Marcela, sentada no banco de trás do carro lembrava-se da reação de Carmem quando deixou o banheiro. Após todo aquele tempo, mesmo sem terem voltado a se encontrar, ela a reconheceu na hora. Percebeu que Carmem nunca esqueceu aqueles momentos em que estiveram flertando. Aquilo foi algo que a perturbou, o fato de ter continuado a pensar nela diariamente. Antes daquela noite, mulher alguma tinha despertado a sua atenção, não ao ponto de querer transar com ela.

Algo aconteceu depois que seus olhos se encontraram, não entendia aquelas sensações, sabia apenas que o desejo continuava aumentando. Aquele pensamento deixou-a novamente excitada. É claro que Carmem apesar de deixar claro que não desejava morar com ela, não lhe era indiferente. Sentia como correspondia na cama. Como lhe agarrava o corpo, como gemia e suspirava decepcionada sempre que fugia de sua boca evitando os beijos. Se a beijasse supriria todas as necessidades dela, mas se a deixasse louca de vontade de beijar, Carmem não se cansaria facilmente. Era uma forma de segurá-la, de deixá-la vidrada, interessada e cada vez mais excitada. Algo no seu íntimo dizia-lhe que não a beijava por medo, medo de apaixonar-se perdidamente. Carmem já roubava a maior parte dos seus pensamentos. Esforçava-se para não pensar tanto, para não ficar recordando os momentos de entrega que viviam, mas era incapaz de deixar de lembrar. Aquele sentimento que a ligava a Carmem era completamente desconhecido. Nunca se apaixonou, muito menos amou uma mulher na sua vida. Mas, Carmem? Carmem roubava completamente a sua paz.

Assim que chegou ao seu andar na Companhia, a secretária a cumprimentou contando que Maria Dantas tinha estado lá a procura dela.

– Maria está radiante, Marcela. Encontrou uma casa exatamente como a que vinha procurando.

– Isto é sensacional! Que maravilha! Informe para ela que eu acabei de chegar, por favor.

– Vou tratar disto.

Maria bateu na porta algum tempo depois com o maior sorriso do mundo.

– Oi, Marcela! Já soube da novidade?

– Sim, acabei de saber e pedi para te chamar. Com que então encontrou a casa dos seus sonhos?

– Ai, Marcela, nem acredito que encontrei. Já estava perdendo as esperanças. É claro que vou ter que providenciar algumas mudanças, você sabe, quero que esteja tudo preparado para que ela não encontre defeitos.

– De jeito nenhum, aposto que ela vai amar. Eu faço questão de conhecer essa casa.

– Lógico, vou te levar lá amanhã. Pode ser?

– Pode sim. Fiquei muito feliz por você. Já estava percebendo o seu desespero depois de visitar tantas.

– Nem me lembre, estava mesmo a ponto de desistir. Graças a Deus essa angústia chegou ao fim. Agora me conte como estão as coisas entre você e a Carmem.

– Ah, mais ou menos, tem momentos que penso que ela adoraria quebrar uma cadeira ou outra coisa na minha cabeça.

– Hahahaha, seria muito divertido e a culpa seria toda sua.

– Sim, eu não a culpo por me detestar.

– Será que ela te detesta? Talvez apenas te odeie ou nem isto. Vai saber.

– Não faço a menor ideia do que ela sente. O que você achou dela?

– Pareceu-me muito empenhada profissionalmente. Ela não está brincando na direção daquela empresa, haja vista que colocou a casa em ordem em pouquíssimo tempo. Eu a convidei para jantar, mas ela se recusou. Imaginei que tenha se lembrado de você na hora.

– Você não a conhece, porque imaginou que ela se lembrou de mim?

– Não a conheço, mas conheço as mulheres.

– Claro. Todas nós temos reações parecidas, não é?

– Sim, é claro que temos, é natural.

– Ela vai mudar-se para a minha casa hoje. Quero muito desfrutar mais da sua companhia. Eu nunca namorei e confesso que mal estou me reconhecendo.

– Quem diria, você que vivia como se não existissem mulheres no mundo, agora não consegue mais ficar sem sexo. Nem o fato dela ser uma completa estranha te fez desistir.

– Claro que não. Todo mundo é estranho até que se conheça.

– Neste ponto você tem toda a razão.

– Nunca senti nada parecido.

– Você acha que está se apaixonando?

– Não faço a menor ideia.

– Continua pensando muito nela como me falou na semana passada?

– Penso mais a cada dia.

– Essa situação é cômoda para você. Para Carmem deve ser muito desconfortável.

– Talvez, mas não se engane, ela não está aceitando calada. Ontem me deu um tapa tão forte que ainda me dói o rosto.

– Foi? Aposto que você mereceu. O que fez com ela?

Marcela sorriu e pela cara que fez, Maria sorriu também perguntando experiente:

– Não acredito! Você passou dos limites na cama?

– Acho que sim, lembra-se quando conversamos sobre chamar uma mulher de puta na cama? Você me disse que não é de todo ofensivo, que algumas mulheres até gostam e se excitam. Eu não sei por que, mas senti muita vontade de falar e deixei escapar. Ela ficou furiosa.

– Hum, você mexeu num enxu, Marcela. Levar uma tapa é o mínimo que poderia acontecer. Algumas mulheres realmente se ofendem. Essa palavra costuma ser usada de forma depreciativa. Na intimidade ela pode humilhar muito. Principalmente no seu caso com a Carmem, vocês mal se conhecem. Eu só acho que foi cedo demais para falar, mas de qualquer forma, um tapa é um bom aviso para você pisar no freio.

– Sim, é verdade. Só depois que eu fui pensar sobre isto. A questão é que quando estou com ela não consigo me policiar, falo o que penso e sinto vontade.

– É porque você está tentando estabelecer intimidade a qualquer custo com ela.

– Será?

– Você faz parecer que o fato de transarem é a coisa mais corriqueira do mundo, não faz?

– Sim, é claro que faço.

– Sei, então você não fala sobre o dinheiro, ou fala?

– Sim, do dinheiro eu falo para que ela não se esqueça.

– Ela não vai esquecer. Ninguém se esquece de algo assim. Aliás, eu acredito que você nem fala para que ela não se esqueça, fala justamente para desestabilizá-la.

– Porque acha que eu iria querer desestabilizá-la?

– É óbvio que você quer que ela reaja para senti-la viva. O que você quer é deixá-la doida de tesão, mesmo que seja depois de um momento de fúria contra você.

– Hum, como foi que você conseguiu entrar na minha cabeça?

– Você é assim Marcela. É objetiva nos negócios, mas sentimentalmente é insegura. Nunca se apaixonou e não faz ideia de como é estar apaixonada. Suponho que seduzir você saiba bem, mas toda mulher sabe seduzir quando quer. Não vamos nos esquecer de que a sua beleza deixa as mulheres bem assanhadas hahahahaha. Você usa o dinheiro com Carmem, porque dentro da sua insegurança acredita que é a sua maior arma para tê-la, mas você já a tem.

– E eu que pensava que a minha tia era a pessoa que mais me conhecia neste mundo.

– Eu sou a terceira, não consigo superar a Giana. Falando nela, aposto que está horrorizada com essa situação. Ela não comentou nada ainda?

– Por enquanto, ela só tem me dado umas olhadas e você sabe bem como ela é, nem precisa falar muita coisa, mas ela vai falar, sei que vai. Ou vai contar para a minha tia se ela perguntar.

– Claro que vai. Ela se preocupa com você tanto quanto nós.

– Eu sei.

– Tem certeza de que não anda assustando a Carmem?

– Pelas expressões que ela faz acho que assusto sim, mas eu não me importo. Não vou ficar me contendo quando ela me deixa completamente louca.

– Marcela, não se esqueça de que o sexo é antes de tudo poder e na intimidade o poder muda de mão com enorme facilidade.

– Aconteceu isto na sua relação?

– Hahahaha, engraçadinha, não, é claro que não aconteceu. São situações diferentes, eu fui conquistada, nunca fiz sexo por imposição.

– É lógico que não fez por imposição, sei que fez por amor. Desculpe-me por ter perguntando.

– Não tem problema. Você realmente nunca perguntou nada sobre a minha vida íntima. Sabe que te dou abertura para tanto.

– Eu não pergunto, porque, bom, você deve imaginar, por uma questão de respeito. 

– Eu imagino que sim e confesso que até gosto da sua discrição.

– A verdade é que Carmem e eu somos ativas e ela corresponde com intensidade na hora do sexo.

– É normal, você não lhe deu outra escolha. Se ela é intensa na hora do sexo é porque você a estimula para ser.

– Sim, mas ela poderia nem se excitar. Ela não gosta de falar, mas me escuta, afinal não é surda. Quero que ela sinta muito prazer comigo. Admito que estou amando transar com ela. Bom, também eu não pensava muito em sexo, não até vê-la diante de mim. Só não sei ainda como é o beijo dela. Fico louca querendo beijá-la, mas me seguro.

– Está falando sério? Porque não a beija?

– Sim. Porque quero que ela me deseje cada vez mais. E se a beijar e amar os beijos dela? Acha que eu não sei que ela vai querer ir embora logo que me pagar tudo que me deve?

– Está se escutando?

– Estou. Por quê?

– Se está amando transar com ela, é lógico que vai amar o beijo.  

– É o que eu sinto. Você também não ficaria com medo?

– Eu sentiria medo, claro. Aliás, ainda sinto medo de perder a mulher que eu amo. Nós sempre tememos que algo ruim aconteça. No meu caso eu amo demais, com vocês a coisa ainda é mais sexual.

– Acha que eu preciso de um psicólogo? Pareço ter me tornado uma psicopata porque obriguei Carmem a se tornar minha amante?

– Nem por isso. Ela aceitou ir para a cama com você, e ainda que fosse, Carmem não teria qualquer hipótese. Se você fosse louca, bipolar ou até uma ninfomaníaca, ainda assim ela ficaria. A questão é: pensar é de graça, não acha? Ela vai pensar o que ela quiser.

– Eu sei disto, só perguntei por que Carmem pode me acusar de ser uma. É uma possibilidade que passou pela minha cabeça. Virou moda taxar de psicopata toda pessoa que age fora do contexto. Basta sair da normalidade para as pessoas despontarem com diagnósticos psicossomáticos, tipo, a mãe dela pode vir com essa conversa, percebeu?

         – Sim, a mãe deve estar falando poucas e boas na cabeça dela. E com razão, diga-se de passagem.

– Pode ser, não duvido nada. Agora eu tenho certeza de que Carmem é uma mulher forte. Ela me enfrenta e acho que está no seu direito. Se ela tiver uma oportunidade vai me magoar. 

– Você não se preocupou se iria magoá-la, por que ela se preocuparia em te magoar?

– Torço para que não!

– Se Carmem tivesse se recusado a ir para a cama com você, o que teria feito?

– Não poderia fazer grande coisa, Maria. A questão é que ela aceitou ser minha amante.

– Você não entraria na justiça para cobrar a dívida?

– Eu não faria isto.

– No entanto, sabe muito bem que ela se submete às suas vontades porque acredita que você faria muito pior.

– Exatamente, mas ela não tem que saber o que eu faria. Admita Maria, você acha que estou sendo extremamente egoísta pensando muito no prazer, não acha?

– Não está, Marcela?

– Sim, estou! Admito porque é verdade.

– Se você tem consciência do seu egoísmo, menos mal para você.

– Eu tenho e você por acaso não é a minha consciência, ou é?

Marcela perguntou começando a rir dela.

– Longe de mim. Só tome cuidado para não se apaixonar, porque ela deve estar se esforçando para não sentir minimamente nada por você.

– Pode até ser, mas você sabe que não somos capazes de controlar nossos sentimentos.

– Não somos mesmo. Eu achei Carmem uma mulher muito interessante. Já se deu conta disso?

– Sim. Por isto que ela vai morar comigo. Ela é interessante demais para andar por aí.

– Você está mesmo insegura. Vou te dar um conselho porque você já me deu muitos que me ajudaram demais na minha relação. Se sobrar algum espaço para a felicidade, procure ser feliz. Ela pareceu-me estar muito solitária. 

– Não somos todas um pouco solitárias?

Marcela sorriu ao fazer aquela pergunta. Ela sabia o quanto era solitária antes de Carmem chegar à sua vida.

– Sim, é verdade, afinal, somos humanas. Contudo, não banque a insensível, porque eu te conheço e sei que está doidinha por ela. Eu preciso ir agora, tenho uma reunião. Almoçamos juntas?

– Podemos, mas só posso sair mais tarde. Tudo bem?

– Tranquilo! Também estou cheia de trabalhos para concluir. Até logo!

– Até logo!

Carmem passou pelo hospital para ver o pai. Sentia-se cada vez mais desolada vendo-o ligado a todos aqueles aparelhos sem poder fazer nada. Quando deixava o quarto deparou-se com o médico que tratava dele quando seguia para o elevador.

– Doutor? Bom dia!

– Bom dia, Carmem!

– Não entendo, o meu pai continua na mesma.

– Realmente o seu pai não teve nenhuma melhora.

– Oh, mas, doutor, isto quer dizer o quê? O tratamento não está surtindo efeito?

– Não posso ser conclusivo ainda, mas continuo tentando. Vamos ver o que acontece. De qualquer forma, eu sinto muito.

Percebeu na expressão do médico que ele já tinha perdido aquela batalha para salvar seu pai.

– Está bem, doutor. Obrigada! Até amanhã!

– Até amanhã!

Seguiu para o trabalho pensando como a sua vida tinha se transformado desde que retornou para o Brasil.

À tarde Carmem convocou os dois advogados para analisar a proposta de Maria Dantas. Concordaram que era um excelente contrato. Ligou para Maria comunicando sua decisão e marcaram uma hora para assinar a papelada naquela tarde. 

Quando deixou a empresa foi para a casa da mãe. Precisava fazer a mala e contar que iria morar com Marcela. 

Assim que entrou a mãe foi logo disparando preocupada:

– Carmem? Não dormiu em casa! Está tudo bem? Você me deixou aflita!

– Oi, mãe! Está tudo bem. Desculpe, não deu para avisar ontem.

– Avisar o quê, que iria dormir com ela? Por que não deu para avisar? Perdeu a noção das horas?

– Sim, perdi a noção das horas. Nunca aconteceu o mesmo com a senhora?

– Comigo? Oh, creio que sim, mas…

– Então a senhora entende. Vim buscar minhas coisas porque vou me mudar para a casa de Marcela.

– Carmem! Você perdeu o juízo?

– Não posso fazer nada quanto a isto mamãe. Não tenho escolha, eu vou porque ela quer. Tenho que arrumar a minha mala, com licença!

Ficou aliviada pela mãe não insistir enquanto deixava a sala.

Estava no quarto separando as roupas quando a mãe entrou algum tempo depois. Não parou o que estava fazendo, permaneceu guardando as roupas silenciosamente.

– Vim falar que acho isto um equívoco. Será possível que não pode lutar contra ela? O que foi aquilo de: “eu vou porque ela quer?” A sua vontade não conta? Você virou um brinquedo nas mãos dela? Quem ela pensa que é para mandar em você? Se eu me encontrasse com ela daria na cara dela! Daria muito, está entendendo? É o que você deveria fazer em vez de ficar obedecendo sem lutar. Não espere que eu aceite de boca fechada! O que eu estranho é te ver tão submissa.

Carmem olhou para a mãe admirada:

– Como que a senhora quer que eu lute? Ela me tem nas mãos! Não tenho como reverter essa situação agora.

– O que foi que ela falou? Por que decidiu assim de repente sobre você ir morar com ela? Porque até então só exigiu que se tornasse sua amante.

– Ah, não falou grande coisa, só que sempre quis saber como era viver a dois.

– O quê? Ela é doida ou está ficando agora? Essa mulher, olha lá se não é uma psicopata. Agora estou ficando em pânico.

– Não faço ideia do que se passa pela cabeça dela. Quanto a ser uma psicopata, se for vai me torturar, talvez até me mate e se acontecer, conte para a polícia que foi ela que…

– Não brinque com uma coisa destas! Acabei de falar que estou entrando em pânico! Credo, Carmem!

Carmem disfarçou o sorriso irônico percebendo o eto da mãe.

– Desculpe mãe, mas o fato da senhora entrar em pânico não muda nada. Além do mais, se alguém tivesse que entrar em pânico aqui, seria eu. Não acha?

– Sim, mas… Você não sente medo dela?

Medo? Carmem se perguntou lembrando-se dos cachorros de Marcela, Rei e Mambo. Tinha sentido medo deles na primeira noite. Realmente na primeira noite sentiu muito medo quando entrou na casa escura e mais ainda quando Marcela a mandou sentar sem explicar para quê.

– O meu medo já passou.

– Passou? Estou perplexa! Realmente você nem está parecendo a minha filha. Não a Carmem que eu conheço.

– Mãe, pare com isto. Não piore as coisas, por favor!

– Eu não entendo quais são os intentos daquela mulher! 

– Não entende? Mas é tão óbvio.

– É óbvio coisa nenhuma! Ela passou da conta te obrigando a ir morar com ela.

Carmem terminou de guardar o último vestido que tinha nas mãos fechando a mala.

– Fale comigo, Carmem! Pelo menos ela te trata bem?

– Claro que ela me trata bem.

– Lógico, ela te seduz! Está te conquistando pelo sexo.

Lamentou amargurada.

Carmem sentou na cama pensando na beleza de Marcela, no quanto estava amando ter intimidade com ela, no quanto o sexo era intenso, na forma como Marcela a envolvia e seduzia.

– Não sei se é por ai.

– Não sabe? Não sabe o que ela está fazendo? Não enxerga?

– Ora eu não sei! Estou tentando não me envolver, eu tentei ser fria e ficar distante, tenho feito o que posso, mas não é tão simples.

– Não é tão simples ô quê! Por quem me toma? Ela é bonita, é isto?

– Sim.

– O que quer dizer com sim?

– É bonita, tanto que sinto receio. Olha, eu sou humana e tenho necessidades fisiológicas. Por mais que eu não queira meu corpo não está morto. Ele reage e o apelo sexual é muito forte, não consigo impedir. Ela é prepotente e arrogante, mas não posso falar não, não é assim que funciona.

– Não? Como é que funciona? Funciona quando você vira a puta dela?

Carmem estremeceu recordando do tapa que deu no rosto de Marcela. Desviou os olhos da mãe sentindo-se ainda pior. 

– É deprimente que você aceite sem se rebelar. Devia se negar, porque as mulheres espertas? Elas o fazem! Você sabe, na cama, não deveria ceder com facilidade! Diga não e a impeça de alguma forma. Mulher quando fecha as pernas acabou minha filha! Você não sabe fazer isto? Só tem que trançar uma perna na outra assim, olha.

Carmem observou a mãe demonstrando como que ela deveria travar as pernas sentindo-se sufocada.

– Eu digo que não sou de ferro, que tento, mas não dá. A senhora não percebe porque não sabe o que acontece na hora…

– Eu não sei o que acontece na hora? Como que eu não sei? Pelo amor de Deus, não sou virgem! Tive três filhos, então não me trate como se estivesse falando com alguma colega burra sua. Quando eu não queria dar para o seu pai eu não dava e acabou!

– Ah, mãe, por favor. O que me vale saber disto agora? Eu sei que até poderia me negar, mas… É que entre duas mulheres é diferente e eu não tenho cara para explicar isto para a senhora.

– Não banque a timidazinha comigo. Ela exigiu que se mudasse para a casa dela para te usar quando bem quiser!

– Ah, mãe! Não vá por aí. De novo não.

– Vou, vou sim! Vou porque você aceitou mudar pra lá! Parece mais uma bobona! Ao menos perceba que ela só quer trepar com você! É isto que me mata, Carmem!

– Ui, que palavreado vulgar, mas se senhora quer falar nestes termos, então vamos falar. Ela quer trepar sim, mas isto não passa de sexo! Sou a amante, mãe! Não adianta a senhora falar um monte, porque não muda nada. Vou transar com ela porque eu disse que iria! Pelo amor de Deus, que parte de ser amante que a senhora não entendeu? Uma amante transa e ponto final!

– Deixa-me ver se eu entendi direito. Ela é mulher, é lésbica e você sente atração, é isto? Consigo perceber que de alguma forma parece ser o tipo de mulher com a qual você desejaria ter uma relação numa situação normal.

Carmem sustentou os olhos dela admitindo.

– Sim, é precisamente isto. É o tipo de mulher que me agradaria em outra situação.

– Sendo assim, filha, procure proteger o seu coração. Não se apaixone, por favor, não ame aquela mulher! Sei que está fazendo isso por nós e lamento muito que a dívida contraída pelo seu pai tenha te empurrado para os braços dela.

Alice suspirou se erguendo resignada.

Carmem permaneceu sentada refletindo. Estava fazendo por eles. Desde o início tinha sido pela família, pela empresa, porque era o seu sonho dirigir aquela empresa e até tinha se anulado em função disto, mas agora já não era assim. A pujança do sexo que vivia com Marcela, sua sedução constante, mais ainda, o fato dela ser a mulher do restaurante, aquele fato em si transformou tudo. Iria morar com a mulher que desejou com tamanha intensidade naquela noite. Se estivesse sozinha na ocasião, teria transado com ela em qualquer lugar. Vê-la pela manhã saindo do banheiro causou um impacto fora do comum. Suas emoções chegaram ao cume. Marcela percebeu que a reconheceu, mas ela não fazia a menor ideia do quanto amou saber que era a mulher do restaurante.

Ergueu os olhos vendo a mãe em pé olhando-a silenciosamente.

– Espero não ter perdido você. Não vá sumir desta casa. Venha nos ver sempre que puder. Desejo que corra tudo bem para você.

– Obrigada, mãe! Não se preocupe, estarei sempre passando para ver vocês.

Respondeu mandando um beijo quando a mãe deixava o quarto.

Continua…



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