Procura-se

Parte III – Final

— Você é cruel e descuidada consigo mesma — acusou Cléo.

Ela estava aninhada ao corpo de Sam, a sensação da pele dela em contato com a sua era indescritível. Por mais que tivesse se esforçado para amar Matt como esposa, jamais conseguiu se entregar a ele da forma que tinha acabado de fazer com Sam.

— Em vez de repousar, andou se esforçando demais. Nem consigo acreditar que os pontos não abriram com tudo que tem feito no rancho.

Escorregou o dedo até uma cicatriz no ombro dela. Não havia dúvidas de que também fora feita por um tiro. Existia outra na altura das costelas, a qual também tracejou com a certeza de que era o resultado de uma facada.

— Só estou tentando ser útil e grata por tudo que fizeram por mim. Além disso, já estou acostumada a sentir dor. — Sam beijou o topo da cabeça dela apreciando o perfume dos seus cabelos. — A vida na estrada é perigosa.

A ausência de resposta veio acompanhada de um profundo suspiro. E mesmo tendo prometido a Aran que não falaria a verdade para Cléo, Sam decidiu que não podia e nem queria esconder dela quem era de verdade.

— E já que estou nesse assunto, quero falar sobre esta tarde…

Cléo fez um biquinho de desagrado, embora quisesse saber de tudo sobre ela. Disse:

— Fala do nome no cartaz e a descrição que o delegado deu sobre o ferimento da procurada? Muita coincidência para não ser verdade. — Esforçou-se para evitar o assunto durante o jantar, mas não podia mais fugir dele. — O desenho não se parece com você, mas o resto…

— Coincidências não existem, Cléo.

Ela esticou o braço e tateou a superfície de um dos caixotes que ladeavam o leito de feno até encontrar o cartaz que Aran lhe deu. A vela acesa sobre o caixote vizinho, estava quase no fim, mas ainda permitiu que visualizasse o retrato. Achava a situação irônica, visto que passou boa parte da vida à procura de rostos em papéis semelhantes.

— Mas você não é uma criminosa — Cléo afirmou, tomando o cartaz das suas mãos e amassando-o sem cerimônia.

— Como pode ter tanta certeza?

— Meu tio tem uma opinião muito distinta sobre criminosos, Sam. Ele já foi um patrulheiro e nunca protegeria alguém que estivesse do lado errado da lei.

Um sorriso grato, quase preguiçoso, moldou a boca de Sam, que já tinha cogitado a ideia de que Aran tivesse um passado militar, visto a rigidez com a qual se portava e o modo como empunhava o rifle, mas ficou surpresa ao saber que foi um homem da lei.

— Estava receosa com a possibilidade de você acreditar que fosse realmente uma criminosa — confessou.

Beijou-a devagar, mordiscando os lábios grossos com prazer e Cléo gemeu baixinho, fazendo um esforço para se afastar e perguntar:

— Vai me contar a verdade?

Na realidade, ela não queria ouvir a verdade. Pelo menos, não naquele momento. Desejava poder parar o tempo e prolongar aqueles instantes de paixão, esquecida das suas próprias obrigações e temores. Queria deixar os sentimentos, que aquela mulher singular lhe inspirava, jorrar para fora de si através dos beijos, carícias e prazer. Queria se perder nas curvas que ela cuidadosamente ocultava por baixo das roupas masculinas. Queria, apenas.

Mas não tinha esse poder e a verdade era um peso que se tornou cada vez maior quando o calor da luxúria diminuiu.

— Tudo o que você quiser — garantiu Sam. E assim o fez.

No meio da conversa, Cléo deixou o leito de feno e começou a se vestir, recordando que o tio deveria chegar em breve. Pesarosa, Sam fez o mesmo.

— E o que aconteceu quando deixaram Vale Seco? — a rancheira perguntou, sentando ao lado dela.

A vela tinha chegado ao fim e a única luminosidade no ambiente, era oferecida pela lua, cuja luz entrava pela janela no andar superior do celeiro.

— Pegamos a diligência para a próxima cidade, como tínhamos planejado. Mas não fomos muito longe. — Despejou um pouco d’água em um copo e tomou tudo de um gole. — Devíamos ter suspeitado quando percebemos que éramos os únicos passageiros da diligência, exceto, por um sujeito tagarela. Menos de uma hora após termos deixado a cidade, a diligência parou. Fomos cercados por um bando e o tal sujeito fazia parte dele. Nos fizeram prisioneiros.

Cléo mordiscou o lábio, curiosa.

— A dica que recebemos era sobre uma mulher chamada Eva Collar. Uma ex-prostituta, que vive nos arredores de Vale Seco. Não tem marido, nem forma conhecida de sustento. Entretanto, mora em um pequeno rancho com vários empregados. Era amante de Morgan. Acontece que a meretriz que deu a dica para Tommy é prima dela e quando percebeu o que tinha feito tentou remediar a situação. Uma coisa levou a outra e Jonas Morgan soube de nós.

Calou-se, de repente e tornou a sentar no leito.

— O que aconteceu depois não vale a pena ser contado. Dylan e Tommy estão mortos e, se não fosse por você e seu tio, eu também estaria.

Baixou a vista para o chão e Cléo se aproximou, deixando que ela lhe envolvesse a cintura e encostasse a cabeça em sua barriga.

— Você poderia deixar isso para lá. Poderia ficar conosco… — Cléo propôs num fio de voz. Mal conseguia se reconhecer. Sequer imaginava de onde tirou aquela proposta. Sam era quase uma estranha completa, que virou sua cabeça em poucos dias, e provavelmente tinha alguém a lhe esperar em outro lugar.

Cléo quis se afastar, pensando em como poderia remediar o que disse. Certamente, a amante a estava achando louca. Porém, o abraço em sua cintura tornou-se mais firme e o coração dentro do peito, denunciando a paixão que a tomava, quando a ouviu dizer:

— Eu gostaria disso — alheia ao alvoroço que causou, Sam a soltou devagar e inclinou a cabeça para olhá-la. — Eu não me sinto assim há muito tempo.

— Não sei bem como definir, mas acho que a palavra “feliz” se encaixa — ficou de pé e a beijou devagar. Estava surpresa consigo mesma e com tudo que permitiu acontecer e sentir em tão pouco tempo.

Desejou Cléo no instante em que seus olhos se encontraram pela primeira vez, mas o modo como ela se comportou em seguida, anestesiou esse querer. E o passar dos dias o fez se tornar mais sólido. Quando a via entrar no celeiro todas as manhãs para trocar seus curativos, era como se o próprio sol tivesse vindo acordá-la.

— Posso estar sendo apressada e projetando coisas que, talvez, não estejam acontecendo dentro de você como estão em mim. Apenas senti a necessidade de ser sincera contigo.

Havia um alvoroço crescente dentro de Cléo. Assim como Sam descreveu, também sentia o pulsar violento de sentimentos que nunca imaginou experimentar. Nem mesmo quando se apaixonou pela primeira vez.

— Me sinto da mesma forma — contou Cléo, fitando o chão pela vergonha de encará-la.

— Não sabe a alegria que sinto ao ouvi-la — a fez erguer o olhar e a beijou novamente.

Não poderia haver mais verdade nisso. Contudo, a realidade voltou a se abater sobre Sam.

— Mas as coisas não são tão simples e você sabe disso. Quanto mais tempo passo aqui, mais perto do perigo vocês ficam. A visita desta tarde é uma prova do que digo.

Inconformada com a felicidade que lhe escapulia como areia entre os dedos, Cléo limitou-se a balançar a cabeça em acordo. Pensava em algo para dizer e afastar o mal-estar que pairou entre as duas, quando ouviram os latidos do cachorro de Oliver e logo depois a voz do menino a chamar pela mãe, ainda no interior da casa.

— Eu preciso ir — ela abriu a porta do celeiro.

Recebeu um meneio de cabeça compreensivo e depois um beijo estalado nos lábios, que a fez corar como uma menina.

— Sonhe comigo — disse para Sam.

— Impossível, pois vou passar o resto da noite acordada, desejando estar em seus braços.

Cléo riu baixinho e deixou o celeiro no exato instante em que a voz levemente embriagada do tio, se fez ouvir da estrada. 

***

Sam suspirou forte e fechou a porta devagar. Ela ficou no escuro por um longo tempo antes de decidir colocar o coldre na cintura e encaixar a arma nele. Calçou as botas, pôs o chapéu sobre os cabelos curtos e organizou o espaço sem pressa.

Fazia tudo maquinalmente, como se outra pessoa estivesse no comando de seus membros, enquanto a cabeça e o coração estavam completamente direcionados para a mulher a quem tinha acabado de amar.

Antes de sair, olhou para o leito humilde. Foi envolvida por uma saudade tão profunda que assustou-se com o peso do sentimento. Fechou a porta do celeiro com cuidado, então o ladeou até chegar aos fundos dele, onde havia deixado um cavalo selado, um pouco antes do jantar.

Aran estava lá, acocorado junto a parede de madeira, pitando o cachimbo em um silêncio contemplativo.

— Achei que só iria amanhã — disse ele, referindo-se ao que tinham combinado mais cedo.

— Vai ser melhor assim — argumentou.

— Para quem?

Ela o fitou na penumbra, sem compreender onde ele queria chegar.

— Vou deixar o cavalo aos cuidados de um estábulo em Vila Bela. Garantirei que alguém o traga de volta para cá.

— Você é boa em desviar do assunto — Aran riu, ficando de pé. — Eu não me importo com o cavalo. Pode ficar com ele. É um animal jovem e forte, você pode vendê-lo se quiser.

— Eu não posso aceitar…

— Considere-o seu pagamento pelo trabalho dos últimos dias — o modo como se expressou deixou claro que não aceitaria uma recusa.

Sam desviou o olhar, dando-se por vencida. Não estava mesmo em posição de rejeitar o presente.

— Obrigada.

No rápido momento a sós que tiveram, após a visita do xerife, os dois decidiram que seria mais seguro se ela partisse logo. Mas depois dos momentos que acabara de compartilhar com Cléo, Sam não queria mais deixá-los, embora soubesse que era o certo a fazer.

— Vai ser melhor para todos… — ela disse mais para si, do que para Aran.

— Pretende voltar?

— Você gostaria que eu voltasse?

— Bem, você me deve um poço. É justo querer que volte para terminar o serviço.

— É justo.

— Sentiremos sua falta, alguns mais que outros — ele sorriu.

Uma sobrancelha arqueou no rosto dela, iluminado pelo fósforo que ele usou para acender o novo punhado de fumo que colocou no cachimbo. Aran encolheu os ombros rapidamente.

— Sou velho e estou um pouco bêbado, mas meus olhos ainda funcionam como deveriam.

Não fosse o escuro, ele teria visto algo muito raro acontecer a Sam. Ela corou quando compreendeu que ele testemunhou Cléo deixar o celeiro e, provavelmente, o beijo que elas trocaram antes disso.

Sem saber o que dizer, Sam preferiu o silêncio.

— Eu não me importo, se é o que está tentando imaginar. Só quero que a minha sobrinha seja feliz.

Após um momento, Sam se manifestou:

— Estou surpresa.

Ele pitou o cachimbo e soltou a fumaça devagar. Perguntou:

— Há alguma chance de você ser essa felicidade, menina?

Sam optou pelo silêncio, outra vez. Não porque não tivesse uma resposta, pelo contrário. Afinal, fazia pouco tempo que declarou a Cléo sua alegria em estar ao lado dela, assim como o desejo de compartilharem mais daqueles momentos. Mas esse envolvimento era recente demais, confuso e assustador também. Além disso, estava indo para uma caçada, onde a morte poderia encontrá-la de vez, e precisava se certificar de que os inimigos que conquistou, não viriam à sua procura no futuro.

Ofereceu a mão para ele, que a apertou devagar e com força. Então, partiu.

***

Ao descer do trem, Félix aspirou o ar seco e ajustou o chapéu na cabeça. Ele deu alguns passos no chão poeirento, desgostoso com o suor que grudava suas roupas ao corpo; a garganta seca implorava por um gole de água e, talvez, uma dose de uísque. Na verdade, ele preferia o uísque, desde que recebeu o telegrama de Sam, dois dias antes.

Ela o aguardava, recostada à parede da pequena estação. Félix se aproximou, enquanto um grupo de homens desembarcava do trem.

— Você é mesmo uma dor no traseiro, Sam — disse ele, tentando encontrar um pouco de saliva para cuspir no chão. — Mas preciso admitir que fiquei muito feliz em receber seu telegrama.

Estendeu a mão para ela, que a envolveu com força.

— Já estava temendo o retorno do seu pai, do além, em busca de vingança por eu ter enviado sua garotinha para um destino cruel — riu baixinho.

— Você não teria tanta sorte — ela enfiou a outra mão no bolso e apontou para os cavalos atados a um poste ali perto. Todos selados e carregados com víveres suficientes para alguns dias na estrada.

— Hum, alguma chance de conseguir tomar uma dose de uísque antes de partirmos?

Sam retirou a mão do bolso e lhe entregou um pequeno cantil prateado.

— Guarde um pouco para a viagem — disse ela, arrancando uma risada de Félix.

Uma semana depois, eles se reuniram em volta de uma fogueira no pequeno acampamento que montaram nos arredores de Vale Seco. Estavam em companhia de uma dezena de homens, todos ávidos pela matança e pela gorda recompensa que receberiam ao fim dela, mas também havia o desejo de vingança pelos companheiros mortos. Tommy e Dylan eram muito queridos.

Tinham passado os últimos três dias observando o movimento no rancho de Jonas Morgan que, naquela cidade, atendia pelo nome de David Evans. O senhor Evans era um proeminente fazendeiro, dono do melhor rebanho da região, além de vários investimentos em Vale Seco e outras cidades próximas. Era muito discreto nos negócios, se valendo de intermediários para assumir aqueles com postura menos nobre. Sendo assim, sua reputação era de homem honesto, razão pela qual, em sua primeira visita, Sam e companhia não o ligaram ao bandido Jonas Morgan.

Félix passou as últimas instruções e David Ascot, um sujeito de ombros largos e um bigode volumoso, jogou terra na fogueira. Em silêncio, subiram nos cavalos e se encaminharam para a fazendo de Morgan.

A madrugada estava se aproximando do seu fim, quando o grupo investiu contra os bandidos. Morgan era confiante o suficiente para deixar a maioria dos seus homens dormirem, enquanto apenas quatro faziam a vigilância na propriedade. Dois desses vigias morreram silenciosamente, pelas mãos hábeis de Bob Ross, um caçador de recompensas que passou algum tempo com os índios do norte. Era um homem grande e musculoso, que apesar de ter um revólver, preferia usar uma machadinha como arma.

Os dois vigias restantes, foram alvejados pelo rifle de Adan Lister, que havia se esgueirado pela relva até conseguir chegar em uma árvore frondosa perto da cerca que ladeava a propriedade. Os homens tinham visto fogo no celeiro e correram para lá, se tornando um alvo perfeito para o atirador.

Obviamente, os tiros chamaram a atenção dos homens que dormiam no pavilhão ao lado da casa principal, que começaram a sair dele para descobrir o que se passava e foram alvejados pelos outros caçadores de recompensa. Os que permaneceram dentro do pavilhão, buscavam um meio de retaliar a ação disparando suas armas a esmo em direção a porta, quando algo passou voando pela abertura.

O objeto era comprido e tinha um pavio, que estava aceso. Eles mal conseguiram processar a imagem da banana de dinamite, antes dela explodir o pavilhão. E Sam sentiu um pequeno calafrio percorrer sua coluna ao ouvir a risada sádica de Peter Ford, um ex-soldado meio maluco, cujos maiores prazeres, além de caçar bandidos, eram beber e explodir coisas.

Finalmente, os caçadores de recompensas cercaram a residência principal.

Lentamente, entraram no local e investigaram cada cômodo. Havia fogo nas lamparinas, a cama estava desarrumada, mas não tinha ninguém em casa.

 — Aquele bastardo escapou! — rosnou Félix, e Sam sentiu a frustração se misturar à sua raiva.

Rapidamente, todos afirmaram que o bandido não havia passado por eles, cujo posicionamento permitia a vigilância de todo o entorno da casa. E uma nova revista revelou um alçapão debaixo da mesa de jantar, que levava a uma passagem subterrânea.

Preparavam-se para entrar no túnel, quando Ben Lucas gritou de algum lugar da casa:

— Todos pra fora, vai explodir!

Em seguida, ele passou por Sam em uma corrida desesperada até a porta. Ela não pensou duas vezes para segui-lo. Mal chegaram à porta e a residência explodiu.

***

— Estou bem! — Sam resmungou para Félix, o único do grupo que parecia interessado na sua saúde.

Quase todos tinham conseguido sair da casa antes que ela explodisse. Peter Ford e Henry Dickson não tiveram a mesma sorte. O grupo não teve muito tempo para lamentar os companheiros que se foram, mas entre estancar suas feridas e inspecionar o túnel debaixo do que sobrou da casa, os corpos dos dois caçadores de recompensa ganharam uma cova rasa e um par de cruzes tortas.

Félix pretendia lhes dar um funeral decente, depois que apanhassem Morgan.

— Só não quero ter que te enterrar ao lado deles, se você morrer sem uma gota de sangue! — Félix se afastou. — Seu pai não me perdoaria.

— Meu pai não está mais aqui, não me trate como se fosse de porcelana só porque sou mulher.

Ele sorriu se desculpando. Às vezes, esquecia que ela não era uma mulher comum. Um pedaço de madeira havia perfurado a coxa dela, que derramou uma boa quantidade de sangue ao retirá-lo. Agora, a mancha vermelha crescia sobre a faixa que enrolou sobre o ferimento para estancar o sangramento.

Como puderam comprovar, além de uma rota de fuga, Morgan havia criado uma armadilha para aqueles que ousassem atacá-lo em seu lar. O túnel sob a casa se estendia por meio quilômetro e finalizava em um dos pastos. Encontraram o detonador da dinamite que usou para explodir a casa na saída dele.

Àquela altura, o bandido já tinha colocado uma boa vantagem sobre eles. Certamente, havia se reunido com o resto dos seus homens, que estavam nos pastos mais afastados, e seguido para o deserto, onde rastreá-lo seria quase impossível sem um bom guia.

— Não temos condições de seguí-lo agora — Ben murmurou, olhando para as cruzes dos amigos mortos. Ele chutou um pedaço de madeira queimada e David lhe deu um tapinha no ombro, compreensivo.

— Eu vou pegar esse bastardo, mesmo que tenha de olhar debaixo de cada pedra no deserto — ele rosnou, revirando o entulho para pegar uma garrafa de uísque, que se salvou da explosão e do incêndio que se seguiu. Despejou algumas gotas no chão, em oferenda aos mortos, e levou a garrafa aos lábios.

Enquanto isso, Félix ponderava se deviam desistir daquela caçada, visto que Morgan já tinha eliminado quatro de seus homens. Acabou por afastar o pensamento. Depois do que houve, o sangue deles fervia pelo desejo de vingança.

Após quase uma hora de discussão, sobre o que deveriam fazer a partir dali, Sam perguntou para Adan Lister, que tentava abrir uma pequena caixa de madeira com a ponta de uma faca.

— O que é isso?

— Encontrei debaixo de alguns tijolos, ali atrás — indicou o local com a ponta do queixo. Pelo pouco que ela se recordava da disposição dos cômodos, tratava-se do escritório.

A caixa parecia ser o estojo de um revólver, mas em vez de uma arma, ela continha alguns milhares em dinheiro, além de um maço de cartas. Adan enfiou um pouco do dinheiro no bolso e entregou o resto para Félix, então pegou uma das cartas, rasgou, colocou um punhado de tabaco e começou a enrolar um cigarro. Ao finalizar, ele pendurou o cigarro nos lábios ressecados e pegou a caixa de fósforos no bolso da camisa, mas antes que pudesse acendê-lo, Sam falou:

— Não precisamos perseguir o Morgan no deserto, só temos que ir atrás dos seus aliados. E eu sei exatamente por quem começar!

***

Sam, tanto quanto seus companheiros, não se orgulhava de amedrontar uma mulher indefesa. Mas ela o fez. Não era o seu jeito de agir, tampouco o de Félix, mas eles já tinham perdido muito naquela caçada e, naquele momento, o dinheiro da recompensa já não importava.

Passava um pouco do meio-dia quando eles deixaram a casa da amante de Morgan, cuja prima prostituta a levou, junto com Tommy e Dylan, para uma armadilha mortal semanas antes. Bastou alguns tiros para o alto, para que a mulher contasse tudo o que sabia sobre os esconderijos do amante e os parceiros que poderiam ajudá-lo a escapar.

Quase uma semana depois, a noite caía sobre as árvores frondosas da floresta, quando o grupo de caçadores de recompensas cruzou o leito seco de um riacho nos arredores da cidade de Rio dos Ursos. Sam olhou para as estrelas que indicavam o norte. A quase um dia de viagem dali, estava seu coração. Cléo não saía dos seus pensamentos e tudo o que mais desejava era poder voltar para ela logo.

Félix fez o cavalo parar e os demais seguiram seu exemplo.

— É aqui — disse ele, apeando do animal e amarrando as rédeas no tronco de uma árvore.

Sam e os outros se juntaram a ele um momento depois. Estavam no meio da mata onde, numa pequena clareira, uma cabana humilde se destacava. Segundo a amante de Morgan, ele usava o local para se esconder quando ainda era um assaltante de diligências, e o manteve bem conservado, para caso fosse desmascarado algum dia.

— Somos aguardados — Adan pegou o revolver. Ele apontou para um amontoado de lenha, de onde a luz da ponta de um cigarro quebrava a escuridão. Um pouco além dela, os relinchos de vários cavalos se ergueu. A cabana estava às escuras, mas a noite enluarada permitia a perfeita visualização dos seus contornos e, dessa vez, não houve planos de ataques sutis e bem elaborados.

Cuidadosa e silenciosamente, eles se aproximaram e descarregaram suas armas na cabana.

***

Cléo fitava o bordado sem ânimo, após errar o ponto três vezes. O colocou de lado e passou a mão sobre a cabeça do filho, que brincava sentado no chão. Oliver sorriu para ela e voltou a prestar atenção ao cavalinho de madeira.

Desde que Sam partiu, ela não conseguia se desvencilhar do sentimento de perda. Estava magoada por não receber nenhuma palavra de adeus. Por outro lado, também estava grata por isso, pois o sentimento que cresceu em seu coração não a deixaria partir.

Mas sem Sam, os dias se arrastavam solitários e tristes. O filho era a luz dos seus olhos e o tio era o pai que nunca teve de verdade, contudo, Sam preencheu um espaço que ela nem sabia que estava vazio.

Em alguns dias, convencia-se de que tinha sido melhor assim. Um romance entre elas traria muita confusão e dor, assim como aconteceu na adolescência, quando se apaixonou pela melhor amiga. Foi bonito enquanto durou, mas chegou ao fim de forma trágica quando seus pais descobriram o relacionamento.

O pai de Cléo a espancou ao ponto de deixá-la de cama por uma semana. Quando ela finalmente se recuperou, descobriu que estava noiva de uma rapaz que nunca viu e que a amiga e namorada não suportou o julgamento das pessoas e fugiu de casa sem olhar para trás. Ela nunca a procurou, tampouco foi vista novamente.

Sem perspectivas, Cléo acatou a vontade dos pais. Nunca mais olhou para outra mulher e aprendeu a amar Matt, porém, o amor que lhe dedicou era apenas o carinho de uma amiga. Ele conhecia sua história, todavia, nunca tocou no assunto, tampouco a forçou a ir além do que estava disposta. Matt não era perfeito, mas era um homem bom e a fez feliz como pôde. E se isso não foi o bastante, ao menos, lhe deu o maior de todos os presentes: Oliver.

Cléo estava tão distraída com os próprios pensamentos, que não percebeu a aproximação do prefeito Brown e companhia até eles estarem a dez metros da casa.

— Bom dia! — o prefeito sorriu e Cléo sentiu uma pontada de saudade no peito, pois, na última vez em que se viram, Sam ainda estava no rancho.

Ela ficou de pé e se aproximou da pilastra de madeira, que sustentava o alpendre.

— Bom dia… Prefeito Brown, Xerife. A que devo a visita?

O xerife deu um leve toque na aba do chapéu e contou:

— Ah, o velho Howard caiu do cavalo e acompanhamos o Dr. Victor até a fazenda dele. Dona Kate e os filhos vão ter problemas por um tempo, mas ele vai ficar bem.

— E já que estávamos nas redondezas, pensamos em ver como estão as coisas por aqui — disse Brown, tentando parecer charmoso. — Será que a senhora pode nos oferecer uma xícara de café?

Cléo preferia não fazer isso, mas a boa educação a forçou a convidá-los a entrar. Pelo menos, Will Tucker não estava com eles. A “sombra” do prefeito lhe causava arrepios, fazendo com que estivesse sempre em alerta em sua presença.

— Onde está seu tio? — o xerife perguntou, sentando na primeira cadeira que avistou.

— Foi até o riacho pegar água — e ao terminar de falar, mandou que Oliver fosse à procura do tio, ao que o menino prontamente obedeceu, saindo em disparada pela porta.

— Achei que o seu primo estava cavando um poço.

— Sam precisou fazer uma pequena viagem. Deve retornar em alguns dias. — E como ela desejava que isso fosse verdade. Mudou de assunto, para não ser obrigada a mentir mais que o necessário, e perguntou ao xerife: — Já encontraram os ladrões de gado?

— Essa gente é difícil de encontrar, mas garanto que estamos fazendo o nosso melhor esforço.

— Por favor, não diga esse tipo de coisa diante do meu tio. Ele ainda está zangado com a ousadia desses roubos e… — ela calou-se, de repente, para não ser grosseira. O xerife compreendeu e completou a frase com um sorriso no canto da boca:

— …com a incompetência das autoridades em dar fim a eles. Não precisa se preocupar, Cléo. Conheço seu tio há décadas. Aran sempre foi mal-humorado e, não diga isso a ele, mas está com a razão. Também nos sentimos frustrados com o que vem acontecendo.

Brown pigarreou, chamando a atenção para si.

— Estava mesmo querendo lhe falar sobre isso, Cléo. Com todos esses roubos, estou muito preocupado com vocês aqui. Este rancho é bem distante da cidade e próximo ao deserto. Seu tio já está velho, você e o menino precisam de alguém que possa ajudá-los e protegê-los. Posso disponibilizar alguns homens, enquanto o xerife não captura esse bando de malfeitores. — Ele mostrou os dentes outra vez, um sorriso torto que estava se tornando cada vez mais desagradável para ela. — Claro, não precisa se preocupar, irei cuidar das despesas…

Cléo forçou-se a tomar um gole de café, apenas para evitar fazer uma careta de desagrado. Ouviu o trotar de um cavalo lá fora e imaginou que o tio havia retornado.

— E o que isso iria me custar? — perguntou, ácida. — A minha mão, presumo.

O sorriso do prefeito morreu, enquanto o xerife ocultava o dele por trás da caneca que segurava. Tom Brown, na opinião dele, não passava de um tolo em roupas chiques. O homem não conseguia entender que o seu dinheiro havia comprado o título de prefeito, mas não podia comprar as pessoas. Pelo menos, não pessoas honestas como Cléo e Aran.

— Eu… — ele se empertigou na cadeira. — Eu sinto muito se a ofendi. Não era a minha intenção, só estou verdadeiramente preocupado…

— Hum, que gentileza — Cléo soou irônica. — Mas não há necessidade de se preocupar, estamos bem.

— Eu só desejo dormir melhor à noite sabendo que estão seguros — Brown se explicou, ao que Cléo retrucou:

— E eu dormirei melhor sabendo que não lhe devo nada.

O prefeito apertou a xícara entre as mãos com força, sentindo-se humilhado. Lá fora, os degraus de acesso ao alpendre rangeram e o som de passos lhes chegou. Cléo resolveu esclarecer a situação de uma vez por todas:

— Me perdoe por dizer isso dessa maneira, prefeito Brown. Mas acho que está passando da hora de aceitar que não estou interessada no senhor da forma que deseja. Sou muito grata pelo seu afeto, mas não posso correspondê-lo. E se está mesmo tão preocupado com os roubos na região, poderia disponibilizar os homens que me ofereceu ao xerife. Penso que uma patrulha a mais seria benéfica para todos.

Brown afrouxou o colarinho da camisa, deixando de lado a fala macia e desprezando a presença do xerife:

— Por quê? Eu sou um homem jovem e me considero bem apessoado, tenho posses e status. Posso lhe oferecer uma vida boa e tranquila.

Cléo passou uma mão na cabeça, soprando o ar com evidente desagrado.

— Simplesmente, não estou interessada no senhor ou qualquer outro homem. Sou grata pelo seu afeto e preocupação com a minha família, mas não posso lhe dar mais que a minha amizade.

Seguiu-se um longo e constrangedor silêncio, o qual o xerife aproveitou para finalizar seu café. O prefeito, por sua vez, olhava para a madeira da mesa como se pudesse encontrar as palavras que precisava nela. Estava claro, que ele nunca foi rejeitado antes e que isso lhe pesava tanto quanto a mais cruel das enfermidades. Por fim, ele enfiou o chapéu na cabeça, tão fundo que seus olhos quase desapareceram dentro dele, e ficou de pé.

— Então, é verdade o que dizem. Você prefere uma saia a um par de calças e o seu falecido marido não passava de um pobre iludido que o seu pai usou para tentar espiar os pecados da filha depravada!

O xerife ficou de pé, surpreso com o rompante do homem.

— É melhor parar por aí, Brown! Ofender a honra da Cléo não vai fazê-la mudar de ideia!

— Não venha me dizer o que fazer, seu velho idiota! — ele rosnou para o xerife.

Ainda sentada à mesa e estranhamente tranquila diante das palavras do prefeito, Cléo falou:

— Saia da minha casa, senhor Brown. E não volte sem ser convidado.

O homem a olhou cheio de asco, então varreu a mesa com a mão, atirando a louça no chão. O xerife fez menção de empurrá-lo para fora da casa, mas ele já estava a meio caminho da porta. Cléo e o Xerife o seguiram. Ela apenas para se certificar de que iria mesmo embora, o xerife, por sua vez, para evitar mais confusão e uma possível retaliação física por parte de Brown.

Quando o prefeito colocou o primeiro pé na varanda, encontrou Sam recostada no pilar que sustentava o alpendre. Enervado pela discussão, que havia acabado de acontecer, ele sequer notou o homem que a acompanhava e que tinha sentado na cadeira de balanço de Aran, como se fosse o dono do lugar.

— Sam! — Cléo deixou escapar o nome dela, como se fosse um suspiro incapaz de esconder o alívio. Ela estava bem, viva, e ali a poucos metros do seu toque.

A caçadora de recompensas lhe mostrou um sorriso largo, o olhar fixo no seu.

— Olá, Cléo! — disse ela, suave. — Senhores.

— Samuel?! — o xerife perguntou, em dúvida.

Ainda que continuasse usando roupas masculinas, os trajes dela naquele momento eram ligeiramente justos. O que facilitava a identificação do seu gênero, aliado ao fato de que estava perfeitamente limpa e o timbre da voz.

O prefeito observou-a com o maxilar travado. Olhou para Cléo uma última vez, com um esgar de nojo, e fez menção de se afastar. Ao passar por Sam, ela esticou a perna, fazendo-o tropeçar e cair de cara no chão.

— Mas que inferno! — ele berrou enquanto levantava, sacudindo a poeira das roupas.

— Desculpe, prefeito. Não era a minha intenção fazê-lo tropeçar — aproximou-se dele. — Na verdade, eu queria fazer isso!

Ela o socou bem no meio do rosto, fazendo-o perder o equilíbrio e cair sentado no chão. Então, sem cerimônia, o chutou no queixo.

— Sam! — Cléo a chamou.

O xerife fez questão de agir, porém, o homem na cadeira de balanço apontou o revólver para ele, freando seu ímpeto.

— O que foi? — Sam perguntou, se fazendo de desentendida. — Achou mesmo que eu ficaria quieta depois de ouvir a discussão de vocês e todas as barbaridades que esse imbecil disse? Ele estava merecendo um bom soco ou dois… — ela olhou para Brown, estatelado no chão com a mão no nariz que sangrava.

A rancheira bem que tentou ocultar o sorriso de satisfação, mas acabou por desistir. O prefeito havia feito por merecer e a caçadora de recompensas apenas transformou seus próprios desejos em realidade. Não que a violência fosse fazer Brown mudar de opinião, mas certamente o ensinaria a dar limites às suas palavras.

Sam voltou a se recostar no alpendre, tirando um lenço do bolso para enxugar o suor que se acumulava na testa. Explicou para o xerife:

— Na verdade, me chamo Samanta. E antecipando sua próxima pergunta, sim, o senhor tem andado com o meu retrato no bolso há algum tempo. A propósito, o cavalheiro ao seu lado é o Félix, meu empregador na Agência Phoenix, especializada na recuperação de bens roubados e captura de foras da lei procurados. Normalmente, ele não vem a campo, mas abriu uma exceção depois da confusão na fazenda do David Evans.

O prefeito bufou no chão, sentou e pegou a arma do coldre que trazia na cintura. Percebendo a movimentação com o canto do olho, Sam pegou a própria arma, mas antes que pudesse disparar, um tiro arrancou a arma da mão do prefeito. Ela olhou para Cléo, que tinha se apossado da pistola do xerife e efetuado o disparo com uma precisão invejável.

— Que foi? — ela perguntou. — Acha que é a única mulher no mundo que sabe atirar?

Sam riu alto, de um jeito tão natural e charmoso, que Cléo sentiu um ligeiro descompasso no peito. Ela queria ver aquele riso mais vezes, todos os dias, de preferência. O som do tiro atraiu Aran, que naquele momento regressava do riacho em companhia de Oliver. O velho saltou da carroça, com o rifle em punho. Porém, não sabia para quem apontá-lo.

— O que está acontecendo aqui? — ele quis saber.

Sam o cumprimentou com um meneio de cabeça e se voltou para olhar o xerife. Naquele exato momento, Félix entregava para ele um envelope, anunciando:

— É com orgulho que informamos que a Agência Phoenix capturou o criminoso Jonas Morgan, foragido da justiça que se escondia sob o pseudônimo David Evans. Entregamos seu corpo ao xerife de Rio dos Ursos há dois dias.

O xerife leu o documento, redigido pelo xerife de Rio dos Ursos, que comprovava a declaração. Balançou a cabeça, limpou a garganta e devolveu o papel a ele.

— É muito bom saber que um homem tão cruel não irá mais machucar as pessoas. Difícil acreditar que se escondia a plena vista — declarou. — Mas isso não é razão para continuar me apontando uma arma, senhor. Abaixe isso.

Félix ficou de pé, dizendo:

— Desculpe, Xerife Johnes, é que eu não gosto de matar. Então, se o senhor puder nos acompanhar sem resistência, iremos até a cidade vizinha, onde o entregarei ao xerife local para que seja encaminhado à justiça. Seus delegados já estão a caminho de lá com os nossos parceiros. Se preferir resistir, como acabei de dizer, não gosto de matar, mas Sam não tem problema algum com isso. Acredite em mim, ela vai atirar nos lugares mais dolorosos, antes de te matar. Menina difícil, assim como o pai dela foi.

— Você ainda pode tentar a sorte com o Aran — Sam sugeriu, e explicou ao velho amigo: — Eis o seu ladrão de gado, Aran.

O velho enrugou a testa, descrente do que ouviu.

— O bom xerife nunca conseguiu prender ninguém, porque ele e seus delegados eram os responsáveis pelos roubos.

O xerife Johnes ponderou sobre suas chances de sobrevivência contra os três, principalmente, por estar desarmado, visto que Cléo ainda segurava sua pistola. Então, teria mais chances de escapar no caminho ou no julgamento. Esticou os braços unidos à frente do corpo e Félix os atou com um pedaço de corda, que retirou do bolso.

— Por quê? — perguntou Aran, antes dele subir no cavalo que Félix indicou.

— E isso importa? — ele retrucou.

— Para mim, sim — Aran respondeu.

— Hm… — ele deu de ombros, como se não se importasse. — Estou velho, Aran. Queria poder desfrutar dessa velhice com tranquilidade financeira. Apenas isso.

O prefeito Brown, percebendo que não seria alvejado novamente, decidiu ficar de pé. E arriscou-se a murmurar um lamento sobre o fato de um homem da lei trair o povo daquela maneira. Ninguém lhe prestou atenção, nem mesmo quando ele subiu no próprio cavalo e rumou para a saída do rancho. Na poeira que a sua montaria ergueu pelo caminho, deixou a certeza de que nunca mais seria visto na propriedade.

— Você não vem? — Félix perguntou para Sam, que não fizera questão de se juntar a ele para partir.

Ela enfiou os polegares no cinturão e sorriu.

— Não. Vou tirar as férias que me aconselhou há algum tempo.

O homem riu baixinho, admirado.

— Aproveite — falou, preparando-se para subir no lombo do cavalo. — O trabalho estará à sua espera quando voltar.

— É disso que se trata, Félix. Eu não vou voltar.

Félix a fitou com a testa franzida, reparando na criança que se acercava dela e segurou sua mão carinhosamente. Sam baixou a vista, dispensando um sorriso carinhoso para o menino. E havia o velho, cuja boca arqueou em um dos cantos, revelando a satisfação em ouvir aquela declaração. Por fim, ele percebeu a alegria escancarada nas feições de Cléo, que tinha o olhar preso nela.

Ele bem sabia o quanto era bom encontrar um lar. Com uma nota de pesar, ofereceu a mão para ela, que a apertou com firmeza.

— Estou feliz por você — falou com sinceridade.

— Obrigada.

— Se um dia decidir voltar…

— Não vou.

Ele soltou a mão dela, cumprimentou os outros com um meneio de cabeça, subiu no cavalo e partiu com o prisioneiro. Sam acompanhou-o com o olhar, até que, da sua presença, só restasse a poeira.

— Como soube sobre o xerife? — Aran perguntou, enquanto isso.

— Ele era um parceiro comercial de David Evans ou Jonas Morgan. Quando o perseguimos até os arredores de Rio dos Ursos, encontramos muitos documentos e correspondências na cabana em que ele se escondeu. Não acho que o xerife soubesse que andava fazendo negócios com Morgan. Creio que ele pensava, apenas, que David Evans, apesar da fama de homem honesto, era um homem sem escrúpulos e disposto a continuar enriquecendo de forma ilícita enquanto se pintava de bom moço para a sociedade.

Aran ajeitou o chapéu na cabeça antes de colocar a mão no ombro dela.

— E o que você vai fazer agora que terminou seu trabalho?

Sam soltou a mão de Oliver e bagunçou os cabelos dele.

— Eu pretendo cavar um poço — sorriu. — Tão fundo, que esse trabalho pode durar o resto da minha vida.

Ela olhava para Cléo enquanto falava. Aran riu alto, deu uma tapinha no ombro dela e decidiu que ele e Oliver precisavam ir pegar mais água no riacho. Quando a presença dos dois já não podia ser sentida, Sam se pegou olhando para Cléo com o coração agitado de emoção. Sentiu saudades dela no tempo em que esteve à caça de Morgan, mas somente quando a reencontrou, é que percebeu o quão dolorosa foi sua ausência.

— Estava me perguntando — ela começou a falar — se aquele seu convite ainda está de pé.

A resposta de Cléo não foi sonorizada. Em vez disso, a rancheira jogou-se nos braços dela, colando suas bocas com ardor. Sam estremeceu com o contato e a beijou com a ânsia de quem tem sede de amor e carinho. Uma sede que nunca iria passar.

FIM



Notas:

Oi, gente!

Primeiramente, quero pedir desculpas por demorar tanto tempo para terminar uma história de 3 capítulos. Nem vou me estender nos motivos, que todas vocês estão cheias de saber por causa de outros textos. rs…

Quero agradecer, de coração, a companhia de vocês e a paciência. Espero que tenham gostado da história que, para mim, foi bastante desafiadora, pois, depois de tanto tempo escrevendo romances longos, encontrei dificuldades em não deixar a imaginação fluir para criar algo mais complexo e, consequentemente, um texto mais extenso.

Até a próxima aventura!

Um grande abraço, beijos e xêros!

 

 




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3 Respostas para Parte III – Final

  1. Parabéns, foi uma estória envolvente. Adorei e espero q continues a escrever curtas assim…
    Amei de verdade…

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