Ponto de Vista

Ponto de Vista – Parte 2

Ponto de Vista

Parte 2

Novo dia, e o pessoal da Federação utilizando todos os argumentos possíveis e imagináveis para conseguir o apoio dos Qualtzianos. Cada dia mais difícil, argumentos novos, e eles, ouvindo apenas. Cada hora mais difícil me concentrar no trabalho. Penso nela.

Assim que termina o dia, chego ao hotel e há um recado. É dela. Olho e tento adivinhar o que está escrito. Tenho medo de abrir e ser um adeus. Venço o medo. É informação para chegar a um determinado local ás 20:00 horas.

Tomo banho, e não sei porque, escolho a roupa rapidamente. Parece que sei o que será ou não aprovado. Nem penso em estômago, mesmo tendo almoçado ao meio-dia. Apanho um carro do hotel, e dirijo-me ao local, seguindo as instruções precisas, numa letra segura, rápida, bonita, e bem legível, que tenho a certeza de quem seja.

O lugar parece um oásis. Brisa suave e fresca, uma visão esplêndida do céu. Um lago a uma certa distancia, espelhando o brilho celeste. Bem longe da cidade e quase vazio de pessoas.

O lugar me acalma, relaxo, fecho os olhos e sinto a brisa, e, na brisa… seu cheiro. Está atrás de mim. Já estava lá a minha espera à distância, porque se estivesse próxima eu a sentiria. Pensando bem, eu a senti. Àquele algo que me acalmou, agora sei, era sua presença. Não olho para ela. Continuo de olhos fechados e vou andando devagar… para trás. Agora sinto forte sua presença. Sei onde está, e que não vai sair até eu chegar. Sei até a distância. Estou sorrindo. Estou testando? Encosto em seu corpo, e de imediato sou abraçada. Estou… feliz. Abro os olhos, sinto seus lábios na minha nuca e vejo um mundo maior, mais belo, me viro. Vejo seus olhos, e novamente mergulho (acho que será assim sempre). Vejo seus lábios, toco suavemente com as mãos, depois com os meus lábios, acariciamos e então sôfrega e trêmula me entrego e me atiro em sua boca cálida.

Turbilhões em mim e a conheço plenamente. Parece que recebi toda a sua memória ao mesmo tempo, que minha vida passou para ela. E não foram somente memórias trocadas, foram sensações, emoções, sentimentos, e, sobretudo… paixão e amor. Este é o momento. Sou puxada para o lado, e estamos num local reservado e preparado com aconchego. E acontece o que eu queria antes de conhecê-la. Só não sabia que seria ela. Toco cada milímetro de seu corpo, beijo, sugo e… sei lá mais o que, só sei que não quero parar. Nunca na minha vida quis tanto. Nunca antes fui tão correspondida. Nunca antes me entreguei tanto. Nunca antes recebi tanto. Nunca antes me senti tão esvaziada, naquele líquido quente que encharcava minhas coxas, e nunca antes me senti tão completa, tão preenchida com um toque, com um olhar, um beijo logo em seguida.

Quando o dia chega, estamos ali, abraçadas, completadas, felizes. É hora de enfrentar a realidade… Não, agora não, depois, mais tarde. Abraço-a mais forte, pois o medo está voltando.

– Não precisa ficar assim. Avisei-te sobre o ponto sem volta, você o percebeu e o ultrapassou. Tem consciência disto?

– Tenho, eu quis ultrapassa-lo.

– Vou estar sempre com você, longe ou perto. Qual é o seu medo?

– Não quero ir com você para o seu Império. Amo-te mais que tudo no mundo. Mas, quero estar sempre ao seu lado e perto, nada longe, pois não suportaria o modo como vivem, sob o julgo de um governo como seu Imperador. Não estou julgando, ou querendo dizer que somos perfeitos, sei que estamos bem distantes disso, mas a liberdade econômica impera sobre os demais; o resto é falso, mentira. Não posso criar, produzir, descobrir, realizar, amar e estar sujeita a vender pra “x” ou “y”, investigar sob a supervisão de outra pessoa, realizar só o que possa gerar lucro pra alguém, amar em área delimitada, com todo o universo a ser percorrido. Na tua posição, vindo de onde você veio, sendo quem você é, ficaria comigo?

– Acho que sua Federação ficaria encantada em me dar uma chance. Não concorda?

– Claro! Mas como você se sentiria?

– Sem você? Vazia. Tomarei qualquer decisão ao término da Conferência. Tenho a certeza que daremos um jeito. Não vou deixar você.

– Promete?

– Prometo.

Senti-me mais tranquila. Infelizmente tínhamos que trabalhar.

A vida continuou. O dia todo, conversações intermináveis, mais pra monólogos, aliás, com os Qualtzianos ouvindo. Eu a via, mas não nos aproximávamos. À noite, curta demais, renascíamos, vivíamos, éramos completas, perfeitas. Seu corpo, meu universo; sua voz, o som que me fazia vibrar; seu toque que me fazia estremecer; seu gozo, meu imenso prazer.

Alguns dias (07) antes do término das conversações, os Torkys atacaram uma nave cargueira, dentro do espaço da Federação. De comum acordo, Cibe foi destacada para verificar.

Foram três dias infernais sem sua presença. Os Qualtzianos tratavam-me com deferência, com quase amizade.

Quando retornou, estava mais séria, preocupada, achei, quando passou por mim olhando-me brevemente, mas no seu jeito profundo. Foi direto para a tribuna. Quando a viram fez-se um funesto silêncio.

– Não há dúvida alguma que os Torkys estão tentando ampliar seu território. Atacaram a nave cargueira, mataram toda a tripulação e famílias, 56 pessoas no total, sendo 08 crianças. Verificando nas proximidades, descobrimos toda uma esquadra de caças, e duas naves bases. Dois planetas do quadrante mais próximo, também foram atacados, milhares de mortos, estão saqueando. Três caças nos atacaram, embora conheçam nossas naves e emblemas, foram destruídos.

Falou rápida e secamente. Observou a reação dos presentes, esperou o silêncio retornar e eu da porta de entrada, sabia o que ela sentia e o que diria a seguir. Virou-se especificamente para seus Anciões, falou em seu idioma e, saiu. Seus militares saíram incontinente. O burburinho instalou-se, e antes que o barulho aumentasse, o Presidente do Conselho da Federação, Almirante Lescal subiu à tribuna.

– Senhores! Por favor, silêncio. Sr. Quaw, o que ela disse no final?

– Ela opinou pela guerra. Caso concordemos, e o Imperador autorize, amanhã colocaremos as exigências para o nosso apoio.

– Exigências?

– Totalmente militares Sr. Miller. Amanhã nos reuniremos às 14 horas e tudo será decidido.

Dizendo isto, todos os Qualtzianos deixaram o recinto.

Estava apreensiva, fui para o meu quarto e, chamei-a com todo o meu ser, esperei. Sabia que viria.

Dez minutos depois ela entrou. Afagou-me o rosto, abraçou-me. Um abraço forte e longo e me senti segura ali.

– Viria comigo enquanto a guerra durar?

– Vai haver mesmo guerra?

– Vai. Eu vou solicitar sua presença em minha nave e explicar o porquê, o que somos uma para a outra. Aceitarão porque precisam de nós.

– O Imperador vai autorizar? Digo, a guerra e o relacionamento?

– Quanto a guerra, pelo que vi, é só questão de tempo para tentarem novamente nos atacar, e antes de retaliarmos, poderá haver mortes demais no Império. O relatório foi passado antes do meu retorno, por isso ele vai autorizar. Quanto a você, ele não pode fazer nada. Só nós duas podemos decidir sobre nós. Ele não pode se envolver. É… sagrado para nós de Qualtz. Caso você não queira ir comigo durante o período de guerra, avise-me agora, porque amanhã isto fará parte das exigências para colaboração.

– Sério?! Nosso relacionamento?

– Sério. Depois da guerra, se estivermos vivas, veremos o que faremos, mas, agora é a única forma de estarmos juntas. Vem?

Não respondi com palavra alguma. Apenas beijei-a, me entregando totalmente, ao mesmo tempo, exigindo o que me fora negado por todos os dias que, estivera longe.

        Amanheceu. Pensei ter perdido a hora. Ah! Não. Nós da Federação sabíamos o que precisávamos e, a reunião seria só às 14 horas. Por que acordei? Abri os olhos e olhei para o relógio. 06:30h. Por que acordei? CIBE! Acordei de vez e sentei-me de supetão, quase num pulo.

– Estou aqui.

Estava no canto mais escuro do quarto, sentada numa cadeira.

– Que foi?

– Estava meditando e “saí do ar”, como vocês dizem. Precisava limpar as cenas de carnificina dos Torkys, por onde passei, e não queria te acordar pra isso.

– Devia.

– Não. Enquanto estivemos juntas, acordadas, esqueci do resto do mundo, mas dormi um pouco e acordei angustiada. Afastei-me um pouco para não atingi-la, mas parece que não funcionou, pela forma que você acordou.

– Volta para a cama. Volta pra mim e divida isto, por favor. Dividindo será mais fácil superar. Venha.

Levantou-se, se aproximou, olhou-me. Sentia sua angústia. Tão dolorida. E vi o que não sei porque, achei que  jamais veria. Lágrimas. Começou a chorar silenciosamente. Queria detonar o mundo, principalmente os Torkys, por causar aquilo nela. Estendi os braços. Aninhou-se e choramos juntas sua dor por algum tempo. Dormiu. Senti-me enorme, uma leoa, que enfrentaria e faria qualquer coisa para protegê-la. E de repente eu soube. Era isso. Ela é uma guerreira, muitas vezes mais forte fisicamente que eu, mas sou seu esteio emocional. Podem acabar com ela através de mim. Esta coisa de alma gêmea para eles, o sagrado que nem o Imperador pode interferir, é isto. Unidas somos completas, equilibradas. A guerreira e a pacificadora; temporal e brisa; maremoto e plácida nascente; raiva e poesia; vulcão e a fogueira que aquece na noite fria. O que uma tem em ebulição, a outra possui a contrapartida, e a união das duas partes nos torna uma completa.

                 Acordei com o som de batidas suaves. A porta foi aberta e uma bela mulher, com uniforme qualtziano, entrou no quarto.

        – Oi! Desculpe, eu sou…

        – Lenx, minha cunhada.

– É Cibe mandou chamá-la caso não tivesse voltado para o almoço.

– Que horas são?

– 12:30h. Já estou indo. Prazer.

Aproximou-se, beijou-me o rosto e o de Cibe, saindo, Cibe espreguiçou-se, sorrindo.

– Vamos almoçar?

– Desde quando está acordada?

– Desde as batidas na porta. Sabia que ela não precisava entrar para me chamar? Queria pelo jeito se apresentar a você, por isso fiquei quieta.

                 Tomamos banho e fomos almoçar.

                 Às 14:00h em ponto, o chefe dos anciões subiu á tribuna, fez-se silêncio de imediato.

– As condições são: 1) Nossos oficiais comandam as operações, e mesmos suas espaçonaves, enquanto a guerra durar. 2) A Tenente Cristina permanecerá na nave da Cap. Cibe estão (para que vocês entendam claramente) casadas. Será a “Ponte” entre nossa força e, a de vocês. 3) Sempre haverá uma nave nossa próxima a de vocês para apoio. 4) Nenhum de vocês adentrará às nossas naves, a não ser em caso de resgate, e caso isto ocorra, ficarão confinados a alojamentos indicados até serem transferidos. 5) Ao término da guerra, continuaremos bons vizinhos. Caso não aceitem alguma das condições, partiremos agora e tudo volta ao normal. Aceitando, deixem tudo bem claro a seus militares, pois os Torkys estão a caminho de seu quadrante. Quanto tempo desejam para dar a resposta?

Após breve discussão, o Sr. Miller anunciou.

– Três horas. Eu o procurarei pessoalmente e darei a resposta definitiva.

– Muito bem, senhores. Até mais tarde.

Enquanto os presentes saiam aos poucos, alguns militares da Federação, inclusive meu Comandante se aproximaram.

– Tenente Cristina! O que houve? O que significa tudo isto? Você não é mais nossa?

– Não, Comandante. Continuo sendo uma oficial da Federação. Apenas vou estar numa nave de batalha qualtziana durante a guerra. Depois dela veremos.

– Que papo é esse de casamento?

– É verdade, estamos casadas.

– Tá brincando!? E como vão nos comandar?

Enquanto queriam informações, foram inconscientemente cercando-me, e estavam começando a alterar a voz, percebi um grupo bem próximo, capacetes fechando, espadas na cintura, e não conheciam as pessoas que falavam comigo.

– Senhores! Por favor, sentem-se e conversaremos. Informarei o que souber e puder, mas aconselho que não me rodeiem, ou fiquem tão exaltados. Há algumas pessoas logo ali, que não vão gostar.

Olharam e logo entenderam. Foram se espalhando e sentaram-se.

Acenei para os qualtzianos se aproximarem.

– Senhores! Esta é a sargento Lenx, minha cunhada.

Os capacetes desapareceram.

– Oi, gente! Este é o Xoltz, meu marido. Todos combatentes em folga por enquanto. Certo?

Murmúrio concordando. Lenx acenou dispensando os demais.

– Bom! A Tenente aqui precisa encontrar minha irmã e os anciões. Nós estaremos à disposição. Que tal a lanchonete?

Fui para os alojamentos qualtzianos, onde estavam a minha espera.

– Desculpe senhor, é que…

– Não se preocupe. Imaginamos que isto aconteceria. Nós acreditamos que vão acatar as exigências, e você tem que se preparar para ser o elo de ligação, por conhecê-los e entender seu raciocínio, tornando mais fácil à Comandante de operações sentir através de você.

– Mas o Comandante não é o Coronel…?

– Da missão diplomática sim. Estará controlando administrativamente de sua espaçonave. Operacionalmente nosso Comandante em guerra será a Capitão.

                          Às 17:00h o Sr. Miller apareceu e realmente concordaram. Levariam três dias para os acertos dos detalhes operacionais, o que nos deixariam extremamente ocupados. Havíamos chegado no dia 13 de setembro, hoje 30 de setembro, o espaço estava tomado de aeronaves de guerra da Federação e do Império Qualtz. Eu era outra pessoa, ciente principalmente do que vinha pela frente.

– Cibe! Você pode se recusar a assumir este comando? Você não gosta de guerra.

– Quem melhor para acabar com ela rapidamente? Somos guerreiros. Somos os melhores, arduamente treinados, lutamos pela paz, para acabar com os horrores da violência, para que o povo tenha tranquilidade em seus lares. Não lutamos por glória. Nenhum de nós gosta de violência, só a empregamos se necessário.

– O Império é uma ditadura!

– O povo vive, ama, raramente temos ciúmes, trabalham, criam. Uma revolução traria muitas mortes.

– Seu povo os dominou, vindo de fora. Será que não está na hora de deixa-los viver à sua maneira? Ter a liberdade de escolher o seu caminho, seja certo ou errado? Assumir os riscos e as responsabilidades das escolhas? Escolher seus governantes? Não são crianças engatinhando.

– Por favor! Uma guerra por vez.

– Desculpe, amor.

                         

Último dia naquele planeta. Oficiais de uma guerra surpreendente de idiomas e aspectos reunidos. O Sr. Miller, como representante do Congresso da Federação, apresentou Cibe como comandante de operação.

– Bons dias, senhores! Em várias naves da Federação, haverá três dos nossos. O comandante, estará acompanhado de um encarregado de comunicações, e um de artilharia, que trabalhará junto com seus encarregados. O de comunicação é telepata, portanto mesmo que estejam prestes a ir a pique, sem nada funcionando, sua função é nos pedir ajuda. Em todas as nossas naves, o encarregado das comunicações é telepata sensitivo. Se quiserem sobreviver aos Torkys, sigam ás ordens, por mais estranhas que pareçam. Terão 24 horas para se conhecerem. É o tempo de chegada ao local, onde deverão acontecer os primeiros combates. Perguntas?

– Sra!

– Pois não, Coronel.

– Suas naves são poderosas, mas temos os melhores pilotos de caças. Como pretendem nos acompanhar e apoiar em combate com seus caças?

 

O tom irônico provocou risinhos.

– Fácil, Coronel. Economizaremos energia nos tornando mais lentos para acompanha-los. Mais alguma coisa?

 

Silêncio.

– Muito bem. Despeçam-se de quem precisem, e assumam seus postos. Partiremos ao anoitecer. Boa sorte senhores.

Debandada geral. Planos de voos entregues. Vamos lá.

Chegada a noite, pessoal distribuído. Em pares, as aeronaves seguiram rumos diferentes. Uma da Federação e uma Qualtziana.

                          Menos de dois dias depois, começaram a chegar notícias dos primeiros combates. Ficou bem claro que sem os Qualtzianos, estaríamos perdidos. Cada batalha lições novas, pois o inimigo desta vez era bem diferente. Era uma civilização antiga, expansionista, que usava todos os meios para conseguirem o que queriam, principalmente a violência. Algo parecido com os nazistas do séc. XX da história terrestre. Excelentes combatentes, eu estava registrando coisas demais sobre manobras, naves Torkys, lições novas a cada confronto da inteligência mediana com força bruta, contra a refinada inteligência do planeta central do Império. Cada manobra que os Torkys  efetuavam, altamente destrutivos, em segundos já estavam as naves da Federação, sob o comando dos oficiais qualtzianos, realizando a contramanobra e ataque. Nossos militares estavam admirados, impressionados e nenhum mais demonstrava o menor desapreço em seguir suas ordens. Suas naves então, pareciam que também para o inimigo, eram quase invisíveis e fulminantes.

                          O nosso espanto maior, porém, deu-se em alguns planetas, onde aconteceram (por serem algumas naves atingidas, mas não destruídas, os torkys, conseguiram descer nos planetas com populações pacíficas) confrontos no solo. Descobrimos que as espadas não eram enfeites. Evitavam armas e forçavam o corpo a corpo, acreditavam  haver mais respeito e honra neste tipo de confronto com o inimigo a pé. Quando os torkys perceberam isto, começaram a se afastar das cidades e embrenharem-se por matos e montanhas para evitar confronto corpo a corpo, e, descobriram que não era por falta de saberem atirar que não gostavam de escaramuças. Era para evitar mortes desnecessárias.

                          Os Torkys depois de dois meses de intensas batalhas, começavam a recuar. Não lhes davam trégua, e embora houvessem colocado muitas naves da Federação fora de combates, e destruído totalmente umas poucas, quando encurralados, começavam a se entregar para a Federação, tentando permanecer vivos. Os qualtzianos não se meteram neste assunto, mesmo quando a nave que recolhia os prisioneiros, estava sob seu comando. Achavam que a Federação de planetas poderiam aprender com os capturados e não precisariam novamente de apoio se houvessem outros confrontos, o que no mínimo levaria um bom tempo, visto restar pouco do poderio inicial torky.

                          Após três meses do primeiro combate, os torkys se renderam, assinaram o tratado de não agressão e invasão de qualquer parte do quadrante da Federação ou do Império, e se retiraram.

                          Retornamos para Esfig, onde seria selado o acordo sobre a exploração no quadrante disputado, entre a Federação, Império e os planetas locais ricos em minérios vitais.

                          Os Qualtzianos apresentaram sua proposta nos moldes (proteção, tecnologia, cultura e educação), o imperador controlando as finanças em troca. Proposta rejeitada. incompreensão.

                          A parte da Federação (colaboração, trabalho conjunto, percentagens nos lucros) foi aceita.

– Por que a rejeição? Oferecemos tecnologia e proteção sem precedentes. Não terão nenhuma preocupação.

– Sr. conselheiro! Poderemos mais tarde, negociarmos o que quisermos, com quem quisermos?

– Não!

– Poderemos optar por nossos aliados? Poderemos não querer aprender o que vocês têm para ensinar? Poderemos ignorar seu Imperador?

– Não, claro que não!

– Então Sr., é apenas outra forma de ocupação. Os torkys pela força, vocês pela economia. Pelo menos, a Federação preservará o ambiente, não deixando apenas cascas de nosso planeta, vai nos ouvir, verificar nossas reais necessidades e anseios. Teremos nossa parcela nos lucros para aplicar da forma que quisermos.

– Mas sempre respeitamos a natureza dos planetas. Jamais devastamos nenhum, e lhe oferecemos segurança.

– Vieram lutar por nós, por solicitação da Federação e porque é óbvio, teriam vantagens, como os minérios, e pela proximidade com suas fronteiras, não queriam os torkys como seus vizinhos, tendo que aumentar sua vigilância, e pelas características deles, mais cedo, ou mais tarde teriam que combate-los. Somos pacíficos, mas não idiotas senhor. Portanto se quiserem nosso minério, terão que oferecer algo melhor. Como manter nossa liberdade. As escolhas são nossas. As responsabilidades são nossas. Ou então usem a força.

– Vamos verificar.

– Ótimo. Aguardamos.

                     Para os qualtzianos, isso era completamente novo. Havia mais de cem anos que seu Império não era discutido. Os poucos que discordavam eram calados rapidamente. Os oficiais todos, estavam reunidos.

– Cris!

– Confusa?

– Sim. Como podem querer trabalhar duro, cometer erros, o não uso de máquinas para o serviço braçal, mais pesado?

– Cibe, vamos ver se consigo te explicar, primeiro com palavras, depois com o sentir. Para vocês que já vivem assim, ás vezes há quem queira as coisas diferentes, não é?

                 Meneou afirmativamente a cabeça.

– Imagine quem nunca viveu assim. Vocês podem realmente fazer o que quiserem?

– Acho que sim.

– Pode ir a qualquer lugar? Naves para isso vocês tem.

– Não, só se houver motivos e autorização.

– Suas crenças, por exemplo. Todas do planeta central encontraram seus “squaltzis”, sua alma gêmea?

– Não.

– Com um universo tão grande, porque são confinados a 36 planetas? Sua cara metade pode estar em qualquer lugar, não é? Se não fosse o problema com os torkys, quando você conheceria uma terrestre? Quando você me encontraria? Seria para sempre mais uma solitária, ou seu Imperador a obrigaria a procriar com alguém para não acabar com a linhagem? Ah! Não Lenx, é da família e provavelmente terá filhos, não é? Eu quero estar o resto da minha vida com você, mas fazendo minhas escolhas. Minha maior escolha foi você, mas não no seu mundo, nas atuais circunstâncias. Vem cá (beijei-a com todas as minhas emoções afloradas, um longo beijo).

– Sentiu isso? Viveria sem, porque seu ditador a quer dentro de um espaço delimitado?

– Não, não ficaria, mas é tão conflitante esta lógica de liberdade.

– Esqueça a lógica. Não é lógica, é livre arbítrio, é emocional. Por exemplo, onde está a lógica de nosso amor doido, nessa crença maior de vocês, que eu descobri ser verdadeira?

– Temos que fazer algo a respeito.

– Afinal, minha função não é faze-los entender como agimos, nós os ilógicos emocionais?

– Vamos conversar com os Anciões mais tarde.

– Por que mais tarde?

– Porque estivemos juntas durante a guerra, mas trabalhando muito, não tivemos tempo para nós. Preciso deste tempo, agora. Podemos tê-lo?

– Com certeza.

– Por favor senhores, pensem, se vamos deixar ser uma decisão política, ou se tomaremos partido, porque o que fizermos aqui, poderá nos obrigar a fazer algo no Império. Amanhã pela manhã, nos reuniremos com os anciões.

                 Todos saíram.

– Vida minha, poderemos estar começando uma revolução.

– Você estará correndo risco?

– Todos estaremos. Mas não quero pensar nisto agora. Estou com saudades de fazer tudo, ou absolutamente nada com você. De curtir a preguiça.

                 Sentei-me no seu colo. Agora sabia como colocar e tirar seu uniforme. Abri-o, sua pele clara, suas mamas surgindo, meu coração disparando. Segurou com delicadeza minhas mãos afoitas. Sorria aquele sorriso iluminado.

– Vou tomar um banho antes.

– Posso acompanha-la?

– Sempre.

                 Colocou música romântica. Tirou vagarosamente todo seu uniforme, e num andar ondulante, foi para o banheiro. Já havia tocado e amado aquele corpo, acho que de todas as maneiras e com toda a intensidade que julgava possível, mas, lá estava eu, pasma, passada, flutuando. Bum!!! Acordei. Desajeitada, tirei a roupa e corri para o banheiro. Estava já embaixo da água que escorria em sua pele, contornando descaradamente cada curva, escalando cada curva, escalando cada saliência e deslizando na descida por suas reentrâncias. Coloquei em minhas mãos, a essência para seu banho, e fui passando-as no seu pescoço, descendo por seus mamilos enrijecidos. Rodeando-a devagar lavei delicadamente, braços, costas, nádegas e abdômen. A água tirava o que eu passara e com a boca e a língua, eu tirava a água. Lavei seus pelos, e toquei entre suas coxas. Sua respiração ofegante, seus olhos cerrados, ás vezes abrindo pra me atiçar com sua linguagem. Ali estava mais úmido que todo seu corpo, mais quente que a água que nos molhava. Não resisti. Escorreguei no seu corpo, pele com pele, até minha boca beijar seus lábios, lamber seu monte de Vênus, e minha língua adentrar sua profundeza. Cada tremor, cada gemido, aumentava mais o meu tesão, a minha posse, a minha entrega.

          Mais tarde, jantamos e passamos o tempo… namorando.

                 Pela manhã, acordei só na cama, mas sabia que ela estava perto. Estava no outro cômodo, treinando. Os mestres de artes marciais da Terra, morreriam de inveja. Observei-a um pouco e fui tomar banho. Ao terminar ela estava meditando. Pedi o café da manhã e aguardei. Havia algo estranho no ar que eu não conseguia determinar.

                 Minha cunhada chegou.

– Lenx. O que está acontecendo que eu não sei? Tem alguma coisa escondida que ela não quer que eu saiba?

– Bom, se ela conseguiu esconder algo de você, é porque ela não quer que saiba ainda. Só ela pode te dizer.

– O que só eu posso te dizer?

– O que você está bloqueando para que eu não saiba?

– Pensei que não tivesse percebido.

– Percebi, o que é?

– Bem, é que quando eu entendi o que você queria que eu entendesse, todos os do meu planeta que ali estavam também entenderam, com a mesma intensidade. Os outros já tinham tal conhecimento, pois eles têm o mesmo interesse. Então passaram para todo o meu povo. Somos subordinados a um comando central, que opinará a respeito. Caso concordem, apresentarão ao Imperador, caso não concordem, como dei início a isto, serei considerada traidora. Mesmo se sair tudo como desejamos, poderei, dependendo de como os componentes do alto comando considerarem a forma como eu agi, serei punida.

– Como assim? Podem concordar, e mesmo assim te punir?

– Nós militares, temos regras rígidas. Somos leais ao nosso comando, e não ao Imperador. Normalmente protegemos e obedecemos ao Imperador, mas podemos discordar dele. Por isso que dizem que só nós podemos mudar a situação de todo o Império, mas nunca nos atemos á política e economia ou coisas assim. Para nós era normal as coisas serem da forma de até então. Começaremos com o acordo aqui. Vamos ver o que os Anciões vão dizer.

– Como pode ser tal punição?

– Eles decidem. Podem me tirar do comando da nave, me prender, até mesmo me matar.

– Cancele tudo então. Você pode ficar comigo. Ser oficial da Federação.

– Somos rápidos. Como os oficiais que conversamos ontem concordaram, já foi espalhada a notícia. Não há retorno agora. Vamos.

                 Agarrei-me em suas mãos. Sorriu, beijou-me na testa e fomos falar com os anciões. Nunca antes tive tanto medo. Nunca antes quis voltar atrás e não ter dito determinadas palavras.

 



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