Capítulo 35

-O que foi, amor? Você ficou muito séria de repente.

Mostrei o SMS que recebi, ela demonstrou preocupação:

-Não contei nada para ela, aliás, você sabe que nem toquei no meu celular depois da discussão.

-Eu sei, Du. Conheço a Dani o suficiente para saber que quando ela fala algo desse gênero, é bom levar a sério. Não sou espírita, você sabe disso, mas o que a Daniela diz, sempre levo a sério.

-Meu sexto sentido está em alerta desde o dia que fomos ao Originally e quando isso acontece, não vem nada bom.

-Ele continua tentando lhe avisar alguma coisa?

-Nunca foi tão forte, acho que é algo grave.

-Será que é com seu pai?

-Não tenho certeza, mas acho que tem haver com a mulher dele e isso ficou ainda mais forte depois desse SMS da Dani. A gente já havia conversado sobre esse guia dela e inclusive ele já me salvou de determinadas situações há algum tempo.

-Como assim? Você nem conhecia a Dani.

-Isso é verdade, mas não foi ela que me salvou e sim o seu guia. Lembra da ligação que nós temos?

-Lembro sim. Vocês têm atitudes e ideias tão parecidas que às vezes me assusta e só se conhecem há tão pouco tempo.

-Pois é. Gosto muito mais da Dani do que da minha própria irmã.

-Você tem irmã? – ela realmente estava surpresa.

-Tá vendo? Ela é tão significante para mim que nem comentei a sua existência contigo – sorri – é minha irmã caçula, é filha do meu pai de outro casamento e ela é seis anos mais nova do que eu. Antes dele ser evangélico era muito descarado – ri.

-Nossa! Estou surpresa – sorriu – Você é o filho que ele não teve. Tão descarada quanto.

-Eu não sou descarada, amor.

-É sim, eu que o diga – rimos.

Conversamos mais algum tempo, colocando os assuntos em dias, afinal de contas éramos namoradas e ficamos mais de vinte dias sem nos vermos, muito menos nos falamos.

Quando estamos juntas, temos tanto o que conversar que sempre perdemos a noção do tempo e essa foi a parte mais interessante ali no hospital: nossa conversa, nossos olhares e sorrisos cúmplices, nossa troca de carinho. Tantas coisas estavam acontecendo, tão simples e que eu estava sentindo tanta falta.

***

-Vamos pedir uma pizza? – havíamos acabado de chegar ao hotel.

-Não amor, por favor. Preciso de comida. Meu organismo está pedindo co-mi-da… – ri – Esses dias eu me descuidei dele e só comia besteira com preguiça de ir a algum lugar para comprar, mas agora com você… Meu ânimo voltou – a abracei.

-Hum – derreteu-se em meus braços – quer dizer então que estou fazendo algo de útil?

-Sempre faz, principalmente estando ao meu lado.

Ela sorriu, me beijou e foi para o banheiro:

-Hei, onde você pensa que vai? Me provoca e depois corre. Você acha que está certo isso? –   sorri indo atrás dela.

-Só vou tomar um banho para irmos a algum lugar para jantar – sorriu – tenha calma que sua hora vai chegar.

-Isso não vale, amor. Desde a hora que acordei que você fica me pirraçando. – disse fazendo manha.

-Primeiro tenho que cuidar de você, tenho que fazer você se alimentar direito porque está muito magra. Você precisa ter muita energia – sorriu maliciosamente.

-Bom, diante esse argumento, me dou por vencida, mas TEMPORARIAMENTE, ouviu bem?

-Eu também não vou conseguir passar essa noite estando ao seu lado e não me aproveitar de você, essa é uma coisa temporária realmente.

Tomamos nosso banho separadamente e fomos jantar. A Clara conhecia a cidade relativamente bem e eu estava adorando ser paparicada por ela. Minha namorada queria tomar conta de tudo para mim, se preocupava porque não estava comendo como antes – a quantidade – se eu queria mais Coca-Cola, vinho, se eu queria ir a outro lugar, se eu estava bem ali… Era tudo muito exagerado, uma coisa que definitivamente eu não estava acostumada, mas incrivelmente estava adorando:

-Amor, não precisa se preocupar tanto. Está tudo perfeito, principalmente a companhia.

-Mas, você não está comendo quase nada em relação ao que está acostumada, eu sei que você é uma monstrinha – sorriu.

-Pense comigo: eu não estou comendo direito tem mais de vinte dias, não posso voltar ao que era antes assim, de uma hora pra outra. Ou você quer que eu vá parar no hospital?

-É! Nisso você tem razão. Mas, trate de voltar a aumentar a quantidade de comida que você ingere. Eu quero a minha monstrinha de volta.

Não tive como deixar de sorrir, segurei sua mão por cima da mesa e beijei seu rosto bem próximo a boca:

-Isso não vale. Vai me deixar na vontade?

-Vou sim, você me dispensou mais cedo – brinquei.

-Porque te conheço o suficiente para saber que você não ia se dar por satisfeita com pouco. Você sabe que não gosto de ter hora para acabar. Uma rapidinha é boa, mas estou com muita saudade para uma simples rapidinha. Eu quero tudo o que mereço – sorriu maliciosamente.

-Vai tirar meu couro hoje.

-Prepare-se.

Continuamos a conversa sobre algumas banalidades e nos provocando também, lógico. Ela falou sobre a viagem que fez na época que brigamos, que foi muito produtiva apesar do seu mau humor. Disse também que a Bruna e Rafa discutiram feio porque minha amiga insistia em me defender nesse problema todo e a sua namorada estava dizendo que ela só me defendia porque eu era sua amiga, mas que não deveria por “panos quentes” na situação.

-A Rafa não me disse isso e a gente tem conversado diariamente por email.

-Pois é! A briga foi séria, mas já voltaram às boas apesar da Rafa ter ficado muito chateada com a Bruninha por não ter confiado nela, mas parece que está tudo bem.

-Ela vai me ouvir muito quando chegarmos a Salvador. Como é que pode me esconder uma situação dessas?

-Provavelmente ela não queria te deixar ainda mais preocupada. Ela te conhece bem e sabia pelo  o que você estava e está passando.

-É! Isso é verdade.

Eu queria saber tudo o que aconteceu com a Clara esses últimos dias, perguntava tudo e ela me respondia pacientemente e com um sorriso enorme:

-E como foi essa história de você ir à casa da minha avó com minha mãe?

-Liguei para ela para saber como estavam as coisas e para perguntar de você porque o que você deixou na empresa foi muito vago.

-Propositalmente.

-Imaginei. Então, a gente conversou um pouco e ela me disse que iria para a casa da sua avó no dia seguinte pela manhã, eu disse que a levava e a gente conversava no caminho sobre você.

-Até agora não acredito nisso: minha mãe ajudando a gente a voltar.

-Pois é! Conversamos muito a viagem toda, ela me contou coisas que você ainda não me disse, acho que por falta de oportunidade e outras que você só comentou por alto mesmo ela estando errada. Percebi que você ainda tem muita mágoa de seus pais, mas tanta esquecer e procura ajudá-los, apoiá-los sempre que pode e duas provas disso é que você está aqui com seu pai e sempre vai à casa da sua mãe para ajudá-la no que ela precisa.

-Tenho que fazer meu papel de filha, mesmo os dois deixando bem claro que nunca fui boa para eles.

-Como não? Duda, você foi a pessoa que mais deu apoio a sua mãe para voltar a estudar e tentar ingressar na faculdade, se dependesse de seu padrasto, ela nem teria terminado o ensino médio. Sua mãe foi à luta por causa do seu apoio. E seu pai? Se dependesse da mulher dele, ele estaria abandonado no hospital e fora várias coisas que você já fez pelos dois que você nunca me disse, mas sua mãe reconhece e me contou tudo.

-Quer dizer então que as duas estão de segredinhos?

-Tive  que me unir a  minha sogra para descobrir seus  mistérios  e  acabei  me impressionando     e me apaixonando ainda mais por você – sorriu.

-Ainda de quebra leva minha avó junto.

-As duas estão ao meu favor, ai de você se terminar comigo, vai comprar mais uma briga com sua família.

-Pronto! Agora que deu, estou fudida! Não posso fazer nada de errado.

-Nem pense.

Rimos muito com isso, a noite estava agradabilíssima, minha namorada estava linda, com o humor perfeito, cuidando de mim e ainda fico sabendo do complô da minha família a favor da Clara. Melhor do que isso, minha noite não poderia ficar.



Notas:



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