Paula e Alessandra conversavam deitadas na cama, a televisão estava ligada e elas assistiam um filme.

— Alessandra.

— Hum?

— Você já dormiu? – olhou para a esposa –

— Quase. – respondeu de olhos fechados –

— Eu quero conversar com você.

— O que foi Paula? Não pode ser amanhã?

— Não, tem que ser hoje.

— O que houve Paula? – virou de lado e encarou a esposa – Aconteceu alguma coisa?

— Você esteve com Nathalia de novo?

— Não Paula! Você tirou isso de onde? – Alessandra se exaltou –

— Do seu celular. – disse calma –

— Meu celular? – sentiu um calafrio correr sua espinha –

— Sim. Enquanto você estava cochilando, chegou uma mensagem, eu olhei achando que seria Drica.

Paula puxou o aparelho e mostrou para Alessandra, ela ficou pálida, sentiu que tinha feito besteira e não conseguia falar nada.

— Para minha surpresa, era uma mensagem de Nathalia, dizendo que ficou feliz em poder te reencontrar e gostaria de continuar a conversa que ficou inacabada. – lia a mensagem no celular –

Alessandra continuava muda, parecia que tinha voltado ao tempo que era criança e fazia bagunça, acuada ela percebeu que não teria argumentos para rebater Paula.

— O que você está me escondendo Alessandra? – Paula se sentia magoada –

— Nada Paula.

— Você vai querer me convencer que você não esteve com Nathalia?

— Não é isso, eu encontrei com ela ontem no almoço, eu desci para comer sozinha e ela estava me esperando na saída do escritório, nós almoçamos juntas e conversamos, foi só isso.

— Ontem?

— Sim, ontem.

— Esqueceu que ontem nós compramos japonês e comemos no escritório?

— Ah, então foi no dia anterior. Ai Paula, foi só um almoço, não passou de uma conversa amigável.

— Alessandra, por que você não me contou que encontrou com ela? – sentou na cama –

— Ah eu esqueci.

— Alessandra, não minta pra mim, você me traiu de novo?

— Não! Claro que não Paula, eu só conversei com ela, só isso, eu não te falei porque eu não queria que você ficasse assim, chateada. – sentou também –

— Alessandra, sabe o que me chateia, é descobrir as coisas assim, pelos outros, saber que você agiu pelas minhas costas. Não me contou que vocês se encontraram, e ainda está mentindo sobre quando vocês se encontraram.

— Ai Paula, não me confunde, você sabe que eu sou desligada com datas e horários. Foi só um almoço para encerrar de uma vez por todas tudo o que aconteceu, me desculpe se eu não te contei, mas eu não queria te deixar com ciúmes.

— Por que ela disse que a conversa ficou inacabada, se você está me dizendo que foi para encerrar tudo?

— Ela queria estender o assunto, e eu tinha que subir para o escritório, então eu dei a conversa por encerrada e ela ainda queria conversar mais.

— Alessandra por favor, eu já sofri muito por causa dessa mulher, me diz que eu estou errada e não aconteceu nada entre vocês, por que eu tenho a sensação que você voltou a ter uma recaída com Nathalia.

— Meu amor, não fique assim, eu te amo. – ajoelhou na cama – Desculpe pelas minhas mancadas, eu sou uma idiota, mas não aconteceu nada, eu juro. – segurou o rosto de Paula –

— Alessandra eu estou muito magoada com você, não adiantou nada a conversa que tivemos sobre essa volta da Nathalia. É só essa mulher aparecer e parece que você vira outra pessoa.

Paula levantou da cama e andou pelo quarto, caminhou até a porta e olhou para Alessandra que continuava quieta.

— Na nossa relação parece que eu sou a mais velha Alessandra, você as vezes se comporta como uma criança. – uma lágrima escorreu em seu rosto –

Paula saiu e deixou Alessandra no quarto, desolada, sentindo-se mal por ter mentido para a esposa, omitido o encontro com Nathalia.

A ruiva saiu do quarto atrás de sua esposa e a encontrou sentada na sacada do apartamento olhando a rua.

— Paula. – chegou de mansinho –

A contadora não respondeu, chorava contidamente, estava magoada, chateada, mais uma vez Alessandra pisou na bola. Ela não sabia se poderia acreditar no que a esposa disse.

— Paula, eu sei que você está magoada e eu sei que a culpa é toda minha, eu conheço meus defeitos e eu prometo que nunca mais vou fazer as coisas que irritam você, mas por favor, acredita em mim, não aconteceu nada.

Paula continuava em silêncio.

— Eu prometo que vou beber menos, ou até mesmo parar de beber, eu juro que não vou mais me comportar como uma criança, eu terei mais responsabilidade, e Nathalia é passado na minha vida, um passado muito distante.

— Perdoa meus erros e eu prometo melhorar, mas não de deixa, eu te amo.

Paula chorava de forma contida, abraçada a suas pernas, e não respondia nada para Alessandra.

— Paula, por favor. – colocou a mão no ombro da esposa –

— Vai dormir Alessandra, me deixa aqui. – afastou-se do contato da ruiva –

Alessandra recolheu a mão e deixou uma lágrima cair silenciosa, seu coração estava pequeno de tanto remorso, por que não contou a Paula sobre esse encontro? Por que Nathalia mandou mensagem para o celular dela se sabia que Paula poderia ver. Sua cabeça estava girando.

Foi até o quarto, trocou de roupas e desceu, Paula ouviu a porta batendo e chorou mais ainda, sabia que havia algo errado, sabia que algo tinha acontecido.

Alessandra pegou o carro e saiu dirigindo pela cidade, depois de um tempo estava na frente da casa de Nathalia. Olhava para o prédio e resolveu ir até lá. Tocou o interfone e depois de esperar alguns instantes, a voz de Nathalia ecoou no aparelho.

— Sim.

— Nathalia, sou eu, abre ai. – curta e grossa –

O portão eletrônico foi acionado e a ruiva subiu, no elevador, pensava em tudo que viveu ao lado da amiga de infância todos os momentos felizes e os contratempos que viveram, o afastamento, a distância imposta pelos pais da namorada, a viagem e o reencontro, o despertar da paixão adormecida e o momento em que se tornaram amantes, culminando com sua separação, Paula, a mulher que soube perdoar seu deslize e amá-la com todas as suas forças, protegeu-lhe quando precisou e ela nunca fez nada para retribuir aquela proteção, aquele cuidado.

Mais uma vez magoara sua mulher, o amor de sua vida por causa da ex namorada que resolveu aparecer para uma visita inesperada.

A porta do apartamento da família de Nathalia estava aberta esperando a contadora, Alessandra caminhava a passos firmes até chegar no objeto de sua raiva e revolta.

Nathalia a esperava encostada no batente da porta. Viu Alessandra se aproximando com o rosto vermelho de chorar.

— Eu fiquei surpresa com essa visita a essa hora. – olhou no relógio de pulso –

— O que deu em você para me mandar mensagem Nathalia? – entrou sem cumprimentar a outra segurando o celular em uma das mãos –

— Eu senti saudades, e não fiquei satisfeita com aquele almocinho sem graça. – fechou a porta atrás de si –

— Foi só um almoço, não era pra ter graça, não tinha que ter nada, nem deveria ter acontecido.

— Por que você está alterada desse jeito? Foi um bom almoço, eu queria muito mais, mas você amarelou e não quis relembrar os velhos tempos. – fazia charme —

— Não existe mais nada entre nós, — dizia enfática — eu te falei isso, não me procure mais Nathalia.

— Mas e se eu quiser te procurar? – caminhava em direção a ruiva –

— Você quase acabou com o meu casamento pela segunda vez, Paula viu a mensagem que você mandou e agora está achando que houve alguma coisa no dia que almoçamos, Nathalia, me faz um favor, me deixa em paz. – se afastava da ex –

— Desculpe Alessandra, eu senti saudades de você. Se você quiser eu ligo pra ela agora e digo que não aconteceu nada. – uma pausa — Porque você não quis, pra deixar registrado.

— Nathalia, — colocou as mãos na cabeça — não precisa fazer joguinhos comigo, eu sei que você esteve na casa de Isadora e quase causou um problema para ela também, o que você veio fazer aqui no Brasil? Volta pro Canadá e vai viver sua vida. – gesticulava nervosa —

— Alessandra, não fala assim comigo. Nós tivemos uma vida juntas, o que a gente tem é só nosso, é especial, eu precisava te ver de novo, senti muito a sua falta.

Alessandra segurou a outra pelos braços e a sacudia. Nathalia reclamava de dor.
— Pode parar de fazer essa cena, eu sei que você disse a mesma coisa pra Isadora, você veio aqui pra que? Vingança? Ficou entediada lá no Canadá e resolveu voltar para destruir a nossas relações? – falava exaltada – Eu não quero mais ouvir o seu nome, nós terminamos quando Paula descobriu e não ficou nada para trás, vai seguir a sua vida e deixa a gente viver a nossa.

— Solta o meu braço Alessandra! Você está me machucando!

Alessandra virou as costas e saiu deixando Nathalia parada em pé na sala, bateu a porta atrás de si e deixou o prédio da ex namorada, chegou no carro e viu que tinham mensagens de Paula em seu celular, ela respondeu que estava voltando para casa e entrou no carro para retornar para Copacabana.

Entrou em casa e Paula estava no quarto com a televisão ligada, Alessandra retirou a roupa que usou para sair e sentou ao lado de Paula.

— Onde você foi? – dizia chorosa –

— Eu fui encontrar com Nathalia e trazer a prova que você precisava para saber que eu não fiz nada com ela, nós apenas almoçamos.

— Você foi atrás de Nathalia? Eu não estou acreditando, você é muito suja Alessandra. Como você pode fazer isso comigo? — dizia chateada –

— Escuta. Só escuta.

Alessandra segurou Paula pelo braço e ligou o celular, ela havia gravado a conversa que teve com Nathalia e colocou para Paula escutar.

A contadora escutou a discussão e não sabia se tudo era verdade. mas pelo que conhecia de Alessandra aquela era uma reação autentica de sua esposa, mais explosiva e enérgica quando é contrariada. As duas ficaram em silêncio ainda por um tempo.

— Acredita em mim? Eu sei que eu errei em não te contar sobre esse encontro, mas eu juro por tudo o que for mais sagrado, eu não traí você, eu não desrespeitei você e nem nossa relação, pelo menos dessa vez, perdoa essa burrada, nunca mais vai acontecer, eu juro.

Paula ainda mantinha o silêncio, pensava se dava essa chance para sua esposa, mais uma dentre tantas, estava cansada de cuidar de Alessandra e não ser cuidada.

Alessandra suava, mesmo com o ar condicionado ligado, ela estava apreensiva, não sabia que reação Paula teria. A contadora não sabia o que esperar. Fez um ato no impulso para tentar convencer sua mulher que estava falando a verdade.

Paula olhou para Alessandra enquanto lágrimas escorriam de seus olhos.

— Alessandra, eu deveria bater em você, minha vontade é de sair por aquela porta e nunca mais voltar a te ver. Não há nada que me garante que você não combinou essa conversa com ela pra me enrolar.

— Eu não fiz isso.

Alessandra sentia a mágoa nas palavras de sua esposa. Mas sentia esperança de receber o seu perdão mais uma vez.

— Mas eu vou aceitar suas desculpas mais uma vez.

Alessandra respirou fundo e desabou em um choro doído, fechou os olhos e segurou a cabeça com as mãos, o alívio tomou conta de seu peito e ela desabou na frente de Paula que a abraçou selando a reconciliação.

— Alessandra, nunca mais faça isso novamente, eu quero que você me conte tudo, mesmo que você ache que vai me aborrecer, eu prefiro resolver com você a descobrir pela boca dos outros.

Alessandra se desvencilhou de seu abraço e limpou o rosto com as mãos, olhou para Paula e sorriu.

— Desculpe meu amor, eu sei que eu sou infantil em muitos momentos e ajo como uma adolescente, mas eu prometo que isso vai mudar, eu preciso crescer, e criar juízo, a vida não é uma brincadeira. – falava embargada –

— Sim, você tem que ter responsabilidade com os seus atos Ale, as pessoas erram, e erram muito, nosso relacionamento nunca poderia ser perfeito, nem o de ninguém é. Mas você precisa entender que fugir de uma briga, ou de um problema não é a solução.

— Eu sei Paula, é por isso que eu te amo tanto e me sinto uma idiota por ter omitido esse almoço de você, você é tão sensata, tão madura, muito melhor que eu. – abaixou a cabeça –

— Ei. – segurou o queixo de Alessandra e levantou seu olhar – Eu não sou melhor que você, eu apenas consigo me expressar melhor, mas isso não quer dizer que você não tenha nenhuma qualidade, você é a mulher que eu escolhi pra mim, e eu não quero te perder, mas você tem que me ajudar.

— Desculpe, por favor.

— Eu desculpo, mas Alessandra, até quando será assim? Até quando você vai me pedir desculpas e eu vou aceitar?

— Não será mais, eu prometo. Eu não quero sentir esse medo de te perder de novo. Eu te amo.

As duas se abraçaram e deitaram na cama, fizeram as pazes e dormiram em paz.

*************
Ana chegava com Adriana no consultório de Martha, para a primeira consulta da contadora. Adriana estava aflita, nervosa, estava com medo de enfrentar seus fantasmas e seu passado.

As duas sentaram na recepção enquanto aguardavam o horário marcado, Drica estava apreensiva, estava com os dedos entrelaçados sobreas pernas, Ana fingia procurar algo no celular enquanto olhava a ansiedade da namorada.

— Fique calma meu amor, ela não vai te morder. – sorriu –

— Eu sei, mas é inevitável, eu tenho medo do que pode acontecer.

— Eu também tinha medo, mas depois foi muito bom pra mim, quando eu cheguei em frente a essa porta, eu quase voltei. Martha chegou e me inibiu. – riu – Lembro como se fosse hoje.

No meio da conversa, a porta se abriu e Martha se despedia da sua paciente que terminava uma sessão.

— Tchau querida, até semana que vem.

— Até mais Martha.

— Oi Ana, eu adorei saber que você viria aqui hoje.

Ana levantou e abraçou a psicóloga.

— Quanto tempo Martha, você está ótima hein! – se afastou e olhou para a mais velha –

— Que nada menina, são seus olhos. Não vai me apresentar a famosa Adriana? – olhou para a morena –

— Claro! Martha, essa é a Drica.

— Muito prazer minha querida.

— O prazer é meu. – apertou a mão de Martha –

— Venham, entrem.

As duas entraram no consultório e Martha fechou a porta, elas sentaram-se na mesa, exatamente como na primeira consulta de Ana naquele consultório.

— Então, vamos conversar, Adriana você veio até aqui com a Ana Paula, eu sei que ela quem fez a sugestão, mas eu só vou te atender se essa for a sua vontade, não faça nada porque quer agradar a outra pessoa ou por se sentir pressionada tudo bem?

— Sim.

— Você quer começar uma análise? É de suma importância que você saiba que eu não estou aqui para te dizer o que fazer, mas para te ajudar a se entender e descobrir os caminhos que você quer percorrer e te fazer mais forte para tomar essas decisões.

— Entendi.

— Então vamos lá, Ana eu sei que é sua namorada, que você me indicou, mas eu preciso que você espere lá fora, pode ser?

— Claro! – levantou-se – Eu vou te esperar lá fora. – beijou a testa de Drica –

A morena olhava para todos os lados, menos para Martha. A psicóloga pegou os dados para fazer a ficha de Adriana e começou a conversa.

— Então Adriana, o que te trouxe até aqui? – retirou os óculos e deixou pendurados por uma cordinha –

— Na verdade eu vim por insistência da Ana, eu fiz terapia lá em Boston depois do sequestro.

— Sim, eu soube do que aconteceu com você. E como foi essa terapia lá na Universidade?

— Ah foi boa, mas ainda tenho pesadelos. – estava tímida ainda –

— Entendo. Além dos pesadelos decorrentes desse sequestro, tem mais algum ponto que você queira discutir?

— Tenho problemas com minha mãe.

— Tudo bem, vamos entrar nesse ponto também. É o que te incomoda mais não é?

— Sim, incomoda bastante.

— Quer falar sobre isso?

— Agora? – Adriana tentava se esquivar –

— Bom, nós estamos aqui, agora, se quiser falar, fique a vontade, senão, pode ser em outra sessão. Quer entrar em outro assunto?

— Não, ai, eu não sei. –

— Adriana, fique calma, você está muito nervosa, acalme-se, a terapia não é nenhum bicho de sete cabeças, vai te ajudar a encontrar as respostas que você precisa, você estará mais forte para enfrentar seus medos e encarar seus problemas de frente.

Adriana ficou muda, olhava para um ponto fixo na mesa, sentia medo e insegurança em entrar nesse mundo tão particular que é seu.

— É difícil pra mim.

— Eu sei. Mas nós vamos com calma. Pode ficar tranquila. Quer terminar por hoje? NA próxima semana você vem mais relaxada e começaremos a terapia de fato.

— Sim, eu quero parar por aqui.

— Tudo bem então, agende com Mirella para a próxima semana. Está bem?

— Sim.

— Você não fala muito não é? – levantava da cadeira –

— Não. – sorriu –

— Tudo bem. – abriu a porta –

Ana surpreendeu-se com a rapidez, mas não questionou nada. Levantou-se e foi até Martha.

— Ana, foi muito bom te ver novamente. – abraçou a loira –

— Eu também achei, eu volto outras vezes, pode deixar que eu vou acompanhar essa teimosinha quando eu puder. – puxou Drica para perto de si –

— Tchau Adriana, nos vemos na próxima semana.

— Tchau.

— Mirella, agende com a Adriana por favor.

Martha entrou em sua sala e Adriana deixou marcado um novo encontro para a próxima semana. Saiu conversando com Ana.

— Então meu amor, como foi? – beijou o rosto da morena –

— Ah, estranho, eu não gosto de falar sobre essas coisas.

— Eu sei. Mas você vai ver que será muito bom para você.

— Eu estou acreditando em você. – sorriu —

Entraram no elevador e resolveram passar no antigo escritório de Ana Paula. Seu pai estava tocando os casos depois que saiu da diplomacia e Ana foi aprovada para a promotoria.

— Ai, Ana, seu pai vai estar ai? Não é melhor a gente vir aqui outro dia?

— Drica, não precisa ficar tensa. – ria – Meu pai é muito tranquilo.

Entraram na sala e Ana encontrou Bia na recepção.

— Ana! – levantou da mesa –

— Oi Bia. Tudo bem? – abraçou a moça –

— Tudo certo. E você?

— Ótima! Deixa eu te apresentar, essa é minha namorada, Adriana. Bia era minha secretária, agora é de papai.

— Prazer.

— É todo meu. – cumprimentaram-se –

— Ele está ai? – apontou para a sala –

— Sim, vai lá. Claudinha que está em uma audiência. Mas daqui a pouco ela chega também.

— Vou lá então. Vem. – segurou a mão de Drica –

Ana bateu a porta e entrou no escritório que era seu, viu seu pai sentado olhando alguns papeis e ele abriu um sorriso encantador quando viu as duas mulheres.

— Oi minha filha! Que visita boa. – levantou-se —

Ana beijou o pai e puxou Drica.

— Pai, essa é Adriana, minha namorada.

— Ah, a famosa Adriana!

— Muito prazer senhor Luiz. – esticou a mão –

Luiz apertou com firmeza e a puxou para um abraço.

— Odeio essas formalidades, um abraço é maravilhoso, não acha?
— Sim senhor. – Drica estava vermelha de vergonha –

— Então, o que eu mereci para receber você aqui assim, sem avisar? – voltou para sua cadeira –

— Nada demais, eu só queria que você conhecesse a Drica. E queria te dar um beijo.

— Mas eu fiquei muito feliz com sua visita, nós poderíamos almoçar, hein! – sorriu –

— Pode ser, eu só vou pra repartição a tarde. Você pode almoçar conosco Drica?

— Posso sim. – o celular tocou – Com licença. – levantou e atendeu ao celular perto da porta –

— Ela é muito bonita minha filha. Eu estou feliz por você. – piscou para Ana –

— Eu sei, obrigada papai. Liga pra mamãe, avisa que vamos almoçar lá com vocês.

— Agora. – pegou o celular e fez a ligação –

Adriana voltou e sentou-se novamente.

— Tudo bem Drica? – colocou a mão na coxa da contadora –

— Sim, era Felipe. Quer marcar um jantar no apartamento dele, ele vai pedir Luana em casamento.

— Nossa, que legal, já decidiu o dia?—ajeitou-se na cadeira —

— Ainda não, mas deve ser até semana que vem. – guardou o celular na bolsa —

— Meninas, vamos? – Luiz chamou as duas –

— Sim. Você vai conhecer minha mãe. – sorriu –

— Ela vem também?

— Nós vamos para a minha casa. Papai almoça em casa.

— Ah tá. Eu corro risco de vida? – riu –

— Claro que não. – segurou a mão da namorada –
Chegando na casa de Ana Paula, Drica teve leves lembranças dos poucos momentos que esteve naquele local, principalmente do dia do acidente que quase a deixou sem andar.

Ana e seu pai, entraram com os carros na garagem, e avistaram Regina na porta da sala com um sorriso no rosto.

Os três caminhavam pelo gramado para alcançar a varanda, e Drica reconheceu as feições de sua amada em sua mãe.

— Sua mãe é muito bonita Ana. – sussurrou –

— Eu sei, eu também acho.

— Oi minha filha, que bom que você veio almoçar em casa hoje. – beijou a filha –

— Mamãe, essa é Adriana. Minha Veneza.

Adriana continuava sem entender porque Ana a chamava de Veneza. Mas não teve tempo de perguntar, Regina a abraçou na mesma hora.

— É um prazer te conhecer, seja bem vinda minha querida, sinta-se em casa. – segurou a mão de Adriana e caminhou para dentro da casa –

— O prazer é todo meu, Dona Regina.

— Ah minha filha, esqueça essa história de dona, só Regina mesmo, isso envelhece. – riu –

Adriana olhava para Ana que apenas ria da vergonha da namorada.

— Vamos almoçar? A comida está quentinha. – Regina caminhou até a mesa que estava posta na cozinha.

A família almoçou tranquilamente e conversaram bastante, Adriana achou os pais de Ana divertidos, e muito carinhosos. Depois que eles voltaram a morar no Brasil, a relação entre pais e filha estava completamente diferente. Ana estava muito próxima de sua mãe e Adriana lembrou por um momento de Catarina, não tinha mais notícias dela, não sabia como sua mãe estava.

Ao final da refeição, Luiz precisou voltar para o escritório e deixou as mulheres em casa ainda. Ana e Drica caminhavam para o jardim de mãos dadas e sentaram em um banco.

— Ai, que vontade de não ir para o escritório hoje. – Adriana disse preguiçosa –

— Ué, não vai. – Ana deu de ombros –

— Não posso, eu tenho um relatório para terminar. – mexia no celular –

Ana delicadamente segurou suas mãos e retirou o celular da namorada, colocou sobre o banco e puxou seu rosto para seguir seus olhos. Drica sempre arrepiava quando ela fazia isso.

— Drica, o relatório pode esperar, você anda muito cansada, viajando toda semana, tira o dia de folga hoje, eu tiro também, nós podemos fazer o que você quiser. – fazia carinho no rosto da namorada — Praia? Piscina? Ou só deitar ali na rede e ficar se curtindo.

— Ai Ana, eu não sei, é tentadora essa proposta, mas eu não falei nada com as meninas, e o seu dia no escritório?

— Drica, não se preocupe comigo, o meu eu resolvo amanhã. Eu quero ficar com você hoje, se você quiser. – tirou uma mexa de cabelo que caia sobre o rosto da morena –

— Ai Ana, parece que eu estou vivendo um sonho, nunca imaginei que um dia estaria com você assim, tão envolvida, tão dedicada, cuidando de mim. Eu confesso que não tinha mais esperanças de viver esse amor que nunca me deixou.

— Eu estou aqui meu amor, e sou somente sua. – Adriana se aconchegou em Ana – Eu só quero te ver feliz. – beijou a cabeça da morena – Fica comigo hoje.

— Eu fico.

As duas estavam conhecendo o amor verdadeiro, o amor completo, o amor que cuida e que não machuca, a cumplicidade de duas almas que se encontraram depois de muito se buscarem.

Ana estava cumprindo sua promessa, cuidando de Adriana e fazendo a morena feliz, e Drica, estava recolhendo seus cacos, e juntando um a um, para se recompor, encontrou finalmente a felicidade nos braços de quem se ama, pela primeira vez em muito tempo sentia-se amada novamente, estava acolhida e protegida, sentia-se forte.



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