Alpha Dìon — Agência de Proteção

Capítulo 13 – Ação Inesperada

As duas chefes chegaram ao bangalô, satisfeitas com as equipes. As agentes estavam empenhadas e foram perfeitas na represália do grupo invasor. A maioria delas já estava recuperando os locais invadidos, reposicionando os explosivos. Não era algo que precisassem ordenar, pois cada líder de grupo era responsável por sua área de atuação. Seguiam os protocolos.

Assim que Isadora abriu a porta, Helena entrou e retirou o cinto tático, jogando-o sobre a mesa.

— Esse cara é maluco, Helena. Eu fico receosa dele dar uma de kamikaze e atacar agora mesmo.

— Ele não fará, Isa. 

— Como tem tanta certeza?

— Ele pode ser maluco, mas se uma coisa aprendi sobre ele, é que não gosta de perder. Sabe que se atacar agora, chamará a atenção das vigilâncias internacionais. Estamos numa era onde a tecnologia vigora e uma ação pesada irá acionar o alerta de governos. Você sabe onde estamos, não sabe?

— Nisso não posso reclamar da IA. Ela nos deu a nossa exata localização no mapa.

Isadora sorriu, retirando também seu cinto tático. Colocou-o sobre a mesa e foi até o bar do quarto. Pegou dois copos e o whisky, vertendo-o nos copos.

— Abre essa merda de tablet. Vamos preparar uma baita surpresa pra esse corno.

Assim que falou, tomou de um gole só o líquido âmbar de um dos copos e depois, encheu novamente.

— Ei, calma aí, garota! A gente tem que ficar de boa para mais tarde.

— Desculpa, Helena, mas tô agitada. Tenho que abaixar a bola um pouco, senão saio agora mesmo para agarrar esse cuzão dentro da base dele e matá-lo com minhas próprias mãos.

Helena abriu o tablet e as plantas da enseada. Sem desviar o olhar da tela, pegou o copo da bebida oferecida pela companheira-chefe. 

— Quando fui colocar as cargas explosivas na ala leste, achei uma gruta no canto rochoso que se ergue dividindo a entrada da enseada. Tinha dois túneis dentro e um deles soprava um vento forte de maresia.

Isadora se interessou pelo assunto e sentou-se à mesa com a cadeira virada, como se estivesse montando em uma sela.

— Eu achei um buraco… uma entrada de gruta na ala oeste quando estava fazendo rapel para colocar os explosivos.

Elas se encararam sorrindo. Há bem poucos dias, seria inimaginável a harmonia entre as chefes. 

— Acha que dá para colocar uma “ponto cinquenta” escondida na boca? Annan pode acioná-la quando ordenarmos.

Helena deu uma piscadela rápida para a parceira, abrindo mais o sorriso.

— E você? O que pode fazer nesse túnel da parede oeste?

— Causar uma explosão, desmoronando tudo, de uma forma que até os mais bravos soldados tremeriam.

— Os soldados que chegarão pelo mar, terão uma grande surpresa também… 

Isadora se levantou da cadeira e estendeu a mão para Helena. 

— Vem cá.

— Isa, a gente tem…

— A gente não tem que fazer mais nada, Helena. Já acertamos tudo com as líderes de equipe e a nossa parte já tá combinada. Quero tomar um banho e relaxar. Tudo que a gente podia planejar, já fizemos. 

Helena fitou a parceira de chefia. Ela estava certa. Ou morriam ali, ou matavam Lewis e acabavam com tudo de uma vez por todas. Encarava a Agência de forma diferente. Era agradecida pelo que fizeram a ela, embora tivesse a consciência de que a resgataram da miserável vida do orfanato por interesse próprio. Entretanto, não era mais uma menininha iludida e frágil. Nisso ela tinha que agradecer realmente. 

Se tornou uma mulher forte com seus próprios ideais e eles não compactuavam com o novo direcionamento que a Agência tinha tomado.

— Muito bem. É isso que você quer realmente, Isa? Se for, estou contigo. Ou a gente morre nessa bagunça que esse puto nos enfiou, ou a gente muda a história de vez.

— É isso que quero, Helena. Eu te amo, e nunca mais vou negar esse fato. Só não quero morrer com essa dúvida entre nós. O que vamos fazer, vai ser uma merda. Algumas das nossas agentes também irão morrer. Eu sei, você sabe e principalmente, as meninas sabem. Mas se com o que nós planejamos, a maioria sobreviver, já tá valendo. Lewis nos pegou direitinho. Mas, de uma coisa tenho certeza; o que vamos fazer acabará com ele de uma vez por todas.

Helena se levantou da cadeira e segurou a mão da mulher que amava, que ainda permanecia estendida. Se aproximou, enlaçando com um dos braços a cintura de Isadora, enquanto a outra mão passava pelos fios espetados de cabelo dela num suave carinho.

— Você está certa. Só me dói ver que nossas decisões vão sacrificar vidas.

— E salvarão muitas outras também, Helena. Sem contar que esse corno e seus aliados não permanecerão de pé e a Alpha Dìon poderá voltar para o rumo.

— Acha que Annan consegue ver o que estamos fazendo?

— Acho que Annan ainda é cega para algumas coisas. Ela vai aprender rápido, mas nasceu agora, por assim dizer.  Naquele dia, conseguimos ver muita coisa no bunker, que nem Annan sabe que existe. Ela foi logada nos satélites depois e nem conseguiu ter acesso completo a ele ou externo.

— Vamos tomar nosso banho e relaxar, Isa. A ilha vai detonar daqui a algumas horas e vamos estar no olho do inferno.

— Vamos nos preparar para ver o rosto do caos, então.

Entraram juntas no chuveiro e começaram a retirar a sujeira e o suor da luta que tinham travado. Ensaboaram-se e revezaram sob a água fria. O dia foi particularmente quente e a noite estava abafada. 

Isadora abraçou Helena por trás colando suas peles. Ela sentia a suavidade da pele e rigidez dos músculos da chefe sênior, apreciando cada milímetro. Beijou seu pescoço próximo ao ouvido e escutou um leve gemido de prazer vindo da outra. Arrepiou-se inteira.

— Temos que dormir um pouco.

Helena falou rouca, quase sem forças.

— Temos dois turnos inteiros. — Isadora respondeu, acariciando os seios da amante. — Se eu dormir quatro horas, me recupero. 

Helena se virou, dentro do abraço da outra chefe e a beijou arfante. Estava excitada não só pelos toques da mulher que amava, bem como pela adrenalina da agitação da luta. Roçaram seus corpos molhados na tentativa de extraírem o máximo de desejo uma da outra. Era uma dança sensual e rapidamente alcançaram o limite. Queriam que a intimidade fosse completa.

Elas se penetraram simultaneamente, arrancando suspiros e gemidos destemperados. Os beijos alcançavam qualquer porção de pele em que tocavam e os movimentos dos corpos vibravam na euforia da libido.  O orgasmo chegou para ambas, que sentiam o calor das entranhas derramarem o amor.

  •  

Foram acordadas pela IA duas horas antes do turno de descanso acabar. Elas imaginaram que isso poderia acontecer, pois não acreditavam que os helicópteros com o staff chegassem às dez da manhã. Certamente, Henrique e Cooper viriam neles.

Helena espreguiçou e viu Isadora pegar suas roupas de campanha e entrar no banheiro. Sorriu de leve, achando graça da ironia do destino. As ações de Lewis em uma missão as separou e, agora, suas ações tornou a junta-las. Levantou-se para pegar suas roupas. Não perderia mais tempo para acabar com essa guerrilha e ser feliz. Sentia-se renovada.

— O que aconteceu, Datrea?

— Nada de mais. Só o helicóptero de Henrique e Cooper chegando, chefe Isadora. 

—  Me chame de Isa, Datrea. É mais fácil.

Datrea olhou para a sua chefe direta, que assentiu com a cabeça discretamente. 

— As aeronaves do staff não estão vindo?

— Não, chef… Não, Isa. Eles pediram permissão para descer.

— Autorize. Vamos subir. Esperaremos eles na entrada. 

— Entendido.

— Margot está no descanso?

— Está sim. Mas já vai terminar o turno de descanso dela.

— Deixe-a dormir até vermos o que acontecerá. Se der alguma merda com o que Henrique e Cooper falarem para nós, você a acorda.

As chefes se dirigiram para a entrada. Assim que chegaram, conseguiram ver pelos displays da área de acesso o helicóptero se aproximando. Sheira foi até elas com um tablet na mão e antes que pudesse falar algo, o helicóptero perdeu o controle, girando no ar e caiu na região sul da ilha.

Mesmo que não as afetasse diretamente, por verem a cena nas telas espalhadas pela área de controle, enrijeceram os corpos em reflexo.

— Merda! — Helena resmungou. — Sheira, está gravado no servidor essa imagem?

— Sim…

— Tenho tudo gravado, chefe Helena. — Annan respondeu.

— Passe a cena novamente, Annan. — Helena se virou para Sheira. — Acorde Ária. Ela não ficaria no descanso nos dois primeiros terços da escala? 

— Sim, mas eu a convenci de ficar mais tempo. Ela está forçando demais o ferimento. Revezei a liderança com Pytia; ela é uma paramédica, mas tem experiência em liderança na equipe dela. Acreditei ser melhor que Ária estivesse inteira para o ataque.

— Acorde-a. O ataque começou.

— Sim, senhora.

— Annan…

— Na escuta, chefe Helena.

— Dê um alerta para todas. A invasão começou.

— Alertando, chefe Helena.

As agentes corriam de um lado a outro para se prepararem e se posicionarem. Isadora via a imagem da explosão diversas vezes; de trás para frente, em câmera lenta… continuava a olhar, observando os mínimos detalhes, em um tablet, o qual operava sem precisar que Annan o fizesse.

— Se um dos dois ou mesmo os dois estivessem com Lewis, por que foram eliminados, Helena?

— Se eles não estão nos planos de invasão, Lewis não precisa pensar muito se vai ou não eliminar aliados. Deveria ter aprendido isso quando ordenou para nós que a deixasse naquele deserto.

Isadora fitou Helena e compreendeu que os coordenadores eram irrelevantes para a investida de Lewis. 

— Tem razão. Lewis é um canalha com letras maiúsculas. Vê aqui? — Isadora parou a imagem em um determinado frame do vídeo. — Não explodiram o helicóptero  com uma carga pesada, mas atiraram com um rifle “ponto cinquenta” no tanque de combustível.

A cena era sutil, contudo Helena pôde ver com clareza o exato momento em que o projétil atingiu a aeronave.

— Vamos negar o acesso das aeronaves que trazem o staff. Menos um problema para nós e não precisaremos nos preocupar com a segurança dos civis.

Sheira sugeriu.

— Se eu fosse vocês, não faria isso.

Ária se aproximou das chefes, dando a sua opinião. Ainda ajeitava a roupa e as armas.

— Ele não se importa com o que explodirá e com quem matará para chegar ao objetivo. Se não autorizarmos a descida dos helicópteros, ele os derrubará um a um para que não retornem a base e contem o que aconteceu.

Isadora passou a mão pela penugem na cabeça.

— Gostaria de dizer “Que se foda! Que ele derrube os helicópteros!”, mas infelizmente não consigo pensar dessa forma. Seria tão mais fácil para nós…

— Não sei não, Isa. — Helena retrucou. — Se a gente não vencer essa, além de morrer, ele irá inventar qualquer coisa para justificar o que fez, inclusive que fomos nós que derrubamos as aeronaves.

— Isso se ele já não pensou nessa possibilidade.

— Aí ele mataria o seu infiltrado também, Ária.

— Se ele avaliar que é vantajoso, não importa. Não mandaria para cá alguém por quem nutre algum apreço . Sabe que essa pessoa tem muito mais possibilidade de morrer aqui do que lá fora, na retaguarda ao lado dele.

— Ok. Equipe Cymorth, preparem-se para receber os funcionários. Se os helicópteros pousarem, teremos que fazer uma extração rápida e segura.

— Mas deixem o staff antes das catracas da aduana. — Helena complementou a ordem. — Quero que cada milímetro do corpo deles seja vasculhado e que as bagagens fiquem aqui em cima. Eles irão direto para o bunker. Annan…

— Na escuta, chefe Helena.

— Peça para Talíria se apressar e ir para o bunker. Datrea… — Chamou a especialista em TI.

— Na escuta, chefe.

— Margôt acordou?

— Já estou na sala de controle, chefe Helena.

— De uma vez por todas, vamos resolver essa coisa de chamar chefe isso, chefe aquilo. Atrapalha na hora de nos comunicar. — Helena resmungou. —   Canal aberto para todas as agentes. — Ela abriu o canal de comunicações. —  Enquanto estivermos nessa missão, chamem a mim, Isadora e a qualquer outra líder pelo primeiro nome. Chamadas diretas, sem confusões. Entendido?

— Entendido!

A sonora resposta em conjunto das agentes da enseada no ponto de comunicação, fez com que todas sentissem a ressonância. Algumas agentes reagiram retirando o ponto do ouvido, tamanho o incômodo.

— Amei o que fez, Helena, embora não quisesse ficar surda antes da velhice.

— Não enche o saco, Isa.

Helena respondeu irritada, sem olhar para Isadora. Sabia que estaria sorrindo debochadamente e se irritaria mais se visse a cena. 

— Margot, tá pronta?

— Já estou a caminho do bunker para abri-lo, Helena.

 — Perfeito. Todas as agentes. — Helena abriu novamente o canal. — As líderes passaram as instruções. Posicionem-se.

— Ária, está em condições de liderar a equipe de extração?

— Estou sem restrições, Isadora.

— Ótimo. Você lidera a extração. Sheira irá liderar a defesa da área de entrada, enquanto eu e Helena faremos a última inspeção nas linhas leste e oeste. 

— Parece que está tudo certo, Isa. As agentes já instalaram os explosivos que foram detonados.

— Mesmo assim, quero inspecionar. Qualquer falha, por mínima que seja, pode acabar conosco.

Helena reafirmou, indo em direção aos elevadores, mas parou quando chegou no beiral da enseada, olhando de um lado a outro.

— Será que não há como passarmos por aqui? Seria mais rápido para fazermos isso, Isa.

Ela perguntou para Isadora, porém Sheira a respondeu.

— Somente se escalarem as rochas laterais. Eu verifiquei todas as possibilidades de invasão. Se acaso eles invadissem pelo mar a oeste, ou se invadissem pelo vulcão a leste, poderiam chegar aqui,  se conseguissem escalar a barreira de rochas que nos protegem. Temos metralhadoras direcionadas para esta área. 

— Não colocaram nenhum explosivo nas rochas laterais?

— Não achamos necessário, Helena.

Ária respondeu, constrangida, afinal havia desprezado os rochedos laterais em que a construção da entrada da enseada estava baseada.

— Pois, vamos colocar os explosivos. Se alguém passar por eles, as metralhadoras darão conta. — Olhou para as líderes. — Arrumem duas mochilas de explosivos e detonadores digitais. — Virou-se para Helena. — Vamos juntas verificar a ala leste, na volta instalaremos os explosivos e, depois, faremos o mesmo na ala oeste. Assim será mais rápido.

— Eu discordo, Isa. Estamos vulneráveis. Se eles invadirem antes do esperado, irão nos pegar de surpresa. Se formos pegas juntas e morrermos, as agentes terão que se reorganizar e perderão tempo. E tempo é exatamente o que nos falta.

— Droga, Helena! Está sempre se colocando em perigo pelo todo!

— E não é por isso que somos as chefes?

Elas se encararam, raivosas. As outras agentes presentes só observaram o confronto. 

A princípio, acreditavam que era só uma rivalidade entre equipes, porém, com o passar dos dias, perceberam a tensão emocional entre as chefes e após a noite anterior, onde algumas agentes flagraram o beijo entre elas na enseada, o falatório se espalhou. 

 Ária olhou de esguelha a outra líder e as agentes que estavam mais próximas disfarçaram, saindo da visão das chefes para não se meterem na discussão.

— Merda! Não se atreva a se meter em encrencas, Helena!

Isadora foi para a ala oeste e gritou:

— Cadê a mochila de explosivos?

Rapidamente uma agente correu para entregar para a chefe, enquanto ela caminhava a passos firmes. Helena balançou a cabeça, cerrando os olhos ligeiramente. Não se importavam mais se eram observadas pela equipe ou se as subordinadas percebiam o que havia entre elas. 

— Pode ficar com raiva o quanto quiser, Isa. — Helena falou alto para que a outra escutasse. — Eu sei que pensa o mesmo e não importa o quanto negue. Se é para o barco afundar, eu afundo com ele e sei que você também.

Isadora parou virando-se para Helena. Já estavam distantes, uma em cada extremidade da plataforma.  Mais um passo e ela chegaria ao elevador da ala oeste e à beirada da plataforma.

— Não se atreva a morrer, Helena.

Embora Isadora ainda mostrasse contrariedade, as palavras não saíram com a raiva que gostaria de expressar.

— O mesmo para você, Isa. — Helena sorriu, mas desta vez sem sarcasmo. — Sabe o que mais? Em outras épocas, eu estaria falando para irmos juntas com mais segurança e você brigaria comigo querendo ser mais ousada.

Isadora inspirou fundo para se conter e não discutir mais.

— Vamos logo com isso. — Virou-se intempestivamente. — Estamos perdendo tempo!

Helena a observou mais um pouco, enquanto Isadora vestia o equipamento de escalada. Sentiu os olhares pousados sobre as duas.

— Como é, não vão me dar os equipamentos e a mochila de explosivos, não?

Rapidamente uma agente da Cymorth correu para entregar a chefe sênior a mochila e outra, para entregar o equipamento de escalada. Ela colocou os equipamentos e foi verificar a ala leste e, colocar os explosivos.



Notas:

Bom dia!

Espero que tenham passado um feriado agradável! 

Mas um capítulo da nossa história de ação para agitar um pouco a semana. 

Um beijão e boa leitura!




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2 Respostas para Capítulo 13 – Ação Inesperada

  1. Eita atrás de eita nessa jornada das meninas, sem momento de descanso e respirar, o coitado quer a todo custo eliminar as brabas do mapa de uma vez por toda.

    Uma ótima semana pra ti Carol, bjs

    • Oi, Blackrose!
      Então, ainda vai piorar mais. rs A ilha vai virar um campo de guerra!
      Vamos ver como as duas vão se virar para pegar esse cretino.
      Balckrose, muito obrigada por estar sempre aqui e o carinho.
      Um beijão grande para você… Ah, o capítulo entra ainda hoje por volta de 12:12h. rsrsr 😉

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