Capítulo 8

Quando cheguei em casa, antes mesmo de pôr as chaves na fechadura, senti meu celular vibrar em meu bolso, número desconhecido, atendi e continuei o que estava fazendo:

– Alô!

– Du?

Somente uma pessoa me chamava assim, mas decidi me fazer de desentendida.

– Sim.

– Como você está?

– Estou bem, mas quem é?

– Não reconhece minha voz?

– Suspeito de quem seja, mas preciso que você confirme – disse fechando a porta atrás de mim.

– Chegou em casa agora?

– Sim, estava no Centro.

– Mas, você não mora no centro?

– Sim, eu moro no centro da cidade, mas eu estava no centro espírita – disse rindo.

– Ahh.

– Sim, mas não fuja e revele sua identidade.

– Para que você quer o número da minha identidade?

– Engraçadinha – ri

– Tem certeza de que não sabe quem é?

– Eu já disse que desconfio, mas preciso que você confirme. Não quero trocar nomes, sabe? – larguei as chaves na pequena mesa.

– Quer dizer então que você anda dormindo com várias mulheres ultimamente?

– Várias não, mas no último fim de semana dormi com uma mulher que me deixou deliciosamente quebrada – liguei o MP3 que estava acoplado em duas caixas de som.

– Humm, então tenho uma concorrente?

-Tem sim, uma morena linda que tem um corpo perfeito, uma boca muito gostosa e tem um fogo de fazer inveja a qualquer menininha de 19 ou 20 anos.

– Uau, quando você vai me apresentar essa beldade?

– Infelizmente só no sábado, mas não queira furar meu olho porque eu vi primeiro.

– Por que tão longe? – perguntou rindo.

– É que ela é uma mulher muito ocupada, na segunda-feira deixou um bilhete que só terá tempo disponível para mim nesse dia.

– Mas, porque você não tenta antecipar esse reencontro?

– Porque ela foi embora, não tive tempo de pedir seu número e também ela nem se deu o trabalho de deixar anotado.

– Humm, mas será que ela não mexeu no seu celular enquanto você tomava um banho ou sei lá o que e conseguiu seu número?

– Não sei, mas estou começando a desconfiar disso.

– Então, espera ela ligar e tenta antecipar esse reencontro.

A essa altura eu já estava largada no sofá ainda com a roupa que tinha saído, respirei fundo e disse mesmo com medo da resposta.

– Vem pra cá agora!

Percebi que ela não esperava que o convite fosse ainda para o mesmo dia, houve um instante de silêncio, eu só ouvia sua respiração e tive a sensação de ver o seu lindo sorriso estampado no rosto:

– Chego em 20 minutos.

Eu não cabia em mim de tanta felicidade. Depois de encerrar a ligação, fiquei pensando em como minha vida estava perfeita, tudo o que eu queria, o que eu desejava estava se realizando. A relação com minha mãe, meu emprego e agora essa linda mulher que eu conhecia havia cinco dias, que acabou com todas as minhas energias por ser tão insaciável, estava indo para minha casa para provavelmente repetir a dose do fim de semana. Não sabia o que seria da gente, eu queria mesmo era aproveitar aquela bela morena em minha cama e satisfazê-la de todas as formas que eu imaginava e que ela desejava e, consequentemente a mim também, pois pelo visto, fantasias sexuais ela tinha e muitas.

Sorri com esse último pensamento e fui tomar um banho. Caprichei, viu? Que cheiro gostoso que exalou naquele pequeno apartamento! Vesti meu roupão e fui trocar a roupa de cama. Estava escutando tudo o que eu gostava em termos de música, ia de Nando Reis a Maria Betânia, pura MPB.

Estava sentada no sofá quando escuto o interfone, atendi já sabendo quem era, mas fiz isso mesmo só por questão de segurança. Liberei sua entrada, deixei a porta entreaberta e fui à cozinha beber um pouco de Coca-Cola, nada romântica, não é? Mas, já disse isso.

Ouvi a porta ser batida levemente e depois trancada, fui até a sala. A visão que eu tive quase me fez engasgar. Clara estava simplesmente linda, usava um vestidinho floral e uma sandália rasteira, cabelos presos displicentemente no alto da cabeça. À medida que eu chegava perto, seu perfume me embriagava e com aquela visão, que me hipnotizou, eu estava nas mãos dela.

Não disse e nem escutei nada. Precisava, necessitava, salivava por seus beijos, seus toques, seu cheiro, seu olhar e, lendo meus pensamentos, Clara deu um de seus mais belos sorrisos que até seus olhos brilharam ainda mais. Aproximou-se de mim e colou seus lábios com os meus. Lembram daquela sensação descrita no primeiro beijo? Pois é! Foi a mesma coisa, o choque que o coração vai à boca, o estremecer do corpo quase que imperceptível para a outra pessoa e o leve latejar no sexo, tudo igualzinho.

Agarrei-me a sua cintura e trouxe seu corpo ainda mais para perto do meu. Rapidamente estávamos despidas na cama, com Clara em meu colo de frente para mim e eu a penetrando com dois de meus dedos, ela ditava o ritmo da dança dos nossos corpos, ela queria mais rápido e eu estava ali prontamente saciando sua vontade.

Ela tinha urgência, eu também em vê-la se contorcendo em meus braços, arranhando minhas costas, meu ombro, meu pescoço. Sentindo o estremecer do seu corpo dando sinais de gozo, seu gemido de prazer e satisfação. Aquela mulher que estava em meu colo era de tirar qualquer um do sério, mas ali, naquele momento ela era minha, somente minha e eu queria aproveitar isso da melhor forma.

Clara gozou demoradamente, foi tudo muito rápido, tudo muito perfeito. Ela continuou com os braços ao redor do meu pescoço, testa encostada na minha enquanto recuperava-se daquele estado de êxtase que se encontrava. Ela afastou-se um pouco de mim só para abrir ainda mais o roupão que eu ainda estava vestida, sorriu com o que viu e voltou a me beijar, levantei com ela ainda em meu colo e deitei-a na cama, deixei o que ainda vestia cair no chão e fui para cima de Clara literalmente falando. Encaixei meu corpo entre suas pernas e passei a provocá-la de todas as formas até que nem eu mais aguentava.

Mergulhei minha língua faminta no centro de seu prazer, explorando toda a região do seu sexo que só fazia me presentear com seu líquido me fazendo querer invadi-la ainda mais e foi isso que fiz; continuando a exploração com minha língua, penetrei-a com um de meus dedos, nesse momento olhei para Clara e ela se contorcia na cama, gemia gostosamente e já falava coisas que nem se eu quisesse, conseguiria entender, mas estava me excitando ainda mais, se isso era possível.

Ela gozou uma, duas, três vezes que eu pude contar, depois disso, nem lembrava mais quanto era 1+1, Clara tinha esse poder de me tirar à luz da razão, qualquer vestígio de racionalidade.

Depois de delirarmos muito uma com a boca, as mãos, os toques, os carinhos, a língua, o sexo da outra, deitamos extasiadas, exaustas, mas plenamente satisfeitas em conseguir proporcionar tantas sensações para a outra; ela não chegou a dizer isso, mas estava escrito em seus olhos, em seu sorriso que em apenas cinco dias eu já havia começado a compreender.

Clara estava deitada de lado e eu em suas costas em forma de concha fazendo carinho em sua barriga quando, enfim, começamos um diálogo:

– Du?

– Oi.

– Acredita se eu lhe dissesse que senti saudade?

– Claro, afinal de contas também senti. Só não te liguei porque a senhorita fez o favor de fugir daqui na segunda-feira sem ao menos deixar o número do seu telefone ou qualquer outro meio de comunicação, nem sinal de fumaça eu podia mandar – disse rindo e ela me acompanhou.

– Tá, desculpa! Não achei que fosse sentir minha falta e nem eu a sua assim tão rápido.

– Rápido? Clara, hoje é quinta-feira, aliás, já é sexta-feira – disse olhando para o relógio em meu pulso.

– Sim, mas eu queria te ligar desde a segunda-feira quando eu me dei conta que não dormiria, não conversaria contigo.

– E porque não ligou?

– Desculpa, mas estava tentando provar para mim mesma que conseguiria.

– E conseguiu? – perguntei com medo da resposta.

– Consegui – fez uma pausa – somente umas olheiras, um enorme cansaço e um humor que nem eu aguentava por demorar tanto a dormir. Por incrível que possa parecer, senti falta do seu corpo para me aconchegar na madrugada.

– Não seja por isso – respondi me encaixando ainda mais nela.

– Humm, assim eu não resisto e vou ter que voltar aqui todos os dias para você me fazer dormir.

– Só dormir? – perguntei com voz de dengo.

– Dormir é só uma desculpa, linda – respondeu rindo.

– Ufa, que bom! Já estava ficando preocupada – ri e continuei – se é assim, seja muito bem-vinda, já sabe que não precisa de convite – terminei a frase beijando seu pescoço e ficando ali, inspirando seu perfume natural.

Essa é a última coisa que me lembro de ter dito a Clara. Meu corpo não aguentou a exaustão e relaxou completamente. Dormi tão profundamente que nem lembro se sonhei ou não. Foi um sono tranquilo, gostoso, reconfortante. Era assim que me sentia ao lado de Clara, principalmente depois de horas de sexo, muito diferente das outras pessoas que já fui para a cama, o que realmente queria depois de satisfeita era sair.

Nunca gostei de “grude”. Esse era um dos motivos que raramente levava alguma mulher para dormir em minha casa, não queria que se sentissem “a namorada” depois, mas aquela mulher que me fazia me sentir tão “diferente” era especial desde a nossa primeira troca de olhares há exatos cinco, alias, seis dias. Eu tinha acabado de convidá-la a ir a minha casa sempre que sentisse vontade de “dormir” comigo, sempre que sentisse saudade do meu corpo na madrugada para se aninhar.

Sabia que ali eu estava abrindo espaço para que ela me usasse sempre que desejasse, a hora que quisesse, para o que tivesse vontade e sem qualquer compromisso, mas incrivelmente eu estava bem assim. Estava bem em saber que Clara sentiu minha falta esses dias, sentiu falta do meu corpo, dos meus beijos, das minhas mãos, do meu sexo, sentiu falta das nossas conversas bem humoradas, mas não idiotas. Também senti falta de tudo isso.

Quando acordei, novamente Clara não estava ao meu lado. Olhei para o relógio e vi que ainda era relativamente cedo para ela já ter saído, mas olhei ao meu redor e tentei escutar alguma coisa que desse sinal que ela ainda se encontrava por ali, mas nem sombra da Clara. O cansaço ainda era grande e acabei pegando no sono novamente, ao acordar um pouco mais descansada, levantei e na mesa, sob as minhas chaves, tinha mais um bilhete:

“Du,

Mais uma vez tenho que sair cedo e não tive coragem de lhe acordar, pois quando fiz menção para isso, me arrependi quando vi sua linda fisionomia serena. Ontem abusei de você…

Como sei que sentirei sua falta, principalmente mais tarde, volto para “dormir” mais uma vez contigo, mas hoje chegarei mais cedo, umas 15:30h ou 16h +/-.

Descanse. Risos.

Beijo,

Clara.”

Bom, se Clara estava querendo me enlouquecer de desejo e ansiedade, ela estava conseguindo. Saber que ela estaria em minha casa em poucas horas me deixou inquieta durante o resto do dia.

Para tentar me acalmar, fui à praia, dessa vez não queria ficar na sombra somente, fiquei o tempo quase todo no mar tentando refrescar um pouco a cabeça e tentar esquecer esse “encontro”. Cheguei em casa por volta das 12:30h, tomei meu banho, almocei e deitei para tentar assistir algum filme.

Meu celular tocou algumas vezes com o pessoal de onde eu trabalhava até a segunda-feira querendo confirmar nossa saída à noite, mas não dei resposta porque não sabia quais eram os planos da Clara, disse que se eu definisse alguma coisa retornava a ligação.

Falei com Rafa também, ela ia sair com Bruna e perguntou se queríamos ir, dei a mesma resposta, mas a minha amiga eu falei que dependia do que realmente Clara planejava porque aquela mulher era sim, uma caixinha de surpresas.

Não consegui assisti a filme algum, acabei pegando no sono e só acordei com o meu celular tocando, era Clara, a primeira coisa que veio em minha cabeça era que ela desmarcaria por algum imprevisto no trabalho ou sei lá o que, repentinamente bateu uma insegurança que não reconheci em mim:

– Alô.

– Du?

– Oi.

– Você está onde?

– Em casa, por quê?

– Que voz de sono é essa, te acordei?

– É, estava assistindo um filme aqui e estava tão bom que acabei pegando no sono – ri.

– Poxa, desculpa por ter lhe acordado.

– Que nada, aconteceu alguma coisa?

– Aconteceu.

– O que houve? – perguntei receosa.

– É que já estou aqui embaixo tem uns dez minutos esperando você abrir o portão para mim, interfonei e como não atendeu, achei que não estivesse em casa. Revolvi ligar para seu celular.

Quando Clara terminou de falar, eu já tinha levantado e estava chegando ao interfone, para liberar a

entrada dela.

– Desculpa, linda. Acho que você já percebeu que meu sono é pesado, não é? – disse sem graça.

– Já sim, você dorme feito um anjinho.

– Não exagera, Clara.

– Não é exagero nenhum, só estou sendo realista.

– Tá bom, nem vou discutir sobre isso – ri.

– Agora será que a senhorita pode abrir a porta para mim?

– Claro, algo mais senhora? – perguntei já com a porta aberta e desligando a ligação.

– Quero sim, mas nada que eu queria fazer aqui fora.

Eu pretendia me desculpar pela cara de sono e pedir para Clara me esperar alguns minutos, mas ela não me deu chance alguma para isso. Já foi entrando e me agarrando, eu que não ia me fazer de rogada, né? Deixei-me ser levada por ela, por suas mãos, seus beijos…

Depois de algumas horas, estávamos deitadas e ela de lado com a cabeça apoiada em minha barriga brincando com uma penugenzinha loira que tenho na linha que vai do umbigo até a região pélvica e eu fazendo-lhe cafuné:

– Adoro ficar aqui brincando com eles, sabia?

– Percebi – respondi rindo.

– Incomoda?

– Nem um pouco, muito pelo contrário, é gostoso esse carinho.

Depois de mais algum tempo nos curtindo, mais uma vez Clara quebra o silêncio que em nenhum momento era constrangedor:

– O que vai fazer hoje à noite?

– Não tenho nada planejado, recebi algumas ligações de alguns amigos e de Rafa também, mas eu disse que depois eu dava a resposta, afinal de contas eu estava lhe esperando e que por sinal a senhorita chegou bem antes do horário “marcado”.

– Consegui adiantar algumas coisas lá no trabalho antes do previsto e resolvi vim logo porque já estava com saudade – disse isso se erguendo e se aconchegando no meu pescoço – então quer dizer que você está sendo cogitada para sair.

Não sei se foi impressão minha, acho que percebi uma pontinha de ciúmes em seu tom de voz, mas se isso foi verdade, Clara tentou disfarçar.

– Bom, adorei que você chegou mais cedo do que o planejado porque também estava com saudade de ti – disse virando em sua direção e depositando um leve beijo em seus lábios e continuei a falar – quanto a ser cogitada, nem tanto. É que geralmente saio nos finais de semana com meus amigos porque no decorrer dela, quase nunca tinha tempo – dei-lhe mais um beijo para continuar – e quanto ao que você quis dizer nas entrelinhas, uma garota que já fiquei ligou para nos encontrarmos, mas não aceitei por dois motivos: um deles é que não quero e outro é que você está comigo.

Não deixei Clara falar mais nada, beijei-a de uma forma meio que como prova que tudo aquilo que eu

disse era verdade; sobre a saudade, as saídas com meus amigos e a garota que não queria ficar. Na realidade era mais por causa dela do que qualquer outra coisa, mas não disse por que ela poderia imaginar que eu estava falando aquilo para impressioná-la. Sei que é besteira, mas achei melhor que fosse dessa maneira. Ficamos assim por alguns minutos até que eu voltei a falar:

– Qual a sua sugestão para essa noite?

– Não sei, pensei em ligar para a Bruna e marcarmos alguma coisa, o que acha?

– Por mim, tudo bem.

– Ótimo, vou fazer isso agora mesmo – disse já se levantando para pegar o celular.

– Tá, mas tenho uma sugestão para agora no fim da tarde.

– Qual? – voltou a atenção dos olhos para mim.

– Pôr do sol no Solar do Unhão, o que acha?

– Parece uma boa ideia e faz um tempinho que não vou lá.

– Beleza então, vamos ao banho? – perguntei olhando maliciosamente para ela que aceitou prontamente, deixou a ligação para mais tarde.

Depois de muitos beijos, muitas carícias, muito pega daqui, pega dali e, inevitavelmente, alguns orgasmos, conseguimos sair do banheiro quase uma hora depois e com promessas silenciosas que mais tarde teríamos muito mais a fazer.

Minha grande surpresa foi ver que Clara tinha levado consigo uma mochila com roupas e itens pessoais suficientes para passar todo o fim de semana. Adorei ver aquilo, adorei saber que ela seria minha por mais esses dois dias inteiros e quase metade da sexta-feira.

Da minha casa para o Solar eu fazia em cerca de quinze minutos, no máximo, andando, mas Clara insistiu para irmos de carro. Quando chegamos lá, ainda tínhamos um tempo até o sol se pôr, aproveitamos para ver as exposições que estavam ali, afinal de contas, aquele lugar abrigava o Museu de Arte Moderna da Bahia desde 1969.

Entre uma visita e outra, Clara perguntava algumas coisas que eu não tinha nenhuma dificuldade em responder, muito pelo contrário, eu estava adorando saber que ela estava se interessando por um assunto que eu tanto gostava:

– Me tira mais uma dúvida?

– Quantas você quiser – respondi no seu ouvido, ela riu.

– Eu vim aqui poucas vezes e nunca demorei, mas sempre tive uma curiosidade que ninguém sabia me responder – fez uma pausa me analisando e continuou – Por que “Solar do Unhão”?

– Pergunta interessante – fiz uma pausa olhei-a fazendo suspense e continuei – porque aqui foi residência do Desembargador Pedro de Unhão Castelo Branco no século XVII, ele e sua família moravam justamente aqui nesse casarão que nós estamos. Na parte baixa que vamos daqui a pouco eram as acomodações dos escravos. Vem comigo – disse puxando-a para mostrar-lhe o cantinho que mais gostava dali.

– Aonde nós vamos?

– Calma, curiosa – disse rindo.

Saímos do casarão, descemos as escadas, passamos pela entrada do restaurante e lhe expliquei:

– Esses galpões e aquele cais foram construídos no século XIX. Mostram a adaptação sofrida pelo conjunto para uso comercial como depósito de açúcar, fábrica de rapé – que nada mais é do que fumo em pó – e alambique. Todo o interior do Solar foi reformado e, a partir de meados do século XX, o conjunto foi recuperado parta abrigar ao Museu de Arte Moderna da Bahia e o restaurante.

Continuamos caminhando, subimos umas escadas e encontramos o parque das esculturas:

– Você acredita que nunca me dei o trabalho de vim até essa parte?

– Sério? Acho que vim no Solar e não passar aqui é a mesma coisa de não vim. Essa é a parte que mais gosto, tem essa maravilhosa vista, as esculturas, aqui é calmo, adoro esse silêncio.

– Realmente você é apaixonada por isso, soube responder todas as minhas perguntas. Sei que algumas foram idiotas, mas nunca vim aqui para procurar tirar minhas dúvidas, sempre deixava para depois.

– Isso é verdade, adoro isso aqui, mas o que sei não aprendi com funcionários ou professores na época do ensino fundamental. Estou me formando em história em dezembro, estou só unindo o útil ao agradável e você não fez nenhuma pergunta idiota, muito pelo contrário – disse isso a abraçando.

– Sério? Você faz história?

– Faço sim, mas já estou no finalzinho do curso. Quase nem vou mais lá na faculdade, só estou esperando meu orientador entrar em contato comigo para falar do TCC e a direção da faculdade marcar o dia da banca, coisa que deve ser feita provavelmente na semana que vem.

– Que massa, Du! Seus olhos até brilharam quando falou sobre o curso.

– Adoro história, mas nem sempre fui assim. Antes achava um saco essas aulas, mas no ensino médio tive excelentes professores e comecei a olhar para essa disciplina com outros olhos.

– E você pretende lecionar?

– Não, que nada. Definitivamente não nasci para isso – ri e continuei – Vou ficar na área de pesquisa e tenho um projeto que envolve educação, arte e cultura que já está encaminhado. Começo um novo trabalho na segunda-feira, é por isso que estou sem fazer nada essa semana, pedi demissão no meu outro emprego na segunda passada e meu contrato do estágio também já terminou no mesmo dia.

– Quer dizer então que você teve a semana inteira livre e eu não sabia disso?

– Pois é, a senhorita fez o favor de não deixar nenhuma forma de contato – fingi que estava chateada.

– Prometo que compenso tudo esse fim de semana – disse estreitando ainda mais o abraço.

– Humm, assim não tenho como resistir.

– Nem tente.

Continuamos a conversa sobre o Solar, ela fez mais algumas perguntas e a levei para outra parte que gosto muito. O cais. Dali dava para ter uma visão privilegiada do pôr do sol. Clara ficou encantada com o que viu, realmente aquilo ali é lindo, a gente até namorou um pouquinho tendo o sol avermelhado como nosso cúmplice, já que não tinha ninguém e raramente aparece visitantes naquele horário durante a semana.

Fomos embora por volta das 18:30h, queríamos ficar mais, mas o segurança nos avisou que eles estavam fechando em alguns minutos. Quando entramos no carro, Clara lembrou que não tinha ligado para Bruna, pegou o celular e marcaram de nos encontrarmos por volta das 21h no mercado do peixe: fica no Largo da Mariquita, Rio Vermelho. É formado por vários bares ao ar livre, e sempre foi um lugar tradicional – antes era realmente mercado de venda de pescado – da boemia marginalizada da cidade. Há cerca de dez anos, o local passou a ser frequentado também, por jovens da classe A e B.

Já que ainda era muito cedo para irmos, fomos para casa, mas antes passamos em uma pizzaria, pedi uma pizza tamanho família. Lá no apartamento eu tinha Coca-Cola e vinho. Chegamos, comemos, conversamos, ouvimos música, namoramos. Estávamos num clima muito descontraído, gostoso e incrivelmente romântico. É… Sei que já disse que não sou romântica, mas Clara estava me fazendo ter um carinho, uma atenção, uma preocupação por ela que nunca tive com ninguém e podem acreditar, eu estava gostando de constatar isso.



Notas:



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