Saudades que se manifestam profanas

Saudades que se manifestam profanas

A noite aqui muitas vezes cai sôfrega e se estende nessa minha nova realidade, me reviro na cama refletindo o quanto é cruel você não saber como me sinto, olho para os lados e observo os reflexos lunares que adentram silenciosos pela janela e refletem nas paredes ao redor, únicas testemunhas das noites em que palavras chulas ecoavam destemidas em meio aos gemidos trêmulos.

Abro os braços sobre a cama buscando partes de você e meu corpo se ondula sobre os lençóis que meses atrás estariam carregados de suor. Fecho os olhos e te imagino passando pela porta usando apenas a minha camisa larga, me direcionando o antigo olhar safado e em seguida o sorriso que eu bem conheço. Sozinha, mordisco os lábios e me pego ofegante quando meu pensamento te toca, sinto minhas mãos deslizando em meu corpo como se clamassem em refazer os caminhos que antes eram percorridos pelas suas. De olhos fechados consigo sentir o aroma quente de sua respiração em meu ouvido e posso ouvir sua voz entrecortada dizendo o quanto te enlouqueço.

Cravo uma das mãos em meio aos meus cabelos puxando-os loucamente e procuro a força ideal que antes tu usaras, enquanto a outra segura fortemente o travesseiro que agora se encontra sobre mim. Sinto como se as partes restadas de você percorressem ágeis em minhas veias.

Abro os olhos e me pego sôfrega, ofegante e a pele brilha em um suor já visível. Sinto o nervo rígido e pulsante, como se nesse momento competisse com o coração, difícil é saber quem dos dois almeja mais o seu corpo.

As mãos percorrem inconscientemente e adentram minhas roupas, enquanto uma toca meus seios a outra encontra o sexo encharcado, replico os movimentos antes feitos por seus dedos e nesse momento sem escrúpulos ou pudores, fecho os olhos e pronuncio seu nome em uma voz que soa emergente e descompassada. Os movimentos se multiplicam e me levam a um êxtase a muito tempo guardado.

Me deixo trêmula sobre a cama, agora úmida, abro e fecho os olhos enquanto a respiração se normaliza. Nesse momento, meus instintos mais despudorados esperam que onde estiver, você receba ao menos uma carta de tesão ou sinta o mínimo da excitação que as lembranças de sua antiga presença ainda me trazem.

Que maldade meu amor, que maldade foi a sua em aparecer sorrateira, e por meses me proporcionar as melhores noites, os melhores gozos e deixar que eu me entregasse das formas mais profanas para enfim partir e levar consigo os meus desejos mais intensos e obscuros.

Que maldade a sua.



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