Adriana estava em tratamento para estresse pós- traumático, na própria Universidade, ainda tinha pesadelos e perdia o sono durante a noite, passou a dormir pouco e estudava muito para ocupar sua mente e tentar esquecer os traumas que sofreu.

Como se não bastasse todos os problemas que ela já tinha, recebeu uma ligação de Felipe no meio da tarde, ela saiu de uma das aulas para atender o irmão.

— Oi Felipe, o que aconteceu para você me ligar essa hora? — entendeu que havia algo de errado –

— Adriana, eu sei que você estava estudando, mas é uma emergência, papai não está nada bem, descobrimos que ele está com Leucemia, ele vai precisar de cuidados novamente.

— Caramba Felipe, mais essa? – colocou a mão na cabeça –

Foi mais um baque para Adriana enfrentar, pelo menos sua volta já estava próxima, Faltavam apenas três meses para terminar o mestrado e voltar para o Brasil, Drica não via a hora de retornar.

— E agora Felipe, o que ele vai fazer?

— Ele vai começar a fazer quimioterapia e vamos fazer exames para tentar encontrar uma medula compatível se for o caso de uma transfusão.

— Entendi, pior que eu só volto em dezembro.

— Calma Drica, vai ficar tudo bem, eu acho que ele se recupera rápido, vamos torcer. Eu te liguei porque você precisa saber, depois liga pra ele.

— Eu vou ligar sim Lipe, pode deixar. Valeu meu irmão. Se cuida.

— Pode deixar, beijo.

Desligaram o telefone, Adriana sentiu o peso do mundo nas costas outra vez, depois de uma temporada tão turbulenta, ainda está recebendo noticias ruins. Esfregou as têmporas e voltou para a sala de aula, disse ao seu orientador que não estava se sentindo bem e foi dispensada, caminhava devagar pelos corredores de Harvard enquanto pensava no que fazer, queria pegar um avião e desembarcar no Rio de Janeiro, no seu Rio, de calor e praias lindas, de água de coco, corpos sarados e expostos correndo nos calçadões, de assistir ao pôr do sol sentada na areia, de lar doce lar, estar no Rio era estar em casa novamente.

Caminhou para o pátio, e sentou na grama encostada em uma árvore, de frente para o prédio de ciências exatas onde estudava. Encostou a cabeça no tronco e fechou os olhos.

Por que o seu pai? Logo ele? Ela queria entender, mas não conseguia. Ficou emocionada e chorou, não queria que seu pai sofresse, queria poder fazer o exame de compatibilidade de medula o quanto antes, mas temia não conseguir.

Não sabia dizer quanto tempo ficou ali, sentada esperando nada nem ninguém, apenas vendo sua vida passar por entre seus dedos, todas as coisas que deixou de fazer, as pessoas que deixou de conhecer, os amores que deixou de viver, mais uma vez, o rosto de Ana Paula surgia no meio de sua nostalgia. Onde a loira estaria agora?

Se policiou para mudar o rumo dos pensamentos, precisava esquecer a advogada, mas não conseguia, mesmo sabendo que Mariana a esperava, ela ainda lembrava o gosto doce dos beijos ardentes da advogada.

Para tirar-lhe do seu devaneio escutou uma voz conhecida chamando por seu nome.

— Adriana! — tinha surpresa na voz –

Renata caminhava pelo campus e viu a amiga sentada e tão distraída que resolveu parar.

— Menina, o que você está fazendo ai? Não era pra você estar em aulas? – sentava ao lado de Drica —

— Sim, mas eu pedi dispensa, eu não tinha mais cabeça para assistir aulas hoje.

— Amiga, você teve pesadelos de novo não foi? – fez um carinho no braço da morena –

— Tive, mas o problema não é esse. Felipe me ligou.

Renata sempre que ouvia o nome de Felipe se arrepiava inteira, como uma única noite poderia mexer tanto com a sua vida?

— Qual é o problema?—perguntou preocupada—

— Meu pai está com leucemia.

— Nossa, mas que coisa! Vocês não vão ter sossego? – abraçou Adriana –

— Pois é, foi o que eu pensei. – dizia desanimada –

— Mas tem muito tempo?

— Pelo visto descobriram agora, ele vai ter que fazer quimio e vão fazer testes para descobrir uma medula compatível, devem estar pensando em um transplante.

— Entendi. Mas que situação amiga, mas olha só, vai dar tudo certo tá, pensa positivo, seu velho vai ficar bem.

— Eu estou torcendo pra isso Renata, logo o meu pai! – novamente se emocionou e foi amparada pela amiga –

— Não fica assim não amiga, olha só, vamos lá na lanchonete comer um hamburgão para levantar esse astral.

— Desde quando comer levanta astral?

— Ah desde quando não temos dinheiro nem shopping disponíveis para fazer compras. – gesticulava –

Adriana acabou rindo da amiga, balançou a cabeça e aceitou o convite feito para o tal hambúrguer.

— Ai Renata, só você mesmo, parece que aonde eu vou tem sempre uma dublê de Alessandra pra me alegrar.

A garota levantou e estendeu a mão para Drica, ela segurou a amiga e levantou em seguida, as duas caminhavam calmamente para a lanchonete enquanto conversavam.
***************
No Brasil, Isadora fazia aniversário, estava comemorando em um barzinho na orla de Niterói, Alessandra e Paula foram com Viviane, Ana Paula também estava com a amiga além de Luciana, Camila e outras pessoas amigas da mulata,

Ana parecia sem graça com a presença das amigas de Adriana, estava sentada longe tomando um chope. Paula ficou no refrigerante para poder dirigir de volta para casa, visto que Alessandra já estava na quarta caipirinha. A contadora percebeu que Ana estava sozinha, será que ela terminou com a namorada?

Viviane e Isadora estavam felizes como nunca, as duas estavam vivendo o romance ideal se é que ele existe, a felicidade era a palavra de ordem das duas mulheres, os sorrisos iluminados e os olhares apaixonados entregavam que as duas conseguiram superar os amores não correspondidos do passado e se entregavam de corpo e alma ao amor do presente.

Tinham seis mesas unidas para os convidados da mulata, Alessandra estava sentada no final da mesa encostada na vitrine, ao lado de Paula, já era o quinto copo de caipirinha e Paula começou a ficar preocupada.

— Ale, não acha que é melhor parar de beber essa caipirinha? Já é o quinto copo.

— Relaxa meu amor, eu estou bem. – já começava a falar arrastado — O barman é um frouxo, isso aqui está vindo que nem um suco de limão, docinho. – bebeu mais um gole –

— Alessandra, isso não é suco de limão, sucos não levam vodca, e essa bebida está com mais vodca que a embaixada da Rússia, então é melhor você dar um tempo, bebe um pouco de refrigerante. – oferecia o copo para a namorada –

— Ai Paula, quando você não bebe você fica tão chata! – empurrou o copo de refrigerante para longe –

— Eu fico chata? Não é você que fica muito bêbada? – Paula cruzou os braços – Lavo minhas mãos .

Minutos depois, Alessandra estava pedindo outra caipirinha para o garçom.

— Oh Tiaguinho! – levantava a mão para o garçom –

O rapaz já vinha rindo, ela passou a noite inteira chamando o garoto de Tiaguinho por achar que ele parecia muito com o cantor de pagode.

Levantou da cadeira, andou a mesa inteira participando das fotos, sentou ao lado de Luciana, irmã de Isadora, perguntou a menina se ela não enjoava de se vestir de branco quando soube que a garota faz medicina.

— Vem cá oh doutora, não é chato ter que andar de uma cor só? Ainda por cima branco, não combina com nada. – abraçava o ombro da menina –

Luciana apenas ria, Paula veio conter o ânimo da namorada, Viviane comprou um bolo para cortarem no final, quando o pessoal estava colocando o bolo na mesa e todos em volta estavam cantando os famosos parabéns, Alessandra começou a ficar mal, sem ninguém esperar ela virou para o canto onde estava e vomitou em um vaso de plantas que estava disposto ao seu lado.

Paula vendo o estado de sua mulher, ela levantou e se dispôs de maneira que tentava encobrir o que ela estava fazendo. Batia palmas, cantava e olhava para Alessandra de rabo de olho as vezes.

A contadora terminou de vomitar e de tão bêbada, ela encostou na vitrine e adormeceu com a boca aberta, quando terminaram de cortar o bolo e Isadora perguntou por ela, que o pessoal percebeu o estado alcóolico da moça. Paula ficou completamente sem graça quando viu que Alessandra estava dormindo.

— Minha nossa, que vergonha!—balançava a cabeça –

— Calma Paula, todo mundo já teve um porre assim na vida. – Isadora tentava consolar a amiga –

— Eu sei Isa, é que Alessandra quando resolve ter é um espetáculo à parte.

— Você quer ajuda para levar a Ale para o carro? – Viviane se oferecia –

— Não Vivi, obrigada, ela vai ter que acordar não é.

— Então come o seu bolo, depois você pensa nisso. – Isa entregou o pedaço de bolo para Paula –

Ana Paula só observava, ela e Viviane não se entendiam de jeito nenhum, a ruiva sempre ficava incomodada com a presença da loira, era uma briga de egos sem tamanho, mas elas tentavam se evitar para não ter problemas.

Paula que deu um pouco de atenção para a advogada enquanto comia e Alessandra dormia.

— Parece que ela apagou mesmo. –Ana apontava para a contadora –

— É, eu vou ter trabalho essa noite. – Paula riu –

— Dá um café bem forte para ela antes de dormir que já melhora um pouco.

— É eu vou fazer isso. –olhava para a namorada –

–Paula, Adriana está bem? – perguntou sem graça –

— Está sim Ana, se recuperando. Ela está fazendo terapia para curar o estresse pós trauma, alguma coisa desse tipo.

–Ah entendi. Eu fiquei tão preocupada quando ela sumiu. – bebia um gole do chope –

— Todos ficamos, Isadora nos contou do seu desespero. – encarava a advogada –

— É, Paula eu sei que pode soar muito estranho ou até inacreditável, mas eu amo Adriana. – olhou para a contadora esperando sua reação –

— Não acha que é um pouco tarde para isso? – brincava com o gelo do copo –

— Adriana sempre disse que não tem prazo para amar.

— Mas tem que ter paciência né Ana, e isso eu acho que Adriana já perdeu com você. Ela te deu inúmeras chances e no final você disse na cara dela que não sentia amor, de onde ele saiu assim tão de repente? – Paula era até um pouco ríspida —

— Eu sei que eu errei, mas eu mudei, e esse amor sempre esteve aqui eu que tive medo de assumir.

Paula não entendeu onde Ana queria chegar com aquela conversa.

— Ana, eu acho que você tem que falar isso para a Drica, eu só não sei se ela vai querer ouvir.

Ana ficou olhando para Paula, aceitou o que a garota disse, afinal ela é melhor amiga da mulher da sua vida.

Paula resolveu levar a namorada para casa, Alessandra estava apagada babando no vidro do restaurante.

–Alessandra, Alessandra. – Paula sacudia a namorada –

— Hum? Oi? – Alessandra não conseguia abrir os olhos –

— Alessandra, acorda, vamos embora.

— Hã? Não. – resmungava –

— Alessandra chega de vexame, levanta e vamos embora. – Paula segurava a mão da namorada –

— Paula eu te ajudo. – chegou Viviane –

As duas seguraram em cada lado da contadora e conseguiram levantar Alessandra, seguraram uma em cada lado e saíram do bar até o carro ela vomitou mais uma vez, e não conseguia mais ficar em pé, Isadora veio ajudar e segurou os pés da contadora enquanto Paula e Viviane seguravam os braços. Ela foi carregada como um pacote.

Paula jogou a namorada no banco de trás do utilitário.

— Obrigada meninas, Isa, desculpa esse papelão, eu não sei nem onde eu enfio a cara. – dizia envergonhada –

— Está tudo bem, ela não fez nada demais, estava se divertindo.

— Exagerou um pouco. Amanhã vai trabalhar na merda. – olhava para dentro do carro –

— Paula eu vou dormir aqui em Niterói hoje, vou direto para o escritório. – Vivi se explicava –

— Tranquilo Vivi, divirtam-se porque eu hoje vou ficar na pista. – ria –

Se despediram e cada uma foi para o seu destino, Paula levou Alessandra pra casa, foi outro martírio subir com a namorada para o apartamento.

Viviane dormiu na casa de Isadora, as duas fizeram amor até a madrugada, as duas estavam cada dia mais apaixonadas e felizes, Isadora já não sofria mais por Nathalia e Viviane não tinha mais aquele sentimento por Adriana, as duas estavam vivendo aquele romance por completo.
No dia seguinte Viviane já estava no escritório quando Paula chegou sozinha.

— Bom dia Paulinha.

— Bom dia Vivi.

— Cadê Alessandra?

— Ah menina, aquela ali hoje só levanta em uma sessão espírita. – ria e balançava a cabeça – Acordou passando mal demais. Vomitou mais um bocado e voltou pra cama.

Viviane riu. – Também do jeito que ela bebeu ontem, parecia que queria morrer afogada na caipirinha.

— Nem me fala, vai ficar de castigo para ver se aprende. – riu –

As duas começaram a trabalhar, Alessandra ligou para Paula o dia inteiro, a garota quase não conseguiu trabalhar, depois do almoço ela desistiu de ficar no escritório e foi para casa cuidar da namorada.

— Alessandra, você não tem o menor direito de ficar me ligando o dia inteiro eu não consegui trabalhar. – Paula ralhava –

— Ai Paulinha, eu estou morrendo. – estava deitada no sofá com o braço sobre a cabeça –

— Não, você está vomitando, é diferente. – gritava da cozinha –

— Você é tão insensível! — já estava sentada no chão do banheiro ao lado do vaso –

— Não Ale, você que é tão irresponsável! – chegava na porta do banheiro – Já acabou?

— Já. – levantava –

Alessandra lavou a boca e quando estava saindo do banheiro Paula entregou uma caneca.

— O que é isso? – olhou desconfiada –

— Chá de boldo.

— Ai. – fez uma careta –

— Bebe, e não faz careta.

Alessandra bebeu o chá e quase vomitou de novo, Paula ficou perto para garantir que ela ia beber tudo.

— Que coisa horrível. – fazia cara feia –

— Agora vai para a cama e fica quieta que agora você vai melhorar.

Alessandra passou que nem um cachorrinho com o rabo entre as pernas para o quarto.
*****************

Adriana estava no quarto pensando no que fazer, ligou o computador e entrou no Skype para ver se alguma amiga estava on line, ela precisava conversar.

Encontrou Mariana, ficou feliz por conversar com a namorada.

–Oi Mari. –seu semblante era tristonho –

— Oi minha linda. Como você está? – sorria –

— Bem, mas eu falei com Felipe ontem, meu pai está com leucemia.

— Ai Drica, mas que coisa, eu sinto muito meu amor.

— É eu também, eu fiquei muito triste sabe, poxa logo o meu pai.

— Mas ele vai ficar bem, descobriram no inicio?

— Eu não sei, Felipe não me contou detalhes, só que ele vai começar a fazer quimioterapia e estão procurando uma medula compatível para fazer um transplante.

— Entendo. Olha, se seu pai for como você ele vai sair dessa.

— O problema é esse, lá em casa nós costumamos dizer que o sexo frágil são os homens. – riu um pouco – Se fosse minha mãe eu diria que ela é igual a mim.

— Pode ser em determinação, mas ela está longe de ser igual a você meu amor.

Adriana sorriu com o que Mariana disse. Realmente elas eram parecidas somente na teimosia pois o caráter das duas é completamente diferente.

— Você está se comportando bem ai? – Drica provocava –

— Claro, ontem eu fui lá para Lapa beber um bocado, depois encerrei a noite em Copacabana, em uma boate, acordei na cama de uma desconhecida em Ipanema.

— Nossa, você rodou ontem hein! – brincava –

— Você sabe que é tudo mentira não é, nem de casa eu saí. – riu –

— Eu sei.

— Não vejo a hora de te ver de novo. poder te tocar e fazer amor com você até o corpo doer.

— Eu também estou morrendo de saudades.

As duas conversaram mais um pouco e se despediram com juras de amor e promessas de se encontrarem logo.



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