Todos estavam no apartamento de Felipe, acontecia uma pequena reunião familiar para o noivado dele com Luana. Os pais da moça já estavam no local, Adriana chegou com Ana, Viviane e Isadora, Paula e Alessandra chegaram momentos depois. Antero também já estava no local, Camila chegou com Pedro e juntou-se a irmã.

— Felipe, mamãe vai vir? – Adriana perguntou nervosa –

— Drica, eu chamei, ela disse que viria, mas não chegou até agora. – falou mais baixo –

— Será que ela vai trazer a Marina?

— É a mulher dela agora não é? – bebeu um gole de cerveja –

— Mas ela sempre teve vergonha disso, será que ela mudou?

— Poxa Drica, pelo que eu vejo, ela mudou um pouco, mas continua com aquela mania feia de criticar tudo. – comeu um canapé – Isso ela não muda.

— Eu posso imaginar. – bebeu um pouco de refrigerante –

— Drica vem aqui. – Paula chamou –

— Eu vou lá Lipe. – beijou o rapaz –

Por volta das nove horas da noite, Adriana estava encostada na janela conversando com as amigas e avistou a figura imponente de sua mãe entrando no apartamento de Felipe, acompanhada de Marina.

A morena sentiu um calafrio percorrer seu corpo, tanto tempo sem ver sua mãe, e ela continuava do mesmo jeito, Felipe foi falar com ela e a abraçou, cumprimentou Luana e entregou um presente para a moça, Marina cumprimentou os noivos e ao dar uma olhada pela sala, Catarina encontrou o olhar da filha do outro lado da sala.

Adriana estava paralisada, não sabia se o sentimento era de raiva ou saudade, raiva pelos insultos e pelo abandono e saudades de uma vida que gostaria de ter mas nunca pode desfrutar, a relação de mãe e filha.

Catarina desmanchou o sorriso na mesma hora que os olhares idênticos se encontraram. Como sempre Catarina foi hostil com a filha, a olhou com desdém e virou o rosto sem cumprimenta-la.

Adriana sentiu mais uma pontada em seu peito, lágrimas teimosas surgiram em seus olhos, querendo explodir a qualquer momento.

Felipe percebeu o que aconteceu e ficou chateado com a atitude da mãe, mas não quis criar um tumulto nesse dia tão importante para ele, Adriana pediu licença para as amigas e saiu meio desnorteada, Paula percebeu a presença de Catarina e cutucou Ana.

— A mãe dela chegou. – sussurrou no ouvido da promotora –

— Cadê Drica?

— Ela saiu da sala, foi lá pra fora. – apontou a porta –

— Droga, eu não vi. – Ana se lamentou – Eu vou atrás dela. – bebeu um ultimo gole de vinho –

Ana caminhou para o corredor e não viu Drica pelo hall do andar. Ficou intrigada, caminhou até o final e viu a porta que dá acesso para a escada, abriu a porta e encontrou Drica sentada em um dos degraus chorando sozinha.

A promotora não pensou duas vezes, sentou-se ao seu lado e abraçou a morena, puxando para o seu abraço.

Drica deitou no colo da namorada e se perdeu em seus sentimentos, a rejeição e a falta de amor de sua mãe a machucavam muito. O choro era contido, doído, as lágrimas escorriam molhando a calça de Ana que fazia carinho em seus cabelos.

— Amor, não fica assim, ela não merece suas lágrimas, você precisa ser forte.

— Ana, eu achei que conseguiria encarar minha mãe novamente, mas eu não consigo. – dizia com a voz embargada – Parece que o tempo que fiquei sem vê-la piorou essa dor que eu sinto quando ela me olha daquele jeito.

— Calma, eu estou aqui. Você não está mais sozinha, lembra disso. Vai ficar tudo bem. – beijou a cabeça de Drica –

— Eu não quero mais voltar. Eu não posso encarar essa frieza toda. – balançava a cabeça negativamente —

— Mas é o noivado do seu irmão, e você tem que mostrar a ela que você está bem e feliz, é isso mesmo que ela quer, te intimidar, não aceite a provocação, prove que você é mais que essa indiferença, você é a minha Adriana. – segurava suas mãos —

— Como eu vou voltar lá com essa cara grande? – levantou do colo de Ana – Toda amassada e vermelha de chorar. – apoiou a cabeça nas mãos –

— Você está linda como sempre esteve. Precisa se acalmar, consegue parar de chorar? – afagou suas costas –

— Ai, eu estou tentando. – limpou o rosto com as mãos –

— Respira, com calma. – levantou – Levanta daí. Vem comigo.

Adriana segurou a mão de Ana Paula e levantou com a namorada, as duas saíram da escada e ao chegar no corredor avistaram as amigas na porta do apartamento, estavam aflitas, procurando por Adriana. Paula veio de encontro a amiga.

— Drica, eu fiquei preocupada. – abraçou Drica –

— Desculpe amiga. Eu precisava respirar.

— Dentro da escada? – Alessandra perguntou —

— Foi onde eu consegui me esconder. – uma pausa — Não por muito tempo.

— Você vai voltar? – segurava as mãos de Drica –

— Sim, essa noite é do meu irmão, e ela não pode me abalar desse jeito, ele não me perdoaria se eu for embora.

— Isso ai, nós estamos aqui pra te dar força. – Paula encorajou —

— Obrigada amiga. – sorriu –

— Vamos entrar.

Adriana respirou fundo e entrou novamente no apartamento, tentando disfarçar o rosto vermelho, foi direto para o banheiro. Lavou o rosto e voltou para a sala. Sua mãe estava sentada em um sofá com Marina ao lado, as duas não se tocavam, provavelmente combinaram para não transparecer que são um casal.

Adriana voltou para a janela onde as amigas estavam, mas ficou de costas. Felipe a abraçou por trás e beijou seu rosto.

— Você está bem?

— Sim.

— Sinto muito Drica. – falou em seu ouvido —

— Você não tem culpa meu irmão. – beijou o rosto do rapaz – Vai dar atenção à sua noiva.

Adriana evitou encontrar o olhar seco e frio de sua mãe durante toda a noite. Não ia beber, mas começou a tomar vinho com as amigas.

Depois do jantar, Felipe convocou os presentes para o anuncio do noivado com Luana.

— Pessoal, eu gostaria da atenção de todos. – o rapaz chamou –

Luana estava ao seu lado, nervosa, seus pais estavam perto em pé, assim como os pais de Felipe.

— Eu quero agradecer a presença de todos aqui, para celebrar esse dia tão importante para nós. – olhou para a namorada – Hoje nós vamos selar nosso compromisso e nosso amor.

Todos bateram palmas, os amigos brincavam e sorriam,

— Senhor Andrade, eu gostaria de pedir a mão da sua filha em casamento.

O pai de Luana fez uma careta para todos rirem, ajeitou as calças e hesitou um pouco para dar a resposta, fazendo todos se divertirem.

— Bom, eu dou minha permissão, mas você tem que perguntar isso a ela, Luana que vai casar com você.

— Obrigado Senhor Andrade, pior que o senhor tem razão. – riu – Luana, você quer casar comigo?

— Claro que eu quero. – sorria nervosamente —

Os dois se abraçaram e todos bateram palmas novamente. Felipe tirou as alianças do bolso e os dois colocaram nos respectivos dedos. Um beijo selou aquele compromisso.

Antero parabenizou os noivos em um discurso emocionado e para não ficar para trás Catarina resolveu falar também.

— É tão triste para mim ver que meu bebê cresceu e está seguindo os próprios passos sozinho. – segurava uma taça de champanhe –

Felipe ficou envergonhado por sua mãe chama-lo de bebê. – Mãe! Bebê? – riu nervoso —

— Para uma mãe ver seu filho amado crescer tão depressa é complicado não é gente. – olhou para todos e riu — Meu único filho casando, nos moldes normais e tradicionais, é um orgulho para o meu coração. – estava provocando Adriana –

— Obrigado mamãe. – Felipe tentava cortar sua mãe –

— Eu ainda não terminei meu filho. – levantou a taça – Um brinde ao casamento do meu garoto! Luana seja muito bem vinda à família, estou ganhando a filha que eu sempre quis ter.

As pessoas automaticamente olharam para Adriana que sentiu o chão abrir sob seus pés ao escutar essas palavras de sua mãe. Ficou vermelha de vergonha ao perceber o burburinho gerado pelo comentário grosseiro de Catarina.

Antero segurou seu braço e a puxou para perto dele.

— Você enlouqueceu? Por que você falou isso? – apertava seu braço falando baixo –

— Por que é a verdade, e solta o meu braço que você está me machucando.

— Você é inacreditável!

Adriana não teve reação, segurava uma taça de vinho e assim permaneceu, olhando para o nada. Respirou fundo e percebeu que o mundo poderia cair sobre sua cabeça que sua mãe não iria ligar para o que acontecesse.

Felipe chamou a atenção das pessoas e Adriana pode relaxar. As amigas tentaram consolar a morena e apesar de dizer que estava bem, por dentro, mais um pedaço de si foi arrancado.

Ana segurou sua cintura e a apertou, indicando que estava ali pra ela.

Catarina passou o restante da noite lançando olhares desafiadores para a filha. Adriana já estava alta da bebida, já se sentia tonta e ainda continuava bebendo. Queria apenas esquecer.

Ao final, depois que todos já haviam partido, só estavam no apartamento Adriana e Felipe, seus pais, Ana Paula, e as amigas, Paula, Alessandra que também já estava fora de si por conta da bebida, Isadora e Viviane. Estavam se despedindo do rapaz.

Adriana voltava do banheiro e encontrou com Catarina entrando no corredor, as duas bateram de frente. Duas gerações, olhos castanhos em colapso. Ninguém percebeu a movimentação das duas.

— Saia da minha frente. — Catarina esbravejou –

— Quem você pensa que é para falar assim comigo? – Adriana enfrentou sua mãe, já exaltada pela bebida –

— Eu sou sua mãe! – apontou o dedo na face da contadora –

— Tira o dedo da minha cara! – Drica falou mais alto – Para me insultar você é minha mãe, para me tratar como filha eu não sou ninguém. – gesticulava —

Todos pararam de conversar e olharam para as duas mulheres se enfrentando.

— Infelizmente eu tenho que ter esses desagradáveis encontros com você nos eventos do meu filho.

— Agora você está feliz, não é? Ganhou a filha que sempre sonhou em ter. – gesticulava – Agora tem alguém para substituir a aberração que você gerou, que você nunca suportou. – apontava para si –

— Gente, para com isso. – Felipe chegava perto –

— Infelizmente eu tive o desprazer de gerar você, eu te olho e vejo os olhos dele, me olhando enquanto me violentava, arfando aquele bafo de bebida no meu rosto enquanto dizia que eu ia aprender a gostar de homens.

— Eu não tenho culpa! – Adriana estava mais exaltada – Não fui eu.—bateu no peito –

— Eu não queria outro filho! – gritou – Muito menos alguém como você!

— Catarina! – Antero tentava conter os ânimos —

— Como eu? Você quer dizer lésbica? Eu sou exatamente como você, mas você sabe o que te incomoda tanto? – Adriana caminhava para frente de encontro a Catarina – Eu vivo o que você sempre quis viver, você não teve coragem de assumir quem você é. Você viveu infeliz e não suporta que logo eu – bateu no peito — estou sendo feliz com um sonho que era seu. – apontou para a mãe —

— Você não é igual a mim. – caminhava para trás – Eu nunca quis você.

— Pois essa não é uma opção válida! Eu estou aqui e eu sou sua filha, queira você ou não, assim como Felipe é.

— Deixa Felipe fora disso.

— Pelo amor de Deus, vocês duas, parem com isso! – Felipe pedia –

— O filhinho da mamãe, que você sempre carregou debaixo da asa, criado como um vaso de porcelana, sempre teve tudo o que quis, enquanto eu ficava mendigando os restos do seu amor, implorando um pouco de atenção que fosse, queria ver se o tratamento seria o mesmo se ele fosse gay como eu.

No silencio da noite, o único som que ecoou na sala do apartamento de Felipe foi o estalar da palma da mão de Catarina rosto de Adriana.

Ana correu e segurou Drica, amparando a namorada. Marina estava esperando do lado de fora, entrou nesse momento pela demora de Catarina e percebeu o clima pesado.

Adriana estava triste, nunca foi respeitada por sua mãe e não seria agora que conseguiria receber esse feito. Catarina começou a gargalhar, deixando a todos assustados. Olhou para as duas namoradas e esbravejou.

— Essa é a sua namoradinha, coitada, você vai destruir a vida dela como destruiu a minha, tudo o que você toca vira pó, você não é digna do amor Adriana, você não é fruto de amor, é fruto de ódio. – seu semblante era de desprezo —

Adriana chorava, sentia mais uma vez a hostilidade de sua própria mãe contra si, mesmo com o que acontecera, ela se perguntava se sua mãe nunca iria perdoá-la por algo que ela não fez.

— Mamãe para. – Felipe chegou e segurou Catarina – Deixa a Drica em paz –

Antero pôs-se na frente da ex-mulher e segurou-a pelos braços, quase arrancando Catarina do chão.

— Nunca mais encosta a mão nela! – estava transtornado –

— Me solta! Você está me machucando!

— Você merecia uma surra! – soltou a mulher longe de Adriana!

— Catarina, vamos embora. – Marina interferiu –

— Vai embora! Você não é minha mãe, eu não posso ter nascido de você, você é um monstro!

Ana Paula segurava Adriana e Marina puxava Catarina pelo braço, não satisfeita Catarina ainda fez mais uma maldade com a morena.

— Felipe eu vou embora, se você quiser que eu entre com você no seu casamento, eu espero que ela não esteja presente, senão eu volto da porta da igreja.

— Mas o que é isso mamãe? – Felipe reclamou – A senhora enlouqueceu?

— É isso mesmo que você ouviu, se ela estiver no seu casamento, eu não entro.

Virou as costas e foi embora com Marina.

Ana abraçou a namorada que se sentia novamente como uma criança, rejeitada e humilhada por quem deveria lhe proteger. Antero foi até a filha e a puxou para um abraço também, Felipe ficou chocado com a exigência de sua mãe. Não sabia o que fazer.

— Eu vou embora, eu não deveria ter vindo Felipe, ainda bem que a família da sua noiva não viu esse barraco. – Adriana dizia com a voz embargada –

— Drica, ela está descontrolada, não leva a sério, deixa isso para lá. – fazia carinho em seus cabelos –

— Lipe, ela sempre foi descontrolada, ela nunca vai me perdoar por ser filha daquele homem. Ela vai me odiar para sempre. O que eu fiz pra merecer isso?

— Minha filha, nós te amamos, Catarina sempre foi mesmo descompensada, mas você é muito amada e querida. – Antero ponderava – Eu te amo e vou te proteger, eu prometo.

— Obrigada pai. Eu só quero ir embora. – olhou suplicante para Ana —

— Nós vamos agora, vem que eu vou te levar pra casa.

Adriana beijou o pai, recebeu um forte abraço de Felipe e desceu com as amigas. Despediu-se de todas e cada casal foi para seu destino. No carro o silêncio gritava, Adriana chorava baixinho, e Ana tentava prestar atenção no trânsito.

Ana foi para o apartamento de Drica com ela, sem palavras, as duas tomaram seus banhos e foram para a cama, Adriana aconchegou-se nos braços de Ana Paula e simplesmente fechou os olhos para adormecer.

Ana não disse nada, fazia carinhos para embalar os sonhos da amada, e adormeceu em seguida.
*******************
Viviane e Isadora conversavam em um restaurante.

— Poxa Isa, aquela sua ex, é uma chave de cadeia hein! – comeu uma garfada –

— Viviane, eu nunca imaginei que ela era assim. – cortava um pedaço de carne – O tempo que nós estivemos juntas ela me enganou direitinho.

— Ela quase se meteu entre Alessandra e Paula de novo, nem te contei né.

— Não, o que ela fez? – limpou a boca com um guardanapo –

— Ela apareceu do nada lá no escritório, e almoçou com Ale, só que ela é muito desligada mesmo, não contou pra Paula, e depois a outra lá, mandou mensagem pra Alessandra, e Paula viu. – bebeu refrigerante –

— Caramba, mas elas saíram de novo?

— Não, elas só almoçaram, e Alessandra foi até a casa dela, gravou uma conversa das duas e trouxe pra Paula ouvir, ai ela acreditou que foi só o almoço. Mas eu vou te contar, a conversinha mole dela é demais.

— Nathalia tem muita lábia sim, e ela é extremamente sensual, ela vai te envolvendo de uma maneira, que quando você vê, já está arrancando as calcinhas para ela. – apoiou os talheres no prato –

— Enfim, eu sei que as meninas quase se separaram novamente. Ela já foi embora?

— Pelo que eu soube, sim, já voltou para o Canadá.

— Já foi tarde, quase acabou com a nossa vida, eu hein! – limpou a boca com um guardanapo –

— Ainda bem que não conseguiu não é?

— Sabe Isa, as vezes eu paro para pensar, e fico relembrando tudo o que aconteceu nos últimos anos, a mudança que essa viagem para Boston fez na minha vida, conhecer Adriana foi um divisor de águas para mim.

— Eu imagino, ela é uma pessoa maravilhosa não é? Não merece o que a mãe dela faz com ela.

— Pois é, eu tenho tanta pena dela! Nossa convivência é maravilhosa, ela é prestativa, amiga, tão tranquila, eu não consigo pensar como ela pode ser filha de dois desequilibrados.

— Mas quem a criou foi o senhor Antero, ele é o pilar da vida de Adriana, ele se responsabilizou por direcionar o caminho dela para o bem, e graças a Deus ele conseguiu. Você quer sobremesa?

— Ah, eu quero, pede um petit gateau pra mim. – fez carinho na mão de Isadora –

— Eu peço. – chamou o garçom –

**************
Domingo, bem cedo, Adriana e Ana Paula subiam para o Parque da Cidade, local situado em uma área nobre de Niterói onde se encontra uma das pistas de voo mais badaladas da cidade. Isadora e Viviane acompanharam as amigas, não iriam encarar a aventura, mas ficaram com a responsabilidade de registrar o momento com fotos e descer com o carro para resgatar as meninas na praia.

No carro, uma ansiedade tomava conta das duas, seria sua primeira experiência nas alturas.

Chegando ao local as meninas estacionaram o carro e caminharam para encontrar com os instrutores.

— Ai Adriana, você me convence de fazer cada coisa! – Ana reclamava olhando a altura que fariam o salto –

— Meu amor, você vai adorar, eu tenho certeza! – dizia entusiasmada –

— Eu não sei como!

— Oi meninas! – um rapaz se aproximou –

— Oi Guto, e ai, tudo pronto pra voar? – Adriana batia palmas –

— Claro! Estamos com tudo certo, o equipamento checado, o vento está perfeito para voar hoje, vocês vão se amarrar!

— Maravilha! – Ana revirou os olhos –

— Ana, você ainda vai me agradecer por isso. – beijou seu rosto –

— Ana, vai encarar mesmo? – Isa chegava perto da amiga –

— Vou né. Eu prometi que voaria com ela. – deu de ombros – Agora tenho que cumprir.

— Eu vou tirar muitas fotos legais, o dia está lindo! – Viviane completou –

Os rapazes prepararam o parapente e o equipamento de segurança, as meninas se arrumaram e estavam prontas para se jogar no ar.

Adriana se preparou primeiro, sentia a adrenalina correr por suas veias, estava nervosa, as mãos suavam, o corpo arrepiava cada vez que olhava a paisagem. Ana estava mais atrás assistindo a movimentação na rampa. Antes do sinal do instrutor, Adriana olhou para a namorada e mandou um beijo no ar, Ana só conseguiu sorrir, seu corpo inteiro tremia de pavor, já estava com o equipamento, capacete, cintos, tudo preparado também.

Adriana e o rapaz começaram a correr sobre a rampa e se jogaram no ar, Ana se assustou, quando os dois sumiram da sua visão, mas em seguida respirou novamente quando viu o parapente de Adriana ganhar altura.

A morena estava como uma criança, abria os braços e sentia o vento tocar sua pele, olhava a paisagem de Niterói e do Rio de Janeiro ao longe, o sorriso era inevitável, incansável, a sensação de liberdade era maior que tudo, era maior que ela. Adriana gargalhava de alegria, por aqueles instantes ela esquecera-se de tudo, de todos, do mundo. Era apenas ela e o vento.

Ana rezava enquanto esperava o sinal do instrutor, correram pela rampa e lançaram-se no ar. O rapaz ria muito, pois Ana não conseguia parar de gritar, no primeiro momento, tudo não passava de medo e pavor, ela estava incapaz de fazer qualquer movimento, abrir os olhos nem pensar.

A medida que o voo foi se desenhando, a loira resolveu abrir um olho, retirando a mão lentamente. Vislumbrou uma imagem que nunca irá esquecer, o mar ao fundo, o céu límpido, e percebeu que Adriana estava com razão, ela agradeceria muito por aquela experiência.

Depois que passou o pânico, Ana começou a gritar de excitação, estava em êxtase, mas nem por isso soltava as mãos do cinto de segurança.

Adriana estava extasiada, era uma liberdade sem igual, olhar o mundo abaixo de seus pés, literalmente, ali era o seu momento, foram minutos de despertar, de refletir e se fortalecer para encarar os problemas do dia a dia.

Depois de descer na praia, Adriana e Ana se encontraram e se abraçaram, Adriana tinha lágrimas nos olhos e a loira não conseguia mover nenhum músculo por conta da tremedeira.

— Minha nossa, o que eu não faço por você? – Ana dizia nervosa ainda –

— Ah, me fala que você não gostou? – sorria muito –

— Eu gostei sim, é mágico, eu não sei explicar a sensação, mas não deixa de ser perigoso e dar medo.

— Você é muito frouxa. – apertou a bochecha de Ana —

Ana se jogou na areia, sem se importar com a roupa, e Adriana sentou ao lado.

— Ai, onde as meninas estão?

— Não sei, nós marcamos na frente de um quiosque, não lembro qual. – Adriana coçou a cabeça –

— Vamos lá pra calçada, elas encontram a gente.

— Eu quero beber alguma coisa, minha boca está seca.

As namoradas caminhavam sobre a areia até o calçadão, pararam em um quiosque e beberam água de coco, Isadora e Viviane as encontraram em seguida e juntaram-se às meninas. As quatro amigas conversavam animadas, Adriana tentava convencer Viviane a experimentar o esporte também.

Ana e Adriana voltaram para casa com a alma leve, deixaram metade dos problemas esquecidos naquele pequeno momento de liberdade que tiveram ao voar no céu azul do Rio de Janeiro.



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2022 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.