Adriana saiu do trabalho mas não tomou o caminho de casa, dirigiu até o Leblon para um endereço conhecido, esperava encontrar Mariana para conversar.

Depois de rodar o quarteirão três vezes, finalmente conseguiu estacionar. Caminhou até a portaria e foi informada que Mariana ainda não havia chegado. O porteiro como já conhecia Adriana, deixou que ela esperasse no saguão.

Meia hora de espera e a contadora viu a imagem da índia surgir da porta da garagem para pegar o elevador. Mariana se assustou ao ver Adriana ali na sua frente e parou de andar. Drica levantou do sofá e caminhou lentamente até a ex namorada.

Mariana estava mais magra, parecia cansada, mas continuava linda e elegante como sempre.

As duas se olhavam, quase dois meses sem nenhum contato, de repente Adriana estava ali, em pé na frente da arquiteta.

— Oi Mari. – Drica estava tímida –

— Drica. – Mariana não sabia o que esperar daquela visita –

— Mari, nós podemos conversar? – abraçava a bolsa –

— Claro, você quer subir? – segurava as chaves na mão —

— Pode ser.

Mariana apertou o botão do elevador e as duas ficaram em silencio aguardando a porta se abrir. Chegaram ao apartamento ainda em silencio, Mariana abriu a porta e deixou Adriana entrar, seguiu a contadora.

Adriana parou no meio da sala e permaneceu de pé, virou para Mariana e esperou a arquiteta deixar as chaves e a bolsa sobre a mesa, tirou o celular do bolso da calça e o acomodou no mesmo lugar, respirou fundo e olhou para Adriana.

Mariana ainda a amava, sentiu o peito inflar quando viu a morena no saguão do prédio, Adriana continuava linda, os cabelos presos em um rabo de cavalo, o salto alto inseparável, estava com um vestido floral na altura dos joelhos. Mariana lembrava-se dos momentos que passaram juntas.

— Pode falar Drica. O que você precisa conversar? – continuou em pé perto da mesa –

— Como você está Mari?

— Eu estou bem, na medida do possível. – olhou para o chão –

— Mariana, eu queria muito que tudo tivesse sido diferente.

— Mas não foi Adriana, eu sei o que você veio fazer aqui, então vá em frente. – mostrava-se magoada —

— Eu não queria que você soubesse por outra pessoa – uma pausa — eu estou namorando a Ana.

Mariana sabia que isso iria acontecer, achou até que levaria menos tempo, mas já esperava por aquela visita. Ela tinha certeza que Adriana faria questão de lhe contar sobre o namoro.

— Eu sabia que isso aconteceria, mais cedo ou mais tarde. – encarou Adriana –

— Ela me procurou na véspera de Natal, e nós conversamos, ela realmente está mudada, e eu não esqueci esse amor. Eu resolvi arriscar, dessa vez eu vou viver pelo menos, para saber se vai dar certo ou não. – deu de ombros —

— É o que você precisa fazer Drica. Você precisa viver esse amor. Não pode mais ficar dependente das dúvidas. Você tomou a decisão certa. – colocou as mãos no bolso —

— Mariana, você foi uma das melhores pessoas que eu encontrei nesses últimos anos, e eu te amo, mas de um jeito diferente, fraternal, desculpe se eu não fui capaz de te fazer feliz.

Mariana caminhou até a contadora, parou em sua frente, segurou suas mãos e Drica se deixou levar por aquele toque, as duas se olharam simultaneamente.

— Drica, você me fez feliz sim, enquanto durou foi maravilhoso, os momentos que nós tivemos, o tempo que passamos juntas foi magnifico. Não se culpe ou se sinta mal, nós duas, não nascemos para namorar.

— Mari… – foi interrompida –

— Shiii. Não precisa dizer mais nada Drica, você tem o direito de ser feliz, e se ela é o caminho para a sua felicidade, é com ela que você deve ficar, eu vou ficar bem, não se preocupe comigo.

Adriana deixou uma lágrima escorrer em seu rosto e abraçou a índia que a acomodou como sempre fez enquanto elas ficaram juntas, aquele abraço não tinha gosto de despedida, tinha gosto de recomeço para as duas.

Adriana sentia-se segura naqueles braços, e Mariana também, duas mulheres com destinos diferentes, mas movidas pelo amor.

As duas se separaram e continuavam se encarando, Mariana sorriu e Adriana a acompanhou, Mari fez um carinho no rosto de Adriana.

— Minha criança grande. Você continua linda, e agora parece mais feliz.

— Eu estou me recuperando dos baques que eu levei esse ano, espero que o próximo seja melhor.

— Será sim. – sorriu —

— Mari, eu sei que é pedir demais, mas eu gostaria de algum dia poder ser sua amiga, se você quiser, é claro.

— Drica, eu sempre estarei aqui para você, eu só preciso de um tempo para me recompor, eu preciso ficar um pouco sozinha.

— Eu sei, –uma pausa – Mari, eu quero te desejar toda felicidade do mundo. Você merece. Que o próximo ano seja maravilhoso e que você encontre a mulher da sua vida.

— Bom, a mulher da sua vida você já encontrou, mas eu te desejo o mesmo, muita saúde, e paz, você merece.

As duas se abraçaram, ficaram ali, se curtindo, aproveitando para matar as saudades, duas mulheres se refazendo, se recompondo, se recriando.

Adriana se soltou e se despediu de Mariana, desejando que a índia encontre um amor e consiga ser feliz assim como ela estava se sentindo.

Deixou aquele apartamento com a mente livre de qualquer culpa ou rancor, assim como Mariana se sentia, era hora de recomeçar.
***************
Para o Ano Novo, as amigas se reuniram no apartamento de Adriana, a praia de Icaraí também proporciona um belo espetáculo com fogos na noite da virada.

Paula e Alessandra chegaram cedo, para conseguir estacionar o carro, acordaram Adriana que ainda dormia profundamente. A morena abriu aporta com o rosto inchado de sono e não fez questão de colocar outra roupa, continuou de calcinha e camiseta como ela costuma dormir. abriu a porta e deixou as amigas entrarem, se jogou no sofá de bruços e abraçou uma almofada.

Alessandra e Paula traziam suas mochilas e alguns alimentos para preparar o jantar da virada como elas apelidaram a Ceia de Ano Novo. Paula achou graça da amiga que nunca gostou de acordar cedo.

— Ih o que é isso? Mulheres de calcinha e camiseta me tiram do sério. – Paula disse caminhando para o sofá onde Adriana estava deitada –

Alessandra caminhava na mesma direção e piscou para Paula, as duas iam pegar Adriana desprevenida.

— Sabe que eu também adoro!

Adriana estava com os olhos fechados, mas ria das amigas, ela sabia que estavam zoando com ela.

— Sabe o que eu gosto de fazer quando eu vejo uma mulher com essa bunda pra cima assim não sabe Ale?

— Claro que eu sei, é o mesmo que eu gosto de fazer.

— Ai gente, abraço de urso não. – Drica resmungou com o rosto na almofada –

— Cócegas! – as duas gritaram ao mesmo tempo –

Alessandra e Paula se jogaram no sofá e começaram a fazer cócegas em Adriana, a morena se retorcia rindo da investida das amigas, por fim, caíram as três no chão da sala, Adriana estava vermelha de tanto rir, e as três estavam ofegantes do esforço.

— Acorda criatura! Até Alessandra saiu da cama cedo hoje.

— Com muitos protestos é claro. – Ale completou –

— Eu fiquei jogando vídeo game até de madrugada.—Drica esfregava os olhos —

— Ai mas é uma criança grande essa minha amiga. – Paula abraçou Drica e deu um beijo na testa –

— Cadê sua namorada? – Alessandra perguntou –

— Ela veio aqui ontem, mas foi para casa. Ela ia buscar um amigo que vem de São Paulo no aeroporto e não pôde dormir aqui, ela vem mais tarde, depois do almoço.

— Então levanta daí que nós temos que fazer muita coisa ainda. Você vai fazer aquele rocambole de bacalhau não vai? – Paula fez cara de pidona –

— Vou, já comprei tudo, o bacalhau está na geladeira. —sorriu –

— Uhuul Nova Iguaçu! – bateu palmas – Vamos agitar essa festa então!

Paula levantou e puxou Drica, depois puxou Alessandra e as amigas foram arrumar as coisas. Adriana colocou um short e foi para a cozinha ajudar Paula, Alessandra resolveu ir ao mercado comprar algumas coisas que tinha esquecido. Pegou o carro de Drica que estava na garagem e foi para o supermercado.

O lugar estava cheio, muitos carros tentando estacionar e não tinham vagas, motoristas fazendo barbeiragem, e Alessandra começou a ficar irritada.

— Ai, mas que braço duro! – olhou para fora da janela – O cara não tá vendo que não dá pra ele sair dali?

Depois de meia hora esperando um senhor tentar sair da vaga, ela resolveu ajuda-lo.

— Senhor, eu posso tirar o carro dai pro senhor?

— Ah minha filha, faz esse favor pra mim, eu esqueci meus óculos em casa, e estou com medo de bater o carro.

Alessandra entrou no carro do idoso e retirou da vaga, colocou em posição para ele sair do estacionamento.

— Prontinho, é só seguir em frente. – saiu do carro –

— Obrigado minha filha, Deus lhe pague.

Alessandra ficou observando o senhor sair com o carro e foi colocar o seu na vaga, depois de estacionar pegou um carrinho e foi para o mercado, comprou o que faltava e a bebida, cerveja e Ice, resolveu levar uma garrafa de vodca para fazer caipirinha, ela sabia que Paula iria brigar, mas comprou assim mesmo.

Chegando no caixa, a fila estava enorme, uma senhora tentava puxar assunto, mas Ale já estava irritada.

— Minha filha, o preço das coisas está pela hora da morte! – gesticulava com o indicador pra cima –

— É verdade. – respondeu para não deixar a velhinha sem graça –

— A castanha semana passada estava por oito reais, hoje já está treze reais o quilo! Isso é um absurdo! – continuava gesticulando –

— É sim. – Ai meu Pai, será que essa dona não vai ficar quietinha?—pensava consigo –

— Lembra quando os tomates ficaram custando dez reais o quilo? Foi outro absurdo, esses mercados fazem um monopólio e tentam fazer a gente engolir esses preços absurdos.

— Ai meu Deus. – pensava –

A fila andou um pouco e a senhora continuava falando, Alessandra fingiu receber uma ligação de Paula para tentar fazer a velhinha mudar o foco, mas ela continuou na sua direção. Uma outra moça que estava na frente da senhora, também começou a falar e as duas começaram um bate-papo sobre os preços abusivos na época de Natal.

— Mas é verdade o que a senhora está falando, eu comprei uma garrafa de azeite semana passada e paguei nove reais, hoje eu fui olhar o preço de curiosidade e está quatorze reais cada uma, isso não poderia acontecer. – balançava a cabeça negativamente —

— Ai, agora é outra. –segurava a cabeça com uma das mãos e o cotovelo apoiado no carrinho.
Uma hora e meia depois de muita conversa sobre preços altos, Alessandra conseguiu finalmente ser atendida. A operadora do caixa também estava com vontade de conversar e alugou Ale o tempo todo, o mercado não tinha empacotadores, Alessandra se desdobrou para colocar as compras sobre a esteira e ensacar tudo, conseguiu colocar todas as mercadorias sobreo balcão, e passou o carrinho para o outro lado.

— Caraca, se ela acionar a esteira os pacotes de macarrão e biscoito vão cair no chão. – disse para si mesma – Vamos lá, empacotando – repetia como se fosse um mantra —

A operadora passava as mercadorias e Alessandra colocava nas sacolas, as cervejas, foram no engradado mesmo, acomodou tudo no carrinho e respirou fundo.

— Fase um concluída. – limpou o suor que escorria em sua testa –

— Boas festas senhora! – a operadora desejou –

— Para você também. Ainda bem que eu estacionei perto da entrada. – disse para si mesma —

Ale pegou o seu carrinho e foi para o estacionamento, chegando perto do carro, ela parou de andar e se deu conta que tinha feito algo no mínimo estúpido.

— Puta que pariu! Eu sou uma idiota!

Alessandra estacionou o carro de ré em uma vaga de parede, tinham dois carros estacionados ao seu lado, como ela colocaria as compras na mala?

— Nem me liguei nisso. – tinha uma das mãos na cabeça –

Caminhou com o carrinho até o carro e o parou na frente, pensou no que fazer. Virar o carro na vaga para depois sair seria muito trabalho, o jeito foi carregar as compras na mão até a mala.

–Mas que merda, eu sou uma estúpida mesmo, por isso Paula que tem que fazer o mercado, eu não sirvo para isso.

Saiu resmungando sozinha para voltar ao apartamento de Adriana. Paula se espantou com a quantidade de coisas que a namorada comprou.

— Alessandra, não era só para comprar a cerveja e o azeite? – colocou as mãos na cintura –

— E a Ice para Drica, e o macarrão para a saladinha que eu resolvi fazer, ai precisava do queijo e do presunto, e maionese, ai eu não sabia se Drica tinha milho e ervilha então eu trouxe também, os biscoitos são porque eu estava com fome, afinal foi meia hora pra estacionar e uma hora e meia para passar tudo isso. – enumerava os itens nos dedos – Ai eu resolvi trazer palmito e quase me esqueci da batata palha. – levantou o pacote –

Adriana ria da ruiva falando sem parar e percebeu Paula irritada com o que a esposa fez.

— E essa garrafa de vodca e dois quilos de limão são pra que? – Paula segurava as mercadorias –

Adriana olhou e riu. – Dois quilos?

–Ah, é para fazer caipirinha para o pessoal. – desviou o olhar envergonhada —
— Sei o pessoal, você lembra como você estava no dia vinte e cinco! Você me deu um trabalhão! Se ficar assim de novo amanhã eu peço separação Alessandra! – deixou a garrafa sobre a mesa e foi para o banheiro –

— Ih amiga, vai la e limpa sua barra que tá mais suja que pau de galinheiro.

— Eu vou.

Alessandra foi até Paula e as duas conversaram no quarto, Adriana aproveitou esse momento para ir até o salão do prédio para dar uma olhada no que precisaria arrumar, as amigas resolveram reunir famílias e amigos para esse réveillon, e fariam a festa no salão de festas.

Adriana e as meninas adiantaram as coisas na cozinha, Viviane e Vanessa ajudaram a colocar as bebidas no gelo, Ana chegou depois do almoço com Fernando e Arthur e também entraram na arrumação.

— Oi meu amor. – Ana deu um beijo em Adriana –

— Oi. Pegou muito trânsito?

— Só um pouco, nada absurdo. Drica esse aqui é o meu amigo que eu te falei, Fernando e o namorado dele Arthur. – apontou para os dois rapazes –

Adriana esticou a mão e Fernando a puxou para um forte abraço.

— Vem cá mona, você é muito mais bonita do que na foto! – enfatizou a palavra “muito” –

— Obrigada. – Drica ficou envergonhada –

— Finalmente vocês se acertaram, eu não aguentava mais aquela melancolia que essa deusa grega aqui passou o tempo que esteve em Sampa. Só sabia falar de você. – gesticulava –

— Menos Fernandinho. – Ana pedia para o rapaz se conter –

— Menos o que Ana Paula? Eu não guardo dinheiro, pra que vou guardar segredo? – balançava a mão –

Adriana e a promotora riam do rapaz que falava muito.

— Então, o que podemos fazer para te ajudar Darling?

— Vocês podem arrumar as mesas pra mim?

— Claro! Agora mesmo! Vem meu bofe, vamos por a mão na massa.

Fernando e Arthur arrumaram o salão enquanto Adriana e Ana terminavam na cozinha.

A noite, as meninas se arrumavam no apartamento, Viviane e Vanessa foram para casa, Isadora viria direto de casa com Luciana. Fernando e Arthur ficariam na casa de Ana Paula e foram deixar as malas, viriam depois com Camila.

Ana parecia ter um Deja vu, as meninas se arrumavam, Adriana ficando por ultimo, Alessandra andando pelo apartamento de toalhas, parecia que ela voltara no tempo e lembrou-se daquele réveillon em Copacabana.

Adriana passou por ela e a abraçou beijou seu pescoço e olhou para sua mulher.

— O que você está pensando?

— Em nada.

— Jura? Eu acho que estava pensando em algo.

— Ah ,eu só me lembrei daquele réveillon em Copa, que nós passamos juntas, parecia estar revendo as cenas.

— Eu entendi. – sorriu – Só que dessa vez não temos duvidas, eu não estou para ir embora e não existe nenhuma Gisele para estragar nossa noite. – beijou Ana Paula –

Ana abraçou Drica mais perto. – Sim, e dessa vez eu sei que eu te amo, e que eu já te amava naquele dia, só não queria acreditar.

— Teimosa. – beijou novamente – Agora eu vou tomar banho, daqui a pouco o pessoal chega.

— Vai lá, eu vou terminar de me maquiar no seu quarto.

— Pode ir lá.

Adriana pegou sua toalha e suas roupas e entrou no banheiro. Ana foi se maquiar no espelho do seu quarto, Paula e Alessandra se arrumavam no quarto de hospedes.

Ana Paula se maquiava, terminou de ajeitar os cabelos e foi guardar suas coisas na mochila, estava abaixada no cantinho do quarto e Adriana entrou com uma toalha enrolada na cabeça, já vestida, e perfumada, o cheiro do perfume masculino invadiu o ambiente e Ana olhou para a namorada que mexia no armário.

Ana levantou e caminhou até a contadora, a abraçou por trás e cheirou seu pescoço.

— Eu estava com saudades desse cheiro bom. – tirou a toalha dos cabelos da morena –

— Era só comprar um perfume igual.

— Não, não é a mesma coisa, tem que ser na pele da pessoa, misturar os cheiros para exaltar os sentidos. – cheirava o pescoço de Drica —

Adriana fechou os olhos e viajou naquele carinho. Ana virou a namorada de frente e a beijou.

— Amor, vai estragar sua maquiagem. – Adriana dizia entre os beijos –

— Eu faço de novo. – voltou a beijá-la – Vale a pena perder o batom em você.

Ana puxou Drica pela cintura e o beijo evoluiu, as duas não se desgrudavam mais, estavam apaixonadas, amando, e vivendo essa paixão.

Alessandra entrou no quarto chamando por Drica e viu a amiga encostada no armário beijando a namorada.

— Adriana, onde está o seu ferro? – trazia uma blusa nas mãos – Ih, desculpa. Atrapalhei o namoro. – ia voltando para a porta –

— Espera ai Ale. – Adriana disse se soltando de Ana – Está aqui no chão. – apontou para o aparelho –

Ana se ajeitava de novo, e as duas riam da amiga que estava sem graça. Alessandra pegou o ferro e saiu do quarto ainda se desculpando.

— Olha só pra você, o batom saiu todinho. – Drica limpava os lábios da promotora –

— Eu coloco de novo. Vai se maquiar?

— Não, hoje não, eu vou de cara limpa. – secava os cabelos —

— Por que meu amor?

— Eu quero tirar a máscara que eu criei para sobreviver, quem vai ver essa virada de ano é a Adriana que eu realmente sou, sem reservas, sem maquiagens, simplesmente eu.

— Linda e maravilhosa Adriana. – Ana sussurrou —

Abraçou a namorada novamente.

Depois de todas arrumadas, as amigas desceram para o salão do prédio e já encontraram alguns amigos no local.

Vanessa e Viviane já estavam aguardando as meninas, Isadora chegava com Luciana, beijou a namorada e cumprimentou todas, abraçou Ana Paula fortemente.

— Amiga, quando Viviane me falou eu quase não acreditei, que bom que vocês se acertaram.

— Ai Isa, depois que você me falou que ela estava em casa, eu ainda senti uma pontinha de dúvida, mas Camila me encorajou e eu resolvi seguir o meu coração, e deu certo. – sorria aberto –

— Eu te desejo toda felicidade que você puder suportar. – segurou as mãos da amiga –

— Eu suporto muito. – riu – Sabe Isa, eu preciso agradecer muito a Deus por ter colocado você no meu caminho, minha melhor amiga, me aturou todos esses anos e me deu força para lutar pela minha felicidade.

— Ai amiga, eu só fiz o meu papel. Eu amo você minha amiga, é como uma irmã pra mim.

As duas se abraçaram e ainda trocavam elogios e agradecimentos.
A família de Alessandra chegava aos poucos, a mãe de Paula já estava sentada em uma mesa comendo alguns salgadinhos. Felipe chegou depois com Luana e Antero.

— Papai. – Adriana foi de encontro com o aposentado – Que saudades!

— Oi minha filha. – abraçou a contadora – Você precisa ir me visitar em Búzios, a casa é grande, dá para você ficar comigo alguns dias.

— Eu vou, eu tenho que te apresentar minha namorada.

— Ah sim, você me falou. Onde ela está?

— Vem comigo.

Adriana levou o pai até Ana Paula que conversava com Isadora e Luciana.

— Com licença, meninas. Posso roubar Ana um pouquinho?

— Fique a vontade. – Isadora ofereceu a amiga empurrando Ana que estava com vergonha –

— Pai, essa é Ana Paula, minha namorada. – sorria – Esse é meu pai, Antero.

— Muito prazer Sr. Antero. – Ana ofereceu a mão para um aperto –

Antero segurou a mão de Ana e a puxou para um abraço, a loira completamente sem graça abraçou o pai de Drica, que ria da namorada.

— O prazer é todo meu, minha filha, todo meu. – segurava a promotora pelos ombros — Eu fico feliz por vocês duas terem acertado os ponteiros. Adriana estava muito triste.

— Obrigada Sr. Antero.

— Não tem o que agradecer. Na verdade quem tem que te agradecer sou eu, você me devolveu a possibilidade de viver, obrigado por ter doado a medula.

— Não precisa agradecer, eu faria tudo de novo.

— Adriana, onde está a cerveja? – ele olhou para Drica —

— Papai, o senhor não pode exagerar, olha o coração.

Ele a abraçou e beijou sua testa. – Não se preocupe com esse velho aqui, eu estou novo em folha.

— Sei. – olhava de canto para ele — Está no freezer ali na cozinha.

— Eu vou lá então. Até mais meninas.

Antero saiu e Ana olhou para Drica e respirou fundo, a morena riu do nervosismo da namorada.

— Achei que eu ia enfartar.

— Meu amor relaxa, papai é tranquilo, você não vai querer conhecer minha mãe.

— Drica, ainda deve existir a possibilidade de vocês se encontrarem e se entenderem.

— Eu não creio nisso Ana, minha mãe nunca gostou de mim. Sempre ficou bem claro, agora que todo mundo sabe ficou escancarado.

— Para tudo tem um jeito.

— Depois eu terei que conhecer seus pais, ai que o bicho pega. – riu tentando mudar de assunto –

— Não se preocupe, mamãe vai adorar conhecer Veneza.

— Veneza? – Drica não entendeu –

— Piada interna meu amor. Deixa para lá.

Ana a abraçou e a trouxe junto a si, as duas foram conversar com as amigas e comer algo.

A festa corria bem, familiares e amigos conversavam e interagiam, perto da meia noite, as pessoas que quiseram se encaminharam para a Praia para esperar o grande momento, o show de fogos que sempre ilumina o céu nessa data.

As amigas levaram champanhe e taças para brindar como sempre faziam. As ruas ao redor da Praia ficam interditadas, elas conseguiram um espaço na areia e ficaram esperando a meia noite chegar.

Conversaram animadas, Adriana finalmente estava mais leve, com reais esperanças de ser feliz.

Os alto-falantes anunciaram o inicio da contagem regressiva. Alessandra preparou a garrafa de champanhe para estourar, Adriana estava abraçada a Ana Paula, com o queixo apoiado no ombro da namorada.

Os primeiros fogos começaram a estourar, todos na praia começaram a se cumprimentar. As amigas se abraçavam, beijos de alegria e felicitações. Alessandra estourou o champanhe e encheu as taças, todos brindaram o novo ano que chegava.

Pedidos de paz, felicidade, saúde, prosperidade e muito amor foram feitos em suas orações internas.

Adriana abraçou Ana Paula e acomodou a cabeça em seu ombro, lágrimas escorriam de seus olhos, a loira a segurava com firmeza confortando seu coração.

— Chora meu amor, ao contrário do que dizem por ai, chorar faz bem e purifica a alma, você não tem que ser forte a vida inteira. – fazia carinho em seus cabelos –

Adriana novamente recordava alguns acontecimentos de sua vida, estava muito emocionada. Ana a abraçava como se não fosse mais largar. Depois de um tempo, Adriana levantou a cabeça e olhou para sua amada. Ana limpou seus olhos e enxugou suas lágrimas como havia prometido.

— Eu estou feliz por estar com você. – respirou fundo – Mas ainda tenho muitas tristezas no meu coração. – olhou nos olhos da namorada –

— Eu sei, vamos esperar passar as férias de janeiro e eu vou te levar para conhecer uma pessoa.

— Quem? – beijou Ana Paula –

— Depois eu te conto. Por agora, que você tenha um ano maravilhoso! Ao meu lado.

— Feliz Ano Novo meu amor! – sorriu em meio a lágrimas em seu rosto —

Depois de assistirem aos fogos, as meninas resolveram voltar para o apartamento, algumas pessoas ficaram na praia para assistir ao show que começaria naquele momento e outras resolveram ir para casa.

A festa no salão acabou quatro horas da manhã, as amigas subiram para descansar e enfrentar mais um ciclo que começava.

*******************
Adriana estava deitada na cama com Ana Paula, abraçava a cintura da loira e tinha os olhos fechados, recebia um carinho nos cabelos.

— Você dormiu? – Ana perguntou baixinho –

— Não, é que esse carinho me deixa molinha. – abriu os olhos e se mexeu –

— Amanhã eu tenho que trabalhar. – beijou a testa da contadora –

— Eu sei. – Adriana pensou um pouco – Como vai ser com a Eduarda?

— Ah, não tem nada para ser. Nós não namoramos, eu já tive uma conversa com ela e está tudo bem.

Adriana levantou e apoiou a cabeça na mão, olhava para a namorada.

— Tem certeza que ela não vai ficar te cercando?

— Ih, tem gente com ciúmes? – beijou o nariz de Drica –

— É sério Ana, eu percebi o tipo de mulher que ela é naquele dia no bar. Ela é provocativa, parecia que estava competindo comigo, mesmo eu não falando nada. Eu não acho que ela pode deixar isso para lá assim tão fácil.

— Não se preocupe meu amor. – puxou Adriana para cima de si – Ela não vai fazer isso. e se fizer, não vai importar para mim. – beijou Drica – Quem eu quero está aqui.

Ana rolou com a morena na cama ficando por cima dela, olhou em seus olhos e a beijou.

Adriana retribuiu com amor, com desejo, seus corpos acenderam e o amor era inebriante, inevitável, incontestável.

Corpos e corações se encontrando, em perfeita harmonia, conectados por um único objetivo, encontrar a felicidade.

Lábios molhados, línguas hábeis, mãos e pernas em movimentos marcados para o prazer.

Ana parou de beijar Adriana que já delirava de desejo, olhou nos olhos de sua amada e sorriu, recebeu o mais lindo sorriso de volta. Sem palavras o amor se fazia presente.

O beijo voltou a acontecer e as duas se amaram, com muita intensidade, com todo o amor que poderiam sentir.

O amor que sempre esteve ali, que sempre existiu e insistiu em não morrer. Sobreviveu em meio aos desencontros e tormentas vividos pelas duas namoradas.

A madrugada era longa e quente, assim como os corpos suados pelo prazer, pelo calor do amor que se fundia dentro daquele quarto.
Um amor que simplesmente aconteceu.



Notas:



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