Ana e Isadora já chegaram à Lapa meia noite, então subiram direto para a boate, ao entrar o ambiente já estava cheio e elas já foram direto pra pista de dança. Não tinha mais mesa disponível. Isadora marcou com a namorada na boate, e encontrou com Nathalia depois de meia hora que já havia entrado, a morena se atrasou pra sair de casa e as três amigas ficaram perto da pista conversando e bebendo alguns drinks.

Elas já estavam no auge da noite, conversando e se divertindo, falando sobre vários assuntos, Isadora insistia para Ana Paula procurar alguém que a fizesse esquecer Gisele, para que a amiga se liberte desse caso doentio e consiga viver feliz com uma pessoa que possa se entregar totalmente a ela, mas Ana não queria ser infiel, não fazia parte do seu caráter, mesmo sabendo que ela só estava sofrendo ela não conseguia ser canalha com Gisele.

— Parabéns Ana, a Isa me contou que você ganhou o caso de hoje.

— Obrigada, foi muito bom para o escritório, foi mais um caso de peso e com resultado positivo.

— Isso mesmo, mas e você está sozinha, onde está Gisele?

— Ah amiga, hoje eu precisava de férias dela, ela está demais, não estou aguentando mais os ciúmes e o grude, parece que vai morrer se não falar comigo de cinco em cinco minutos, hoje eu desliguei o celular e resolvi relaxar.

— Entendi, você precisa conhecer outras pessoas Aninha, precisa esquecer essa mulher.

— Ai Isa, não é fácil como parece.

— Poxa amiga, do jeito que a relação de vocês está deveria ser muito fácil sim, ela só quer pra ela, e pra você nada feito.

— É pior que eu sei que é assim que funciona mesmo, mas eu sou assim, o que eu posso fazer?

— Dar um pé na bunda dela.

As amigas riram, e continuaram a curtir a noite.  Até que Ana Paula resolveu ir até o bar para pegar uma bebida pediu um coquetel e aguardou ser servida, enquanto esperava percebeu uma morena linda no balcão esperando o seu pedido também, o seu coquetel chegou e ela não conseguiu sair dali, estava hipnotizada com a garota branquinha de olhar perdido que esperava o bar man.

A morena desviou seu olhar em sua direção e ficou a encarar Ana Paula, que sustentou a troca de olhares entre as duas, algo na morena lhe chamava muita atenção, aquele decote que ela usava fez suas mãos suarem, e ela sentiu um calor subir pelo corpo que há muito tempo não sentia por ninguém, nem mesmo por Gisele. Esboçou um sorriso enquanto o pedido da outra chegou e ela desviou sua atenção por alguns segundos suas amigas a interpelaram e a chamaram para outro ponto da boate, ela saiu do bar com a sensação de que precisava reencontrar a morena novamente e ficou com aquele rosto gravado na memória.

A noite começou muito bem, conversas animadas, assuntos sobre trabalho estavam fora de cogitação, alguns chopes depois, as meninas resolveram entrar na boate, considerando que Adriana não se interessou por nenhum dos rapazes que estava no bar, já era hora de respirar outros ares.

A boate é para o publico gay, então Paula e Ale estavam em casa, Adriana já estava mais do que acostumada a frequentar essas baladas com as amigas, mas já estava condicionada a sair sozinha dessas noitadas, só que nessa noite algo estava para mudar na vida da nossa contabilista.

— Meninas eu acho que eu já estou bêbada.

–Ai Drica, é só impressão sua, nós nem bebemos tanto.

— Paula, nós bebemos dez chopes “cada uma” no bar, mais várias long necks depois que entramos, eu já estou bêbada, não posso dirigir desse jeito.

— Nós pegamos um taxi então, relaxa que ainda é cedo.

— Puta merda, eu vou pegar um energético então, senão eu vou dormir em pé.

— Vai lá, amiga, e tenta pegar alguém no caminho também.

Adriana olhou para Alessandra e fez uma careta pra amiga, dirigiu-se até o bar e pediu o energético, enquanto esperava, notou a presença de uma mulher maravilhosa próxima ao balcão, ela vestia uma calça de sarja caqui, com uma blusa tomara que caia branca, e os cabelos loiros soltos por cima do ombro já um pouco suados pelo calor do ambiente, ela bebia um coquetel de canudinho e estava olhando para Adriana, demonstrando interesse em se aproximar.

Adriana não sabia o que fazer, estava pensando se não estaria muito bêbada para imaginar coisas, se a loira era apenas uma alucinação do seu estado alcoólico ou se ela realmente estava ali ao seu lado, tão linda que ela não conseguia desviar o olhar para outro ponto da boate, foi tirada de seus pensamentos quando o bar man lhe trouxe o energético, e em um movimento instintivo, voltou seu olhar para a direção da loira que lhe fitava. Para sua surpresa ela não estava mais ali, a loira linda e sedutora havia desaparecido, mais uma vez sua reação foi se perguntar se ela realmente não precisava de um café bem forte, pois já estava imaginando coisas.

Voltou entre as pessoas dançando na pista mal iluminada e com poucas luzes piscando, e ao chegar perto das amigas que estavam sentadas em sua mesa, não sabia se compartilhava o que lhe ocorreu no bar, mas pensando melhor, ela preferiu apenas sentar-se e beber em silencio.

— E ai, amiga, não conseguiu ninguém pra dar uns amassos?

–Não, Ale, não tinha ninguém interessante.

— Ai Drica, você precisa se soltar mais, relaxa.

— Amiga, eu já te falei que se eu relaxar mais eu durmo aqui mesmo, por isso eu peguei um energético pra levantar a minha moral.

Todas as amigas gargalharam, e estavam curtindo o restante da madrugada, quando Adriana encontrou a loira que a fitava no bar, atravessando a pista sozinha em direção ao banheiro. Em um impulso que nem ela conseguiu definir, ela levantou e foi ao banheiro.

— Meninas eu preciso ir ao banheiro.

— Tudo bem, estaremos aqui.

Adriana atravessou a pista de dança com o coração acelerado, tentando imaginar o porquê de sua reação tão passional com relação a essa mulher, quem seria essa pessoa que estava tirando Adriana de sua razão? Nem ela estava entendendo seu comportamento.

— Ai, o que eu estou fazendo? Ela é uma mulher e eu gosto de homens, acho que essa cerveja é batizada.

Ao entrar no banheiro várias pessoas entrando e saindo das cabines, várias mulheres no espelho retocando a maquiagem e Adriana ficou sem saber o que fazer, não viu a loira e decidiu se aliviar já que estava por ali, quando ela saiu da cabine, encontrou a loira misteriosa no espelho lavando as mãos, Adriana sentiu seu coração saltar do peito, uma corrente de adrenalina correu pelo seu corpo, e ela sentiu seu rosto ruborizar, as mãos suadas foram em busca da água na pia ao lado da loira, e sem pensar Adriana a encarou através do espelho, e seus olhares se encontraram mais uma vez, foi quando Adriana percebeu que seus olhos são azuis, um azul tão intenso quanto o mar em dias de muito sol, e ela é linda!

Para Ana Paula foi uma surpresa ver Adriana ali ao seu lado, bem ao seu alcance, e seus pensamentos foram tomados por aquele decote que saltava ao seu olhar pelo espelho. Uma adrenalina subiu pela espinha e em um impulso que ela não sabia explicar Ana sentiu uma vontade louca de tomar Adriana nos braços e provar de seus lábios.

Foram segundos de contemplação, onde seus olhos percorreram os traços bem delineados do rosto daquela mulher que a estava enfeitiçando.

Ana sustentou o olhar pelo espelho, e desenhou um sorriso de canto de boca em sua direção. Adriana desconcertada quebrou o elo entre os olhares e virou para secar as mãos, não teve muito tempo para concluir a tarefa Ana Paula não resistiu aos impulsos de ter Adriana em seus braços e tomou a morena de assalto.

 Adriana sentiu duas mãos envolverem sua cintura, e um arrepio sem igual subiu pela sua pele, as mãos firmes em um movimento ágil a fez virar de frente, encontrando a respiração da outra ofegante em sua face, e sem avisos ou permissões aquela mulher misteriosa beijou Adriana com voracidade, como se o mundo fosse acabar ali naquele momento, Adriana se entregou ao beijo sem lutar, deixou as mãos velozes da outra percorrerem o seu corpo e lhe apertar como se fosse atravessar a carne, e suas mãos fizeram o mesmo.

A sensação de beijar outra mulher transcendeu tudo o que Adriana poderia esperar de um toque, de um carinho, ou de um beijo, era diferente, era carinhoso e ao mesmo tempo em que era firme, era delicado, e a pele macia e perfumada da outra lhe passava uma sensação sem igual.

Quando finalmente pararam o beijo para respirar, Adriana estava em estado de graça, um torpor havia paralisado seu corpo e ela já não respondia mais por suas ações. Ana Paula se perguntava por que não havia conhecido Adriana ha mais tempo, seus sentidos ficaram aguçados.

Adriana abriu os olhos devagar e contemplou a face angelical da mulher que lhe tirara o folego, e acabara de lhe mostrar um novo caminho e uma nova forma de amar.

Ana Paula, a mulher que arrebatara Adriana no banheiro da boate também a encarava como se fosse a primeira vez que beijava alguém. A química foi instantânea, e a vontade de beijá-la novamente tomava conta do seu intimo.

E assim foi feito, as bocas se encontraram novamente, em um beijo urgente, as línguas se tocavam e os corpos quentes exalavam desejo. Até ser interrompido por um grito histérico de Alessandra.

— Minha nossa Senhora da Sapatilha rosa, Adriana pegou uma mulher!

Com o susto Adriana se soltou do pescoço da loira e quase se afogou na pia ao lado, na verdade essa era a vontade dela, se afogar para fugir daquela saia justa.

Paula que estava junto não conseguia parar de rir, tanto com o berro da esposa, como com a cara de assustada que Adriana ficou, e a loira alheia à amizade das três, apenas olhava a cena a se desenrolar.

— Alessandra fica quieta, não viu que você acabou com o clima?

Dizia Paula tentando conter o excesso da esposa, Alessandra costumava ser muito espalhafatosa, e um pouco sem noção, estando bêbada foi um ponto a mais, Paula era mais centrada e calma, era o equilíbrio em pessoa.

— Ah desculpa meninas, podem continuar, finjam que nós não estamos aqui.

Paula ria da falta de noção da esposa e Adriana não sabia onde enfiava a cara, olhou sem graça para a loira que roubara seus sentidos e esta também aparentava um pequeno desconforto. Quem conseguiu quebrar o gelo entre as duas foi ela, que resolveu se apresentar.

— Desculpe, mas eu acho que não me apresentei devidamente, me chamo Ana Paula, e você?

— Adriana.

— Podemos sair daqui de dentro do banheiro?

— Claro.

Adriana ainda tentava se situar, a cabeça rodava, ela já não sabia se era por causa do excesso de álcool ou se pela sensação que acabara de experimentar.

Elas foram para o bar, e Ana pediu mais duas cervejas, ela pegou as latas e levou Adriana para o fundo da boate onde o som era mais baixo.

— Desculpe pelo meu mau jeito, nem me apresentei e já fui te agarrando.

— Não tem problema. Eu que peço desculpas pelo jeito da minha amiga, nossa, Alessandra é muito sem noção.

— Tudo bem é a primeira vez que você vem?

— É nessa boate sim.

— Você também não fala muito, não é?

— Desculpe, é que você me pegou de surpresa e eu acho que eu estou meio bêbada, não estou no meu normal.

— Tudo bem, eu vou deixar você então.

— Não vai, espera.

Adriana não conteve o impulso de manter Ana Paula por perto e segurou em seu braço, impedindo a outra de se afastar, Ana Paula olhou de volta e sem mais perguntas avançou na boca de Adriana e começou outro beijo ardente e urgente, colando os corpos suados. As duas não sabiam o porquê, mas a atração entre elas estava quase impossível de evitar. Na cabeça das duas, não havia explicação, mas elas se atraiam como um ímã. O mundo parecia que havia parado e não existia mais nada em sua volta, e por elas a noite nunca mais terminaria.

— Adriana, você é linda, onde você andava que eu não te encontrei antes?

— Perdida por ai. Procurando a felicidade nos braços errados.

— Então agora você está nos braços certos?

Mais um beijo, e tudo parecia muito melhor para as duas. Ao final do beijo, quando abriu os olhos, Adriana encontrou os olhares de Alessandra e Ana Paula aparentemente assustadas pelo envolvimento da morena com uma mulher com tanta voracidade.

— Desculpem meninas, mas eu preciso interromper o momento de vocês, Adriana nós estamos indo embora. Alessandra está passando mal, eu preciso leva-la pra casa.

— Tudo bem, eu já estou descendo.

–Estamos te esperando lá embaixo então. Tchau amiga de Adriana.

— Tchau.

Ana Paula não aguentou a observação no final da frase e morreu de rir.

— Ana Paula, eu preciso ir.

— Você não pode mesmo ficar mais um pouco?

Ana Paula dizia sussurrando no ouvido de Adriana, que sentia o corpo arrepiar inteiro, pensava o quanto gostaria de permanecer ali com ela, mas na necessidade de ir embora com as amigas, decidiu pelo racional, e se despediu da loira que arrebatou seus beijos durante a noite.

— Ana, eu realmente preciso ir. Alguém tem que dirigir.

— Tudo bem, mas eu te vejo novamente?

— Talvez.

— Eu preciso de uma resposta mais concreta.

— Talvez Ana. Apenas talvez.

O medo do novo assolou os pensamentos de Adriana, quando a outra pediu um novo encontro, um pavor subiu pela garganta e a possibilidade de um possível envolvimento a fez hesitar em responder, seu corpo dizia que sim, mas sua razão exclamava um não.

Saiu apressada deixando Ana Paula pra trás sem entender o que acontecera com a outra, que estava tão entregue ha segundos atrás e de repente mudou completamente a atitude, sem nem despedir-se com um selinho, foi quando ela percebeu que nem o telefone de Adriana ela teve tempo de pedir.

Aproximou-se de Isa e Nathalia com o semblante mudado, fato que não passou despercebido pelas suas amigas.

— Aninha, menina por onde você se escondeu? Você foi em casa fazer xixi?

— Não Isa.

— Amiga, o que aconteceu? Você está com uma cara!

–Ih, viu o passarinho verde!

— Não, amigas, eu acho que eu me apaixonei.

–Como assim? – Isa e Nathalia perguntaram juntas-

— Eu acabei de beijar a mulher mais linda que eu já vi em toda minha vida.

— Ih, acho que a cachaça subiu rápido demais hoje.

— Você não é disso, o que houve?

— Eu não sei explicar, mas foi uma atração que eu não pude conter. Foi mais forte do que eu…

Enquanto Ana explicava para as amigas o que acontecera, as duas ficaram pálidas e apontaram na direção contraria de Ana, que olhou para trás e viu a figura de Gisele dentro da boate à sua procura. Aninha gelou da cabeça aos pés, pois se ela chega dez minutos antes, encontraria Adriana em seus braços e seria um escândalo.

Ela deixou as amigas e foi ao encontro da sua “namorada”.

— Meninas, eu preciso ir, porque pelo visto a noite promete.

— Justo agora que você ia contar esse babado! Esse encosto não larga do seu pé, como ela descobriu que você está aqui?

— Eu não faço ideia, mas eu vou descobrir.

Ana Paula foi em direção a Gisele e esta quando a viu cruzou os braços em sinal de reprovação e já virou de costas em direção à porta, Ana sem poder argumentar seguiu Gisele pra fora da boate e já na calçada foi repreendida pela saída sem avisar.

— Ana Paula, o que você estava fazendo nessa boate?

— Eu estava me divertindo Gisele, algum problema?

— Todos, eu te liguei o dia inteiro, você poderia ter se divertido comigo e outra, essa boate pelo que eu sei é para o público gay, não dava para se divertir no cinema?

— Não.

— Vamos embora.

Gisele pegou na mão de Aninha e saiu praticamente arrastando a loira do estabelecimento.

*******************

Adriana saiu da boate quase correndo, sem saber o que ia dizer para as amigas que a esperavam do lado de fora. Ela estava fascinada com Ana Paula, aquele rosto angelical e ao mesmo tempo sedutor a encantou, e o beijo, ah como o beijo era delicioso, perfeito, os lábios pequenos e macios que fizeram com ela visitasse o paraíso, suas mãos que a embalaram durante a noite, e ela também caiu em si, que nem tinha deixado nenhum contato com Ana e nem pedira seu telefone. Aquele torpor que tomava seu corpo perdeu um pouco a força com a chance de nunca mais encontra-la, e ela foi retirada desse pensamento pela voz de Paula.

— Adriana!

— Oi Paulinha, cadê Ale?

— Está vomitando atrás do carro.

— Ai, que nojo. Vocês beberam o que, gasolina?

— Não sei, só sei que estou muito bêbada pra dirigir.

— Eu já até curei o meu porre.

— É, eu percebi, bem vinda ao meu mundo.

— Não é nada disso Paula.

— Como não? Eu vi você agarrada no pescoço daquela loiraça e você me diz que não é nada disso?

— Ai, o que eu fui fazer?

— Você começou a se divertir amiga.

Saiu rindo a deixando completamente sem graça.

Adriana foi atrás da amiga para resgatar Alessandra que estava em maus lençóis passando mal de tanto beber tequila.

Resolveram ir pra casa no carro de Adriana, que já estava melhor e quando esta manobrava na rua ao lado, viu Ana Paula passando de mãos dadas com uma mulher alta e muito magra, os cabelos claros eram encaracolados, estavam presos em um coque, as roupas casuais não sugeriam que ela estava na boate, Adriana não acreditou no que via, até com as mulheres ela tinha se encantado com uma cafajeste, e onde essa menina estava a noite inteira?

Adriana arrancou com o carro e passou bem perto das duas que andavam na rua.

***************

 Ana Paula viu que era Adriana e na mesma hora soltou a mão da outra que se assustou com a atitude da garota.

— O que foi Ana Paula?

— Nada.

— Soltou minha mão por quê?

— Por nada, o que foi Gisele? Já vai começar a me estressar?

— Eu saí de casa de madrugada pra vir aqui atrás de você e você me trata assim?

— Eu não pedi pra você sair de casa, você veio porque você quis, na verdade você veio porque queria ter certeza que eu não iria sair daqui com ninguém.

— Você não tinha nada que ter vindo pra cá sozinha. Você saiu às escondidas e eu só descobri por acaso, nós vamos conversar sobre isso.

Ana Paula entrou no carro bufando, estava insatisfeita com o final de sua noite, no caminho foi pensando em como sua vida chegou àquele ponto. Gisele é sua “namorada”, na verdade um relacionamento um tanto estranho, elas se conheceram em um bate papo, ambas curiosas sobre a vida sexual entre mulheres, Ana Paula já havia ficado com algumas meninas, mas nada muito sério, Gisele é casada com um homem, e tinha curiosidade em ter relações com mulheres, as duas começaram a conversar sobre o assunto e acabou rolando entre elas, o marido de Gisele não sabe ainda, pensa que são apenas boas amigas. E a relação das duas ficou tão intensa que elas são como namoradas, mas a única que de costume oferece fidelidade é Ana Paula, já que a Gisele divide o tempo dela entre o marido e ela.

Isso tem deixado Ana muito chateada, pois é cobrada por fidelidade, e a Gisele é bem ciumenta, mas ela própria não oferece em troca, elas tem passado por algumas crises por causa dessa condição imposta pela Gisele, e Ana não é cafajeste como pareceu para Adriana, ela sempre se manteve na linha, mas com Adriana nem ela conseguia explicar o que aconteceu, a atração foi tão forte que ela não resistiu e teve que sentir aquela mulher em seus braços.

Ela sabia que a madrugada estava apenas começando, já que Gisele faria um escândalo, ficaria discutindo a relação até de manhã, imaginava o que Adriana estaria pensando ao seu respeito quando a viu sair com o carro daquela maneira ela sabia que a morena avistara as duas de mãos dadas, e se sentiu a pior das mulheres, ela sabia que agira errado, mas não conseguia explicações para ter cedido à tentação de ficar com Adriana.

Gisele dirigiu até sua casa em Ipanema, considerando que o marido estava viajando a trabalho, elas ficariam sozinhas, e começou a questionar Ana Paula.

— Agora me fala por que você desligou o celular?

— Porque eu não queria isso hoje. –Ana fez um gesto com as mãos indicando a situação em que se encontrava-

— Você não queria me encontrar, isso sim.

— Olha só Gisele, do jeito que você está agindo não vai demorar muito pra isso acontecer.

— Ana Paula o que você está querendo dizer?

— Que eu não aguento mais essa situação Gi, ter você e não ter ao mesmo tempo, ficar presa dentro de casa porque você não quer que eu saia, mas em contrapartida você está por ai pagando amor com o seu marido, tem piedade de mim, é muita tortura.

— Mas eu sou casada e você sempre soube disso.

— Sim, e é por isso que você não poderia me cobrar exclusividade, eu não posso ser sua se você não é minha, eu quero alguém que seja só minha.

— Mas eu te amo!

— Não parece, quer saber, eu estou cansada disso, como você descobriu que eu estava lá na boate?

— Isso não vem ao caso.

— Claro que vem, por acaso você colocou algum detetive atrás de mim? Daqui apouco eu vou cagar e você vai saber só pelo cheiro.

— Não fala assim comigo.

— Por quê? O que você vai fazer? Nada, você não faz nada, fica nessa vida de chove e não molha me enrolando e enrolando o coitado do Bruno.

— O que você quer que eu faça?

— Que você se decida, ou se separa dele ou termina comigo, você tem que escolher um de nós.

— Eu não posso fazer isso.

— Qual é a dificuldade?

— Eu amo você, mas ele faz parte da minha vida, eu não posso deixá-lo.

— Então eu vou deixar você, pra mim chega, fica mais fácil assim?

— Não Ana, não faz assim, não fala uma coisa dessas.

— Gisele não dá mais, acabou.

— Espera, vamos terminar essa conversa amanhã, com a cabeça mais fria, já é madrugada, e você não pode sair daqui assim, dorme aqui comigo e de manhã nós conversamos.

— Eu vou ficar por causa da hora, mas eu vou dormir no sofá.

Ana Paula saiu batendo a porta do banheiro e deixou Gisele em pé na sala olhando pro nada, tomou um banho pra esfriar a cabeça e só saiu do banheiro quando escutou a porta do quarto ser fechada. Foi pra sala e deitou-se no sofá enrolada em um roupão de Gisele, e o seu pensamento estava longe dali, mesmo depois de toda a discussão com a namorada, Ana só conseguia pensar em Adriana, onde ela estaria, o que estaria fazendo, e o que ela estaria pensando a seu respeito, ela ainda podia sentir o perfume de Adriana o que lhe aguçava os sentidos, e arrependeu-se amargamente de não ter pego nenhum contato com a morena.

Depois de repassar sua noite e pensar no que faria com o seu relacionamento conseguiu pegar no sono enquanto os raios do sol penetravam no ambiente, amanhecendo um novo dia na vida da advogada.

**************************

Enquanto Alessandra estava apagada no banco de trás do carro, Paula tentava entender o rompante da amiga ao sair com o carro, considerando que Adriana é uma pessoa absolutamente calma no volante, ela nunca havia visto a amiga arrancar daquele jeito.

— Adriana, o que aconteceu pra você sair daquele jeito com o carro? Você está bem pra dirigir?

— Estou Paula.

— Menina, conta pra mim, eu quero saber de tudo, como foi sua primeira noite com uma mulher? Ela é linda hein!

— Não quero falar sobre isso.

— Ai, o que foi? O que aconteceu?

— Paula, por favor, podemos conversar amanhã?

— Tudo bem.

Paula se limitou a olhar as ruas vazias pela janela do carro, enquanto Adriana repassava todos os acontecimentos daquela noite.

Seu primeiro beijo em uma mulher, ela ainda podia sentir os lábios quentes de Ana Paula em sua boca, lembrava-se dos toques suaves das mãos firmes a segurando pela cintura e tomando sua boca de assalto no banheiro, e apenas de lembrar seu corpo arrepiava inteiro, ainda podia escutar a frase sussurrada em seu ouvido: “… agora você está nos braços certos.”. Para em seguida ter mais uma decepção, ver a mulher que a enlouqueceu de mãos dadas com outra saindo da boate. Ela não conseguia entender de onde surgira aquela mulher alta e esguia, loira também, mas com os cabelos bem enrolados, muito magra, ela não estava arrumada, portanto não poderia estar dentro da boate, e por que elas estavam de mãos dadas?  Ela não conseguia assimilar como aquela mulher tão linda e envolvente poderia ter se prestado a esse papel, ter outra pessoa e mesmo assim ter ficado com Adriana.

Todas dormiram na casa de Paula, que é mais perto do centro, o carro de Alessandra ficou na Lapa, visto que apenas Adriana estava em condições de dirigir às quatro da manhã. Depois do inicio de conversa no carro, o percurso foi todo em silencio, inclusive a chegada em casa, foi difícil carregar Alessandra para o apartamento no quarto andar, ela estava completamente apagada, e não acordou quando chegaram à garagem do prédio. O único momento de conversa foi quando Paula deixou o celular cair dentro do carro e não conseguia encontrar, fez Adriana parar o carro no meio de Copacabana para procurar.

— Amiga, eu perdi o meu celular.

— Onde?

— Aqui no carro.

— Então não perdeu, ele só caiu.

— Mas eu não consigo achar, para o carro!

— Aqui? Nós já estamos chegando.

— Para Adriana, eu quero pegar o meu celular.

— Que merda Paula, sossega essa bunda ai.

— Se você não parar eu vou abrir a porta assim mesmo.

— Ai cacete, por que bêbado só faz merda?

Adriana parou o carro próximo ao meio fio e Paula saiu do carro com alguma dificuldade, ela estava um pouco tonta e abaixou para procurar o celular. Adriana não se conteve e acabou rindo da amiga, que já estava descalça, com a bunda para cima no meio de Copacabana catando o celular debaixo do banco do carro.

— Eu mereço.

Finalmente Paula localizou o aparelho e voltou para o carro, Drica voltou a dirigir para casa.

Depois de meia hora para vencer o espaço entre o carro e o apartamento, as três conseguiram finalmente entrar em casa. Paula se encarregou de acomodar Alessandra consigo, e Adriana já estava acostumada a dormir no sofá-cama do escritório, já tinha roupas no armário, e ela foi tomar uma ducha pra deitar, sua cabeça estava a mil por hora, e ela não sabia se era por causa do energético que bebeu, ou por causa da loira que tirou o seu folego aquela noite, mas ela estava completamente sem sono. Rolou na cama até o dia amanhecer tentando colocar os pensamentos no lugar.

Bem cedo Adriana já estava na cozinha preparando um café, sentia o corpo dolorido e cansado por não ter dormido nada. Sentou-se na rede que tem na sacada do apartamento e ficou ali, pensativa sorvendo uma xícara de chocolate.

Ouviu passos pela sala e imaginou que uma das amigas havia acordado, permaneceu ali esperando a aproximação de uma delas. E quem se sentou na cadeira ao lado da rede foi Alessandra com cara de ressaca e o cabelo todo revoltado.

— Bom dia.

— Só se for pra você.

— Minha nossa, a primeira ferradura do fim de semana, eu não tenho culpa se você pensou que era o fim do mundo ontem e resolveu provar todas as garrafas de tequila do bar.

— Desculpa amiga, é que minha cabeça está parecendo uma escola de samba.

— Então começaremos novamente.

— Bom dia.

— Bom dia.

Alessandra esboçou um sorriso forçado, e Adriana não conseguiu conter o riso, quando foi alvejada por uma almofada. Mesmo sem querer, Alessandra acabou rindo também, e as duas ficaram por ali contemplando o amanhecer.

— Eu achei que depois do porre de ontem você só acordaria daqui a um mês.

— Eu senti o cheiro do café.

— Entendi.

— E você, hein! Bem vinda ao nosso mundo. Pegou uma loiraça ontem!

— Ai, eu não quero falar nisso.

— O que foi? Não gostou?

— Gostei, quer dizer, eu não sei, é que isso ainda precisa ser processado.

— Adriana deixa de ser tão metódica com as coisas, beijos e abraços não precisam ser processados, ou você sente ou você não sente. Não é um trabalho ou coisa parecida.

Adriana não soube o que dizer, ela considerava que precisava assimilar a situação tão nova pra ela, e não queria dizer ainda que havia gostado de estar com outra mulher, principalmente depois da cena presenciada no estacionamento.

— E então, o que você sentiu?

— Eu não sei te dizer, foi algo novo, eu realmente preciso de um tempo pra assimilar essa experiência.

— Nossa Senhora das mulheres racionais, como você é complicada, virou cientista agora? “Assimilar essa experiência”! Eu hein!

Alessandra saiu da varanda resmungando sozinha e Adriana não pode deixar de rir da situação da amiga, Paula ainda dormia pesado, e o cansaço da noite anterior começou a abater a menina na rede, esta pôs a caneca no chão e recostou na rede, o balanço suave com a brisa fresca da manhã a fizeram adormecer.

Ela não sabia dizer exatamente quanto tempo conseguiu dormir, mas quando acordou já estava bem quente e ouvia as duas amigas conversando dentro da sala. Ela levantou-se e foi ao encontro das duas.

— Olá bela adormecida, tentamos te acordar duas vezes, parece que o efeito do energético passou e você dormiu com força.

— Que horas são?

— Onze horas.

— Nossa, eu dormi demais, ainda vamos para a praia?

— Claro, estávamos esperando apenas você acordar.

— Então vamos porque eu preciso de um banho de mar.

Adriana foi para o chuveiro tomar uma ducha pra acordar, trocou de roupas e apareceu na sala para saírem para a praia.

— Vamos?

— Só se for agora!

Desceram para pegar o carro, e Alessandra levou um susto com a falta do carro na garagem.

— Ué, gente cadê meu carro?

— Ih amor, não temos uma noticia muito boa pra te dar.

— O que foi?

Adriana já ria por dentro, sabia que Paula iria tirar um sarro com a bebedeira de Ale, e já estava se preparando pra entrar no jogo dela.

— Drica nos trouxe no carro dela, quando saímos da boate vimos o seu carro amassado.

— Amassado? Como assim amassado? Alguém bateu no meu carro?

— Um caminhão.

— O que?

Alessandra já estava desesperada, ela era apaixonada pelo carro que ainda pagava prestações do possante.

— Como um caminhão bateu no meu carro?

— Batendo ué, nós não conseguimos trazer porque ainda não tinham tirado o caminhão de cima dele.

— Meu pai!

Alessandra já estava sentada no banco do carro, e Adriana vendo o seu desespero, não quis mais prolongar o susto.

— Ai gente, vocês me matam. Ale, seu carro está no mesmo lugar, só ficou lá porque você estava muito bêbada pra dirigir. Relaxa, vamos voltar lá pra pegar depois da praia.

— Paula! Você realmente me ama? Ficam me dando esses sustos.

— Calma Ale, é pra você aprender a não beber mais daquele jeito.

— Nossa, mas isso foi cruel.

Ale já estava chorando, e Paula até ficou com um pouco de pena, Drica colocou todas no carro e as amigas partiram para Copacabana, o dia estava lindo, merecia mesmo uma boa praia.

Depois de chegarem e conseguirem um pedacinho de areia que já estava escasso pelo horário, elas acomodaram as cangas e Drica foi dar um mergulho pra esfriar a cabeça, a imagem de Ana Paula estava tatuada em seus pensamentos e ela precisava esquecer a loira que lhe tirara a razão.

Sentada na areia novamente as amigas não conseguiram mais segurar e resolveram interrogar Drica sobre a noite anterior.

— Drica, agora chega desse voto de silencio, já passou da hora de você contar o que aconteceu.

— Eu hein, vocês beberam muito mesmo, já esqueceram o que aconteceu? Eu achei que vocês tinham visto.

— Paula eu vou bater nela.

— Bate amor, eu ajudo, não seja cínica, nós vimos o ato, mas eu quero saber como foi.

— Ai gente, eu vou mesmo ter que falar isso?

— Agora, senão eu te afogo no mar de Copa.

— Putz vocês são foda. Eu beijei uma mulher ué, e daí? Deveria ser super normal para as duas.

— Para nós é, mas sendo você, não foi. E ai o que você sentiu?

— Ai Paula, eu gostei, foi maravilho, ela é linda e não sai da minha cabeça desde que ela me agarrou no banheiro. Pronto falei.

— Uhuuuu. Eu sabia que você estava fazendo cera para falar porque tinha gostado, até que enfim.

— Nossa amiga desencalhou, Ale.

— Espera ai, eu não estou namorando ninguém, eu só beijei na boca, mais nada.

— Mas você pegou o telefone dela pra marcar de novo.

— Não.

— Eu não acredito. – Alessandra levou as mãos na cabeça e mostrava indignação-

— Nossa amiga é muito tapada mesmo.

— Ai gente foi tudo muito rápido, eu nem me lembrei de pegar telefone, e também, acho que ela me daria o numero errado.

— Por que aquele anjo que caiu do céu te daria o numero errado?

— Por que ela tem outra pessoa.

— O que?

— Como você sabe? Ela te contou?

— Não, quando estávamos saindo com o carro, ela estava saindo da boate de mãos dadas com outra mulher.

— Por isso que você saiu arrancando daquele jeito. Eu achei estranho mesmo, você não é assim.

— Eu fiquei arrasada, ela me pediu para não ir embora com vocês, e dez minutos depois estava com outra. Onde aquele boneco de Olinda estava escondido a noite toda?

Adriana falava para as amigas como se estivesse se perguntando, olhava para o mar tentando achar alguma explicação para o desfecho daquela noite, mas não conseguia.

— Poxa amiga, relaxa, como você mesma falou, você só beijou na boca, não aconteceu mais nada.

— Eu sei, é que essa mulher mexeu comigo. Alguma coisa mudou em mim.

Paula e Alessandra ficaram surpresas com a constatação da amiga, que parecia se dar conta do quanto Ana Paula havia mexido com os seus sentidos, e sem opinar, resolveram apenas deixar que Adriana permanecesse pensando enquanto comtemplava o mar de Copacabana, o céu limpo e ensolarado, dava um tom azulado na água e hipnotizava a morena.

********************

Em Ipanema por volta das dez horas da manhã, Ana Paula abria os olhos enquanto espreguiçava-se no sofá. Ainda preguiçosa avistou o dia ensolarado através da janela da sala, a primeira imagem que surgiu em sua mente foi o rosto de Adriana decepcionada dentro do carro, seu ultimo encontro com a morena.

— Bom dia meu amor!

Gisele apareceu da cozinha com uma bandeja nas mãos como se nada tivesse acontecido, e Ana levou um grande susto.

— Meu pai do céu, Gisele, você me assustou, de onde você surgiu?

— Da cozinha meu bem.

— Ai Gisele, é melhor você parar com esse ar de quem não sabe o que está acontecendo porque nós não estamos bem.

— Ana, você não precisa ficar alterada dessa maneira, nós vamos conversar e nos entender.

— O que você vai falar pra mim? Eu só vou me entender com você se o Bruno sair da sua vida.

— Ana olha pra mim, eu vou dar um jeito nisso, eu vou conversar com ele. E depois viveremos nossa vida.

— Gisele você não está me enrolando não, hein.

— Não, dessa vez eu vou conversar com ele e eu te falo durante a semana, agora vem aqui que eu estou morrendo de saudades de você.

Ali mesmo na sala, Gisele tomou Aninha em seus braços e projetou seu corpo sobre a loira, que diante das promessas da namorada, cedeu aos seus caprichos fazendo amor ali mesmo no sofá, seus corpos quentes ao se tocarem exalavam desejo, a língua ágil de Gisele passeava pelo corpo seminu de Ana Paula, que gemia e se contorcia enquanto a outra despia o restante das roupas que as atrapalhava, Ana Paula segurava os cabelos de Gisele e indicava o caminho a ser percorrido, enquanto a outra lhe penetrava dois dedos levando-a a loucura, com movimentos regulares ela chegou ao orgasmo loucamente, seu corpo estava desejando por aquela sensação, Gisele deitou-se ao seu lado e beijava-lhe a boca sussurrando juras de amor ao seu ouvido, e elas se amaram novamente levando o prazer para o corpo da Gisele.

Já no quarto, Ana se questionava se Gisele estava falando a verdade, ou se seria mais uma tática para prender a loira por mais algum tempo.

As duas passaram o dia juntas e no final da tarde Gisele deixou Ana voltar pra casa sozinha porque o marido chegaria e ela não poderia leva-la pra Niteroi.

–Poxa Gisele, eu vou pra casa de ônibus? Você foi me buscar lá dentro da boate e agora não pode me levar de volta, você sabe que o meu carro está na oficina.

— Ana Paula, o Bruno chega daqui ha uma hora, eu ainda preciso arrumar as coisas que nós bagunçamos e tomar um banho pra esperar por ele. Não vai dar tempo.

— Deu pra perceber o quanto as coisas vão mudar pra nós duas.

— Ei, minha linda, eu prometo que tudo mudará, só que eu preciso de um tempo pra fazer tudo acontecer.

— Tudo bem, eu vou embora então.

Ana despediu-se de Gisele amargando um gosto de ilusão na boca, percebeu que havia se entregue novamente à mulher que tanto lhe magoava, mas ela não conseguia se libertar daquele amor e já esperava que as promessas não fossem ser cumpridas.

Tomou o caminho para o ponto de ônibus imaginando como deixara sua vida chegar a esse ponto, apaixonada por uma mulher casada que a fazia de gato e sapato, e a tinha nas mãos, era apenas falar mansinho e fazer algumas promessas que ela voltava pra namorada, mesmo sabendo que ela sofreria novamente mais tarde.

****************

No fim do dia as três amigas foram para a Lapa pegar o carro de Alessandra na rua da boate. Adriana estava rumando pra casa e deixaria as amigas no local.

— Vocês estão entregues, tentem não perder o carro da próxima vez.

— Nós não o perdemos, apenas o deixamos para trás.

As três riram da situação, Drica despediu-se e rumou para casa, não queria saber de badalação naquela noite, decidiu que pediria uma pizza e ficaria assistindo algum filme na TV.

Enquanto dirigia imaginava por onde andava Ana Paula, o que a loira estava fazendo, se estava nos braços da outra, e se algum dia a encontraria novamente.  O mesmo fazia Ana Paula ainda no Rio, olhando a paisagem da Lagoa de dentro do ônibus, enquanto voltava para casa. Desejava reencontrar Adriana, aquela mulher linda que lhe tirara a razão. Ana decidiu passar na casa de Isadora antes de ir pra casa, ou até mesmo dormir por lá e ligou para a amiga.

— Alo.

— Isa?

— Oi Aninha, você está bem?

— Estou bem sim. Você vai ficar em casa hoje?

— Vou. Você está aonde?

— Eu estou voltando da casa da Gisele, de ônibus, e pensei em passar ai antes de ir pra casa.

— É claro! Pode vir pra cá, nós podemos pedir uma comida japonesa e ficamos em casa. Nathalia está vindo pra cá.

— Poxa Isa, Nathalia está indo pra sua casa, eu vou ficar segurando vela, eu não vou mais não.

— É claro que vem, você está onde, Ana?

— Passando pela Lagoa, por quê?

— Espera um pouco na linha.

Depois de alguns minutos Isadora volta a falar com Ana.

— Amiga, desce no Centro do Rio que Nathalia vai te trazer, ela vai te ligar pra te dizer onde ela está.

— Isa, não precisa.

— Para de graça, já está combinado, você vem pra cá. Beijos.

— Tudo bem, beijos.

E assim foi feito, Ana encontrou com Nathalia no centro, e as duas foram para o apartamento de Isa, ao mesmo tempo em que Adriana entrava em casa.

Pitty já veio para as suas pernas pedindo comida, e Drica pegou a pequena no colo para fazer um carinho, colocou a alimentação da cadelinha e a deixou comendo, jogou o corpo no sofá e fechou os olhos por algum tempo, estava cansada, da noite mal dormida e da praia na sequencia.

Resolveu levantar, antes que pegasse no sono, ali mesmo cheia de areia e sal, sem banho e sem comida. Depois do banho pediu a pizza e ficou esperando o entregador, enquanto zapeava a TV com o controle procurando algo que prendesse sua atenção, mas parece que até a programação da TV conspirava contra ela, e quase todos os canais passavam filmes românticos com loiras de olhos azuis.

— Adriana se liga, essa vida não é pra você.

Por fim, pegou seu notebook e foi pra cama, imaginando que a internet poderia ajudar com algo interessante, mas o cansaço a venceu e Drica pegou no sono, dormindo até o dia seguinte.

*************

— Isa olha quem eu reboquei lá no Centro?

— Oi amiga, eu fiquei preocupada ontem, quando aquela maluca foi te buscar na boate.

— Ai amiga nem me fala, minha madrugada foi um caos.

— Falando em madrugada, que historia foi aquela de ter beijado outra mulher?

— Nathalia a historia é longa.

— Temos a noite inteira meu bem.

Ana vencida pelas amigas resolveu passar a noite com elas, considerando que a menstruação de Isadora atrapalhou os planos das namoradas, e contou o ocorrido.

— Nossa, Aninha, que loucura, e você a agarrou assim, do nada dentro do banheiro?

— Sim, nossa, que vergonha, mas eu não consegui resistir, tinha alguma coisa nela que me puxava feito um íman, ela é linda.

— Eu juro que estou muito surpresa. Mas e depois, você pegou o telefone dela?

— Não, não deu tempo. Foi embora sem deixar nenhum contato.

— Ih amiga isso está muito complicado. O que importa é que você descobriu que existe vida sem Gisele.

— É, mas não adianta, parece que eu viro outra pessoa quando eu estou com ela, Gisele me domina, é como se ela tivesse um controle remoto que me guia, sabe.

Com essa constatação Ana Paula ficou com o olhar fixo em um ponto da sala da amiga, pensava como fazer para se libertar dessa prisão que era o seu relacionamento com Gisele e descobrir novas pessoas, ou uma em especifico que não saia de sua cabeça.

Mal poderia imaginar que o objeto de seu desejo estava a uma quadra do apartamento de Isadora, tão perto e ao mesmo tempo tão longe, as duas mulheres estavam vivendo momentos semelhantes, mas com sentimentos muito diferentes.

Adriana estava muito bem profissionalmente, com as sócias, mas em seu intimo sentia um vazio enorme por estar sozinha e ter perdido a confiança nas pessoas a deixou amargurada e solitária, estava vivendo dias difíceis trancada em seu apartamento sem ter vontade de buscar a libertação dessa clausura que ela mesma havia imposto.

Ana Paula também estava muito bem na profissão, mas a vida pessoal estava bagunçada, o que tirava a advogada do prumo, ela tinha alguém, mas sentia-se tão sozinha quanto Adriana, queria mesmo se desprender daquele amor servil, mas o que lhe restava eram apenas idas e vindas sem nenhum futuro.

Ambas desejavam um amor tranquilo e sereno, sem fronteiras, sem limites, confiável e sustentável, ambas esperavam por esse amor, que avassalaria suas vidas e as tornariam pessoas mais felizes e realizadas, e enquanto esse amor não as encontrava, cada uma seguia com sua rotina e criava suas expectativas, até o destino começar a agir.



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