Semana corrida para Adriana, seu pai finalmente saiu do CTI, os médicos deram um bom prognostico, apesar de terem notado que ele ficou com algumas sequelas do lado esquerdo do corpo, mas avisaram que com o tempo e um pouco de fisioterapia ele poderá voltar a ter uma vida normal novamente, lógico tomando os devidos cuidados com a saúde daqui pra frente.

Passado esse susto, uma boa noticia para as contabilistas, a empresa de Isadora aceitou a proposta que Adriana apresentou e Isadora ligou para as meninas para marcar uma reunião para acertar os detalhes.

— Oi Isadora, Tudo bem?

— Oi Adriana, tudo bem e você, como está?

— Tudo certo, e aí o que você manda? Temos boas notícias?

— Adriana, temos ótimas notícias, o supervisor aprovou a sua proposta e precisamos marcar uma reunião para acertar os detalhes.

— Nossa, que maravilha, é uma ótima noticia mesmo.

Paula e Alessandra que estavam prestando atenção já entenderam o recado. E ficaram radiantes.

— As meninas estão aqui pulando de alegria.

— Eu posso imaginar.

Depois de combinar a reunião na empresa de Isa, e acertar alguns detalhes com as sócias, Adriana desligou o telefone.

— Meninas, o que estava bom agora ficou ótimo.

— Eu ouvi, a empresa de Isadora aceitou nossa proposta.

— Isso mesmo, Paulinha, agora é só correr para o abraço.

— Meninas, nós teremos muito trabalho a fazer, a empresa é grande e essa fase de transição será muito cansativa.

— Eu sei Ale, mas também será muito lucrativa, agora nós vamos levantar nossa moral de vez.

— É, isso é verdade, valerá o esforço.

— Bom, a reunião está marcada, dessa vez vocês também irão, pois teremos que passar todo o procedimento, e será meio demorado.

— Pode deixar, vamos nos organizar.

— Amigas, eu vou sair mais cedo hoje, vou passar no hospital para ver como está meu pai, ele ia fazer alguns exames, e ver como está o quadro dele.

— Ele está melhor?

— Está sim, já está falando bem, só não tem ainda força na perna para andar sozinho, mas eu acho que logo estará recuperado.

— Que bom, vai lá, nós fechamos aqui.

— Beijos, e comportem-se.

As duas mulheres riram do comentário de Drica. Esta foi ao encontro de sua família para visitar seu pai, que já estava em um quarto particular do hospital.

— Oi gente, e ai Tigrão, como está essa força hoje?

Adriana chamava o pai de Tigrão, um apelido carinhoso que ela colocara quando era criança e nunca saiu de moda.

— Eu estou bem melhor.

Seu pai ainda falava com alguma dificuldade, mas o som já saía mais nítido.

— Oi mamãe, e ai, como está o coroa?

— Minha filha, ele está bem melhor sim, fez uma tomografia hoje, e pelo resultado o médico ficou muito otimista, pelo que eu entendi, ele deve ter alta na próxima semana.

— Isso é ótimo! Muito melhor cuidar dele em casa.

— Com certeza, agora o susto já passou.

Adriana deixou o hospital aliviada, ela estava feliz com a recuperação de seu pai. Foi pra casa pensando em descansar, depois de tomar um banho relaxante, ela fez um lanche leve, já que não ia à academia há algum tempo, não queria descuidar, e ligou o notebook, sentou-se na cama com a Pitty ao seu lado e resolveu ler alguns e-mails, entrou no MSN e notou que Ana Paula estava on line, ela sentiu uma vontade louca de chama-la para conversar, mas ficou travada, não sabia como seria recebida, queria conhecer mais daquela mulher que a enfeitiçou, mas ao mesmo tempo ficava receosa com a situação que Ana lhe contara.

**********************

Do outro lado do PC, Ana Paula viu a janela com o nome de Adriana aparecer na tela no computador, já clicou imediatamente para chamar a outra para conversar, mas parou quando começava a escrever, ficou sem saber se Drica queria conversar com ela, depois de tudo que havia contado à morena, será que ela ainda queria conhece-la melhor?

Só que a vontade de estar com ela era maior do que as dúvidas, e em um impulso, Ana apertou o enter, liberando a primeira mensagem.

— Oi.

Adriana, acabou assustando-se com o barulho emitido pelo notebook, sinalizando que alguém a chamara para uma conversa, ainda estava pensando se chamaria Ana Paula, quando a loira enviou o primeiro contato. Resolveu responder, pois esta acabou lhe fazendo um favor, retirou todas as duvidas que pairavam na cabeça da morena.

— Oi Ana, tudo bem?

–Tudo bem, e com você?

— Eu estou bem.

— O seu pai melhorou?

— Sim, obrigada por perguntar, semana que vem já estará em casa.

— Que bom. E o trabalho, está bem?

— Sim, a empresa da Isadora contratou nossos serviços, então essa semana foi muito boa.

— Que legal, ela comentou comigo que você fez uma apresentação impecável.

— Assim eu fico até sem graça. – Adriana sentiu o rosto ficar vermelho –

— Não é para ficar, se ela falou isso é porque realmente foi impecável, a Isa é muito perspicaz, e perfeccionista também. Se ela gostar de alguma coisa, pode aprovar que realmente é muito bom.

— Eu fico até mais tranquila agora, é muito bom saber que o trabalho está sendo bem feito. – Adriana estava sendo sincera-

—  Eu tenho certeza que vocês vão se dar muito bem.

— Tomara, pois no inicio vou precisar de toda ajuda possível.

— Se precisar de alguma coisa é só falar.

— Obrigada Ana, e você, como estão as coisas?

— Ah, tudo na mesma, eu não tenho nenhuma novidade.

— Eu confesso que eu fiquei meio intrigada com a historia que você me contou. Desculpe Ana, mas pra mim isso é pouco convencional, entende. – Adriana falava com receio da reação de Ana, mas sentia necessidade de entender o relacionamento da loira-

— Sem problemas, Adriana, eu sei que é meio estranho mesmo, o que eu passo não é para qualquer um.

— O que eu não entendo é por que você não larga essa relação, e vai procurar alguém que realmente te faça feliz, que seja livre para estar somente ao seu lado.

— Alguém como você?

Adriana sentiu o rosto queimar, um calor subiu pela pele, e mesmo estando de frente para o computador, ela estava sem graça. Ela não sabia o que dizer.

— Não foi isso que eu quis dizer, Ana.

Ana percebeu que pisou na bola e tentou se redimir.

— Adriana desculpe, eu estava brincando.

— Tudo bem. Eu ainda não me acostumei ao seu senso de humor.

— É só questão de tempo então.

Mais uma vez, Ana deixou escapar seu interesse em Adriana.

— Ana, eu gostaria de conversar com você pessoalmente, o que aconteceu na boate ainda está martelando na minha cabeça.

— Sim Adriana, eu também quero conversar com você sobre isso, eu acho que essa história ficou mal resolvida.

— Sim, podemos marcar alguma coisa? Um café ou uma cerveja.

— Você tem compromisso amanhã?

— Não, eu estou livre.

— Então que tal um chope?

— Pode ser, onde você prefere?

— Não sei, onde você mora?

— Em Icaraí.

— Isadora também mora em Icaraí, eu moro em Itaipu, tem um barzinho na esquina da Rua de Isa, o Fragatas, é super tranquilo, podemos sentar lá.

— Eu conheço esse bar, é uma quadra depois do meu prédio.

— Vocês moram pertinho então.

— É verdade, mundo pequeno, então está marcado, pode ser oito horas?

— Pode sim, pra mim está ótimo.

— Fechado então. Ana eu vou dormir, conversamos amanhã.

— Tudo bem, boa noite.

As mulheres trocaram telefones e finalmente estavam no caminho certo para se conhecerem melhor.

Adriana não entendia nada, como uma pessoa podia viver um relacionamento daquela forma? E ainda assim, permanecer dentro da relação sem estar plenamente feliz, para Adriana, estar com alguém era se entregar por inteiro, ela não sabia estar com alguém pela metade.

Essa relação de Ana Paula a intrigava, Ana a intrigava, ela não sabia explicar porque mesmo sabendo desse caso complicado na vida da outra ela não parava de pensar no beijo que acontecera na boate, Adriana estava cada dia mais envolvida com Ana Paula, queria conversar, queria saber mais sobre a advogada, conhece-la, descobrir as faces daquela que a fez mudar de opinião sobre as mulheres. Ela sentia uma atração quase impossível de controlar, e sua vontade era sair dali naquele momento e ir ao encontro de Ana. Aguardava ansiosa pelo encontro marcado.

Do outro lado da tela, Ana sentia o mesmo por Adriana, a mesma vontade de conhecer a fundo única mulher que balançou o seu amor por Gisele, que a fez acreditar que existe a possibilidade de um amor tranquilo e puro, apenas pelo olhar sereno que Drica lhe lançara na noite que se conheceram.

Ana Paula queria se aproximar de Adriana, mas não sabia se seria uma boa ideia, ela sabia que sua relação com Gisele é muito complicada e não queria trazer problemas para a morena. Mas não resistiu à possibilidade de encontrar-se com Drica e conversar sobre esse sentimento.

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Drica estava mais atrapalhada do que nunca no escritório, não conseguia se concentrar, precisou preencher o mesmo formulário três vezes, pois sempre errava alguma coisa, e isso não passou despercebido pelas suas amigas, seu nervosismo denunciava que algo estava para acontecer.

— Mas que droga! Errei essa porcaria de novo!

— Drica é a terceira folha que você pega pra preencher, o que está acontecendo? Você não é assim.

— Ai Paula, não é nada.

— Adriana, quem você pensa que engana? Com essa cara de criança que fez merda, é claro que aconteceu alguma coisa.

— Alessandra!

— Deixa Paula, na verdade, Ale tem razão, eu estou nervosa demais hoje.

— O que está acontecendo amiga?

— Meninas, eu marquei um encontro com a amiga de Isadora hoje à noite.

— A loira da boate?

— É, ela mesma.

— Drica, você tem ideia do que você está fazendo? – Paula falava levantando e indo em direção à morena-

— Eu tenho e é por isso que eu estou assim, eu quero conversar com ela, saber mais sobre ela, o que ela faz, o que ela gosta como ela é.

— Ih, fudeu, Drica se apaixonou pela biscate. – Alessandra colocava as mãos na cabeça-

— Não fala assim dela Ale, ela é uma boa pessoa.

— Drica, ela tem namorada e te agarrou na boate.

— Ale, meu amor, não vamos julgá-la sem conhecer, você a ouviu na boate contando como a vida dela está complicada, de repente ela precisa apenas de um impulso pra mudar isso.

— Eu penso o mesmo Ale, Paula tem razão, eu acho que ela está muito confusa, ela não fez isso por ser cafajeste, ela agiu por impulso.

— Tudo bem, se vocês pensam assim, eu não vou falar mais nada, mas até que ela me prove o contrário, eu não confio nela.

— Você está no seu direito.

— Drica me conta isso direito, quando você marcou isso?

— Ontem, pelo MSN, depois que vocês deram meu e-mail pra ela temos nos falado quando nos encontramos on line.

— Entendi. Então relaxa, vocês vão sentar em algum lugar pra conversar, são duas amigas, por que o nervosismo?

— Eu não sei, é que parece que o dia não vai terminar, eu estou ansiosa pra chegar logo à noite e encontra-la.

— São duas horas da tarde, se você não relaxar você vai acabar batendo o carro quando for embora de tanta pressa. – Paula estendeu a mão para a amiga– Larga esse formulário ai, vamos ali à padaria comprar um sorvete pra tomar de sobremesa.

— Tudo bem.

— Gente traz um de morango pra mim.

— Pode deixar Ale. Nós já voltamos.

Alessandra sabia que Paula iria conversar com Drica para acalmar os nervos da morena. Drica estava nervosa pois queria que Ana Paula fosse livre para que elas pudessem iniciar um namoro, Alessandra tinha razão, ela estava apaixonada por Aninha, mas não sabia o que fazer com esse sentimento que teria que ficar preso caso Gisele não saia da vida de Ana.

Já na padaria as amigas conversavam .sobre Ana Paula.

— Adriana, você realmente quer se envolver nisso?

— Ai Paula, é mais forte do que eu, eu quero saber mais sobre ela, eu sinto uma atração por ela que eu não consigo explicar. – Adriana olhava para o pote e mexia o sorvete com a pazinha—

— Você sabe que isso é um terreno perigoso, ela já tem compromisso, e se ela nunca se separar? E se a outra largar o marido?

— Eu sei, eu sei de tudo isso, mas ainda assim eu vou arriscar, você não sabe como ela mexeu comigo.

— Eu estou vendo como ela mexeu com você, ninguém precisa me dizer. Só não quero que você fique ai pelos cantos como ficou quando Eduardo te traiu.

Adriana não respondeu, lembrou da fase péssima que passou quando terminou seu relacionamento, mas dessa vez era diferente, ela sabia que estava entrando em águas revoltas, e sabia dos riscos.

— Paula dessa vez é diferente, eu conheço os riscos, e eu estou aceitando jogar com essas regras, eu não vou me encontrar com ela para me jogar ou me insinuar para ela, é apenas para conversar, eu quero entender por que ela está nessa situação.

— Tudo bem, eu só vou te pedir um favor, não faça nada que você possa se arrepender depois.

— Pode deixar.

Com essa frase, Adriana e Paula voltaram para o escritório e esqueceram de levar o sorvete de Alessandra, que ficou o resto do dia reclamando que ninguém lembrava dela.

********************

Enquanto isso do outro lado da “poça” em Niterói, Ana Também sonhava com o encontro que teria com Drica, a loira esperava algo da morena, algo que mudasse sua vida pra sempre. Mas o fato da morena ser heterossexual a deixa apreensiva com relação ao que aconteceu na boate, se o beijo foi meramente por curiosidade ou se Adriana também estava balançada com aquele encontro.

Ana não precisou ir para o escritório de manhã, preferiu descansar um pouco mais e antes de ir para o escritório passou no banco para resolver algumas coisas.

Como sempre, Gisele encheu o celular da advogada de mensagens, ligações, e Ana tentava resistir às investidas da namorada, não estava com vontade de se aborrecer logo no dia em que iria encontrar-se com Adriana.

Chegando ao escritório, Claudinha a aguardava com inúmeros recados de Gisele.

— Ana tem milhões de recados da Gisele pra você.

— Ai Claudinha, ela não desiste. –Ana tinha o semblante cansado da perseguição da namorada-

— Pelo visto, você vai ter muito que rebolar pra ela desistir de você.

— É, isso já está demais.

— É melhor você ligar pra ela antes que ela baixe aqui com a policia.

Claudinha saiu da sala rindo da piada que tinha feito, mas do jeito que Gisele fica transtornada com ciúmes de Ana, seria bem capaz de fazer isso mesmo.

Ana pegou o celular e retornou para a namorada.

— Alo.

— Oi Gi, qual é a urgência?

— Minha nossa! Por onde você andou? Eu liguei a manhã inteira.

— Eu já vi, por isso eu perguntei qual é a sua urgência, não podia esperar que eu retornasse? Têm mil recados no escritório, eu já te falei pra não ligar pra cá, fica atrapalhando o trabalho das meninas.

–Ana, você ainda vai brigar comigo?  — Gisele aumentava a voz ao telefone– Você não fala comigo a manhã inteira e quando você me liga é assim?

— É Gisele, tem que ser assim, você não me deixa trabalhar, você me liga de cinco em cinco minutos, é mensagem, é tudo, eu preciso de tempo, você está me sufocando.

— É porque eu te amo, e eu sinto saudades, eu quero falar com você, não pode não?

— Você pode sentir saudades, mas tem que ter um filtro, Gisele, no horário de trabalho eu posso estar em reunião com algum cliente, posso estar em alguma audiência, no fórum, não dá para parar toda hora que você liga.

— Eu já entendi Ana, pode deixar, eu vou parar de te incomodar.

— Gisele, não faz drama, você sempre distorce as coisas.

— Não estou distorcendo, é o que você quer, tudo bem, eu te liguei porque eu queria te chamar pra sair hoje a noite, mas como não consegui falar com você, eu já marquei um jantar com o Bruno.

— Ótimo, porque hoje à noite eu não posso.

— Por quê?

— Porque eu tenho outro compromisso.

— Que compromisso é esse?

— Eu vou encontrar com alguns amigos.

— E quando eu iria saber disso?

— Está sabendo agora. Nós marcamos ontem a noite, já era tarde, não é nada demais.

— Quem são esses amigos?

— Você não conhece, é um pessoal da faculdade. – Ana mentia para não despertar a ira da namorada-

— Sei. Tudo bem então. Divirta-se com seus amigos. – Gisele falou com desdém-

Gisele desligou o telefone sem deixar Ana despedir-se, o que fez a loira mais uma vez decepcionar-se, Gisele está sempre querendo exclusividade, coisa que ela não oferece à namorada, Ana sente-se impotente diante dessa situação, e mais uma vez, sua vida permanece sem definição.

O dia passou e Ana foi para casa tomar banho e se arrumar para sair, estava extremamente feliz, colocou uma roupa despojada, jeans preto, uma blusa de botão caqui, nos pés uma sandália com o salto baixo, os cabelos presos em um rabo de cavalo, e o perfume que ela adora. Deixara o celular carregando enquanto tomava banho.

Quando Ana se preparava para sair de casa para encontrar Drica, Gisele apareceu em pé na porta do seu quarto.

— Oi meu amor.



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