MARCELA

— Já falou com ela? — Edu me questionou.

Ele tomava uma xícara de café e beliscava um biscoito. Me perguntei onde havia encontrado espaço para o lanche após detonar dois pratos de lasanha.

— Não — me recostei na cadeira. — Nunca conversamos muito sobre qualquer coisa, para ser sincera.

Ele sorriu por trás da xícara.

— Se o que diz sentir é sincero, sugiro que não perca tempo em falar com ela. No entanto, aconselho a irem com calma. É tudo muito novo para você. E se for apenas curiosidade?

— Já disse que não é curiosidade — garanti, embora aquela possibilidade tivesse me passado pela cabeça mais cedo.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Tá, tudo bem. Fiquei um pouco curiosa, sim, após aquele beijo na festa, — admiti — mas sinto uma nuvem de borboletas se remexendo em meu estômago sempre que ela me olha mais demoradamente. E isso, garanto, nunca senti com ninguém.

Me dirigiu um sorriso que, por um instante, julguei ser debochado. No entanto, era apenas o sorriso de quem avaliava a ironia da situação.

— Converse com ela — aconselhou novamente.

— Tenho medo — confessei.

Ele largou a xícara sobre a mesa com cuidado exagerado e voltou a arquear a sobrancelha.

— De quê?

Revirei os olhos por um instante.

— De muitas coisas, mas, principalmente, que eu seja apenas mais uma na extensa lista de ficantes dela.

Ele riu gostosamente e engoli um insulto, meus sentimentos não eram uma piada.

— Do que está rindo?

Ele recuperou a xícara e tomou outro gole do seu café antes de responder.

— De vocês mulheres, de como adoram complicar as coisas. Vocês pensam demais!

Coçou o queixo, a barba por fazer fazendo um pouco de barulho ao entrar em contato com as unhas e notei como, às vezes, parecia ser mais velho do que realmente era. Nessas ocasiões, seu olhar adquiria um brilho opaco, como se estivesse avaliando a própria vida sob o peso das escolhas de outros.

— Vá com calma, é tudo o que posso lhe dizer. Converse com a minha mana como está conversando comigo agora e, quem sabe, você não tenha uma bela surpresa? — riu e piscou o olho como se soubesse de algo mais, então ergueu-se agradecendo pelo jantar, me desejou boa noite e partiu assoviando “amor i love you” da Marisa Monte com um sorrisinho metido nos lábios.

Naquele instante, entendi a razão de, muitas vezes, capturar um olhar zangado de Joana para ele. Aquele sorrisinho era mesmo irritante.

Joana já estava deitada na rede na varanda quando fui para o quarto. Ela havia liberado uma gaveta para mim e me obriguei a arrumar minhas coisas nela, já que sempre fui bagunceira. Me neguei a fazê-lo na noite anterior e pela manhã também, contudo, não podia passar toda a minha estadia ali revirando a mochila sempre que precisasse de algo.

Seu celular tocou e percebi que falava com a loira azeda com quem a vi na festa da Raquel. Meu estômago se revirou de ciúmes e, outra vez, me assustei com essa dose cavalar desse sentimento. Respirei fundo algumas vezes para não ir até ela, arrancar o aparelho de suas mãos e jogá-lo na rua.

Toda essa dose gritante de sentimentos conflituosos que ela me trazia estava, de certa forma, me enlouquecendo. Ao mesmo tempo que me coração batia forte em sua presença e meu corpo implorava por um contato seu, também tinha vontade de agredi-la por me fazer sentir aquele turbilhão de coisas e, principalmente, por ter tantas mulheres à sua procura.

Foi com alívio que a ouvi recusar o convite da loira para sair, mas durou pouco, pois combinaram de ser ver no sábado e lhe dei às costas para que não visse o estrago que estava fazendo ao amarrotar uma de minhas blusas preferidas.

Como ela havia conseguido me enfeitiçar daquela maneira?

Depois disso, meu humor estava mais negro que petróleo, então fui esfriar a cabeça no chuveiro e fiquei lá por um longo tempo, pois sempre que relembrava a forma como ela e aquela loira estavam se atracando naquela festa, meu sangue voltava a ferver.

Apesar do sono e do cansaço, não consegui dormir. Não conseguia tirar os olhos daquela rede. Sabia que ela não estava dormindo, pois balançava seu pé do lado de fora da rede. E foi assim por uma hora. Me revirava na cama de um lado para o outro, fechava os olhos para dormir e a imagem dela surgia à minha frente.

— O que essa mulher fez comigo?! Ela só pode ser uma feiticeira! — falei baixinho para o travesseiro e esmurrei o coitado em seguida.

Ainda estava com muita raiva dela por ter ficado com aquele sorriso bobo após ter falado com a loira azeda e de mim por me sentir daquele jeito por alguém que mal conhecia, que até uma semana antes ignorava e tinha preconceito. Mas sentia ainda mais raiva por não conseguir continuar zangada com ela por muito tempo, já que suspirava apaixonada sempre que recordava o seu toque, o seu beijo.

— Idiota! — murmurei para mim mesma, outra vez.

Então, cansada de tanto me revirar de um lado para o outro e de tentar fingir que ela não estava ali, tomei uma decisão. Se era para estar apaixonada por uma mulher, por aquela mulher, então não fugiria mais disso.

Sabia que seria difícil, mas se ela me quisesse, iria em frente e torci para que gostasse de mim ao menos um pouquinho também.

Aproximei-me da rede e pedi para me deitar ali com ela, usando a desculpa de que dentro do quarto fazia muito calor e não conseguia dormir. Ela me olhou com intensidade, demorou tanto para responder que pensei em ir embora, mas ela abriu espaço na rede para me deitar ao seu lado e não perdi tempo em aninhar meu corpo junto ao dela e os nossos lábios se procuraram.

Que boca!

Que beijo delicioso!

Beijá-la já estava se tornando um vício para mim. Fechei meus olhos e deixei que ela se apossasse dos meus lábios, dos meus sentidos. Enlaçou minha cintura fazendo com que nossos corpos se unissem mais. E como era gostoso estar ali grudada nela.

Nunca, em minha vida, pensei em viver um momento como aquele, mas estava adorando, não, estava amando mesmo.

JOANA

Cinco da manhã e eu já estava para lá de desperta. Fiquei observando Marcela dormir com aquela carinha de anjo que ela tinha.

O que se passava em minha mente? Não sei explicar.

Passava tanta coisa. Me perguntava tantas coisas.

Será que ela gostava de mim?

Será que estava sendo uma experiência?

Será que, quando acordasse, iria me ignorar e fingir que nada aconteceu ou me brindaria com um de seus belos sorrisos, me fazendo acreditar que havia esperança de tê-la novamente em meus braços?

Quis muito fazer amor com ela, torna-la minha, me entregar a ela e demonstrar tudo que sentia em gestos e sensações, mas sabia que não estávamos preparadas. Ela não estava preparada e tive medo de assustá-la, embora tenha percebido o desejo em seu olhar e nas mãos que, embora tímidas, se arriscavam em carícias mais profundas.

Seis e meia, levantei, tomei um banho rápido e fui preparar o café com um sorriso de orelha a orelha que contrastou com a expressão séria e carrancuda de Eduardo que me aguardava na cozinha, sentado à mesa.

— Que bicho te mordeu para estar com essa cara?

Ele fungou um pouco e passou a mão na barba por fazer.

— Estava esperando você acordar. Quando cheguei vi você dormindo com Marcela e deu para deduzir, perfeitamente, o que aconteceu — falou com um sorriso sacana nos lábios.

Sorri, ainda embriagada pelo perfume do corpo dela junto ao meu. Mas, logo meu sorriso se desfez. Não havia razão para estampar aquele sorriso em meu rosto se Marcela e eu ainda não havíamos realmente conversado.

— Por que esse rostinho sério? — ele quis saber.

— Ontem tudo aconteceu sem que Marcela e eu disséssemos uma única palavra. Foi maravilhoso, Edu. Mas, mesmo querendo, não posso deixar que meus pés saiam do chão sem antes ter uma conversa séria com ela. Eu não sou brinquedo. E, se ela quiser apenas diversão… bem, saberei brincar também.

Ele meneou a cabeça em assentimento.

— Você está completamente certa, maninha.

Suspirei e concordei com um balançar de cabeça, enquanto via, em sua expressão, que algo o preocupava. Normalmente, ele teria feito mil e uma piadinhas por saber sobre meus avanços com Marcela, mas não fez. E isso era sinal de que alguma coisa não ia bem.

Peguei em sua mão de dedos longos e calosos pelo trabalho com a madeira. Ele já não precisava mais trabalhar com ela, poderia apenas administrar seus negócios, mas Edu sempre amou o trabalho e passava o dia enfiado na fábrica. Por isso, sempre tinha pó de madeira no cabelo quando chegava em casa à noite e eu amava o cheiro dela em seu abraço.

— Me conta.

— Contar o quê? — perguntou com a testa franzida.

— O que te aflige.

— Como sabe que algo me preocupa?

— Você é meu irmão e meu melhor amigo, sei muito bem quando algo não está bem com você.

Um sorriso carinhoso surgiu em seu rosto e o retribuí. Ele passou a mão em minha face, dizendo:

— Agora não, meu amor. Mais tarde te conto.

Baixei os olhos e soltei sua mão.

— Tudo bem, não vou insistir.

Comecei a preparar o café da manhã. Olhava a cada instante para a porta desejando ver Marcela atravessa-la o que só aconteceu meia hora depois. Edu e eu estávamos sentados à mesa tomando nosso café quando tive a maravilhosa visão dela entrando na cozinha com seu sorriso lindo e encantador e que pareceu um pouco acanhado ao me ver.

Edu não ia perder a oportunidade, não é mesmo?

— Hum, pelo sorriso estampado nesse rostinho lindo a noite da minha cunhadinha foi boa, né?! — e caiu na gargalhada deixando uma Marcela vermelha de tanta vergonha e eu com vontade de cortar a língua dele com a faca de cortar pão.

Ai, como era cretino! Nunca perdia uma oportunidade de deixar alguém sem graça. Mas, ela se recuperou rapidamente e soltando um risinho safado para ele e se aproximou de mim dando-me um selinho nos lábios.

Foi a minha vez de ficar vermelha diante do olhar de Edu que deixou um risinho safado escapar. Já estava planejando a minha vingança contra ele. Não ia deixar essa passar sem ter volta.

— Bom dia! — ela disse ao sentar-se à mesa. Seu perfume invadindo todo o meu ser.

— Bom dia — respondemos.

Se aproveitando que ela estava distraída passando um pouco de manteiga em um pão, Edu passou o guardanapo no meu queixo e sussurrou:

— Só enxugando um pouco da baba que escorreu para o seu queixo — sorriu cheio de si e dei-lhe um beliscão na mão. — Ai!

Marcela desviou sua atenção para nós, curiosa. Enviei um olhar de advertência para ele que ergueu as mãos em sinal de paz.

A expressão brincalhona no rosto de Edu sumiu quase que instantaneamente. Tornou-se sério. Pigarreou, como sempre fazia quando desejava ter uma conversa séria, e meus sentidos entraram em estado de alerta, pois percebi em seu olhar aquela velha tempestade se formando. Algo não ia bem.

— Agora que as duas estão aqui, gostaria de ter uma conversa séria com vocês.

Marcela me olhou surpresa, pude ver de rabo de olho, mas mantive meus olhos firmes e fixos nele.

— Fale — incentivei.

Ele pigarreou novamente. Isso, às vezes, me dava nos nervos!

— Bem, hoje cedo saí para correr com o JP, assim como faço todos os dias e, quando voltávamos para casa, demos de cara com o prefeito — sorriu com deboche ao pronunciar o título do pai de Marcela.

Revirei os olhos desejando que não tivesse feito o que havia prometido fazer quando o encontrasse. Já estávamos metidos em muita confusão, aliás, Marcela e eu estávamos metidas.

— E o que aconteceu? — Marcela quis saber.

— Ele me ameaçou.

— Como assim?

— Me disse que se eu não o ajudasse a acabar com o relacionamento de vocês iria acabar com meus negócios. Referiu-se a um monte de impostos, algumas amizades influentes e sei lá mais o quê. O fato é que ele não pode fazer nada nesse sentido porque as minhas contas e impostos estão todos em ordem.

— O que ele te pediu para fazer exatamente, Edu?

— Um monte de absurdos, entre eles, convencer a Joana a terminar com você e depois te expulsar daqui. Ele ainda não sabe que você está trabalhando comigo e encheu a boca para dizer que quando você se visse sem um teto para morar, iria voltar para casa implorando o seu perdão.

— E o que você disse?

— O mandei ir à puta que o pariu! Com todo o respeito a finada sua avó que era um encanto de pessoa, tá?

— Não tem problema — ela respondeu baixinho.

— O fato é que ele me ameaçou e a Jô também. Disse que se você não voltasse para casa e casasse com aquele idiota riquinho, iria ter que apelar para a violência.

— O que isso quer dizer? — questionei baixinho, não querendo acreditar na estupidez daquele homem.

— Quer dizer que ele está disposto a fazer qualquer coisa, até nos ferir, para que Marcela volte para casa.

Pude ver no olhar de Marcela o efeito que aquelas palavras lhe causaram e seu belo rosto tornou-se sombrio.

— Olha, Marcela, não vou esconder, não. Mas, quando ele disse que machucaria a minha irmã e outros tantos absurdos, parti para cima dele.

— Você o quê? — quase gritei.

— Enchi a cara dele de porrada, bolacha, tabefes, pancada… Use o nome que preferir. Se não fosse pelo JP, que nos separou, teria feito pior.

— Droga! Você não podia ter feito isso, Edu!

— Eu te avisei, Joana, se ele provocasse acabaria com a raça dele. Safado, filho da puta!

Um silêncio pesado reinou entre nós durante um tempo. Marcela mantinha seus olhos baixos e fixos no chão. E eu não sabia o que dizer, afinal, o pai dela era mesmo um safado.

O pior, era que toda aquela confusão poderia ter dado fim ao lance que, aparentemente, estava rolando entre nós.

“Eu mereço! Mereço, mesmo! Só pode! Devo ter jogado pedra na cruz, passado por baixo de escada, quebrado espelho, ou algo assim para ter tanto azar. Acho que vou ter que ir numa benzedeira, comprar uma figa e usar no pescoço, tomar banho de sal grosso ou qualquer coisa que o valha para me livrar de todo esse azar! Que saco!”, pensei, enquanto tamborilava os dedos na mesa, nervosamente.

— Bem, preciso ir tomar um banho — informou ele. — Trabalhar um pouco vai me ajudar a esfriar a cabeça.

Nós permanecemos lá, imóveis e em silêncio. Eu não sabia o que fazer ou o que dizer, mas tínhamos que conversar.

— Marcela…

— Desculpe!

— Han?! Por quê?

— Por causar toda essa confusão. E…

— Não tem porquê pedir desculpas. Teu pai que é… bom, é melhor não falar — queria mesmo era usar as mesmas palavras de Edu, mas preferi não fazê-lo para evitar que se sentisse ainda mais desconfortável. — Mas, por enquanto, vamos esquecer esse assunto, certo? Preciso ter outro tipo de conversa contigo.

Ela ergueu o olhar e concordou com um inclinar de cabeça.

— Quero saber o que realmente está acontecendo entre nós. Não me entenda mal, ontem à noite foi lindo. Maravilhoso. Mas preciso saber. Isso foi real?

Ela desviou o olhar, ficou longos segundos em silêncio e, subitamente, ergueu-se da cadeira. Aproximou-se de mim, suas mãos seguraram minha nuca e mergulhou seus lábios nos meus ao sentar-se em meu colo.

Perguntas para quê? Aquilo já não era resposta suficiente?

Seria, se ela não fosse a Marcela Farias, aquela garota super preconceituosa que me torrou a paciência inúmeras vezes.

— O que isso significa?

Um sorriso doce e meigo surgiu em seus lábios, meu coração quase derreteu nessa hora.

— Significa que gosto de você. Muito. E que a noite passada foi a melhor de toda a minha vida.

Me perguntei, com um sorriso bobo, onde havia ido parar todo aquele preconceito e engoli em seco.

— Mas…

— Eu sei. Garota rica, mimada, metida e preconceituosa. Essa sou eu. Ou era, até alguns dias atrás.

Fixei meu olhar no dela.

— O que aconteceu?! — ela continuou. — Eu te conheci.

Sorriu.

— Te conheci de verdade e comecei a analisar todos os meus conceitos e preconceitos. Ficava me perguntando como alguém, uma garota tão legal poderia gostar de mulheres. Isso foi depois da festa da Raquel. Nunca fui muito religiosa, mas cresci com a concepção de que isso não era natural.

Revirei os olhos com um pouco de exagero.

— Religião à parte, Marcela, não tem nada de errado em amar. Já te disse, existem muitas formas de amor.

— Eu sei! Entendo isso. Você me fez pensar bastante à respeito nos últimos dias, principalmente, depois da festa dos meus pais.

Mal conseguia acreditar que estava conversando com a mesma garota que havia me pedido desculpas com o rabinho entre as pernas, uma semana antes, por ter me insultado.

— Sabe aquele ditado que diz “o peixe morre pela boca”? — ela questionou e assenti positivamente. — Bem, foi mais ou menos isso que me aconteceu. Veio a festa dos meus pais, àquela bebedeira e àquele beijo…

Seu rosto ficou um pouco rosado e quase derreti de amores. Ficava linda, envergonhada.

— Olha, nunca pensei que diria isso, mas o seu beijo é o melhor beijo que já provei em minha vida! E olha que já beijei muita gente por aí!

Quase gargalhei nessa hora, mas segurei a vontade. Queria ouvir tudo que tinha a dizer sem atrapalhar.

— Olha, Joana, isso é novo para mim. Eu sei, era muito preconceituosa, acho que ainda sou, mas não sou de fugir dos meus sentimentos. Bem, eu tentei fazer isso, mas não deu muito certo, pois sempre que você está por perto tenho vontade de te tocar, beijar. E ontem, quando a gente se beijou no sofá, descobri que estou gostando de você.

A garota dos meus sonhos, aquela metida e abusada que gostava de me xingar, estava me dizendo que estava gostando de mim. Eu não sabia se ria ou chorava, então fiquei calada. Tive que sair daquela nuvenzinha em que as palavras dela haviam me levado. Respirei fundo para me controlar e evitar pular no pescoço dela como uma louca e sair gritando de alegria.

— Marcela, você tem certeza disso? Olha, vou ser sincera contigo, gosto de você! Gosto muito mesmo! Você nem faz ideia do quanto te gosto. Mas, quero que pense bem em tudo que está dizendo. Quero que analise seus sentimentos por mim, pois, depois de tudo que aconteceu ontem e das palavras que você acabou de pronunciar, vou mergulhar nessa “relação”. Não sou mulher de meias palavras, nem o tipo que espera as coisas acontecerem. Portanto, se você me der carta branca eu vou te namorar.

Melhor abrir o jogo logo, pois sempre fui assim, apanhava e revidava, caia e levantava. Amava, logo, queria ser amada também.

Continuei:

— Pense bem nisso — queria curtir aquele momento, mas minha mente pedia que mantivesse a cabeça no lugar. Marcela podia apenas estar confusa e achar que gostava de mim ou apenas curiosa. Mesmo que aceitasse me namorar, eu continuaria com o pé atrás em relação aos seus sentimentos e isso me doía muito mais que a espera por sua resposta.

Seu silêncio estava me matando. Permaneceu sentada no meu colo com os braços em volta do meu pescoço e os olhos fixos nos meus. Foram minutos longos e torturantes para mim. Ela não desviou o olhar em instante algum, muito menos, eu.

— Então, quer dizer que estamos namorando? — sorriu ao perguntar.

Nem deu tempo de meu cérebro processar a pergunta, pois ela prendeu meus lábios nos seus num beijo longo e muito apaixonado. Ainda ofegante, respondi:

— Acho que sim — sorri, mal cabendo em mim de tanta felicidade.

Não sabia que o paraíso era aqui na terra. Meus lábios grudados nos dela provando do sabor doce que tinham. Minhas mãos começaram a passear por seu corpo, enquanto ela fazia o mesmo comigo. Nosso beijo ficando cada vez mais intenso e necessário.

— Hãn, Hãnnn… — Edu pigarreou à porta.

Era sério! Um dia ainda iria acabar matando o Edu. Parecia até que ele tinha um radar que o avisava quando Marcela e eu estamos nos beijando, ou quase, para ele vir atrapalhar.

Ele havia tomado banho e se trocado. Estampava no rosto seu sorriso mais cínico e safado. Ao seu lado, o João Paulo nos sorria carinhosamente.

— Estou pensando seriamente em trocar a fechadura da porta deste apartamento. Talvez assim, você deixe de ser tão inconveniente.

Marcela apenas sorria agarrada em mim.

— Ai, irmãzinha, é que estou tentando, há dias, te atrapalhar na hora “H”, mas sempre chego antes ou atrasado — riu sarcasticamente.

— Deixa a sua irmã em paz, Edu — JP atalhou.

— Ah, qual é, JP? Sou o irmão mais velho, meu trabalho é tornar a vida da minha querida maninha chata! — riu.

Ele sabia como me irritar!

— JP, faz favor de dar um jeito nesse seu namorado chato? — pedi.

Ele piscou para mim e cochichou algo no ouvido do Edu que parou de rir imediatamente.

— Isso é sacanagem! — Edu reclamou. — Você não faria isso!

— Se não parar de atormentar a minha cunhadinha linda e a sua princesa ali, — piscou para nós e sorriu — faço sim.

— Isso é chantagem — meu irmão se queixou.

— É pegar ou largar — JP informou.

— Está certo — Edu fez bico. — Mas, vai ter volta! — riu e deu um beijo no namorado.

Marcela me olhou chocada e cochichou:

— Eles são…

— Namorados — completei sorrindo.



Notas:



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