Adriana estava em casa, fazia um relatório, trabalhava para tentar manter-se ocupada e não pensar em nada.

A campainha tocou e ela foi abrir a porta, Viviane entrou no apartamento toda arrumada. Adriana já esperava que fosse a amiga.

— Oi Dri. – beijou o rosto da contadora –

— Oi Vivi. –fechou a porta –

— Eu vim te buscar, você vai sair comigo.

— Que horas você me avisou isso? Eu não me lembro de receber nenhuma ligação sua hoje. – caminhou de volta para a mesa –

— Eu resolvi isso agora. Vai se arrumar. – parou no meio da sala —

— Viviane, eu não vou sair, eu estou trabalhando.

— Dri, trabalhar é a única coisa que você tem feito nesse ultimo mês. Você precisa sair daqui de dentro desse apartamento. – abria os braços —

— Vivi, eu não quero sair daqui, aqui eu estou segura, não corro o risco de magoar mais ninguém.

— Ai amiga, não fica assim, Mariana está bem, ela sabia que o terreno era irregular, ela quis pisar por vontade própria, não se culpe.

— Difícil não pensar que eu poderia ter evitado isso tudo. – tinha o olhar triste – Eu deveria ter terminado esse namoro, ou nem aceitado começar. – sentou na cadeira —

— Dri, não adianta ficar pensando no que passou, vocês tiveram momentos lindos, pensa nisso, agora vem comigo. Vou pegar Isadora e nós vamos encontrar com Paula e Ale na Lapa. Eu sei que você adora ir para a Lapa.

— Ai Vivi, não estou com pique. Eu vou ficar segurando vela.

— Não quero saber de não, pode ir para o quarto e colocar uma roupinha bem descolada que nós vamos sensualizar hoje, — foi até Drica e a segurou pelo braço – pode levantar daí.

— Sensualizar? – Adriana riu —

Adriana não resistiu ao poder de persuasão da amiga e acabou cedendo, foi se trocar e resolveu sair com Viviane.

***************

Enquanto esperava a namorada, Isadora falava com Ana ao celular, sem saber que Viviane havia chamado Adriana para ir com elas, a mulata convidou a loira para encontrar com elas no bar.

— Ana, nós vamos para a Lapa, porque não me encontra por lá?

— Ai Isa, eu estou tão cansada. – estava em sua mesa – Não sei se eu vou não.

Eduarda entrou na sala enquanto Ana conversava com Isadora.

— Oi querida!

— Oi Duda. – Ana respondeu ainda na ligação —

— É a promotora? – Isa perguntou –

— Sim, — Ana sorriu e fez um gesto para Duda esperar – Voltando ao assunto, Isadora.

— Tudo bem, eu já entendi, — suspirou – vai me encontrar?

— Aquele bar de sempre?

— Sim, perto da Extreme. Sai dai e vai direto para lá.

— Eu vou pensar, talvez eu passe por lá para te dar um beijo e vou pra casa.

— Ah não Ana Paula, vamos sair desse casulo, passa lá para gente conversar, eu quase não te vejo mais.

— Tudo bem, eu vou pensar.

— Eu vou te esperar, tchau Ana, Viviane já está chegando.

— Tchau Isa. Beijo.

Eduarda observava a loira, e Ana olhou para ela que sorria.

— O que foi Duda? – riu também –

— Você é tão linda Ana. – ainda sorria –

— Duda, nós já conversamos sobre isso, eu preciso de um tempo.

— Você não acha que já teve bastante tempo? Não está na hora de se dar uma chance Ana?

— Eu tenho um problema mal resolvido e eu preciso resolver antes de qualquer coisa. – arrumava sua pasta —

— Enquanto você não resolve, nós podemos sair para beber alguma coisa, eu vi que sua amiga estava te chamando para sair. Vamos tomar um chopinho. – se derretia para a loira —

— Ai Duda, você é realmente muito sedutora, mas eu também estou realmente muito cansada.

Eduarda levantou e caminhou até a cadeira de Ana, segurou seus ombros por trás e começou a fazer uma massagem, Ana fechou os olhos, aquele toque firme e relaxante estava lhe envolvendo.

— Você está muito tensa, vamos nos divertir um pouco, depois você pensa no que vai fazer. – deu um beijo na nuca da nova promotora –

Na ansiedade de sair dali antes que Ana agarrasse Duda sobre sua mesa, ela resolveu aceitar o convite de Isadora, e foi com Duda para o bar encontrar a amiga.

***************

Isadora não pensou que Ana levaria Eduarda para o bar, então não falou nada quando viu que Drica estava no carro, preferiu deixar Ana ter uma surpresa quando chegasse ao local, seria a chance das duas de se entenderem.

Chegando ao bar, Alessandra e Paula já estavam com duas mesas aguardando as amigas.

— Caramba, eu não acredito! Você conseguiu arrastar Adriana de casa! Você é minha heroína Vivi. – Paula abraçava Adriana –

— Ela sabe bem como convencer a gente. – riu –

— E ai amiga, vou pedir um chopinho pra você. – Alessandra levantou a mão chamando o garçom –

— Alessandra, você não vai me fazer outro vexame hoje não hein! – Paula reclamou com a esposa –

— Claro que não Paula! Relaxa, eu só estou tomando chope.

As amigas sentaram e se acomodaram, as bebidas chegaram e elas começaram a conversar. Drica estava desanimada, apenas ria das amigas conversando.

Isadora quase engasgou quando viu Ana entrando no bar acompanhada por Eduarda, ela não esperava que Drica fosse vê-la junto com outra mulher. A contadora estava no banheiro com Paula.

— Viviane deu merda. – segurou o braço da ruiva —

— O que foi Isa?

— Olha quem chegou?

Viviane olhou na direção que Isadora apontou e viu Ana Paula segurando a mão de Eduarda. A ruiva mudou a expressão na hora.

— Isa, você chamou as duas? – sussurrou chateada–

— Não Vivi, eu só falei que estaríamos aqui, se Ana quisesse passar pra me ver, eu não disse que era pra trazer ninguém, e eu nem sabia que Drica ia vir. Eu falei com Ana antes de você me pegar.

— Agora danou de vez. – Viviane olhava em volta para ver se via Adriana —

Ana chegava à mesa, tinha um sorriso estampado no rosto, Adriana vinha do banheiro ela estava distraída com Paula e parou de andar quando viu a loira perto da mesa com outra mulher ao lado.

As duas se olharam ao mesmo tempo, Ana logo desfez o sorriso e automaticamente soltou a mão de Eduarda. Paula viu Ana em pé e parou junto com Drica, a morena estava com o coração na boca. O corpo estremeceu não sabia se era de saudades ou de ciúmes.

Paula a encorajou, ela segurou sua mão e a trouxe para a mesa novamente. Ana praticamente ignorou a presença de Eduarda, que percebeu que havia algo a mais naquela mulher.

— Oi Ana. – Isadora levantou e a cumprimentou –

— Oi meninas. – continuava olhando para Adriana –

— Oi Ana. – Paula respondeu –

Alessandra e Viviane só mexeram a cabeça. Eduarda ficou incomodada já que Ana não a apresentava, mas continuou esperando.

— Oi Drica.

— Oi. – estava séria —

— Tudo bem? – sorriu—

— Sim.

O silêncio imperava na mesa, as meninas assistiam como coadjuvantes àquele encontro.

— Não vai nos apresentar sua amiga? – Adriana alfinetou Ana para saber que tipo de relacionamento as duas tinham –

— Desculpe, essa é Eduarda, promotora, nós trabalhamos juntas. Duda, minhas amigas, Isadora, Viviane, Paula, Alessandra e Adriana. – uma pausa maior ao falar o nome de Drica —

Adriana escutou o nome Eduarda, lembrou-se de quando a promotora atendeu o celular de Ana, percebeu que existia mais que amizade ali. Ficou triste, ela sabia que haveria essa possibilidade por isso não procurou a loira, viu sua chance de ser feliz com Ana escorrer pelos seus dedos mais uma vez.

–Prazer.

Todas cumprimentaram a promotora e novamente ninguém falou nada. Isadora percebendo a saia justa que se meteu, resolveu interferir.

— Vai sentar conosco Ana? – fez uma expressão diferente—

— Eu acho que não, vim só te ver mesmo Isa. É melhor ir embora, eu estou muito cansada. —tentava levar Duda dali —

— Deixa de bobagem, senta ai Ana, toma um chope tem tanto tempo que não nos encontramos. – Paula tentava parecer natural –

Adriana olhou para ela sem entender nada, olhou de volta para Ana Paula, sua vontade era de pular em seu pescoço, mas vê-la com outra mulher lhe tirou qualquer esperança de uma aproximação.

— Ah Ana, vamos beber um chope com suas amigas, que mal tem? – colocou a mão no ombro da loira—

Adriana sentia uma pontada no peito cada vez que via a outra tocando a pele da sua Ana. Ela sentou com Paula e ficou olhando para um ponto fixo da mesa, tentava não encarar Ana Paula, foi uma situação constrangedora.

— Eu acho melhor ir para casa. – ainda estava em pé —

— Ah mas você me trouxe até aqui na Lapa e não vamos beber nenhum chopinho? – colocou as mãos na cintura — Vamos sentar com as meninas, conversar. – foi puxando uma cadeira e sentando –

Ana ficou completamente sem graça, Eduarda como sempre, cara de pau, estava forçando a presença para analisar a relação das duas, Ana e Adriana.

— Vou chamar o rapaz. – Paula se ofereceu e levantou o braço –

— Então Ana, como está na promotoria? – Paula perguntava –

— Muito trabalho Paula, muitas denuncias, todo dia tem as maiores barbaridades que você pode imaginar para serem julgadas.

–Posso imaginar.

O garçom trouxe mais uma rodada de chopes, as meninas pediram tira gosto e Adriana não conseguia tirar os olhos de Ana Paula. Eduarda percebendo isso, tratou de provocar a morena. Encostava em Ana toda hora, sempre falava ao pé do ouvido da loira.

Ana estava sem graça, tomou dois chopes e resolveu ir embora de uma vez.

— Gente o papo está legal, mas eu vou embora. Eu estou cansada. – bebeu o ultimo gole do chope –

— Ah Ana, está cedo ainda! Vamos ficar mais um pouco, você dorme lá em casa. – colocou a mão na coxa da loira —

Adriana olhou para a loira e sentiu vontade de chorar, seu rosto ficou vermelho na mesma hora. Levantou e foi ao banheiro para sair dali.

— Eu vou pra casa Duda. – levantou falando mais seca – Eu vou ao banheiro e vou embora, se você quiser ficar tudo bem, você está de carro mesmo. – deu de ombros —

Saiu e deixou Eduarda contrariada, as meninas estavam sem graça, perceberam que Eduarda estava provocando e não gostaram da presença da promotora.

No banheiro, Adriana parou na pia e se olhava no espelho, seus olhos estavam cheios de lágrimas, tentava segurar para não chorar.

Ana entrou no banheiro e viu Drica parada apoiada na pia. Aproximou-se.

— Drica.

— Oi Ana. – secou o rosto com uma toalha de papel –

— Sinto muito pela Eduarda, ela é assim mesmo, provocativa. Adora chamar a atenção.

— E ela conseguiu. –foi saindo do banheiro –

— Espera Drica. – foi atrás –

Ana segurou o braço da morena e a virou para ficar de frente no corredor do banheiro. Como sempre, saia faísca das duas quando as peles se encontravam. O perfume de Adriana invadia os sentidos da loira. Foram minutos que sempre pareciam horas.

— O que você quer Ana? Sua namorada vai reclamar. – se soltou –

— Ela não é minha namorada –

— Então conta isso para ela. – desafiou aqueles olhos azuis —

As duas se encaravam, era uma luta para não se aproximarem e se beijarem. Adriana caminhou de volta para a mesa e Ana foi atrás, deixou dinheiro com Isadora e despediu-se de todas. Olhou para Drica que evitava a encarar, a morena estava triste e com ciúmes.

Ana saiu com Duda, como sempre provocando Drica.

— Foi um prazer imenso conhecer vocês, podemos marcar outro chope qualquer hora. Vamos minha linda. – segurou Ana –

Adriana olhava sem dizer nada, Ana para tirar Eduarda dali nem falou nada, repreendeu a moça do lado de fora do restaurante.

— Poxa Duda, você ficou o tempo todo provocando as meninas.

— Ah minha querida, você sabe que eu adoro uma competição, a morena é a moça que te confunde não é? A que você diz que ama?—passeava com o indicador pelo rosto da loira –

— Para com isso Duda. – tirou a mão da promotora de seu rosto – Eu não digo que eu amo, eu amo de verdade. Não deveríamos ter ficado. Eu te vejo segunda. – virou as costas e ia saindo –

— Ei espera ai gatinha, não faz isso, não aconteceu nada demais. Vocês não namoram, que mal teve em mostrar para ela que você não está sozinha, se ela não quer, tem quem queira. – falava macio –

— Não Duda, você não entendeu, minha história com ela não foi das melhores, e eu preciso me reaproximar, e hoje eu não ganhei nenhum ponto. – parou — Eu vou embora. Eu te vejo segunda.

Ana virou as costas e saiu, deixou Eduarda parada em pé, falando sozinha, a promotora ficou irritada e foi embora.

Adriana continuava alheia ao papo na mesa até a hora que Alessandra resolveu ser Alessandra.

— Paula, esse queijinho está muito bom hein! – comia um pedaço –

— Queijo? — Paula perguntou – Alessandra, nós não pedimos queijo.

— Ale, isso ai é filezinho de peixe empanado, não é queijo. – Viviane respondeu –

Alessandra pegou outro pedaço do que estava na bandeja e ficou olhando, como se analisasse a comida, colocou na boca e mastigava pensando se conseguia distinguir o sabor.

Paula balançava a cabeça negativamente, seria mais uma noite aguentando a ressaca de Alessandra.

— Então Ale? – Drica perguntou –

— Jurava que era queijo provolone.

— Caramba, você não conseguiu sentir o gosto ainda? – Paula perguntou –

— Na verdade não. – sorriu feito o Garfield –

— Acho melhor ir pra casa. – Paula falou –

— Eu concordo. – Alessandra completou – Eu sabia que esse chope ia me deixar bêbada. – já tinha os olhos fechadinhos como uma japonesa —

— Eu não consigo imaginar por que. – Paula chamava o garçom –

As meninas deixaram o bar e cada uma foi para o seu destino. Adriana estava triste e ao ver Ana tão perto e ao mesmo tempo tão distante lhe fez perder as esperanças.
******************

Ana tentou contato com Adriana mas descobriu que ela estava fora da cidade a trabalho.

Adriana viajou mais uma vez para prestar consultoria, estava em Campos em uma das sedes do grupo de Supermercados que elas estavam fazendo a auditoria, Viviane estava no escritório fechando um relatório de outra empresa que ela estava trabalhando sozinha.

Já estava no fim de dezembro, perto de chegar o Natal e o Ano novo. Drica estava separada a mais de um mês, pensava em como Mariana estaria, será que a arquiteta estava bem? Ela se preocupava com a ex namorada.

Drica voltou de viagem na véspera do Natal, chegou em casa cansada por ter dirigido por horas, pegou engarrafamento, deixou suas malas no canto do quarto e se jogou na cama. Sentia-se exausta.

Entrou para tomar um banho e quando terminou ouviu a campainha tocar. Saiu enrolada na toalha e ao abrir a porta, encontrou Viviane e Isadora, com Vanessa e Marcos.

O rapaz ficou sem graça e olhou para o corredor, Adriana também ficou logo vermelha.

— Oi gente. Não era para vocês estarem na casa de Paula? – se escondeu atrás da porta –

–Sim, mas Vanessa experimentou dez combinações de roupas diferentes até conseguirmos sair. – Viviane revirou os olhos –

— Nem foi tanto assim. – Vanessa retrucou –

Adriana aproveitou que Marcos estava ali e perguntou sobre Mariana. Não tinha notícias da índia.

— Marcos, Mari está bem?

O rapaz ainda olhava para o corredor. – Sim Drica. Ela está fazendo uma obra em Petrópolis, mas hoje ela vai passar o Natal com os amigos do escritório.

Isadora percebeu que Adriana estava diferente, havia perdido novamente o brilho no olhar. Estava abatida.

— Mas e você Dri? Por que não está pronta ainda?

— Vocês querem entrar?

— Não. – Marcos se exaltou – Quer dizer, não precisa Drica, eu vou esperar no carro, pode ser Vanessa?

— Eu vou com você. Estamos lá embaixo Vivi. – segurou a mão do rapaz –

— Tudo bem.

Adriana abriu a porta e Viviane entrou com Isadora, Adriana tinha uma toalha enrolada nos cabelos que retirou depois de fechar a porta.

As duas namoradas entraram e Drica veio andando atrás. Viviane colocou as mãos na cintura e questionou a amiga.

— Adriana Ferreira, por que não está pronta ainda?

— Eu não vou Vivi. – secava os cabelos –

— O QUE? – Viviane deu um grito – Mas como você não vai?

Até Isadora achou estranha essa atitude da morena.

— Eu não vou, eu acabei de chegar de viagem, eu estou morta de cansaço. Eu só quero deitar e dormir.– caminhou até o quarto —

Viviane foi atrás, Isadora resolveu ficar na sala. No quarto, Adriana tirou a toalha e jogou sobre a cama, Viviane entrou e viu a amiga nua pegando roupas no armário.

— Nossa, você continua em forma hein amiga! – em tom de brincadeira –

— Eu acho que a sua namorada não vai gostar de saber que você está me olhando nua. – colocava a camiseta –

— Ela sabe que você é como uma irmã pra mim hoje em dia, não se preocupe. Mas por que você não vai conosco? Paula vai ficar fula da vida se eu aparecer lá sem você.

— Viviane, eu não estou em ritmo de comemorações, eu só quero ficar sozinha. – terminou de se vestir –

— Drica, é Natal, não é época de ficar sozinha. Onde está o seu pai?

— Ele e Felipe foram visitar minha tia que mora no Espirito Santo.

— Você não vai ficar sozinha aqui. Vamos, pode se trocar. – batia palmas —

— Vivi, por favor. – caminhou até a ruiva –

Adriana parou em frente a amiga e segurou seus braços, Viviane via a tristeza no olhar castanho da contadora que tentava soltar um grito de desespero, mas não conseguia.

— Viviane vai com Isadora e diz a Paula que eu estou indisposta, eu vou ficar em casa.

Viviane percebeu que nada do que ela fizesse faria Adriana mudar de ideia, então resolveu aceitar a derrota e ir para Copacabana com Isadora sem Drica.

— Tudo bem, mas depois você se entende com ela.

Viviane abraçou a amiga e deu um beijo em seu rosto. Adriana penteou os cabelos e saiu do quarto com a ruiva. Isadora estava sentada no sofá e levantou ao ver as duas voltando para a sala.

Percebeu que Adriana olhava para ela como se quisesse perguntar algo mas não tinha coragem, ela logo entendeu que Drica queria saber sobre Ana Paula, e quando se despediu da morena resolveu dar a resposta que ela queria.

— Tchau gente, divirtam-se. – Drica falava –

— Tchau Dri, eu te ligo mais tarde. – abraçou a morena –

— Até mais Adriana, e pra te responder, ela está bem, e ainda sente sua falta. – piscou–

As duas saíram e Adriana ficou pensando, como Isadora sabia que ela queria fazer essa pergunta? Voltou para dentro de casa e fez um lanche para comer.

Adriana sempre foi muito sozinha, se não fossem as amigas, sua vida seria completamente isolada, sentou no sofá com Pitty e zapeava os canais. Ela estava se isolando do mundo, mais um pouco e nem trabalhar teria mais ânimo. Precisava de algo que lhe aliviasse a dor.
***************

Ana Paula estava em casa com a família, teriam uma ceia farta e esperavam alguns amigos, Ana estava mais adaptada com a nova rotina na promotoria e com a vida em família, sentia-se feliz.

Recebeu uma ligação de Isadora perto da meia noite.

— Oi amiga! Que bom que você conseguiu ligar, essa hora geralmente congestiona todas as operadoras. – Ana ria –

— Pois é, mas eu não posso deixar de te desejar um Feliz Natal minha amiga!

— Feliz Natal pra você também, onde você está?

— Eu estou em Copacabana no apartamento de Paula.

— Ah é?

–É, e como eu sei que você vai perguntar, ela não veio.

— Como assim? Você está falando de que? – tentava disfarçar –

— Como eu estou falando de que? De Adriana né Ana Paula. Não se faça de desentendida comigo não.

— Ai Isadora, precisa brigar? – coçou a cabeça —

— Ana, ela está em casa, sozinha, ela precisa de você, vai até lá. – disse mais calma –

— Por que ela não foi? – Ana se espantou —

— Ela está triste, é hora de você amá-la como nunca fez antes. Vai atrás da sua felicidade Ana, vai atrás do seu amor.

— Obrigada Isa. Eu te amo– sorriu –

— Eu também amo você, minha amiga. Agora vai ser feliz.

As duas desligaram a ligação e Ana ponderou se seria a melhor escolha. Meia noite e todos se cumprimentaram e Camila percebeu a irmã distante, resolveu perguntar se algo estava errado.

— Ana, você está bem? Está estranha.

— Camila, eu não sei o que eu faço.

— Por que?

— Adriana, Camila o que eu faço?

— Você ainda a ama?

— Eu a amo.

— Então vai atrás dela Ana, Diz pra ela como você se sente e o quanto você a quer, o não você já tem, quem sabe ela te dá um sim?

Ana Paula sorriu, beijou o rosto da irmã e foi correndo pegar a chave do carro e sua bolsa. Passou pela sua mãe que vinha do banheiro.

— Calma menina, você vai aonde assim?

— Eu vou para Veneza! – riu para a mãe –.

Regina ficou rindo e balançou a cabeça. Sabia que a filha ia atrás da moça que era dona do seu coração.

Ana dirigia sorrindo pelas ruas de Niterói até chegar ao bairro de Adriana. Não sabia como seria recebida, mas estava disposta a reconquistar de vez o coração da morena.
*****************

Adriana desceu com Pitty para uma volta na praia, falava com Paula no celular.

— Paula eu estou cansada, não estou com clima para festas.

— Adriana, eu fiquei muito chateada com você por não ter vindo, eu fiz aquele risoto de camarão que você adora para o jantar, eu não acredito que você me deu esse furo.

— Paulinha perdoa essa amiga desanimada, mas eu prometo que amanhã eu vou almoçar com você.

— Alessandra está aqui bêbada reclamando que você não veio. – Paula ria—

— Mas já! Manda um beijo pra ela.

— Pode deixar. Eu só não sei se ela vai lembrar desse beijo amanhã. – ria –Eu te espero no almoço então.

— Sim, amiga, amanhã eu estarei ai.

–Beijos, se cuida.

— Beijos Paula.

Desligaram o celular, e Adriana foi pelo calçadão caminhando com Pitty, algumas pessoas andavam pelas ruas, com bebidas, sacolas com presentes, via carros parando e famílias inteiras saindo com pratos embrulhados, provavelmente uma reunião familiar aconteceria, pessoas felizes e contentes.

Ela não se sentia assim, nunca se sentiu assim, sempre sentiu que era um peixe fora d’água, nunca se viu encaixada na família, preferia a companhia das amigas do que de sua mãe. E isso lhe fazia sofrer. Pensou em sua mãe, como ela estava? Muitos meses sem vê-la, nenhuma ligação foi feita, Felipe que costumava dar noticias, Catarina nunca mais foi presente.

Caminhou pela praia, e viu os fogos estourando à meia noite, no Natal não são muitos, mas houve suficiente. Depois de caminhar, ela comprou algumas cervejas em um quiosque e voltou para casa.

Ana Paula chegou a sua porta logo em seguida. Conseguiu uma vaga para estacionar e foi até a portaria. Para sua surpresa não era Ramon que estava de plantão. O desconhecido perguntou quem era e ela se identificou, pedindo para avisar a Adriana que estava a aguardando.

Adriana achou estranho o interfone tocar àquela hora, quase uma hora da manhã. Estava com uma latinha de cerveja na mão, atendeu intrigada.

— Oi.

— Dona Adriana, tem uma amiga sua aqui embaixo, é a senhora Ana Paula, posso deixar subir?

Adriana sentiu o corpo estremecer, Ana estava na sua porta novamente depois de dois anos, será que aconteceu alguma coisa? Elas não se falavam ha tanto tempo.

— Pode liberar.

O rapaz mandou Ana subir, a loira estava com o coração batendo a mil por hora, suava, tremia, era a oportunidade de ver novamente sua morena, será que Adriana voltaria a ser sua?

O elevador abriu e Ana saiu com medo, caminhou até a porta da morena e ficou ali em pé, já viveu essa cena antes, a ansiedade tomou conta de seu corpo.

Adriana nunca sentiu o tempo passar tão devagar, cinco minutos pareceram uma eternidade. Foi até a porta e segurou a maçaneta, esperando a campainha tocar, estava ansiosa, Ana estaria em pé na sua porta a qualquer momento.

Ana levava o braço até a campainha e Adriana resolveu abrir a porta sem esperar o toque, os olhares finalmente se encontraram.

Azuis e castanhos explodiram em faíscas, era muita saudade contida, meses sem contato, sem se ver, sem se falar, sem se tocar, foram anos de desenganos, desencontros.

As duas ficaram ali paradas se olhando, Adriana mudara o corte de cabelo, Ana parecia mais magra. Mudanças físicas e de alma. Ana estava inteira, e Adriana estava em pedaços, os papeis se inverteram.



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2022 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.