Adriana foi muito bem recebida no apartamento da prima de Mariana, o lugar parecia um estúdio, amplo, tem um segundo andar onde ficam os quartos. A sala grande não tinha paredes dividindo a cozinha, a escada caracol no canto da sala fazia a ligação para o segundo andar. Poucos móveis, um sofá de três lugares de frente para a televisão que fica em uma estante de madeira envelhecida. Disse Amanda que comprara tudo de segunda mão, os móveis pareciam novos como na loja.

No segundo andar três quartos compunham o restante da casa, Amanda não tem filhos, ela é casada com um americano, um dos quartos ele mantinha como um escritório, para trabalhar no fim de semana se fosse necessário, o outro era o quarto de hóspedes, onde Adriana se acomodou com a arquiteta.

Adriana estava completamente envergonhada de estar na casa de uma pessoa estranha. Ainda precisava de cuidados médicos, tinha medicamentos para tomar, não podia se resfriar, ainda sentia dores no corpo pelos dias mal dormidos e as pancadas que levou nas costas.

Estavam na mesa, Amanda, Kevin, seu marido, Mariana e Adriana, todos conversavam animados depois do jantar, menos Adriana, a morena estava quieta, mexendo no prato, alheia ao assunto tão divertido que estava na mesa. Amanda chamou a atenção de Mariana e apontou para a contadora. A arquiteta entendeu o recado e resolveu conversar com a namorada.

— Kevin vem me ajudar na cozinha. – dizia em Inglês –

— Você sempre vai sozinha, por que eu tenho que ir hoje? – levou um cutucão debaixo da mesa – Ai.

— Vem logo. – Amanda fazia caras e bocas –

— Ah, tudo bem. Fiquem a vontade meninas. – disse isso e saiu atrás da esposa –

Mariana continuou olhando para a morena esperando que ela voltasse da órbita que ela estava.

— Minha linda, você está bem? – segurou a mão de Drica sobre a mesa –

Adriana saiu da inércia que se encontrava e percebeu que estavam sozinhas na mesa, nem notou que os outros dois tinham se retirado.

— Eu? Se eu estou bem?

— É, você está bem?

— Eu acho que eu estou. – sorriu –

— Ah você acha? – ria –

Adriana deu de ombros para Mariana. Ela não estava bem, pensava dia e noite no corpo do rapaz caindo no meio da sala, pensava em como ela poderia ter feito algo antes para salvar a Cindy, pensava que ela poderia ter morrido.

— Adriana conversa comigo, você sofreu muito, desabafa.

A morena olhava para a namorada e em um misto de sentimentos ela começou a chorar, Mariana a abraçou, a trouxe para o seu peito afagava os cabelos da namorada, Amanda olhava da cozinha e sentia pena da moça que estava ali em sua casa, tão frágil.

— Vamos lá pra cima. – Mariana chamou –

A arquiteta pegou a mão de Adriana e a conduziu escada acima para o quarto de hóspedes, depois de entrar, fechou a porta atrás de si e foi até Adriana que estava em pé ainda com lágrimas nos olhos. Segurou as mãos da morena e percebeu que ela estava meio desorientada.

Adriana não sabia o que fazer, tinha pesadelos, não comeu direito, estava muito abalada, apesar de não demonstrar quando estava no hospital, em seu íntimo ela estava muito triste por ter presenciado tanto horror.

Mariana segurou o queixo da namorada e levantou o rosto de Adriana para lhe encarar. Os olhos castanhos tão marcantes estavam sem vida, sem brilho, sua expressão era de desânimo. Novamente lágrimas teimavam em molhar o rosto de Adriana, a arquiteta as enxugava com o polegar em silêncio, respeitando o momento da morena.

A contadora abraçou a cintura da arquiteta e acomodou sua cabeça em seu ombro, enterrando o rosto no pescoço da namorada, Mariana fazia um carinho em suas costas tentando trazer algum consolo àquele coração tão maltratado.

— Chora minha linda, faz bem pra alma.

— Mari, eu não queria que ele morresse, eu fiz muita força. – soluçava – Eu não devia ter feito tanta força. – referia-se à gravata que dera no pescoço do rapaz —

— Calma Adriana. – fez a morena olhar para si – O que aconteceu foi consequência dos atos dele, infelizmente ele provocou sua reação, se você não fizesse aquilo você seria morta assim como as outras moças foram.

Segurou o rosto da contadora e levantou para olhar para ela. Adriana estava tremendo, completamente traumatizada.

— Ele matou quatro garotas Adriana, ele ia matar você também, eu não consigo imaginar isso. – sua voz embargou – Não posso nem pensar que poderia ter perdido você. – lágrimas surgiram em seus olhos também –

Mariana beijou os lábios de Adriana, podia sentir o gosto das lágrimas que ainda banhavam sua pele, a morena retribuiu sentindo o peito se encher de esperanças, Mariana tinha o poder de acalmar sua alma, acalentava seu espírito que estava tão atordoado.

Ao se afastarem Mariana fazia carinho em seu rosto, Adriana se entregava àquela carícia. Sentia o amor que Mariana lhe oferecia, e ela precisava disso, precisava ser cuidada, ela precisava ser embalada.

Mariana levou Adriana para a cama e a acomodou, deitou ao seu lado e ficaram de frente uma para a outra.

— Adriana, você fez o que precisava ser feito para sobreviver, o importante é que você está viva e bem. – contornava o esparadrapo do curativo no supercílio com os dedos –

— Eu ia voltar para busca-lo também, mas eu não consegui. Tinha muita fumaça. Emily já tinha desmaiado e eu estava carregando ela nas costas. – pausou e fungou— Eu não conseguia mais andar.

— Eu sei, você fez o tudo o que pôde.

— Quando ele caiu no meio da sala eu não conseguia pensar em mais nada, só em sair dali, eu tive muito medo da casa cair em cima de nós duas.

— Adriana você tem que ser forte, você vai precisar de tempo para se recuperar, além da dor física isso mexeu muito com o seu psicológico.

— Eu estou com medo de dormir e ter pesadelos. – fungava —

— Eu estarei aqui com você, eu vou segurar a sua mão e te proteger. Eu nunca vou deixar você. – beijou a namorada –

— Você quer mesmo começar um namoro com uma mulher assim?

— Assim como?

— Em frangalhos? Destruída. Eu não sou nada hoje Mariana, eu sou um corpo que se movimenta sem alma.

— Não diga isso, você é a mulher maravilhosa que eu conheci no Brasil, é a mesma garota carinhosa que me encantou e me conquistou sem nem perceber. Você é minha namorada. A mulher que eu escolhi pra mim. Eu quero você.

— Ai Mari, me ajuda. – voltou a chorar forte –

— Eu te ajudo, eu estou aqui. Me abraça. Eu vou te proteger.

A música ecoava no quarto, uma canção embalava Adriana em seus medos e a segurança do colo de Mariana.https://www.youtube.com/embed/bLpmj059JFA?feature=oembed&wmode=transparent

I’ll Stand By You – The Pretenders

Oh, Why you look so sad?
Tears are in your eyes
Come on and come to me now
Don’t be ashamed to cry
Let me see you through
Cause I’ve seen the dark side too.
When the night falls on you
You don’t know what to do
Nothing you confess
could make me love you less

I’ll stand by you
I’ll stand by you
Won’t let nobody hurt you
I’ll stand by you

So,
If you´re mad, get mad
Don’t hold it all inside
Come on and talk to me now
But hey, what you’ve got to hide
I get angry too
But I’m a lot like you
When you’re standing at the crossroads
Don’t know which path to choose
Let me come along
Cause even if you’re wrong…

I’ll stand by you
I’ll stand by you
Won’t let nobody hurt you
I’ll stand by you
Take me in into your darkest hour
And I’ll never desert you
I’ll stand by you
And when,
When the night falls on you baby
You´re feeling all alone
You won’t be on your own

I’ll stand by you
I’ll stand by you
Won’t let nobody hurt you
I’ll stand by you
Take me in into your darkest hour
And I’ll never desert you
I’ll stand by you
I’ll stand by you
Won’t let nobody hurt you
I’ll stand by you
Won’t let nobody hurt you
I’ll stand by you
I’ll stand by you
Won’t let nobody hurt you
I`ll stand by you
Eu ficarei ao seu lado

Por que você está tão triste?
Com lágrimas nos olhos
Venha ficar comigo agora
Não tenha vergonha de chorar
Deixe eu ver você por dentro
Pois já vi o lado negro também
Quando a noite cair sobre você
E você não souber o que fazer
Nada que você confesse
Pode fazer com que eu te ame menos

Eu ficarei ao seu lado
Eu ficarei ao seu lado
Jamais deixarei alguém te ferir
Eu ficarei ao seu lado

Então,
Se você estiver zangado, fique zangado
Não guarde tudo isto dentro de você
Venha e converse comigo agora
Ei, o que é que você tem tanto à esconder
Eu também fico zangada
Porque sou muito parecida com você
Quando você está numa encruzilhada
Sem saber que caminho escolher
Deixe me ir com você
Pois mesmo que você esteja errado…

Eu ficarei ao seu lado
Eu ficarei ao seu lado
E jamais deixarei alguém te magoar
Eu ficarei ao seu lado
Fique comigo em seus momentos mais tristes
E jamais te abandonarei
Eu estarei ao seu lado
E quando,
Quando a noite cair sobre você
E você estiver se sentindo completamente só
Você não vai ficar sozinho

Eu ficarei ao seu lado
Eu ficarei ao seu lado
E jamais deixarei que alguem te magoe
Eu ficarei ao seu lado
Fique comigo em seus momentos mais tristes
E jamais te abandonarei
Eu ficarei ao seu lado
Eu ficarei ao seu lado
Nunca vou permitir que te magoe
Eu ficarei ao seu lado
Não vou deixar ninguém te magoar
Eu ficarei ao seu lado
Eu ficarei ao seu lado
Não vou deixar ninguém te magoar
Eu ficarei ao seu lado

As duas se abraçaram e Adriana se acomodou no ombro da namorada e com todo o carinho que recebeu adormeceu nos braços da arquiteta.

Durante a madrugada, Adriana sonhava com fogo, ela corria e Ryan corria atrás dela em chamas, Adriana caiu no chão e quase foi alcançada, acordou suada e ofegante, levantou assustada, Mariana acordou com a movimentação da cama e levantou sentando-se ao lado da contadora.

— O que foi minha linda? – segurava o braço da morena – Você está gelada. Pesadelos?

Adriana assentiu com a cabeça. Não conseguia nem falar.

— Bebe um pouco de água. – Mariana pegou um copo e encheu com água que estava na cabeceira –

Adriana bebeu a água tremendo, estava muito abalada, Mariana levantou e acendeu a luz do quarto, viu que Drica estava molhada de suor.

— Você está toda molhada, vem comigo tomar um banho para voltar a dormir.

— Mari, você não precisa fazer isso. – olhava para o chão –

— Eu quero cuidar de você. Vem comigo.

Levou Adriana pela mão até o banheiro, deu-lhe uma toalha, foi até a cozinha e preparou um chá para as duas enquanto esperava. Quando Drica saiu do banho já com outras roupas secas, encontrou Mariana no corredor com as duas xícaras nas mãos.

As duas foram para o quarto e beberam o chá, Drica estava mais calma e olhava para Mariana, pensava que a vida não poderia ter lhe enviado uma pessoa tão maravilhosa nesse momento tão difícil. Pensava que não merecia esse amor, já que não conseguia tirar Ana Paula da cabeça, e onde ela estava naquele momento? Nenhuma ligação, nenhum e-mail, nem para perguntar se ela estava bem.

— Mari eu não mereço isso. – balançava a cabeça negativamente —

— Claro que merece. Não fala isso.

— Você merece uma pessoa melhor.

— Não, eu escolhi você, você é o melhor para mim. Para com isso. Vem, vamos dormir, você precisa descansar.

Retirou a xícara da mão de Adriana e colocou sobre a cômoda. Deixou Adriana deitada debaixo das cobertas e apagou a luz do quarto, voltou para a cama e abraçou a morena trazendo para bem perto de seu corpo. Adriana podia sentir o calor emanado por aquela pele macia e cheirosa. Mariana enterrou o nariz nos cabelos de Adriana e sussurrou em seu ouvido.

— Eu estou aqui para te proteger, dorme com os anjos meu amor.

Adriana só apertou o braço da índia como confirmação do que acabara de ouvir, acreditava em Mariana, aquele abraço não poderia deixar nada de mal acontecer. Assim, adormeceu novamente nos braços de sua namorada.
*************

Ana chegava para mais um dia de terapia, como de costume encontrou Mirella sorridente na recepção.

— Bom dia Ana.

— Bom dia. – sentava sem graça –

— A doutora está te esperando, pode entrar.

Ana Paula entrou na sala de Marta e a terapeuta estava sentada em sua cadeira habitual, lia alguma coisa que Ana não conseguiu identificar. Levantou o olhar e viu a advogada em pé no meio do consultório. Abriu um sorriso e indicou o sofá que Ana sempre sentava.

— Oi Ana, como você está?

— Eu estou bem. – sorriu contida –

— Eu vi no noticiário que sua amiga está salva, eu fiquei feliz por você.

— Obrigada.

— E agora Ana? – cruzou as pernas –

— E agora o que? – perguntou surpresa –

— Você me disse que ela é o amor da sua vida, o que você vai fazer com relação a isso?

— Nada. – deu de ombros –

A psicóloga ficou olhando para Ana, não conseguia entender essa inércia da paciente.

— Ana, vamos tentar nos entender, você me disse que a moça que estava desaparecida é o amor da sua vida, quando encontramos o amor, nós sentimos a necessidade de viver esse sentimento, o que traz a vontade de estar perto da pessoa, de tocar a pessoa, de compartilhar nossa vida com alguém.

Ana apenas a escutava.

— Quando você diz que a ama, qual é o sentimento que você tem?

— É exatamente tudo isso que você falou.

— E por que você não vai atrás dela? Depois de um trauma desse tipo ela precisará de todo o apoio que os amigos possam dar. Vindo de você então eu acho que ela ficaria muito feliz.

— Eu não liguei para ela.

— Por que?

— Eu tenho medo de ela não atender ou me tratar mal.

— Alguma vez ela fez isso?

— Não. – entrelaçava os dedos –

— Então eu não vejo motivos para ela fazer agora.

Ana não falou nada, a psicóloga esperou que ela se manifestasse. Mas isso não aconteceu.

— Ana, você tem medo de ter um relacionamento como o da sua mãe e seu pai?

— Como assim?

— Amar tanto que seria capaz de abdicar das filhas para acompanhar o marido, você tem medo de se entregar ao ponto de esquecer quem você é para viver a vida de outra pessoa?

— Eu não sei.

— Você me disse que não quis acompanhar sua professora em uma viagem pois seria muita mudança na sua vida. Por essa moça você seria capaz de fazer esse tipo de loucura?

Ana Paula pensou um pouco, sentia que poderia fazer isso por Adriana, mas ela não agia, só sentia vontade.

— Sim, eu faria, mas eu fico só na vontade, porque eu sei que se eu fizer, eu serei escrava desse amor.

— Esse é o seu medo? Viver uma vida que não é sua?

— Talvez.

— Mas pelo que você me contou da Gisele, esse foi um relacionamento que nos leva para esse ponto, você vivia a vida que ela queria. E você não se incomodou com isso.

— Ai, isso está muito confuso. – Ana começou a se exaltar – Eu não sei o que eu quero. Na verdade eu venho aqui na esperança de escutar de você.

— Não querida, isso não vai acontecer, eu te ajudo a encontrar os caminhos para você chegar nas respostas, mas você que tem que descobrir quais são.

Ana ficou pensativa, olhava pra Marta que a encarava pacientemente. A paciente não abriu mais a boca e a psicóloga permaneceu calada esperando por alguma frase que fosse. O tempo terminou com o silêncio de Ana Paula, este quase ecoava pela sala. – Adriana eu te amo, volta pra mim. – seus pensamentos estavam longe.

A sessão terminou e Ana deixou o consultório mais confusa ainda, o que fazer? Se ela fizesse essa ligação qual seria a reação de Adriana? Se imaginou frustrada ao receber um não da garota, mas como saber se não tentar? Contaria para Lívia? Seu namoro com a professora esfriou depois do desaparecimento de Drica. Não sabia até quando iria durar.

Entrou no escritório pensativa, cumprimentou Bia e foi direto para sua sala, tinha um caso de um cliente para ler. O dia passava e ela não conseguia se concentrar. Em um impulso depois de muito pensar pegou o celular e discou o numero da morena.

*********

Em Nova Iorque, Adriana estava sozinha no apartamento, deitada na cama com o laptop no colchão, ela estava verificando seus e-mails, lendo as mensagens que recebeu enquanto estava sequestrada, na sua página social, tinham vários recados de força e coragem e mensagens de agradecimento por ela estar de volta, nem ela imaginava que poderia ser tão querida. Falava com Felipe antes de entrar no avião para voltar para o Brasil.

— Lipe, eu deveria ter ido te encontrar, você vai embora sem me dar um beijo?

— Drica, o aeroporto está cheio de jornalistas, eu já dei três entrevistas, se você estivesse aqui você estaria se sentindo mal.

— Sério? Caramba, eu ainda não consigo acreditar que teve tanta repercussão na mídia o meu sequestro.

— Pode acreditar mana, esperando por isso que eu disse pra você ficar ai. Ainda bem que eu acertei.

— É, ainda bem. Vem cá, Lipe, deixa eu te perguntar uma coisa.

— Diz.

— O que rolou entre você e Renata?

— Como assim? Do que você está falando? – arregalou os olhos –

— Daquele clima que estava entre vocês dois na Universidade quando eu fui falar com ela.

— Não teve clima nenhum Adriana, esses remédios que você tomou te deixaram com alucinações.

— Felipe Ferreira, não me enrola que você sabe que eu te conheço muito bem e se não rolou nada antes, com certeza rolou depois.

— Como você sabe?

— Não falei?

— Quer dizer, como você pode ter tanta certeza? – tentava disfarçar o furo –

— Eu tenho e se você não me falar eu vou perguntar a ela.

— Você não é fácil mesmo. Eu te ligo quando eu chegar e te conto tudo depois.

— Eu sabia, tudo bem, eu vou cobrar. Boa viagem meu irmão.

— Obrigado, se cuida hein teimosa. – sorria –

— Um beijo.

Desligando o celular Felipe voltou para a cadeira onde estava sentado esperando o embarque e segurou a mão de Renata.

— Era Adriana?

— Sim, era ela.

— Ela está bem?

— Está, deixa eu te falar, se prepara porque ela vai te fazer um monte de perguntas.

— Por que? — Renata se espantou –

— Por que ela sabe que rolou alguma coisa entre a gente.

— Você contou?

— Não tive nem tempo né. Eu estou com você desde ontem à noite, mas ela sabe, coisa de irmão. – deu de ombros –

— Ai eu estou muito encrencada?

— Não, será só para satisfazer a curiosidade dela. Relaxa.

Renata sorriu para o rapaz e deu um beijo nele, Felipe pegou suas coisas e embarcou de volta para o Brasil. Renata sabia que essa poderia ter sido a ultima vez que encontraria o rapaz.
*********************
O celular começou a vibrar na cabeceira, ela pegou o aparelho sem olhar o visor, ela estava distraída lendo um e-mail.

— Alo.

Ana Paula não disse nada, ao ouvir a voz da contadora o sangue de seu corpo entrou em ebulição, uma corrente elétrica percorreu toda a sua extensão corporal, ela fechou os olhos e visualizou o rosto da linda morena que perdera naquele carnaval.

— Alô, quem está falando? – Adriana perguntou novamente –

A morena ficou intrigada, quem estaria naquela ligação? Ana Paula! foi o pensamento da morena, ela podia ouvir a respiração da outra pessoa do outro lado da linha e foi a primeira pessoa que lhe veio a mente.

— Ana é você? – perguntou esperançosa –

Depois de muita hesitação, Ana finalmente resolveu se identificar.

— Oi Drica. Sou eu.

Adriana foi nas nuvens, a loira finalmente fazia contato, ela estava esperando por isso desde que saíra do hospital. Mesmo magoada ela queria saber se Ana ainda se importava.

— O que você quer Ana? – tentava disfarçar sua felicidade –

— Eu só quero saber se você está bem.

— Eu estou bem sim, obrigada.

Um novo silencio se fez, ninguém sabia por onde começar, na verdade Adriana esperava por uma atitude de Ana Paula que continuava insegura.

— Só isso Ana?

— Eu – uma pausa – eu senti muito medo de te perder.

Adriana não esperava ouvir isso, ela ficou em silencio assimilando a frase dita pela loira.

— Eu queria ter feito tudo diferente Adriana, eu não queria te fazer sofrer. Me perdoa.

— Você já reparou que toda vez que nós conversamos você sempre me pede perdão? Ana, saia do papel de vítima e tome as rédeas da sua vida, tenha atitude e você vai ter o mundo nas mãos. – dizia com sinceridade —

Ana escutava impressionada com a segurança que a morena dizia aquelas palavras. Tinha esquecido como Adriana era decidida.

— Eu também senti muito medo de nunca mais ver você, mas eu não quero só te ver, eu queria mais, como você não teve atitude para isso, eu virei a página, eu estou seguindo com minha vida.

— O que você quer dizer com isso?

— Eu estou namorando.

Um balde de água gelada caiu na cabeça de Ana Paula. Adriana está namorando, se suas chances com a morena já eram remotas agora então ficaram abaixo de zero. Seu coração ficou mais triste, batia fraco, quase parando.

Ela podia ouvir as palavras de Isadora ecoando em sua mente: “… abre o seu olho hein! A hora que você perceber que se enganou pode ser tarde demais…”

Isadora tinha razão, a morena seguiu em frente, quanto tempo ela esperaria por Ana até que ela tomasse uma atitude? Agora que ela finalmente se deu conta que o seu amor estava nas mãos de Adriana ela encontrou uma pessoa.

— Ah você está namorando? — pareceu desanimada —

— Sim Ana, assim como você. Você está feliz? — era sarcástica —

— Eu estou bem Drica. – tentava disfarçar sua frustração –

— Que bom, eu espero que você seja feliz Ana Paula.

— Eu desejo o mesmo pra você. – sua voz embargou – Eu senti saudades. – finalmente disse sobre seus sentimentos.

— Você não me ama Ana Paula, não sinta saudades. – Mariana entra no quarto nesse momento – Eu preciso desligar, obrigada por ter ligado.

— Eu fiquei preocupada, eu estou feliz por você estar bem. Foi bom falar com você.

— Obrigada Ana. – Mariana apenas olhava para a morena – Adeus.

— Até mais.

Desligando o telefone Ana Paula se soltou na cadeira, estava tão tensa que parecia que o corpo tinha endurecido por inteiro. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, percebeu o tempo que perdeu com inseguranças e incertezas. Perdeu uma mulher que lutou por ela, a defendeu, a amou. Ela perdeu a mulher que a amou. Ela repetia isso mentalmente. Debruçou na mesa e deitou a cabeça sobre os braços e chorou.

************************

Mariana caminhou até a cama enquanto Adriana jogava o celular de volta na cabeceira. A arquiteta sentou ao lado da morena e beijou sua cabeça. Drica segurou a mão da namorada.

— Quem era Drica?

— Ana Paula. – não mentiu —

— O que ela queria?

— Perguntar se eu estou bem, ela disse que estava preocupada e tudo mais. – deu de ombros –

— Você ainda tem sentimentos por ela não é? – olhava para a morena –

Adriana respirou fundo e encarou os olhos negros de Mariana.

— Eu não vou te esconder nada Mari, eu ainda tenho sentimentos por ela sim, mas eu não quero mais pensar nela, ela teve todas as oportunidades possíveis para ficar comigo, e desperdiçou, não seria agora que isso mudaria.

— Adriana eu quero muito ter você pra mim, mas eu também não quero ser um peso para você. Eu te pedi em namoro, mas se você achar que fez a escolha errada eu prometo deixar você seguir o seu caminho.

Adriana parou a frase de Mariana com o dedo indicador em sua boca.

— Mari eu escolhi ficar com você porque eu tenho essa vontade há muito tempo. Por mais que eu seja apaixonada por Ana Paula, eu prometo que eu não vou te desrespeitar, eu assumi um compromisso com você e eu prometo me doar para que esse relacionamento seja muito feliz, pelo tempo que for.

Mariana sorriu para a morena que sentou no colchão, estava de frente para a namorada e esta se inclinou para depositar um beijo nos lábios da arquiteta que retribuiu com muita paixão. A morena segurou o rosto de Mariana entre as mãos e fazia carinho em sua nuca. A índia se arrepiava com aquele toque, ela estava louca para fazer amor com Adriana.

Mariana jogou o corpo sobre Drica forçando a morena a deitar de costas no colchão, se acomodou entre as pernas da namorada enquanto beijava o seu pescoço. Ao se apoiar para ajeitar seu corpo, Mariana apertou as teclas no laptop, sentindo isso ela afastou o aparelho para ficar longe da movimentação das duas.

Mariana voltou a beijar a boca de Adriana, era um lindo bailado de línguas, as duas já estavam ofegantes, as mãos exploravam os corpos que se descobriam naquela troca de toques, Mariana passeava sobre o ombro da morena, deslizou o dedo sobre o seio e chegou na barriga, Drica se arrepiou inteira continuou a exploração até a coxa de Drica, colocando a mão por dentro do short da garota apalpando sua bunda, e quando se preparava para retirar a peça de roupa uma voz ecoou dentro do quarto, quebrando o clima das duas.

— Mas será possível Adriana? Toda vez é isso? — Alessandra dizia na câmera –

As duas assustadas pararam de se beijar, e Adriana via suas amigas rindo do outro lado da tela.

— Puta que pariu, de novo Alessandra? – dizia irritada –

— Como assim de novo? – Mariana não entendia nada e tentava se recompor–

Paula e Alessandra apareciam na tela, Adriana podia ouvir a voz de Viviane ao fundo.

— Eu já posso olhar?

— Pode olhar Viviane! – Adriana revirava os olhos –

A amiga apareceu também no vídeo, deu um tchauzinho rindo da cara vermelha de vergonha que Adriana mostrava na câmera. As duas sentaram no colchão e Drica colocou o laptop no colo, Alessandra estava triunfante em sua mesa rindo da amiga.

— O que vocês estão fazendo ai?

— Eu estava trabalhando quando você me chamou, eu atendi a chamada e mais uma vez presenciei um filminho seu. – ria muito –

Adriana estava sentindo o rosto ficando quente de vergonha.

— Não fica vermelha amiga, já deveria estar acostumada. – Paula também tirava sarro da amiga –

— Eu nunca vou me acostumar a essa invasão de privacidade. – balançava a cabeça –

— Mariana não está entendendo nada, olha a “cara de ué” que ela está fazendo! – Alessandra ria –

— Eu não estou mesmo.

— Elas já me pegaram em um momento assim outras duas vezes. Eu não consigo acreditar que isso está acontecendo de novo. – começou a rir –

— Duas? – Mariana se espantou – Você tem uma vida bem agitada hein!

— Depois eu te conto com calma, mas eu não sou tão rodada assim não.

— Eu não pensei nisso. – Mariana acabou rindo também –

— Desculpe meninas, mas vocês que me chamaram. – Ale levantava as mãos –

— Tudo bem, já que vocês estão ai, como estão as coisas?

— Tudo certo, ansiosas para te abraçar, quando você chega?

— Em dezembro.

— Você não vai voltar? Eu não acredito! – Alessandra reclamava –

— Eu não disse? Eu sabia que ela não ia desistir do curso. – Paula dizia –

— Poxa Dri, você tinha que largar isso ai e voltar pro Brasil, depois de tudo o que você passou. – Vivi também reclamava –

— Gente, é uma oportunidade única o que eu consegui, eu não posso desperdiçar, eu já vou ter que recuperar o tempo perdido e vai ser uma loucura, eu estou só pensando nisso. – coçava a cabeça –

— Onde você está? – Paula perguntou –

— Eu estou na casa da prima de Mariana, em Nova Iorque, nós achamos melhor sair um pouco de Harvard, a mídia estava em cima de mim lá, eu fiquei assustada com a repercussão que isso teve.

— Você não tem noção, todo dia tinha notícia aqui no Brasil. Imagino aí. – Viviane contava –

— Eu estava louca pra te ver de novo amiga, ter certeza que você está bem, que bom que você voltou. – Paula dizia –

— Eu sei Paulinha, eu também estava doida pra ver vocês. Voltar pra minha rotina. A surpresa foi ter Mari aqui para terminar de quebrar a pouca rotina que eu ainda tenho. – ria –

A índia segurou a mão da contadora e beijou, Paula e Alessandra se olharam.

— Bom, antes que vocês falem alguma gracinha, eu estou namorando Mariana.

— Eh! Até que enfim! Acabou esse chove e não molha de vocês duas. – Alessandra comemorava –

— Parabéns amiga, eu desejo toda felicidade para vocês. – Paula era mais contida –

— Vivi? – Adriana chamou receosa –

— Eu desejo toda felicidade do mundo pra vocês, eu já superei Dri, fica tranquila. – sorria sinceramente –

A morena abriu o seu melhor sorriso para as amigas e se sentiu amada. Conversaram mais algumas amenidades e finalmente desligaram o Skype.

Mariana estava intrigada com algumas informações que escutou na conversa. Adriana tratou logo de esclarecer ao perceber isso.

— Mari, tem algumas coisas que eu acho que eu ainda não te contei.

— Meu amor, não precisa se preocupar, tudo no seu tempo.

— Eu quero te falar tudo.

— Então vamos fazer o seguinte, troca de roupas e vamos descer para comer alguma coisa e você me conta o que você quiser.

— Nós temos que descer mesmo? – fez beicinho –

— Sim, a senhora tem que tirar a bunda de dentro de casa, não pode ficar amuada assim não, vem comigo. – segurou a mão de Adriana para levantar a morena –

As duas saíram e caminharam pelo centro de Nova Iorque, entraram em um restaurante e almoçaram enquanto conversavam, Adriana contou sobre Viviane e o período que elas conviveram em Harvard.

Mariana compreendeu o receio de Adriana ao contar sobre o namoro para Viviane, ela tinha medo de magoar a amiga, mas pelo que ela entendeu Vivi já estava em outra, e ela não sentiu ciúmes. A arquiteta só tinha ciúmes de Ana Paula, pois sabia dos sentimentos da morena pela loira.

************

Felipe desembarcava no Galeão, Luana estava esperando pelo rapaz, ansiosa pela volta do namorado. Correu para um abraço forte quando viu o moreno caminhando no desembarque.

— Oi meu amor! – beijava o rapaz –

— Oi Lu. Que saudade! – abraçou a menina –

— E ai, como foi? Adriana está bem?

— Sim, ela está bem agora. Ela ficou em Nova Iorque com a namorada. – dizia naturalmente –

— Ah ela está namorando?

— Sim, lembra a arquiteta que apareceu no aeroporto, a morena igual a uma índia?

— Lembro sim.

— Ela apareceu lá no hospital quando acharam a Drica, e elas estão namorando agora. – caminhavam para o estacionamento –

— Ela vai terminar o mestrado? – abraçava o namorado –

— Sim, vai. Ela só volta em dezembro. – colocava a mala no porta malas –

— Eu estava tão preocupada. Que bom que você está de volta.

Felipe dirigiu para casa, chegando no apartamento, seus pais estavam jantando, sua mãe saltou da cadeira histérica correu para abraça-lo. Seu pai estava mais contido.

— Felipe meu bebê! Você está bem? Nossa mas como você emagreceu! Você nunca mais faça isso! Eu fiquei muito preocupada!

Felipe estava estático, não esboçava nenhuma reação com a mãe.

— Com a SUA filha você não ficou preocupada? – se soltava dos braços da mãe –

— Eu já disse que eu não tenho mais filha.

Luana ouvia Felipe reclamando mas achava que ele exagerava quando dizia que a mãe não ligava para Adriana. A garota ficou apavorada ao ouvir a sogra dizendo isso na sua frente.

— Nem a possibilidade de perder Adriana fez você mudar essa ideia ridícula?

Sua mãe ficou quieta. Seu pai entrou na conversa.

— Meu filho, seja bem vindo. – abraçou o filho que respondeu – Oi Luana.

— Obrigado pai.

— Oi Senhor Antero.

— Sua irmã? Como ela está?

— Ela está se recuperando, ela respirou muita fumaça, está tomando medicação ainda, mas já está melhor. O susto que foi grande.

— Eu imagino, minha criança nas mãos daquele louco, ele fez alguma coisa com ela? – perguntava assustado –

— Não papai, ele não a violentou. Ela apanhou, se machucou tentando escapar, mas não houve mais nada.

— Ainda bem, eu não vejo a hora de encontrar com ela novamente, eu morro de saudades.

— Ela também papai.

— Ela encontrou o que procurou, não tinha nada que ir para outro país, foi fazer o que lá? Ficasse aqui perto da família, você teve que largar o seu emprego e tudo para ir atrás dela.

— Mamãe a senhora vai continuar com essa história? Ela foi para estudar, não para ser sequestrada.

— Vai saber o que ela andou aprontando por lá para provocar isso.

— Até parece que você não conhece sua filha. – Felipe já estava ficando irritado –

— Aquela mulher que estava com ela é alguma amiga? – fazia gestos vagos —

— Que mulher?

— Quando passou a imagem de vocês no jornal ela estava de mãos dadas com uma mulher, uma morena com cara de índia.

— Ah, é Mariana, namorada dela.

— Minha nossa! – colocou a mão no peito – Ainda bem que não falaram no jornal, imagina só, ser conhecida como mãe da sapatão da TV?

— Mãe por que a senhora não fica quieta? – Felipe saía para o quarto –

— Felipe, senta pra jantar, você está muito abatido, não deve ter comido direito. Vem que eu vou cuidar do meu bebê. – segurava o braço do filho –

Felipe se soltou e virou para enfrentar sua progenitora.

— Escuta aqui mãe, eu não sou um bebê, e você tem sim uma filha que está sofrendo muito pela sua ausência, ninguém consegue entender o que está passando pela sua cabeça, era pra você ter orgulho dela e não rejeição.

— Ela escolheu um caminho que eu não aceito.

— Então apenas respeite, eu vou me mudar, eu vou comprar um apartamento e vou sair dessa casa de maluco.

— Não ouse Felipe. Eu te proíbo.

— Mãe eu tenho trinta anos, você não pode me proibir de nada. Vem Luana.

Os dois foram para o quarto e pouco tempo depois voltou com uma mochila nas costas.

— Papai eu vou ficar na casa de Luana até comprar o apartamento, volto aqui se precisar pegar mais alguma coisa.

— Meu filho, se é isso que você quer, precisando de qualquer coisa me fala que eu te ajudo.

— Obrigado pai.

Catarina vinha do quarto ao ver a mochila se desesperou.

— Meu filho vai sair de novo? Você mal chegou.

— Eu estou indo pra casa de Luana, eu vou ficar lá até achar um apartamento.

— Felipe Ferreira, não faça isso! Eu estou te avisando!

— E a senhora vai fazer o que mamãe? Quando Adriana resolveu sair de casa a senhora obrigou meu pai a ajudar na compra do apartamento dela, por que essa diferença?

— Sua irmã sempre foi muito independente, já você não.

— Bobagem, eu estou indo, se a senhora resolver voltar atrás com relação a Adriana eu volto a morar aqui, senão, eu vou seguir minha vida.

Saiu e deixou sua mãe reclamando sozinha com Antero. Mais uma vez ficava evidente a diferença que ela fazia entre um filho e outro, Adriana era a que mais sofria com a rejeição da mãe. Felipe não conseguia entender essas atitudes, e isso o estava afastando da família.
O que a mãe de Adriana esconde? Qual será o grande segredo que separa mãe e filha?



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2022 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.