Mais uma semana passava como todas as outras, Adriana trabalhando muito, e Ana Paula dividindo o seu tempo entre tentar trabalhar e administrar os telefonemas de Gisele era um triatlo diário entre e-mails, torpedos e ligações.

Durante toda a semana, ambas pensaram naquela noite em que se conheceram, e desejaram um reencontro, cada uma com sua intenção, Ana queria rever e saber um pouco mais sobre a linda morena que lhe chamou tanto a atenção e Adriana querendo descobrir qual era a relação da loira com a mulher alta que estava com ela na rua da boate.

Sexta-feira Adriana preparava alguns documentos para entregar a um cliente quando Alessandra levantou a chamada para a noitada.

— E ai, meninas, aonde nós vamos hoje?

— Nossa, você não aprendeu mesmo não é, já quer sair pra encher a cara de novo.

— Drica, você parece que não conhece sua amiga, essa ai se deixar sai todo dia, eu que seguro a onda dela.

— O que seria da minha vida sem você meu amor? – disse Ale dando um beijo em Paula-

— Seria farra e orgias todos os dias. – Adriana não conteve o comentário. –

— Hum, acho que eu vou te dar um pé na bunda então Paulinha.

Todas riam descontraídas. Quando Paula sugeriu a mesma boate da semana anterior.

— Podemos voltar na boate de semana passada, como é mesmo o nome?

— Extreme.

— Isso mesmo, vamos?

— Ai meninas, eu não estou com disposição para baladas. Eu vou para casa.

— Mas não vai mesmo! – Ale já estava pulando da mesa e sentou à mesa de Drica-

— A senhorita vai conosco.

— Como você quer desencalhar sentada em casa assistindo Shrek e o gato de botas?

— Ei, qual é o problema com o Shrek? Eu gosto, ué.

— O problema é que você precisa encontrar o seu príncipe encantado e ele não é o entregador de pizza que você chama todo o final de semana.

–Como é que você sabe do entregador de pizza?

Risos intensos na sala.

— Ale, corrija a sentença, devemos acrescentar que agora ela também pode encontrar a Fiona dos seus sonhos.

— Ih gente, para com isso, agora vocês vão me gastar com isso o resto da minha vida não é.

— Deixa-me pensar um pouco: sim.

— Se não tem outro remédio, eu vou.

— Você não resistiu tanto porque quer tentar encontrar certa loiraça na boate. Você pensa que me engana?

Alessandra era a que sempre levava tudo na sacanagem.

— Ai Ale, me esquece.

As namoradas começaram a rir da amiga, mas no que Alessandra falou tinha sim um fundo de verdade, sua vontade era de encontrar Ana Paula e conversar com ela, e só de pensar nessa possibilidade, sua pele arrepiava.

*******

Ana Paula acordava para outro dia de batente, como de costume seu celular estava tocando e ela sabia que já era Gisele batendo o primeiro ponto do dia.

— Alo.

— Oi meu amor, bom dia!

— Bom dia.

— Eu te acordei?

— Não, essa voz é de gripe.

— Ontem você estava tão bem.

— Eu estou bem Gisele, é lógico que você me acordou, hoje eu não precisava chegar tão cedo e eu te avisei que eu iria levantar mais tarde.

— É verdade, eu esqueci, é que eu já estou com saudades.

— Gisele, são sete horas da manhã, vai dormir.

— Eu não estou com sono, é assim, eu te ligo para te dar bom dia e você me recebe com esse mau humor todo.

— Gisele, eu acordo cedo todo dia, hoje eu ia dormir até mais tarde, e você me acordou para dar bom dia, não dava pra esperar até as nove?

— Tudo bem Ana Paula eu te ligo depois das nove então.

Desligou na cara de Ana Paula sem se despedir, e a loira permaneceu deitada na cama de olhos fechados pensando se estava sonhando ou se era realidade, a outra ligou cedo a acordou e ainda desligou o celular ofendida, ela já estava ficando sem forças para lutar por esse amor, o problema era que quando estavam juntas o seu corpo acendia e o coração burro cedia aos caprichos da namorada.

Já que já estava acordada, resolveu levantar e adiantar a rotina do seu dia resolveu ir cedo para o escritório o que causou surpresa às assistentes.

— Bom dia.

— Bom dia, eu achei que você só viria mais tarde.

— É, mas eu resolvi adiantar algumas coisas.

— Então já que você chegou, nós temos um novo cliente, eu marquei com ele às onze horas, mas como você já está aqui, não quer que eu tente adiantar?

— Perfeito Claudinha, pode fazer isso sim, liga pra ele e pede pra vir às dez horas.

— Vou ligar agora.

E assim foi feito, às nove horas, em ponto, o celular tocou e era Gisele, Ana Paula bufou e resolveu atender para não causar nenhum mal estar, senão seria muito pior.

— Alo.

— Oi Ana, já está acordada agora?

— Estou né Gi, eu estou falando com você, o que foi, vai brigar comigo de novo?

— Não, já passou, você está fazendo o que?

— Eu estou no escritório.

— Mas você não falou que só iria mais tarde?

— Falei, mas como você me acordou cedo eu resolvi trabalhar.

— Entendi, olha só, hoje à noite eu vou pra sua casa.

— Como assim?

— Bruno vai pra casa dos pais e eu inventei um mal estar para não ir junto, então eu ficarei livre no fim de semana.

— Eu pretendia descansar hoje.

— Não tem problema, pedimos pizza e ficamos em casa assistindo filme.

— Tudo bem, então.

— Beijo.

Gisele desligou o telefone e Ana até pensou que seria uma boa, teria Gisele o fim de semana inteiro pra ela.

O dia correu normalmente, e antes do expediente terminar, Isadora apareceu para visitar a amiga.

— Isa, você está perdida por Itaipu?

— Não amiga, eu vim em um dentista aqui no shopping e resolvi passar pra te ver.

— Que bom, senta ai, você quer beber alguma coisa?

— Não obrigada. E ai qual é a boa pra hoje? Vamos a Extreme?

— Não vai dar Isa, a Gisele vem pra passar o fim de semana comigo.

— Entendi.

— Ué, não vai ter nenhum comentário ou piadinha sobre ela?

— Não amiga, eu desisti, não adianta tentar te mostrar o óbvio se você não quer enxergar, então eu resolvi apenas observar, quando chegar a hora certa você vai me dizer: “é Isa, bem que você me avisou”.

— Cruzes, Isa, eu hein.

— É sério, você está deixando a vida passar por você, e está vivendo a vida de outra pessoa, abre o olho enquanto é tempo, depois você pode se arrepender.

Ana ficou apenas observando Isadora que terminava de falar, ela sabia que Isa tinha razão, só não conseguia caminhar contra esse sentimento que ela nutria por Gisele, dando-se por vencida sempre permanecia sendo a outra na vida dela.

— Bom, já que você não vem conosco, eu vou embora pra descansar até Nathalia chegar.

— Tudo bem, amiga. Tchau.

— Tchau.

*************

Adriana e suas amigas já se divertiam na boate, entre drinks e guaranás, Alessandra ficou de motorista da rodada depois do ultimo vexame. As amigas estavam descontraídas conversando e Adriana passava boa parte do tempo analisando o local, prestava mais atenção em quem estava passando do que no assunto da rodinha.

— Você está procurando alguém? –perguntou Alessandra com ar de zoação-

— Não, eu estou só vendo se encontro alguém interessante.

— Eu sei, certa loira de olhos azuis…

— Ai Ale, tenta esquecer isso.

— O que foi? – perguntou Paula vendida no assunto-

— Paulinha beija sua mulher, porque ela está imaginando coisas, mantenha Alessandra ocupada.

— Eu só perguntei se ela estava procurando alguém.

— Deixa a menina, aproveita e vai buscar cerveja pra gente.

— Nossa, isso é pura maldade, pedir pra eu ir buscar cerveja sem estar bebendo.

— Ninguém mandou fazer vergonha semana passada, você está de castigo.

Paulinha deu-lhe um beijo e Alessandra fez uma careta e foi até o bar buscar bebida enquanto Adriana continuava com a cara de decepção a cada pessoa diferente que entrava na boate e não era Ana Paula.

Paula percebeu e no alto da sua sensatez tentou aconselhar a amiga.

— Drica, você realmente está esperando por ela não é?

— Eu não consigo te enrolar não é mesmo?

— Não, diz pra mim, o que está acontecendo?

— Eu não paro de pensar nela o tempo todo, ela não sai da minha cabeça e eu preciso saber quem é aquela mulher que estava de mãos dadas com ela. Ela não me pareceu canalha a esse ponto.

— Amiga, não dá pra conhecer as pessoas no primeiro contato, como você sabe que ela não é canalha? Foi você mesma quem viu a cena na rua.

— Eu sei, mas eu vi o olhar dela, ela não é assim.

— Tudo bem, se é o que você diz, mas é melhor você relaxar, talvez ela nem venha hoje e você pode se decepcionar, afinal vocês não pegaram contato nenhum.

— Eu saí correndo quando ela perguntou se poderia me ver novamente, eu fiquei com medo e larguei a coitada falando sozinha.

— Você quem sabe, se precisar, conversar eu estou sempre à sua disposição.

— Obrigada amiga.

Nesse momento surge Alessandra com as bebidas nas mãos e duas mulheres a seguindo.

— Amor olha só quem eu encontrei no bar.

— Quem?

— Eu esqueci que você não é dessa época. Encontrei uma amiga que estudou comigo no segundo grau, deixa eu te apresentar. Nathalia, essa é minha esposa, Paula e nossa melhor amiga, Adriana. Meninas, essa é Nathalia e a namorada dela, Isadora.

— Prazer.

Todas se cumprimentaram e permaneceram próximas conversando e trocando amenidades, relembrando os velhos tempos, e o destino não poderia ser mais justo, aproximando as amigas de Ana Paula com Adriana e as meninas, muita coisa ainda vai acontecer.

— Vocês estão sozinhas?

— Estamos, tinha mais uma amiga pra vir conosco, mas ela desistiu.

— Entendi, que pena, sua amiga é solteira? Por que nós estamos tentando desencalhar a nossa amiguinha aqui, quem sabe não poderíamos apresenta-las.

Alessandra apontava para Drica que a repreendia com uma cruzada de braços e uma careta, não houve situação diferente, a não ser caírem todas na gargalhada, e isso porque Alessandra bebia refrigerante.

— Mentira dela, gente, por favor, não levem a serio o que ela diz, ela não é normal. — Revirou os olhos —

— Relaxa, eu já conheço a Ale de outros carnavais, e sempre foi assim.

— Mas eu não estou mentindo, ela é hétero, mas semana passada uma loiraça fez as honras da casa e desvirginou a Drica no quesito mulheres, e hoje ela está ai caçando a mulher que nem uma doida.

— Alessandra! Qual é, guarda essa língua dentro da boca, eu não estou te entendendo. Eu vou pegar mais cerveja.

Adriana saiu da mesa em direção ao bar e deixou as meninas meio perdidas.

— Eu hein o que eu falei?

— Você não sabe mesmo não é amor? Como você é sem noção.

— Você disse uma loiraça?

— É Isadora, linda, Drica ficou toda derretida, só que a boba não pegou o telefone dela, deixou aquele peixão escapar… Ai.

Paula deu um beliscão na costela de Alessandra.

— Que isso amor?

— Isso é pra você aprender a não reparar tanto nas outras mulheres.

— Mas eu só tenho olhos pra você meu amor!

— Deu pra perceber, um peixão não é? E eu achando que você não estava mais enxergando nada.

— Que isso Paulinha, a loira é da Drica.

Adriana estava fula da vida, Alessandra não perdia a mania de falar demais, mas o que ela não queria era dar o braço a torcer e dizer que sim, ela estava procurando Ana Paula pela boate inteira, mas pela hora ela não deveria aparecer mais, resolveu deixar o tempo se encarregar de fazê-la esquecer dessa experiência e encontrar um caminho para seguir.

Drica voltou do bar com um balde cheio de latinhas de cerveja e energético, colocou sobre a mesa e ofereceu a todas.

— Meninas ia ficar muito complicado trazer na mão então trouxe logo um balde.

— E eu? Eu não estou bebendo.

— Ao contrário de você que só sabe falar, eu penso, tem coca cola ai pra você.

As amigas brindaram a noite, e tudo foi só alegria, Isadora e Adriana conversaram sobre trabalho, Isa estava procurando uma empresa de contabilidade para fazer a troca dos contadores da empresa onde ela trabalha, e quando soube que as amigas tinham um escritório contábil se interessou por uma proposta.

–Drica, então me dá o seu telefone pra eu marcar com vocês, vamos nos reunir essa semana, e eu levo a proposta que você me der para os diretores.

— Sem problemas, segunda-feira nos falamos e você me passa melhor qual é a situação da empresa, e eu pego os detalhes pra te passar os valores e a forma de trabalho.

— Vocês já estão falando de trabalho?

— Sempre!

— Isa, larga essa ai, que se deixar ela levaria metade do escritório para a lua de mel.

— Exagerada!

— Isso é problema de quem não tem vida social, se não fosse por mim, essa ai estaria em casa de pijama da pequena sereia e babando no sofá com a cachorra dormindo em cima da barriga.

— Meu pijama não é da pequena sereia, e para de me chamar de criança.

— Ah sim, então é aquele do Garfield que você tem ha anos e nunca joga fora.

— Ele é confortável. E qual o problema com os meus pijamas? Alessandra vai procurar sua turma vai.

Todas riam da implicância de Alessandra com Adriana, elas eram muito divertidas.

— Vamos dançar meninas.

Drica dormiu na casa de Paula e despediu-se das amigas de Alessandra com a intenção em fazer um novo contrato para o escritório, já esperava que essa semana fosse mais um sucesso nos negócios, mais do que nunca ela estava acreditando naquele ditado que diz que quem tem sorte no jogo tem azar no amor, sua vida profissional estava muito bem, enquanto a amorosa nem existia, mais uma vez voltou pra casa sozinha, mas ela continuava pensando em Ana, por onde ela andaria?

***********

Ana Paula estava em casa esperando Gisele chegar. Já estava pronta, de calça jeans apertada, a blusa frente única azul exaltava ainda mais a cor dos seus olhos, uma sandália prata de salto alto nos pés dava um toque especial ao look, maquiagem bem feita e acessórios prata combinando com a sandália. Ana Paula é uma mulher muito bonita, e sabe muito bem como valorizar suas curvas, chama a atenção por onde ela passa. Já havia pensado no roteiro para a noite, sairiam para jantar em um restaurante japonês Em Charitas, de frente para a praia, e depois esticariam a noite em um motel das redondezas, ela estava empolgada, pois ficaria o fim de semana com a mulher que ama.

Ela tentou ligar para Gisele, mas ela não atendia ao telefone, Ana imaginou que a namorada estava dirigindo. Duas horas depois do horário combinado, Ana Paula já estava ficando desesperada, pois já passava de tudo pela sua cabeça, o que acontecera com Gisele? Ela não atendia o celular, não respondia às suas mensagens, em casa o telefone só dava ocupado, sem saber o que fazer, ela já estava pensando em pegar o carro que já voltara do conserto e ir para a casa de Gisele, pelo menos ver se havia algum problema com a namorada.

Desistia quando pensava que Gisele poderia estar a caminho e as duas se desencontrarem, e tentava ligar novamente, nada do outro lado da linha, ligou o computador para tentar alguma comunicação on line, já estava quase fazendo sinais de fumaça quando finalmente o celular vibrou sobre a cama, afoita, Ana correu para ler a mensagem que chegara. Era de Gisele, o que deixou um grande alivio para a loira.

Ao ler a mensagem, a decepção só não foi maior do que o sentimento de descaso e solidão.

— “Ana, eu não vou mais pra sua casa, o Bruno me convenceu a ir com ele passar o fim de semana na casa dos pais dele, amanhã eu te ligo. Beijos”.

Ana Paula deixou o corpo cair sobre a cama, e o choro saia baixinho, deixou de sair com as amigas, planejou uma noite espetacular ao lado da pessoa que ela amava e mais uma vez se sentia perdida e sozinha, deixada de lado como se fosse um brinquedinho que a dona só pega para usar quando quer. Tirou a roupa e jogou no canto do quarto, retirou a maquiagem do rosto e já sem fome pela decepção resolveu deitar e desejou dormir e não acordar mais, seu peito estava em pedaços, e não sabia a quem recorrer. No final de tudo adormeceu depois de muito choro e cansaço.

Durante o fim de semana Ana recebeu várias mensagens de Gisele, mas não respondeu nenhuma, não conseguia nem imaginar Gisele se exibindo para a família do marido, enquanto lhe enviava mensagens de texto dizendo que a amava. Era muita hipocrisia, e ela não aguentava mais passar por isso.

No domingo, Gisele não satisfeita ligou para a casa de Ana Paula, e a irmã dela sem saber disse que Ana estava no quarto, passando o telefone sem fio pra irmã.

— Ana é pra você.

— Quem é?

— Eu não sei, eu não perguntei.

— Alô.

— Ana Paula, por que você não respondeu minhas mensagens?

— Oi pra você também, e eu acho que eu que deveria estar zangada com você. Você tem ideia de como eu fiquei?

— Ana, você tem que entender que eu não posso deixar minhas obrigações de esposa de lado, eu preciso acompanhar o Bruno, eu não consegui fugir, mas eu pensei o tempo todo em você.

— Ai Gisele, não me venha com esse discurso de novo, você me enjoa, se você me ama a esse ponto, então larga ele e vem viver comigo.

— Eu já te falei que eu vou conversar com ele, mas não é uma coisa que pode ser resolvida desse jeito.

— E como você vai resolver Gisele? Quando você vai resolver? Quando for tarde demais? Quando você engravidar dele, e ai o motivo será outro, eu não sei o que você está pensando da sua vida, mas eu estou começando a pensar na minha.

— Ana Paula não fala assim, essa semana eu vou ai pra te ver.

— Eu não quero, só vem aqui se for pra me dizer que se separou dele, e nada mais.

— Você está muito nervosa, eu vou desligar e outra hora nós conversamos.

— Tudo bem Gisele, faz como você quiser, eu já te falei, eu não quero saber de você aqui sem uma definição.

— Tudo bem, se acalma, beijo.

Ana desligou o telefone sem responder o carinho da namorada, e sem acreditar como Gisele é manipuladora, percebeu que mais uma vez estava caindo em uma armadilha, e não conseguia se livrar das garras da outra.



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