Sobre o Tempo

Revisão: Nefer e Carolina Bivard

Alguns dizem que ele é o Senhor dos Destinos. Outros que ele é um Titã. Há ainda quem diga que ele é Rei.

Os homens sempre buscaram contá-lo e controlá-lo. Primeiro através de marcações rústicas que foram chamadas de horas, que se dividiam em minutos, e depois segundos. Estes números ganham cada vez mais casas decimais à medida em que se aprimoram os mecanismos de contagem que antes eram analógicos e, agora, são digitais.

O controle do tempo pelo homem ainda não existe. Eu não posso pará-lo, adiantá-lo ou mesmo retroceder os dias. A máquina do tempo, por hora, é só uma utopia. Se este mecanismo, todavia, não existe, o que há é gente que quer e controla nosso tempo, nosso momento de fazer. O ócio é praticamente um crime. Se você não está no trabalho, tem que limpar, passar, cozinhar, lavar, organizar. Seu tempo não te pertence e, sim, à alguma instância que dita o que fazer com ele a cada instante do dia.

Certas pessoas são de essência aceleradas e querem que tudo seja feito para ontem. O que vem de encontro à sociedade da produtividade. Uma cultura criada para que você seja praticamente um escravo do tempo que determinarem para você fazer o que foi mandado.

Não existe mais o tempo da natureza, a sazonalidade hoje é praticamente uma ilusão na produção de alimentos. Excetuando-se, é claro, na produção de alimentos orgânicos. Esta sábia senhora que, através das estações do ano, nos traz tempos de semear, crescer, florir, frutificar, colher, podar, deixar as folhas irem para dar espaço às novas.

Assim como cada árvore, os seres humanos não têm o ciclo igual ao do seu semelhante. Algumas culturas demoram dezenas de anos até que a primeira fruta possa ser colhida e outros tantos anos até que as frutas tenham a qualidade desejada. Outras, logo que crescem já soltam sua tímida primeira flor.

Independente do quanto se demora, muitas fazem seu ciclo completo, outras não. Há árvores crescidas em vasos, sem espaço e trato para que se tornem frondosas e frutifiquem. Outras, de tão frágeis que são, não aguentam as intempéries das estações sem o devido cuidado, ou mal saem da terra e já são pisoteadas.

Desta forma é o ser humano, que carece de tempo e cuidado para poder fazer seu percurso. Cada um tem seu tempo, tem suas estações.

A mangueira cheia de agrotóxicos, usados impropriamente, vai produzir, fora de sua época, frutos belos, mas sem nenhum sabor. Tal qual o ser humano que, quando empurrado sem o devido cuidado, sem deixá-lo fazer seus processos no tempo também não produzirá um bom trabalho, não terá bons relacionamentos, não entenderá o essencial sobre a própria condição.

Estamos cada vez mais desconectados da terra, da natureza e seus tempos. Porém, por mais que nos afastemos de tudo isso, o tempo sempre vem, se mostra, nos balança com suas rajadas de vento, muda nossos caminhos, nos transforma. Quiçá nesta altura, possamos finalmente florescer.  

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2 Responses to Sobre o Tempo

  1. Olá minha querida!!!

    Você sempre tocando em assuntos que parecem me procurarem kkkkkk. Lendo seu texto consegui, quase na realidade kkk, me livrar do sentimento de culpa pelo meu ócio da tarde. É fiz isso hoje, me dei a tarde do Nada! E claro que a culpa veio como uma carreta sem freio. Tenho sentido necessidade destes momentos, de parar e só observar, ler, assistir algo que nunca tenho tempo ou procrastino. É assim que passamos a vida né??? Correndo e sentindo culpa quando paramos, fomos educados para ter, mas não para Viver com calma, observar ao nosso redor, ver realmente os filhos crescerem, assistir ao Pôr do Sol e estar presente no seu Nascer.
    Alguns só irão prestar atenção em tudo isso quando sentirem a perda de alguém, é aí vão querer parar o tempo e aproveita-lo.
    Consegui a tempo perceber que deixar meus filhos decidirem as coisas deles no tempo que eles sentissem necessidade era importante. Não me arrependo por nenhum minuto, pois eu não tive isso e levei anos para fazer o que amava.
    É o tempo né?? Tempo de viver, de Amar e se encontrar. Ainda a culpa me persegue?? Ah sim kķkk normal pra quem passou uma vida correndo para ter, para dar conforto e tranquilidade aos seus. Mas tô aprendendo e amando meus momentos de Ócio.

    Kkkkk me empolguei kkk

    Um abraço Naty e vamos aproveitar nosso Tempo!!!

    • Adoro quando você se empolga! Rrrssss…
      É exatamente isso, Suzi! É sair dessas amarras imensas às quais fomos presas. No fim das contas, o universo se encarrega de tudo, viu?
      Há alguns anos atrás eu “fui saída” de um emprego, e me vi numa situação muito ruim. Acabei aceitando o que apareceu primeiro e me lasquei por 6 meses. Até que cansei do auto-flagelo e dei um pé em tudo! Sabe o que aconteceu? Nada! Eu arrumei outros trabalhos, a renda diminuiu momentaneamente, mas em alguns meses tudo se resolveu, nada faltou.
      Essa culpa proveniente não só do capitalismo, mas da estrutura religiosa ainda vigente nos mata a conta gotas.
      Nos resta ser rebeldes, como sempre fomos.

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