Ana Paula estava na terapia e conversava sobre o telefonema que fizera para Adriana.

— Eu liguei pra ela, foi ai que ela me disse que está namorando, deve ser aquela aspirante à FUNAI.

Marta riu – Como assim?

— A namorada dela parece uma índia. Se for ela quem eu estou pensando. Eu perdi a chance que eu tive. Quer dizer, todas as chances que eu tive. – balançava a cabeça incrédula —

— Ana, nunca é tarde para recomeçar. O fato de estar namorando não significa que será para sempre.

— Eu sei, mas eu não posso esperar por um término. Não é correto.

— Mas e se ela estivesse livre? Você terminaria com sua namorada? Assumiria esse relacionamento? Você sabe que seria algo sério.

— Eu sei, eu tentaria me entregar sim, pelo menos dessa vez eu faria um esforço. – sorriu sem graça –

— Ana você precisa encontrar o equilíbrio entre o relacionamento que você quer e o que você tem.

— Como assim?

— Hoje os seus relacionamentos são todos superficiais, por mais que você se apaixone, você nunca deixa que eles evoluam, você precisa perder o medo do compromisso. Deixar as coisas acontecerem no seu tempo, sem forçar o rompimento.

— Mas eu não forço nada todos os meus relacionamentos acabaram por desgaste da relação. Só com Lívia que eu não quis viajar, eu não quis ser igual a minha mãe.

— Ana você guarda muito rancor dos seus pais, Você precisa perdoá-los para seguir em frente, tente conversar com eles quando puder, abra o seu coração e diga pra sua mãe como você se sente.

— Não existe diálogo com minha mãe, tudo o que eu aprendi foi com minhas amigas, e dona Joana, ela sim, foi minha mãe quando eu precisei.

— Essa foi sua babá?

— É a governanta lá de casa, dona Joana que cuidou da gente enquanto minha mãe brincava de Gulliver. – revirava os olhos —

— “As viagens de Gulliver”, foi um filme interessante. – Marta ria –

— Eu e Camila aprendemos a nos virar sozinhas, estudar e tomar conta da nossa própria vida, eu nunca pensei em ir morar sozinha porque a casa é só nossa, não faz sentido gastar com apartamento se tenho uma casa enorme para duas jovens.

— Nesse ponto eu concordo com você. Não é necessário um gasto desses. Mas quando você fala que não tem diálogo com ela, você já tentou se aproximar?

— Várias vezes, o pior momento de todos foi contar que eu sou lésbica, eu achei que ela ia esbravejar, brigar, chorar, mas foi tão indiferente que ela não teve reação nenhuma.

— Mas de um lado foi bom, você não teve preconceito em casa.

— Mas também nenhuma palavra de encorajamento, tipo: — “Eu te apoio minha filha.”

— Entendo. E o seu pai reagiu bem?

— Meu pai que conversou mais comigo, ele não recebeu a noticia com muito gosto, mas não me recriminou. Ele sim me ofereceu apoio e conversou sobre os preconceitos que eu poderia enfrentar e tudo mais. – gesticulava —

— Seu pai parece um homem sensato.

— É sim, ele tem um ótimo caráter.

— Por que você não tenta conversar com ele primeiro então, percebe-se que sua relação com seu pai é melhor do que com sua mãe.

— Eu realmente não quero isso, depois de trinta anos, não há mais o que dizer.

— Nunca é tarde para perdoar minha querida.

Ana apenas olhava para a psicóloga, pensava no que ela dizia, mas ainda é muito reticente quando a tentar um diálogo com sua mãe.

— Como está o seu relacionamento atual? Você está feliz?

— Está um pouco abalado, desde que eu percebi que eu amo Adriana nossa relação esfriou. Ela está insegura, e isso está minando nosso namoro.

— Então não seria melhor vocês darem um tempo? Você precisa estar inteira para entrar de cabeça em uma relação, Ana. E hoje eu percebo que você se entrega pela metade, sempre tem alguma coisa que impede a sua realização amorosa.

— Você está sugerindo que eu termine o meu namoro?

— Eu estou expondo minha opinião profissional. Se você não quiser seguir tudo bem, a escolha é sua. Eu só coloquei minha visão dos fatos para tentar te ajudar.

— Eu não quero ficar sozinha, Adriana está em outra, o que eu tenho como consolo é meu namoro com Lívia, pelo menos eu penso menos em Adriana.

— Mas não é justo com sua namorada ser um prêmio de consolação Ana.

— Eu sei, não é isso, ah você entendeu o que eu quis dizer. – continuava gesticulando –

Marta riu e assentiu com a cabeça, conversaram mais alguns minutos e Ana seguiu seu caminho para mais um dia de trabalho.

*************
Adriana já estava quase recuperada, voltava do hospital onde fora tirar os pontos do supercilio, estavam quase chegando no apartamento de Amanda, Mariana pediu ao taxista que mudasse o itinerário e as deixasse no Central Park, um dos maiores pontos turísticos da cidade. Adriana estava resistente, queria mesmo era ir para casa de onde quase não saía.

— Ai Mari, não podemos só ir para casa? – fazia beicinho –

— Não minha linda, você tem que sair mais, nós estamos enfiadas dentro daquele apartamento a semana inteira. Aproveita que estamos em Nova Iorque, vamos conhecer alguns lugares.

— Nós podemos voltar outras vezes. – deitou a cabeça no ombro da namorada –

Mariana fez um carinho e respondeu: — Não, nós vamos lá hoje, eu quero aproveitar que o tempo está limpo.

O taxista as deixou na Quinta Avenida, elas caminharam para o parque de mãos dadas, algumas pessoas as observavam, mas as duas mulheres não ligavam, queriam apenas curtir aquele momento de conhecimento.

Depois de andar um pouco, resolveram sentar no gramado de frente para um lago, algumas crianças brincavam de pique mais à frente, alguns casais faziam pique nique, e elas conversavam.

— Seu pai já te ligou? – Mariana encostava em um toco de árvore –

— Já, eu falei com ele e Felipe ontem. – Adriana deitou na grama e apoiou a cabeça na coxa da índia –

— Eu fico feliz que ele tenha repensado as atitudes dele. Agora só falta a sua mãe. – fazia carinho na cabeça de Adriana –

— Aquela ali vai ser osso duro de roer, eu não consigo entender qual é o problema dela comigo.

— Sempre foi assim Drica? – enrolava uma mecha de cabeça da namorada com o dedo –

— Na maioria das vezes. Ela sempre acobertou Felipe e eu sempre apanhava. Ela sempre paparicou mais ele do que eu. – arrancou um pedacinho de grama — Eu acabei me tornando independente muito cedo, e quando eu fiz dezoito anos resolvi ir morar sozinha.

— Tão novinha!

— Foi melhor assim, eu sempre me senti uma estranha naquela casa, o único que percebia minha presença era o Lipe. Meu pai é um banana. – as duas riam – Minha mãe faz o que quer com ele. Como eu enfrentava quando ela estava errada, sempre tinham discussões.

— Difícil de entender isso, essa separação de valores, os filhos são iguais. Não se deve fazer essa escolha. – olhava para o lago –

— Você tem irmãos? Eu não sei nada sobre você ainda. – olhava para a arquiteta –

— Sim, eu tenho um irmão mais novo, mora comigo, o Marquinhos é uma figura! Tem vinte e quatro anos e até hoje coleciona gibi. – sorria –

— Ah, mas eu adoro gibi, eu tive alguns também.

— Mas os dele são aquelas coisas japonesas, ele diz que o nome é mangá. Alguma coisa assim.

— Entendi, esse tipo ai eu não gosto não. – riu – E seus pais?

— Eles morreram em um acidente de carro há três anos. – abaixou a cabeça tristemente —

— Nossa Mari, eu sinto muito. – levantou e sentou cruzando as pernas feito borboleta – Eu não devia ter perguntado.

— Não tem problema, eu teria que te contar de qualquer maneira. – sorria para Adriana –

Adriana levantou a mão e acariciou o rosto de Mariana, a índia se deixou embalar por aquele toque. Fechou os olhos e sentiu o carinho de Adriana. Ao encarar novamente aqueles olhos castanhos em sua direção não se conteve e se inclinou para beijar a namorada.

Um beijo doce, terno, eram tantas descobertas e a vontade de estar juntas ia crescendo a cada dia. Algumas pessoas olhavam as duas namorando, os mais velhos e conservadores balançavam a cabeça negativamente, alguns jovens sorriam achando lindo o casal que elas formavam.

— Alguém já te disse que você é linda hoje? – Adriana perguntava –

Mariana sorriu, elas estavam com as testas coladas e de olhos fechados.

— Não, hoje ainda não.

— Então você é linda Mari. – abriam os olhos ao mesmo tempo –

Sorrisos nos rostos e mãos entrelaçadas, corações disparados, a paixão estava pegando Adriana, ela se deixou conquistar por Mariana, e a índia já estava muito próxima do seu objetivo, ter Adriana por inteiro.
— Eu puxei a minha mãe. Ela era linda! A pele morena os cabelos lisinhos iguais aos meus. Marcos também tem minha cor, mas o rosto dele parece mais com o meu pai.

— Ela deveria ser muito bonita mesmo. – fez um carinho contornando o rosto da arquiteta –

— Minha avó era neta de índios, meu pai era bem alto, moreno também, muito bonito por sinal. – lembrava saudosa –

— Mariana, agora que eu me dei conta, eu não sei a sua idade.

Ela riu. – Nem eu a sua.

— Eu faço vinte e cinco anos semana que vem. – voltou a deitar na coxa de Mariana –

— Eu tenho vinte e oito anos. Fiz em janeiro. Semana que vem tem bolo então.

— Não, eu não gosto de comemorar aniversário. – balançou a cabeça –

— Por que? — fazia cafuné –

— Sei lá, não fui acostumada a isso. Eu só tive festa de aniversário quando meus amigos faziam uma festa surpresa pra mim. – brincava com uma folha que pegou no chão — Ou Felipe inventava alguma coisa.

— Quando você era criança nunca teve uma festa de aniversário? – perguntava espantada –

— Pelas fotos que minha mãe tem eu só tive a festa de um ano. Depois disso eu não me lembro de terem feito nenhuma festa pra mim, minha madrinha ia lá em casa me levar presentes, e as vezes me levava pra sair. Eu me lembro de ouvir minha mãe falar pra todo mundo que eu não gostava de festa, eu acho que eu me acostumei a isso.

— Mas era você que nunca gostou de festa ou sua mãe que dizia por você?

— Mari eu nunca pensei nisso antes, na verdade eu nunca curti uma festa minha quando eu era criança pra saber se ia gostar ou não. – sorria — Como eu falei só fui ter festa depois da adolescência, quando minhas amigas faziam ou Felipe.

— Estranho isso Drica. Geralmente as mães fazem aniversário pros filhos com tanto gosto. E os seus quinze anos?

— Eu fui pra Disney. Viajei com Felipe.

Mariana já começou a planejar alguma coisa para o aniversário da namorada não passar em branco, estava disposta a fazer uma festa surpresa mesmo com poucas pessoas, mas queria comemorar essa data com a morena.
— Vamos dar uma volta pela Quinta Avenida? – Mariana convidou –

— Vamos sim. Eu quero tomar um sorvete.

— Mas você não pode, ainda está se recuperando do problema respiratório, lembra o que o médico falou? Você não pode se resfriar tão cedo.

— Ai Mari, eu quero um sorvete. – cruzou os braços e fez beicinho como uma criança –

— Que bonitinho! Meu bebê fazendo beicinho. – segurou o queixo de Adriana e balançou sua cabeça –

— Poxa Mari.

Mariana ria enquanto puxava Adriana pela mão, as duas caminharam pelo Central Park de mãos dadas, até alcançar a rua principal, chegando à Quinta Avenida, as duas admiravam as vitrines, Mariana percebeu que Drica gostou muito de uma joia que elas viram em uma das lojas, guardou esse pensamento para si.

Chegaram a uma loja da Apple, Adriana logo entrou para ver se tinha alguma novidade para Alessandra que vivia pedindo para a morena trazer eletrônicos para ela. Adriana comprou um Ipod novo para a amiga, com mais capacidade e na cor rosa pink, a cara de Alessandra, ela teve certeza que a amiga iria adorar.

Depois das compras as duas tomaram um taxi e seguiram para o apartamento de Amanda, a noite já caía sobre Nova Iorque, as luzes da cidade já se acendiam, tornando o passeio mais lindo e aconchegante, a cidade que nunca dorme estava ali presenciando o amor de duas mulheres acontecendo debaixo do romantismo de Nova Iorque.
*********
Paula acordava preguiçosa abraçada a Alessandra, a namorada estava ainda em sono profundo como sempre. Levantou e foi até a cozinha preparar um café, levou um susto ao encontrar com Isadora saindo do banheiro no corredor.

— Isadora? – esfregava um olho –

— Bom dia Paula. – sorriu sem graça –

A mulata usava apenas uma camiseta de Viviane e calcinha branca bem pequena diga-se de passagem.

–Bom dia. – Paula olhava os trajes da hóspede de Viviane –

— Desculpe, eu não imaginei que encontraria uma de vocês acordada essa hora. – tentava tapar a parte debaixo com o pouco de camiseta que conseguia –

A cena era quase cômica se não fosse embaraçosa.

— Tudo bem, mas é melhor você voltar pro quarto, se Alessandra tivesse tido esse encontro eu não sei do que ela seria capaz. – riu—

— Desculpe. – saia escorando as costas na parede do corredor até entrar no quarto de Viviane –

Paula saiu para a cozinha rindo e balançando a cabeça. Não deixou de reparar no corpão que Isadora estava, não se lembrava da mulata ter um corpo tão bonito.

Quando Isadora entrou no quarto, parecia que tinha visto um fantasma, estava encabulada, percebia-se que seu rosto estava ruborizado. Viviane tinha cochilado, quando ouviu a movimentação no quarto novamente abriu os olhos.

— Oi minha linda. O que você está fazendo ai agarrada na porta? – bocejava –

— Você não vai acreditar no que acabou de acontecer.

— O que foi? – se acomodava na cama –

— Eu acordei com vontade de ir ao banheiro, e fiquei com preguiça de colocar o short.

— E ai?

— Encontrei Paula no corredor. Nossa que vergonha. – encostava com as costas na porta –

— Vem cá minha gatinha, deita aqui comigo. – bateu na cama –

Isadora caminhou até a cama, e deitou encaixada em sua namorada que a abraçou bem juntinho de seu corpo.

— Que vergonha!

— Relaxa, Paulinha é tranquila, não queira ter um encontro desses com Alessandra. – a ruiva riu –

— Ai, eu não quero nem pensar nisso.

— Dorme de novo, vai. Ninguém vai falar sobre isso.

Isadora se aconchegou nos braços da namorada e pegou no sono junto com Viviane.
Paula na cozinha já bebia o café que fizera, foi até a varanda do apartamento e abriu a porta saindo para sentar na rede, essa que Adriana tanto gostava quando dormia com as amigas. Ela se lembrou disso e sorriu feliz por poder receber sua amiga novamente em sua casa quando ela voltasse de Boston, o clima já estava mudando no Brasil, já começava a fazer frio e Paula resolveu entrar.

Depois de ir ao banheiro, voltou para o quarto se deitando ao lado de Alessandra novamente, que não fizera nenhum movimento desde que a namorada levantou.

Ela deitou com Alessandra e abraçou a namorada, só então Alessandra resmungou.

Paula pensava que já estava na hora de perdoar a namorada e trazer Alessandra para morar novamente com ela, trocar as alianças de dedo novamente. Sorriu pensando nisso.

Lembrou-se que Adriana fará aniversário daqui a poucos dias. Queria estar com a amiga, mas ela estava em outro país, mas pensava em um jeito de lhe fazer uma festa mesmo que virtual.
Adriana só tinha festas quando as meninas faziam, era uma situação que Paula nunca entendia.

Aconchegada em Alessandra, a moça acabou adormecendo novamente, era um tranquilo sábado de outono, as estações estavam mudando e com elas os pensamentos e corações das amigas que tanto se gostam.
**********************

Felipe procurava apartamento para sair de casa, enquanto isso dormia na casa de Luana, o rapaz estava com a consciência pesada por ter traído a namorada com Renata, na noite que Adriana foi para Nova Iorque ele ainda dormira no hotel em Boston, não resistiu a distancia e a vontade de ficar com Renata, ligou para a colega de quarto da irmã e a convidou para um café.

A garota aceitou, também estava querendo reencontrar o rapaz antes de sua viagem.

Chegando no local, Felipe viu uma Renata que ele não conseguiria imaginar se ela não estivesse ali em sua frente. Renata estava completamente diferente, colocou um vestido estampado em tons de vermelho, usava maquiagem e um salto moderado na sandália que usava nos pés. O rapaz ficou de boca aberta quando viu a garota que estava mexendo com seus instintos.

Quando Renata chegou ele ficou sem reação, o sorriso que ela abriu era um feitiço, ele se esqueceu de quem era e onde estava, só pensava em ter aquela menina, ele se corrigia, aquela mulher. Renata de manhã parecia a mesma menina engraçada e ingênua que ele conheceu no primeiro dia, mas naquela noite ela se mostrou uma mulher absurdamente sexy.

Aquele café terminou no quarto de Felipe em uma noite intensa de sexo sem restrições. Os dois se entregaram sem pudores como dois adolescentes conhecendo o sexo pela primeira vez.

Essa lembrança trazia um sorriso decanto de boca no rosto que se desfez ao lembrar que aquela noite acabou no aeroporto deixando para trás a menina-mulher que lhe roubou os pensamentos. A imagem de Luana veio em sua mente, foi uma grande sacanagem o que ele fez coma namorada, era o único arrependimento que ele tinha do que aconteceu, era o medo de magoar a namorada. Mas era tarde demais, ele não sabia se contava ou se deixava pra lá, afinal o que os olhos não veem o coração não sente.

Pensou que era melhor conversar com a irmã depois, pediria alguns conselhos. Por hora voltaria a procurar apartamento para se mudar.
************
Quarta-feira, dia do aniversário de Adriana, final de março, o clima em Nova Iorque já era mais ameno, o frio já diminuía, Adriana acordou ao lado de Mariana na cama espaçosa do quarto de hóspedes, elas já dividiam aquele espaço a uma semana, mas não tinham feito amor ainda. Adriana ainda sentia dores no corpo e Mariana respeitava o momento delicado que a morena viveu.

Drica abria os olhos devagar, preguiçosa, sentiu o peso do abraço de Mariana e da perna que estava entrelaçada na sua, teve uma sensação tão boa que virou para ficar de frente com a índia. Mariana mexeu um pouco mas não acordou, Drica ficou olhando as feições da índia, percebeu uma pequena cicatriz na sobrancelha da namorada. Ela dormia tão tranquila e serena que Drica ficou com pena de acordá-la.

Tentou sair da cama sem incomodar a arquiteta, mas dessa vez não conseguiu, Mariana despertou de seu sono e percebeu Adriana saindo da cama.

— Aonde a senhora pensa que vai? – dizia dengosa de olhos fechados –

— Desculpe, eu não queria te acordar. – olhou para a índia –

Mariana esticou o braço se oferecendo para Adriana segurar sua mão, a contadora aceitou a investida da índia que a puxou de volta para a cama. Adriana deitou e foi logo abraçada pela namorada em um chamego gostoso e leve.

— Bom dia minha namorada. – Mariana falou ao ouvido de Adriana –

— Bom dia namorada. – ria –

— Um dia lindo para o seu aniversário. – sorriu e beijou Adriana –

— É verdade, eu tinha esquecido disso. – disse sem graça –

— Mas eu não vou deixar você esquecer um dia tão importante, parabéns minha linda! – abraçou mais forte e beijou Adriana novamente –

— Obrigada. – se limitou a responder –

Adriana fazia um carinho nos cabelos de Mariana, as duas namoravam deitadas na cama, embaixo do edredom, as carícias ficaram mais intensas e mais uma vez as duas foram interrompidas pelo celular de Adriana.

— Mas isso é hora de tocar? – Adriana reclamava –

Mariana apenas ria da indignação da morena, ela também ficou frustrada, mas estava muito tranquila quanto a esperar por Adriana.

— Oi Paula. – Adriana atendeu o telefone enquanto sentava na cama –

— “Parabéns pra você!” – as meninas cantavam no celular – “Nessa data querida!”

— Ai gente para com isso! – reclamou com as amigas –

— Para com isso nada, é o seu aniversário, eu quero muito comemorar que você está fazendo mais um ano de vida e está ai saudável e bem, que você está viva junto de nós. – Paula dizia e se emocionava –

— Isso mesmo! Feliz Aniversário Dri. – Viviane gritava –

— Minha nossa, os vizinhos vão despejar vocês daí. – Adriana ria –

— Relaxa, ninguém é páreo para mim. – Alessandra dizia –

— Com esse tamaninho minha amiga, você que não é páreo para ninguém.

Todas riam, Mariana ria de Drica, e reparava como ela ficava feliz em conversar com suas amigas, tinha uma pontinha de ciúmes de Viviane depois que soube do envolvimento das duas, mas decidiu que não ia se aborrecer com isso, Adriana teve oportunidade para ficar com a ruiva, mas estava ali com ela.

— Manda um beijo para as meninas.

— Mariana está mandando um beijo para vocês. – Drica olhava de rabo de olho para a namorada –

Mariana fazia um carinho nas coxas da contadora que sentia cócegas e tentava se soltar da namorada.

— Manda outro para ela. – Paula respondeu –

— E ai, vai ter bolo?

— Que bolo? Claro que não, ainda mais aqui, só eu e Mariana. Não quero nada.

— Poxa Drica, pelo menos um cup cake. – Viviane dizia –

— Que cup cake que nada, é um dia como outro qualquer gente, eu não sei de onde vocês tiram essas coisas.

— Qual é Drica, um refrigerante pelo menos. – Paula reclamava –

— Eu não sei o que eu vou fazer ainda. Mas não planejei nada demais.

Adriana não sabia que Mariana armou uma festa surpresa para ela, as meninas sabiam disso e ficaram implicando com a amiga, a arquiteta convidou Renata e pediu que ela chamasse as colegas mais chegadas de Adriana para irem até Nova Iorque, e combinou com as meninas de acessarem o Skype a noite que elas participariam da festa virtualmente assim como Felipe e Luana.

Depois de conversarem um pouco as amigas encerraram a ligação, Adriana voltou sua atenção para a namorada e deitou novamente ao seu lado.

— Eu estou com tanta preguiça de levantar. – Adriana sussurrou perto de Mariana – Aqui está tão bom com você.

— Eu sei, mas eu preparei um dia cheio de opções para nós duas. – saiu debaixo de Adriana deixando a morena cair no colchão –

— Ei, quando sair assim me avisa tá? – reclamou Adriana –

Mariana ria da namorada.

A índia correu para o banheiro e Adriana ficou deitada na cama, tentava imaginar o que a vida lhe preparava para mais um ano de vida, esperava que fosse um ano mais calmo, com menos problemas, depois de tudo o que passou estava começando a ficar descrente com a vida.

Mariana voltou do banheiro colocando Adriana para fora da cama.

— O que a senhora ainda está fazendo ai? – batia palmas para Adriana — Pode ir levantando, vamos pra rua!

— O que nós vamos fazer na rua, Mari? Eu não quero sair. – fazia bico enquanto resmungava –

— Nós vamos passear, e curtir o dia, afinal de contas hoje é um dia muito especial,

— Não sei por que. – dizia abafada com o rosto enfiado no travesseiro –

— Porque você nasceu pro mundo e me deu a oportunidade de te conhecer. – se jogou na cama e a abraçou –

— Ai Mari, você é linda sabia? – levantou a cabeça e encarou o olhar negro da namorada –

— Hoje eu sei, tem uma mulher mais linda ainda me dizendo isso todo dia. – abriu um lindo sorriso –

Adriana rolou na cama ficando de barriga para cima, e Mariana a beijou, tinha o hálito fresco da pasta de dentes e do rosto lavado.

— Agora levanta que nós vamos bundiar em Nova Iorque. – segurou as mãos da contadora e a levantou –
*******************

Ana Paula almoçou com Lívia no Centro do Rio, depois de deixar a namorada de volta no trabalho, ligou para Isadora.

— Oi Ana.

— E ai Isa? Você está no trabalho? – caminhava pela Avenida Rio Branco –

— Sim, por que?

— Eu estou aqui perto, pensei em passar ai para te ver.

— Ah, vem sim, meu gerente está viajando, eu consigo ficar mais tranquila.

— Então eu vou passar ai.

— Vem sim. Beijo.

Ana foi para o prédio que Isadora trabalha, subiu e a recepcionista ligou avisando que ela já havia chegado, Isadora liberou a entrada e as duas se encontraram na porta da sala da mulata.

— Oi amiga, que bom te ver, desde o dia daquele porre que eu não te encontro. – Isadora dizia animada –

— Pois é, nem me lembre desse porre, eu tive uma ressaca daquelas! – entrou na sala –

— Senta ai. – Isadora fechou a porta – Está de folga hoje?

— Eu vim no fórum do Rio para ver um processo e acabei almoçando com Lívia, ai deixei ela no trabalho e resolvi te ligar.

— Entendi. Hoje está tranquilo aqui, o gerente geral está na argentina em uma convenção, ai não tem ninguém pra pegar no meu pé. – ria com Ana –

— E ai amiga, tem notícias lá de Harvard? – dizia devagar e com cuidado –

Isadora bufou – Ana você não ligou para Adriana?

— Eu liguei. – disse encabulada –

— E ai? – Isadora se ajeitou na cadeira –

— Ela disse que está namorando. – seu olhar era tristonho –

— Ah ela disse? – Isadora murchou também –

— Você não sabia? – perguntou desconfiada –

— Por que eu saberia?

— Ué, você não namora com a ex dela? – dizia com desdém –

— Ana eu já te pedi para não falar assim de Viviane. Ela hoje é minha namorada, esses comentários já estão começando a me incomodar. – batia com alguns papeis na mesa —

— Desculpe Isa, mas eu não consigo esquecer que ela ficou transando com Adriana esse tempo todo lá em Boston.

— Se você não consegue, não fica me lembrando também, por favor. – gesticulava nervosa —

— Desculpe. – baixou os olhos —

— Tudo bem, o que acontece, eu e Viviane não ficamos trocando informações sobre a intimidade dela, Ana, eu pergunto se ela está bem e só, Vivi também não é indiscreta para ficar revelando o que Adriana faz ou deixa de fazer.

— Eu entendi, foi mal Isa. Eu fiquei muito triste com isso, sabe. Eu achei que poderia ter alguma chance com ela.

— Eu não estou te entendendo, agora você quer uma chance com ela? – fez cara de interrogação –

— Pois é amiga, você tinha toda razão como sempre, eu amo Adriana, sempre amei, eu que era cega e não queria admitir isso.

— Aaaaah! EU SABIA! – deu um soco na mesa –

Os alguns colegas de Isadora que passavam pelo corredor pararam ao ouvir o grito que a mulata deu, desceu do salto e perdeu toda a compostura de executiva júnior que ela mantinha.

— Isadora, se controla! – Ana repreendia entre os dentes –

— Ai amiga, foi mais forte do que eu né, finalmente a senhora Ana Paula Arantes resolveu assumir o seu amor pela linda e agora distante Adriana. – dizia com voz de narrador de televisão –

— Você está me zoando? – Ana ria –

— Estou. – ria mais ainda –

— Eu mereço, eu vim até aqui abrir o meu coração pra você e você me recebe desse jeito. – levantava fingindo indignação – Eu vou embora.

— Senta ai menina, para com isso, me conta tudo, eu quero saber como isso aconteceu.

— Ah, — sentava novamente — o medo de perder Adriana com essa história do sequestro foi o estopim, eu imaginei tudo que eu poderia ter vivido com ela e o que eu posso ainda viver, e senti no peito aquela dor típica de amor.

— Entendi, então foi o medo de nunca mais vê-la que fez você entender que o que você sentia é realmente amor.

— Mais ou menos isso. Eu fiquei desesperada Isa, Eu não conseguia dormir direito, nem para comer eu tinha ânimo, isso me rendeu várias brigas com Lívia, ela está tão insegura que eu não sei mais o que eu faço.

— Termina com ela Ana, você está iludindo a garota, liberta Lívia para encontrar alguém que a ame de verdade.

— Eu não quero magoar a Lívia.

— Você vai magoar quando Adriana voltar e ela perceber que perdeu tempo com você tentando te reconquistar e não conseguiu.

Ana ficou pensativa, Isadora tinha razão mais uma vez, como sempre sua amiga lhe abria as portas da lucidez, mas para Ana Paula, terminar com Lívia seria cruel, pelo menos naquele momento, pensou em deixar passar um tempo para tentar esquecer Adriana, já que a morena lhe jogou um balde de água fria quando assumiu o namoro naquela ligação.

O celular de Isadora tocou sobre a mesa e a mulata quando olhou, sorriu, era Viviane, ela fez um sinal para Ana esperar que ela atenderia a namorada.

— Ana, deixa eu atender que é a Vivi.

— Claro. – deu de ombros –

— Oi meu amor. – sorria –

Ana fazia careta para amiga que bateu a mão no ar para ela.

— Isa, você pode falar?

— Sim, posso, o que houve?

— Não houve nada, é que hoje é o aniversário de Adriana e eu liguei para saber se você pode ir lá pra casa, nós vamos fazer uma festa surpresa virtual pra ela. – ria –

— Festa surpresa virtual? – ela olhava para Ana e ria – Essa eu nunca tinha visto. – Ana fazia cara de interrogação —

— Nem eu, isso foi ideia da namorada dela que falou com Paula e a maluca aqui achou o máximo.

— Ah entendi. eu vou sim, vamos dar um feliz aniversário virtual, — ria – tem que levar alguma coisa ou os salgadinhos também serão virtuais?

— Ah pode parar de bobeira hein. – ria muito – Não são virtuais não, nós já encomendamos tudo, não precisa trazer nada.

— Então tá, eu vou direto daqui.

— Maravilhoso. Um beijo meu amor. – Viviane dizia derretida –

— Beijo. – sorria –

–Que historia é essa de aniversário virtual? Coisa da criança que você está criando né. – balançava a cabeça –

— Pior que não dona Ana. – sorria sarcástica – Coisa da namorada da sua criança, — apontava o dedo indicador para Ana — que faz aniversário hoje e você nem se lembrou.

Ana sentiu o peso das palavras de Isadora lhe abatendo, namorada de Adriana? Nossa, é aniversário da Drica e ela havia esquecido completamente, ficou sem resposta para a amiga.

— Pelo que eu vejo você esqueceu mesmo né.

— Completamente. Então vão fazer uma festa aqui para ela ver de lá.

— Pelo que eu entendi é isso ai.

— Divirta-se então. Eu vou nessa Isa, tenho que voltar para o escritório. – sua expressão mudou depois do telefonema de Viviane –

— Ei, agora não adianta ficar assim Ana, você trilhou esse caminho, Ou você segue em frente e deixa o passado para trás, ou você muda de atitude e corre atrás do seu prejuízo.

Ana ficou olhando para a amiga pensativa e ponderou as palavras que escutara. Imaginava como tomar essa atitude, seria preciso muito esforço para se jogar de cabeça em uma possível tentativa de reconquistar Adriana.

Deixou o escritório de Isadora chateada, cabisbaixa, perdeu Adriana para a sua insegurança, para o seu medo, não foi Gisele nem a distancia, foi ela mesma, aquele sofrimento era responsabilidade exclusiva dela, isso já estava muito claro em seus pensamentos.

Como agir? O que fazer nessa situação? Está claro que Adriana está se entregando para Mariana e a sombra de Ana Paula fica mais longe dos seus pensamentos, mas será que essa chama se apagará completamente? Se Ana Paula resolver abrir o coração como Adriana reagiria? A terapia irá render no próximo encontro.



Notas:



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