Ana estava a caminho do Multicenter, era dia de mais uma consulta com a terapeuta, ela já estava mais à vontade com a ideia da terapia, já se sentia mais leve por conseguir externar suas frustrações com seus pais.

Chegou ao consultório, Mirella a recebeu com o mesmo sorriso cordial de sempre, a doutora chegou logo depois e pediu que a aguardasse por um momento.

— Vamos Ana? – Marta aparece na porta –

Ana Paula entra no consultório, a terapeuta já está se dirigindo para a sua cadeira, ela opta pelo sofá novamente. Um momento de silêncio a perturba. Até que a voz de Marta volta a preencher o ambiente.

— Então, como foi a semana?

— Agitada.

— No seu trabalho?

— Sim, foram duas audiências. Na mesma semana é meio puxado.

— Entendo. Por que você escolheu essa carreira?

— O meu pai é advogado, eu sempre gostei de ver como ele se comportava nas audiências, como ele sabia falar, e as pessoas que ele conhecia. Minha mãe também é formada em Direito, mas nunca atuou, nem a prova da OAB ela fez.

— Ele te influenciou, ou você fez a opção?

— Teve um pouco dos dois, quando eu decidi ser advogada ele me incentivou muito, pagou a faculdade com gosto, comprava livros e mais livros. Foram os anos que eu tive mais contato com ele.

— Essa sua escolha, tem haver com essa necessidade de se sentir conectada com os seus pais, mesmo que não fosse pela presença ou pelo afeto, mas ter algo em comum.

— Você acha?

— Sim. Mas me diga você o que você acha?

Depois de um silêncio. – Você pode ter razão. Eu realmente pensei que se eu tivesse algo em comum com eles, eu conseguiria mais atenção, eu queria saber como e o que conversar com meu pai, e o Direito foi um elo, mesmo que momentâneo.

— Você gosta do que você faz?

— Eu gosto sim.

— Que bom. Pelo menos você não fez uma escolha frustrada ao tomar sua decisão com base em fatores externos e não pela sua vocação.

— É eu gosto de advogar, de defender as pessoas da injustiça. Eu não vou dizer nunca, mas eu não me vejo como criminalista. É uma área muito difícil.

— Eu imagino. Muitas vezes esse segmento nos leva para caminhos tortuosos e sem volta.

— É, eu não gosto, eu não conseguiria ir contra os meus princípios para defender um bandido por causa de dinheiro, por exemplo.

— Isso é prova do seu caráter.

— Pelo menos isso meus pais acertaram comigo. – sorria sarcástica –

— Seus problemas com relacionamentos que você comentou, são em que nível? Você consegue se relacionar ou nem isso?

— Bom, eu me relaciono sim, eu tenho namoradas, mas toda vez que eu percebo que o namoro está evoluindo para algo realmente sério, eu termino. Pelo menos minha amiga disse isso.

— Você não acredita nisso?

— Eu tive os meus motivos.

— Todos os casos foi você quem terminou?

— Sim. – olhava para as mãos entrelaçadas sobre seu colo –

— Sua amiga deve ser muito perceptiva. Isso é realmente um fato que mostra que ela pode ter razão.

— E se tiver? Não vai fazer diferença.

— Claro que vai minha filha. Olha, relacionamentos são feitos de altos e baixos, ninguém nunca vai poder te prometer que não vai te magoar, assim como você também não pode. Você só vai saber se deixar acontecer e se arriscar.

— Você acha que isso é verdade?

— Eu já vi muita coisa querida, e nós temos a tendência de fugir do que nos assusta, eu acho que é muito provável que você se afaste de compromissos sim. Mas nós precisamos entender o por quê e tratar a partir daí.

Ana ficou em silêncio.

— Você está namorando atualmente?

— Sim, minha antiga professora da faculdade.

— É um relacionamento antigo Ana?

— É, nós namoramos há anos atrás, e ficamos separadas por mais ou menos quatro anos, até que ela voltou de São Paulo ano passado e nós reatamos depois do carnaval.

— Por que vocês terminaram da primeira vez?

— Ela foi transferida para a matriz da multinacional que ela trabalha, que é em São Paulo, eu não quis acompanhar.

— Entendi. Você tinha sua vida aqui e não quis abrir mão.

— Mais ou menos isso.

— Você sentiu medo de agir como sua mãe, eu acho que você não quis viajar para não sentir que abandonou sua irmã assim como você acha que sua mãe fez com você.

Ana ficou pensativa, o assunto evoluiu com mais perguntas.

A terapeuta fez anotações e falou por fim. — Por hoje é só Ana, nos vemos semana que vem?

— Sim, claro.

— Nós entraremos nesses seus relacionamentos mais a fundo tudo bem?

— Sim.

Ana se despediu e deixou o consultório da terapeuta. Caminhou até o escritório pensando naquelas conversas, será que ela conseguirá descobrir a causa dessa insegurança? E melhor que isso, se livrar desse peso? Ela pensava em Adriana ainda, como estaria a morena em Harvard? Não, ela não pode pensar em Drica, ela disse que não a amava, ela magoou o coração da mulher que balançou suas estruturas, ela não pode pensar em Drica, ela não a ama. Será?

**********

Adriana andava pelos corredores de Harvard em direção ao refeitório. Havia conversado com a segurança da Universidade junto com Renata, o chefe da guarda prometeu aumentar o patrulhamento na área dos alojamentos.

Recebeu outra mensagem de Mariana, estava com um sorriso bobo no rosto, quando um rapaz esbarrou em seu ombro, derrubando seus livros no chão. Com o susto ela nem teve tempo de olhar o rosto do garoto que se desculpou e seguiu o seu caminho sem olhar para trás ou ajuda-la a recolher suas coisas. Depois de se recompor ela olhou para o corredor e não viu mais o rapaz. Pensou que ele era de alguma sala próxima e o achou muito mal educado.

Encontrou com Renata já no refeitório, a garota estava com alguns colegas do curso de Direito e acenou para Adriana que chegava com sua bandeja para comer.

— Renata, eu não aguento mais comer essa comida!

— Eu também estou com saudades do arroz e feijão.

— E ai, ouviu mais alguma coisa sobre o caso das meninas?

— Ih amiga! Bem lembrado, ouvi sim, disseram lá no campus de pesquisa que o corpo de uma das garotas apareceu essa noite a três quilômetros daqui.

Um calafrio subiu por sua espinha, Adriana sentiu o chão abrir embaixo dos seus pés.

— Caramba, então aumentar a ronda não resolveu muito.

— Não.

— Que horas você sai hoje?

— Seis horas.

— Eu saio mais cedo, mas eu vou para o seu prédio te esperar, você não vai mais andar sozinha até pegarem esse maluco.

Adriana concordou e se sentiu protegida por Renata, os papéis se inverteram nessa viagem, as vezes é bom ser cuidada também.

Faltando dez minutos para as seis, Renata estava na porta do prédio de exatas com mais duas amigas esperando por Adriana, a contadora saia do prédio e avistou as amigas conversando, caminhou até elas e as cumprimentou. Passaram na lanchonete para comprar algo para comer e seguiram para o alojamento.

Em um certo momento, Adriana reparou no mesmo rapaz que estava de pé ao lado de uma árvore no meio do caminho, instintivamente ela segurou o braço de Renata que tomou um susto.

— O que foi Adriana? – olhava para ela –

— O cara de capuz. – apontava com a cabeça –

Renata olhou para o lado e chamou as amigas.

— Temos que avisar aos seguranças. Eu vou seguir com Adriana, vocês vão atrás de um segurança.

As meninas saíram de perto e as duas continuaram caminhando lentamente, Adriana estava tremendo não sabia o que ele poderia fazer, ou se era ele quem estava mesmo raptando as meninas. Mas o medo a dominava, ela acompanhava o rapaz que passou a andar ao lado das duas mantendo a distância.

Adriana segurava mais apertado no braço de Renata, que passou a caminhar mais rápido. As duas avistaram as amigas voltando com dois seguranças e ficaram mais calmas, ao olhar na direção que o rapaz estava caminhando não o viram mais. As duas pararam de andar perplexas e os seguranças as alcançaram, as quatro meninas contaram que o viram e os seguranças começaram uma busca ao rapaz de jaqueta com capuz. Mais uma noite trancadas no quarto com medo.

**************

Ana Paula estava no apartamento de Isadora conversando com a amiga.

— Como está o namoro com a pirralha?

— Ana, não fala assim dela, ela tem a mesma idade de Adriana você sabia disso?

— Mas ela parece ser muito infantil.

— Ela é uma graça, é só ingênua. E não implica com a garota.

— Eu não estou implicando. – deu de ombros —

— Está sim. – ria – Deixa a menina, nós estamos bem, ela me faz bem é disso que eu precisava agora.

— Eu fico feliz por você estar voltando a ser a Isadora que eu conhecia. – comia um amendoim –

— Vamos marcar uma noitada, você vai aprender a gostar dela. – voltava da cozinha com uma cerveja —

— Eu não sei se ela vai conseguir gostar de mim né. Toda vez que ela me olha parece que está vendo o Bin Laden.

— Poxa Ana, ela viu o sofrimento que Adriana passou e sabe que foi tudo por sua causa, você tem que mostrar a ela que você é diferente da imagem que ela tem de você.

Ana ficou em silêncio — Isa, eu estou fazendo terapia.

— Sério? Que bom , Ana! Até que enfim você resolveu me escutar. – servia um copo de cerveja –

— Pois é, uma hora eu teria que aceitar algum conselho. – sorveu um gole da bebida – Já tem três semanas.

— Isso tudo? Por que você não me disse antes? – cortava queijo para tira gosto –

— Eu queria ver primeiro se eu ia me adaptar para não te contar e depois você reclamar que eu larguei. – comeu um pedaço de queijo –

— Ai Ana, você não é fácil, até o relacionamento com a terapeuta você ia abandonar? — ria — E como está indo? – bebeu um gole de cerveja –

— Está no começo, mas eu acho que vai ser bom para mim.

— Que bom, eu espero mesmo que você se organize para não magoar mais ninguém.

— Você tem notícias dela Isa? – servia mais cerveja –

— De Adriana? – olhou desconfiada –

— Sim.

— Por que você quer saber? Você falou na cara da garota que você não sente nada por ela, agora está interessada em que?

— Eu não disse isso, eu falei que eu sou apaixonada, mas que eu não a amava.

— Faz muita diferença Ana. – revirou os olhos –

— Você queria que eu fizesse o que?

— Que você falasse a verdade Ana Paula, você ama Adriana, eu até hoje não entendi por que você voltou para Lívia. – colocava o queijo na mesinha de centro –

— Qual é Isa, eu não estou te entendendo, você agora sabe tudo o que eu estou sentindo? Por que não me ajudou na época e me disse isso logo para me ajudar a esclarecer?

— Calma ai, não precisa brigar. Eu só estou dizendo o que eu acho, nós somos amigas o suficiente para eu te dizer isso.

— Eu sei, é que isso é muito confuso para mim. – olhava para o líquido dentro do copo — Eu ainda penso na Drica.

— Ela está bem, Viviane as vezes me fala dela, quando elas conversam pela internet.

— Ela já conheceu outra ruiva por lá? – dizia com desdém –

— Não Ana. Na verdade pelo que Vivi me falou a índia que foi até Cabo Frio no carnaval que está investindo pesado para conquistar a Drica, abre o seu olho hein! A hora que você perceber que se enganou pode ser tarde demais. – levantou e foi pegar outra cerveja –

— Droga! – pensava alto –

**************

Lívia estava em casa, já passava de dez horas da noite, quando a campainha tocou. Estranhou o horário só quem subia direto sem o porteiro anunciar era Ana Paula, será que ela estava ali àquela hora?

— Será que é a Ana? – levantava do sofá –

Abriu a porta e viu Ana Paula em pé com uma das mãos no portal e a bolsa pendurada na outra. O semblante parecia cansado. Os olhos vermelhos de sono. Alterada pelo álcool que ingeriu com Isadora.

— Oi. – Ana dizia com dificuldades –

— Oi Ana, o que houve com você? – preguntava preocupada –

— Eu estava com Isa, ai nós bebemos um pouco e eu acho que eu me excedi na quantidade, como você está mais perto, eu queria saber se eu posso dormir aqui com você?

— Claro meu anjo. Como não? Entra. – abriu espaço para Ana entrar –

Ana Paula foi direto para o sofá e se jogou se acomodando.

— Ei mocinha, pode levantar daí para tomar um banho. – batia palmas para chamar a atenção de Ana –

— Ai Lívia, me deixa aqui um pouquinho.

— Ana Paula, por que você não ficou na casa de Isadora? Você está bêbada!

— Eu não achei que estava tão bêbada, mas quando eu sentei no carro e vi dois volantes, eu percebi que eu tinha bebido demais.

— Anjo, hoje é quarta-feira, o que deu na cabeça de vocês? – sentou ao lado da namorada –

— Nada demais, estávamos conversando, — falava arrastado – foi sem querer.

— Vem comigo, eu vou cuidar de você. – levantou a advogada pelas mãos –

Lívia levou a namorada para o banheiro e a ajudou a tomar banho, Ana estava completamente bêbada, a água fria caía pelo seu corpo enquanto Lívia a segurava. Depois do banho Lívia deixou-a de roupão enquanto foi na cozinha pegar um café forte para a loira. Ana tentava pentear os cabelos, se olhava no espelho e não sabia ao certo que horas são, ou que dia da semana era.

Saiu do banheiro cambaleando, e Lívia a encontrou no corredor. Entregou a xícara para Ana que a segurou e bebeu um gole.

— Ai, isso está quente! – devolveu a xícara para Lívia –

— Bebe! Você precisa se recompor.

Ana Paula bebeu o café e fazia uma careta toda vez que sentia o calor do líquido em sua língua. A professora pegou a xícara e Ana foi em direção ao quarto, se arrastou na cama e se acomodou sobre um travesseiro. O sono e o cansaço começaram a lhe abater. Lívia entrou no quarto e apagou a luz, deitou ao lado da namorada e a abraçou trazendo-a para seus braços. Deu um beijo em sua cabeça.

— Boa noite minha linda. – sussurrou em seu ouvido –

Ana se mexeu anda de olhos fechados sorriu e respondeu – Boa noite Drica. – adormeceu em seguida –

Na manhã seguinte, Ana acordou com o sol invadindo o quarto através das cortinas abertas, sentiu uma pontada na cabeça indicando a ressaca que estava por começar. Virou na cama e se viu sozinha, por um momento tentou se situar, não sabia onde estava. Sentou-se e encostada na cabeceira conseguiu se lembrar do quarto.

— Eu estou na casa de Adriana? — cerrou os olhos – Lívia! – consertou o pensamento — Eu dormi com Lívia.

Saiu debaixo do edredom e se arrastou para fora do quarto. Estava enjoada e com a sensação de ainda estar embriagada. Depois de sair do banheiro mais apresentável, encontrou Lívia na cozinha preparando o café. Sua expressão não era nada amigável. Ana pensou que tinha sido por conta de sua aparição sem avisar altas horas da noite e ainda totalmente embriagada. Como um cachorro que caiu do caminhão de mudança ela chegou de mansinho.

— Oi, bom dia.

— Bom dia. – não olhou para a namorada –

— Você está brava comigo?

— Eu tenho motivos para isso? – ainda não encarava Ana –

— Desculpe por ter aparecido assim, nesse estado sem avisar.

Lívia parou o que estava fazendo e olhou para a namorada, seu olhar era decepcionado.

— É disso que você se lembra? – estava com as mãos apoiadas na pia –

— Eu fiz alguma coisa ontem? Eu não me lembro de quase nada. – colocava a mão na cabeça –

Lívia suspirou cansada e esfregou os olhos, aparentemente não dormira bem, ponderou se seria prudente começar uma discussão àquela hora da manhã. Já que Ana estava bêbada e quase dormindo, ela poderia ter se confundido por estar no quarto de Adriana.
— Ana eu vou me trocar eu estou atrasada. Tem café na cafeteira.

— Lívia.

A professora saiu da cozinha deixando Ana Paula em pé tentando assimilar o que teria deixado sua namorada brava desse jeito. Não conseguia se lembrar de quase nada, sua cabeça doía seus olhos estavam pesados, pegou uma xícara de café e foi atrás de Lívia no quarto.

A professora já estava quase arrumada, andava descalça pelo cômodo. Ana sentou na cama e ficou acompanhando os movimentos da namorada.

— Lívia, eu não sei o que eu fiz, mas eu sinto muito assim mesmo. Desculpe.

Lívia continha a vontade de chorar, pensava se não estava exagerando, ela não queria trazer a memória de Adriana para Ana que agora estava sóbria.

— Tudo bem Ana, não teve nada demais ok? Eu que estou estressada mesmo, é TPM. – colocava os sapatos –

— Você tem dipirona? – segurava a cabeça com uma das mãos –

— No banheiro.

Ana levantou e foi pegar o remédio, ao voltar Lívia já estava pronta e de partida.

— Você pode ficar o tempo que precisar. Eu tenho uma chave reserva no criado, leva e guarda com você. À noite conversamos melhor.

Lívia deixou Ana no apartamento e saiu sem olhar para trás, a advogada percebeu que a namorada estava muito irritada mas não conseguia se lembrar o motivo. Ficou apreensiva com o que ela teria feito para deixar Lívia desse jeito.

Tentou tirar ânimo de onde não tinha para ir trabalhar, se arrependeu amargamente de ter aceitado o convite de Isadora para beber no meio da semana, e mais por ter exagerado enquanto conversavam sobre Adriana.

Adriana, ela estava no apartamento da morena, Lívia estava morando ali, mas é a casa de Adriana. Depois do banho, tomou outra xícara de café e ficou lembrando dos momentos que passou naquele lugar, a primeira noite de amor, o flagra que levou de Paula e Alessandra, assistir o amanhecer nos braços da morena depois de se amarem durante toda a noite, ela quase podia sentir a presença de Drica naquele ambiente.

— Ana Paula, esquece essa menina. – dizia em voz alta para si mesma –

Voltou à cozinha para colocar a xícara na pia e viu q havia uma porta entreaberta ao lado da área, foi até lá para fechar e viu várias caixas de papelão empilhadas, curiosa ela mexeu em uma caixa que estava com uma das abas abertas pensando que seriam de Lívia e percebeu que na verdade eram as coisas de Adriana que estavam embaladas esperando o retorno da morena. Seu coração disparou no mesmo momento.

Ana não conteve o impulso de abrir a caixa e olhar o que tinha guardado ali. Alguns objetos pessoais estavam nessa caixa, livros, a maioria de contabilidade, provavelmente da época da faculdade, fechou essa caixa e foi ate outra, nessa encontrou alguns porta retratos, um vídeo game, DVDs e CDs, achou um book de fotos e pegou para ver.

Foi até a sala e sentou no sofá, começou a ver as fotos da morena, Adriana é realmente linda! Ana sorriu ao ver a primeira foto, a morena estava sentada provavelmente em um bar com um sorriso largo e espontâneo, parecia feliz, estava rodeada das amigas e levantava um copo de chope.

A medida que ia folheando o álbum mais ficava encantada, era a intimidade da contadora que ela estava descobrindo. Uma foto de Adriana dormindo serena lhe trouxe a memória da sua primeira noite naquele apartamento, ela acordou antes da morena e ficou admirando o semblante calmo e tranquilo enquanto ela dormia.

Viu uma foto da contadora junto com Felipe e mais duas pessoas, ela reparou na semelhança de Adriana com a mulher da foto então deduziu que se tratava dos pais de Adriana.

No final do álbum, Ana se surpreendeu com as fotos da trilha que elas fizeram no dia do acidente da morena. Lembrou-se que foi um dia especialmente feliz, um passeio com uma das vistas mais lindas que ela já havia contemplado, as duas nas fotos abraçadas de macacão. Recordou da tarde agradável que passaram juntas na praia, sentiu um frio na espinha quando se lembrou do sexo feito atrás da pedra do Elefante sobre a areia da praia e um sorriso se fez em seu rosto. Adriana parecia feliz naquelas fotos, Ana estava feliz naquele dia.

Ana Paula prendeu a respiração quando chegou na ultima foto do álbum, era uma foto sua em um momento de descontração com Adriana em seu quarto, ela estava seminua deitada de bruços, apenas de calcinha, deitada na cama de Adriana, a loira lembrava daquele momento como se fosse hoje, o diálogo até a foto, e como Adriana repetia que havia ficado linda. Ela prometera apagar, mas ao contrário ela revelou e guardou como um troféu. Ana Paula sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto e naquele momento sentiu o peito explodir de saudade.

Como admitir que o que sente por Adriana é amor? Como aceitar? Logo agora que ela estava longe e magoada, como se contradizer? Depois de anunciar que não sentia amor, o que fazer para Adriana acreditar nesse sentimento que sempre esteve ali, guardado e presente em algum lugar escuro e escondido em seu peito?

Ana não sabia mais o que fazer, ela teria muito assunto para conversar com sua terapeuta na próxima consulta. Retirou uma foto de Adriana e guardou em sua bolsa, ela não tinha nada da morena, resolveu levar de recordação, devolveu o book para a caixa e fechou como estava antes.

Pegou suas coisas, se recompôs e saiu para trabalhar.

********************

Adriana tinha pesadelos à noite, não conseguia dormir direito, sentia medo, um medo palpável, quase saltava de seus poros. Levantava mais uma vez ás três da manhã e no escuro olhava pela persiana para fora do quarto, não tinha ninguém. Tentava não fazer barulho para não acordar Renata.

Caminhava pelo quarto sem saber o que fazer, voltou para a cama e tentava dormir, mas o sono simplesmente desapareceu. Resolveu ligar o tablet para se distrair. Mandou e-mail para as amigas, inclusive para Mariana.

De: Adriana Ferreira
Enviada em: segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012 04:01 am
Para: Mariana Santos
Assunto: Nós

Oi Mari

Eu estou com saudades do Brasil, do meu lugar, da minha casa. Dessa vez a viagem está com um gosto ruim, eu não voltei para fugir ou ficar longe de alguém, e isso está tornando tudo mais difícil. Na verdade eu queria muito ter ficado e aproveitado melhor o tempo que nós tivemos juntas, por que não sabemos o nosso dia de amanhã, eu acho que o tempo não foi suficiente para nós duas.

Eu quero que você fique bem, e saiba que uma das melhores coisas que me aconteceram nesse ultimo ano, foi ter conhecido você.

Vou sentir sua falta.

Beijos.
A morena se sentia sozinha como nunca antes, o tom do e-mail soava como uma despedida, parecia que Adriana estava com o pressentimento que algo iria acontecer, assistiu o amanhecer em um silencio quase desesperado.

Renata acordou com o despertador do celular, e viu que Adriana já estava vestida para sair.

— Você não dormiu de novo? – se espreguiçava –

— Não. – era sucinta –

— Adriana, por que você não procura o departamento de psicologia? Talvez conversando com alguém você consiga se acalmar.

— Não Renata, a última coisa que eu preciso é alguém me dizendo que eu tenho que vencer meu medo e bla bla bla. – seu tom era áspero —

— Tudo bem, isso foi só uma sugestão, retiro o que eu disse. – levantou as mãos como se estivesse rendida —

Adriana esfregou as têmporas e suspirou cansada de toda essa tensão.

— Renata me desculpe, eu costumo ser mal humorada de manhã, mas depois de uma semana sem dormir hoje está muito pior.

— Tudo bem, não se preocupe eu te entendo. – disse levantando da cama –

— Eu vou esperar você para sairmos juntas, pode ser?

— Claro, não poderia ser diferente. Eu vou com você até o prédio das suas aulas.

Renata saiu do quarto e entrou no banheiro, Adriana ficou esperando pela amiga enquanto vigiava a janela, o movimento lá embaixo parecia normal, o frio estava diminuindo gradativamente, mas ainda era muito gelado para os padrões de Adriana.

As duas amigas saíram juntas, Renata acompanhou a contadora até o prédio como prometera, e combinou de se encontrarem para o almoço novamente. Todo o campus estava em alerta, mais uma das meninas havia sido sequestrada, e ao todo já eram cinco, só restavam mais duas, além de Viviane que o suspeito não conseguiria encontrar.

No refeitório Renata esperava por Adriana, a noticia de que mais duas meninas foram encontradas mortas se espalhou pelo campus, já havia passado muito tempo do horário que a contadora estava acostumada a chegar, a colega de quarto começou a ficar preocupada.

Pegou o celular e ligou para a amiga, sem resposta. Chamou mais duas colegas de curso e saíram à procura de Adriana no prédio de exatas. Depois de procurar o prédio inteiro, Renata já estava beirando o desespero.

As amigas procuraram um segurança e relataram que suspeitavam que Adriana havia sumido. A segurança do campus foi acionada e a polícia foi chamada à Universidade.

Renata voltou para o quarto com a esperança de encontrar Adriana dormindo ou com o celular esquecido no vibracall. Também não deu em nada. Sentou-se na cama e sentiu um aperto no peito, chorou amparada por suas colegas.

Resolveu ir à biblioteca, Adriana estava sempre por lá. Chegando ao local, ela reconheceu a mochila da amiga sobre uma mesa no canto, e um grande alívio se fez em seu coração, na hora que encontrasse com a morena lhe daria uma senhora bronca por dar esse susto nela.

Foi até a mesa e viu o celular da morena na mochila, Drica nunca saia sem o celular, percebeu que tinha realmente algo de errado. Foi até a atendente e perguntou por Adriana no idioma local.

— Boa tarde, a moça que estava ali naquela mesa. Você viu se ela saiu?

— Não percebi, não me lembro dela.

— Morena, alta, de olhos castanhos, ela estava de calça jeans e uma blusa preta de botão. – Renata tentava se lembrar das roupas que Adriana vestiu de manhã –

— Ah sim, eu me lembrei dela agora, ela pegou três livros e sentou na mesa, depois de meia hora mais ou menos um rapaz se sentou com ela na mesa na ultima vez que eu olhei não estavam mais lá. Mas como eu vi as coisas dela ali ainda, eu achei que ela tinha ido em alguma prateleira.

— Ai Meu Deus, ele pegou Adriana. – tinha as mãos na cabeça –



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