente para mim tentando entender o que estava acontecendo, beijei levemente seus lábios para tranqüilizá-la.

-Acabei de chegar ao hospital e não te encontrei, por quê?

-Muito simples: estava exausta e precisava descansar já que estou nesse hospital há dez dias sem dormir direito, ao contrário de você que nem sempre aparece e quando isso acontece, fica somente vinte ou trinta minutos.

-Tenho que fazer alguma coisa para sustentar a família.

-Não me venha com desculpas esfarrapadas. Todos podem acreditar, menos eu. Tenho certeza que meu pai deixou alguma coisa no banco e sei que não é pouco.

-Mas, eu não posso movimentar.

-Claro que pode e eu sei que você sabe e está fazendo isso, não precisa se fingir de tola comigo.

-Tá, não quero discutir, pense o que quiser. Que horas você volta para o hospital?

-Não sei. Tenho umas coisas para fazer antes de ir. Faça seu papel de esposa pelo menos uma vez na vida além de abrir as pernas para meu pai e gastar seu dinheiro. Devo chegar após o almoço – Clara estava impressionada com o teor da conversa.

-Não fale assim comigo, Eduarda!

-Falo da maneira que eu quiser, nunca escondi de ninguém que não gosto de você e sei que você também me odeia. Não menti em momento algum, estou errada?

-Está sim!

-Estou? Vai me dizer que você não fode com meu pai, não gasta o dinheiro dele já que você não trabalha desde que se conheceram, não me odeia e ainda compareceu todos os dias o hospital? Onde estou mentindo? Anda, fala! – meu tom de voz já estava alterado – olha só… Não fala nada, não é? Sabe por quê? Porque tudo o que disse é verdade e a única pessoa que você não consegue enganar sou eu, logo eu, uma menina ingênua de vinte e quatro anos de idade, incrível isso, não? Você fez tanta questão de falar para meu pai que eu não o amava, que ele para mim não passava de um caixa eletrônico e você está fazendo o mesmo. Acho que o que você queria mesmo era que ele se preocupasse comigo, em não me dar nada e ficar livre para fazer o que quiser, não é verdade?

-É, é verdade! Infelizmente você descobriu, mas não a tempo de evitar algumas coisas.

Senti um arrepio estranho, não sei se foi por causa da afirmação ou do seu tom de voz. Todo o meu corpo começou a formigar, ficar gelado. Acho que fiquei pálida porque a Clara estava com uma cara de muito preocupada. Uma ideia me passou pela cabeça. Meu sexto sentido ficou em alerta.

-O que você quer dizer com isso? – perguntei num fio de voz.

-Por que mudou o tom de voz? – riu escandalosamente – Acho melhor você cuidar de seu pai, ficarei aqui até as 12h cumprindo meu papel de boa esposa.

Regina não esperou que eu respondesse, encerrou a ligação logo em seguida.



Notas:



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