Valência

Capítulo 14 – Subentendido

Ela se calou o resto do trajeto, que não demorou muito. Entramos por umas terras que tinham videiras ao longo de todo o percurso, até chegar numa casa. Não era uma casa grande. Tinha uma varanda na frente, como muitas construções rurais da localidade. Quando atravessamos o portal de entrada, abria-se uma sala de estar, bem arejada e contígua a ela uma sala de jantar.

Uma senhora veio nos receber.

– Boa tarde, Ramona. Pode colocar o almoço e depois está dispensada. Mandarei avisa-la em sua casa, quando eu for embora.

– Sim, senhora Gallardo.

Eva foi a um canto da sala de estar, onde havia um pequeno bar.

– Quer tomar o quê?

Os nossos momentos de relaxamento terminaram. Ela estava seca, com uma fala controlada e irritada. Eu me “emputeci”.

– Olha, só. Eu nem pretendia mais me aproximar de você. Foi você que veio até mim, dizendo que queria conversar. Quando aceitei o almoço, também não fazia ideia que me traria para um lugar afastado da cidade. Se não quer minha presença, ótimo, eu ligo para um táxi vir me pegar!

A face dela não abrandou. Olhava diretamente para mim e via que trincava os dentes. Pegou uma garrafa no bar e colocou em um copo, virando o conteúdo de uma única vez. Nada falou, até que a senhora terminasse de colocar a comida na mesa da outra sala e sair.

– O que eu não entendo é por que você mente a respeito do relacionamento que tem com ela?

Finalmente, colocou para fora o que pensava.

– Eu não minto sobre isso. Você é que tem uma percepção enviesada do que eu e Lúcia temos, mas o que importa a você? – Perguntei novamente.

– Vai me dizer que vocês nunca tiveram nada?

Eu inspirei fundo. Caí em outra cilada que meu coração pregou. Mas por que eu não explanava como era o meu relacionamento com a Lúcia? E por que explanar, se Eva fazia questão de dizer que não teríamos algo sério?

– Por que quer tanto saber, sobre eu e Lúcia se você não quer ter nada comigo?

– Isso é hipocrisia, Olívia! Diz que não teria um relacionamento comigo pela metade, pois eu não assumiria, mas tem um relacionamento com outra mulher, que não assume, também. Por quê?

Eu balancei a cabeça. Ela nunca entenderia que o que eu sentia por ela, era algo muito diferente. Era forte, intenso, abrasador. Era algo que não conseguia definir. As palavras faltavam para nomear o que sentia.

– Eu disse que não teria nada pela metade com você e não terei. Eu me violentaria por saber que sou uma vírgula no livro da sua vida e, o pior, saber que eu seria apenas um apêndice de você. Será que não entende que se estivesse comigo, você me teria inteira?

Ela me olhou séria. Os orbes focados diretamente nos meus, estavam fixos. Travávamos uma batalha de conceitos, no qual, ela tentava me convencer de sua razão e eu da minha. Largou o copo no balcão do bar. Pegou uma garrafa de vinho e veio até mim. Pegou minha mão e depositou a garrafa.

– Isso aqui sou eu. É minha vida e tudo que eu vivi até hoje. Você pode ter balançado meu mundo, mas você não sabe quem eu sou. Eu estou dizendo a você o que eu posso. Queria trazer você aqui para falar disso. – Ela fez um gesto, mostrando a casa. – Falar de mim… Isso aqui é o que me dá paz, o que eu, verdadeiramente, construí a partir do caos. Era de meu marido e não importa como ele se tornou meu marido. – Deu uma pausa olhando para a garrafa em minha mão. – Era uma terra improdutiva, que um dia vi a possibilidade de criar. Foram as coisas que resolvi transmutar. Essas terras, o clube… tudo eu resolvi transmutar e eu queria te mostrar. Mas entendo você…. Leve a garrafa de vinho. Um presente de quem se sente assim. – Apontou o rótulo. –  “Dualidad”, pelo visto, não sou só eu.

Ela afirmou, virando de costas para mim. Caminhou até o outro lado da sala. Queria que eu fosse embora. Deus, como aquilo me afetou! Ela parecia num impasse consigo, mas me deixou em outro impasse.

Eu não tinha um relacionamento com Lúcia. Não um relacionamento formal, do qual nós pudéssemos falar que éramos namoradas. Não éramos. Mas o que eu falaria a Eva? Que eu transo com uma amiga? Sabia como isso poderia soar aos ouvidos dela. Se eu explanasse a minha relação com Lúcia e, se algum dia houvesse uma chance da gente se acertar, tenho certeza que ela não iria querer Lúcia em nossas vidas. Quem quereria? Principalmente por nossa história acontecer do jeito que estava sendo desenhada.

Eu achava que estava sendo cretina com o que eu e Lúcia tínhamos, mas não tive coragem de falar para Eva. Tive medo. Afinal, como dizer que o que tinha com Lúcia não era escondido? Ou era?

Eu me aproximei. A tal da Ramona já saíra e acredito que não tivesse mais ninguém na casa, senão, Eva não me levaria ali. Não conversaria comigo daquela forma. Tentei abraça-la por trás e ela se esquivou. Insisti.

– Não, Olívia. O que tenho passado com você me dá medo na mesma proporção que eu te quero. Eu só queria que soubesse, que não quero brincar com você. Nunca quis. Não queria fazer de você o meu “brinquedo erótico”, como falou naquele dia.

– Não foi o que eu quis dizer…

– Evidente que foi. Não lhe culpo, dadas as circunstâncias.

 – Estávamos numa discussão. Você não me leva a sério…

– Lógico que eu levo! – Se voltou para mim. – Acha que lhe traria aqui, num lugar que nem a Pepa vem, porque quero brincar com você? Esse é o meu melhor refúgio. Esse é o lugar onde eu faço o que eu quero e tenho a liberdade de atuar. Ontem eu estive com alguém que posso, minimamente, chamar de amiga. Conversei muito e vi que algo mudou para mim. O problema é que eu não tenho a liberdade que você tem.

– Você pode ter se quiser!

Ela baixou a cabeça, meneando-a e sorrindo triste, incrédula até. Se aproximou de mim e fez um carinho com as pontas dos dedos em minha face, parando em meus lábios.

– Eu gostaria muito de ter essa convicção e esperança em meu coração. De que, um dia, pudesse ter essa liberdade. Mas não é assim, Olívia. Para mim não é assim. – Fechou os olhos e balançou novamente a cabeça. – Vamos almoçar. Só queria que soubesse que não foi uma brincadeira e nem quis te usar, mas também não posso ser o que você precisa, ou quer, numa mulher.

Ouvir isso dos lábios de Eva me deixava arrasada. Tinha ganas de agarra-la e dizer que ela estava fazendo uma maldade com ela e comigo. Tinha vontade de segurá-la e fazê-la ver que ela não poderia ficar sem mim e nem eu sem ela. Evidente que isso tudo era baseado no que eu comecei a sentir por ela e na proporção que esses sentimentos tomaram conta em tão pouco tempo. Não entrava na minha cabeça alguém viver daquela forma. Meu sangue subiu.

– Eva, eu sei que não vivi a sua vida, mas não é possível que você sufoque o que é por questões sociais!

– Não são só questões sociais. É quem sou. Eu faço parte dessa sociedade que você diz que devo virar as costas. Talvez eu consiga fazer com que minha filha não passe por isso. Faço de tudo para que ela possa ter as escolhas dela, mas ela é jovem e o que escolher para si, fará agora. Minha vida se delineou lá atrás, Olívia.

– Por que não tomar as rédeas da sua vida, agora? Não entendo!

– Quando se é jovem e é dada em casamento a um homem que mal conhece; como se você fosse uma égua premiada que se presenteia a um cliente, ao qual quer agradar muito, tudo o que vem depois parece infinitamente melhor.

 Lágrimas brotaram nos olhos dela. Deus! Eu não queria vê-la chorar. Meu coração apertou tanto que não resisti e a abracei. Coloquei sua cabeça em meu ombro e ela começou a me abraçar timidamente. Eu a estreitei em meus braços. Senti uma ira crescer por dentro e minha raiva era direcionada a uma pessoa: o pai de Eva. Só soube que ela chorava, de verdade, por perceber meu ombro molhado. Ela era silenciosa na sua angústia. Segurei seu rosto e ela tentava se desvencilhar para não me mostrar o pranto.

Trouxe-a de volta para o meu regaço e sequei suas lágrimas com os dedos. Aproximei meus lábios e beijei-a de leve. Notei que ela relaxava e fechou os olhos. Beijei-a mais uma vez e depois, outra e, mais outra, até que unimos nossos lábios num beijo calmo e repleto de saudade. Nossas línguas começaram a dançar tão delicadas, que o gosto da saliva era tomado como se fosse um vinho de notas amadeiradas. “Dualidad” era o gosto que bebíamos nas nossas bocas.

Eva me apertou mais em seus braços. Nossos corpos estavam tão unidos que mal conseguíamos nos mover. – Você me tira toda a capacidade de pensar coerentemente, Olívia” – Ela falou enquanto ainda nos beijávamos. Eu fui levando ela para o sofá. Eu a desejava naquela hora. Que se dane não querer ter um relacionamento, às escondidas. Refletiria sobre isso mais tarde. Se ela não conseguia pensar, muito menos eu. Ela me parou. Detestava quando uma mulher me brecava assim. – Aqui não”. – Sussurrou. – Vem comigo, quero você na minha cama”. – Ponto para Eva. Boa pedida.

Ela se desvencilhou dos meus braços. Não gostei disso. Olhou-me tranquila e seu rosto estava sereno, embora ainda banhado em lágrimas. Segurou uma de minhas mãos, entrelaçando os dedos, como que pedindo permissão para me conduzir ao seu quarto. Gostei disso. Meneei a cabeça e sorri para ela.

Ela seguia por um corredor, mas segurava firme minha mão, me rebocando. Senti como se estivesse sendo conduzida para tomar um sorvete e estivéssemos começando um namoro. Era bobo o que experimentava. As sensações me reportaram a algo tão singelo, que a sutileza do ato me capturou. Meu coração descompassou como de uma adolescente no primeiro encontro.

Parou em frente a uma porta e abriu.

Os móveis em nada se pareciam com os do quarto da granja. Era um ambiente claro, aberto e com poucos moveis. A grande cama em mobília planejada, tinha linhas retas, sem detalhes. O que era comum ao quarto dela da granja, era a estante de livros e a mesa com laptop pousado sobre ela, porém também em mobiliário planejado de mesmo designer da cama. Tudo muito claro e limpo.

Ela me levou até a beira da cama e acariciou meu rosto, observando meus traços. Logo após, começou a desabotoar devagar a sua camisa de seda branca, que resvalou ao chão depois de aberta, deixando seu dorso nu. O sobretudo, já havia tirado e deixado na sala. O sutiã branco emoldurava como uma pintura, os seios arredondados, tão delicados quanto uma fruta que se colhe no frescor da manhã. Retirou o tênis e a meia, jogando-os, displicentes, em qualquer lugar do quarto. Levou suas mãos até o cadarço da calça de algodão, desfazendo o laço que a prendia. Esta, resvalou ao chão da mesma forma que a camisa, que ali pousara. Eu estava estática, somente admirando a sutileza de seus gestos que me aprisionavam. Ela me sorriu um tanto tímida.

– Tudo bem? – Perguntou-me

Fiz um gesto com a cabeça na incapacidade de articular palavras. Ela se aproximou e me beijou com calma. Entreabriu os lábios, forçando de leve a língua. Recebi-a e novamente o gosto amadeirado dançava em meu paladar. Senti que ela puxava minha blusa para cima. Ergui meus braços para que ela retirasse. Abracei-a e o contato pleno de nossas peles me fez arrepiar. Deslizei minha mão pelas laterais de seu dorso. Era tudo delicado… tudo muito suave, numa interação acalentadora, como se os nossos corpos fossem nosso lar e estivéssemos permitindo entrar como visitas muito ansiadas.

Uma de minhas mãos alisou o abdômen de Eva, enquanto a outra acariciava a coxa exposta. Senti um gemido dela tomar minha boca em meio a nosso beijo. Meu corpo reagiu ao som, contraindo em frisson. As mãos dela passearam pelo meu ventre, chegando ao botão e o zíper de minha calça, abrindo-os. Eu não queria deixar seus lábios, mas quando senti seus dedos descerem por meu púbis e encontrarem asilo em minha intimidade úmida, lancei minha cabeça para trás, procurando ar num alento necessitado. A outra mão dela amparou minha nuca, puxando minha cabeça para, de novo, colar os lábios nos meus. – “Iss… você está molhada demais! Gostoso…” – Senti verter novamente meu líquido diante das palavras dela. Não suportava mais.

– Vem, Eva…

Desprendi, sentindo a dor da separação de nossos corpos. Deitei sobre a cama, me livrando, por fim, de minha calça. Ela engatinhou até chegar sobre minhas pernas, deixou-se cair e deslizando sobre mim até alcançar meus seios. Beijou um e depois o outro, sobre o tecido fino de meu sutiã. O fogo ardia num crescente dentro de mim. Um som lamuriante brotou em minha garganta.

– Você quer me enlouquecer… – Falei, débil.

– Não. Eu quero amar você. Amar com tudo que consiga oferecer. A minha satisfação sexual pode ser preenchida de muitas formas, mas, hoje, eu quero mais que isso com você.

– Eva… – Segurei seu rosto. – … entende que para mim é mais fácil se acreditar que quer apenas sexo? Ah, Eva…

Ela pousou dois dedos sobre meus lábios, impedindo que eu continuasse a falar.

– Por favor, Olívia, me deixa te amar. Deixa me doar para você, hoje. Ter um pequeno pedaço de paraíso, dentro do inferno que me acompanha.

Eu podia sair dali, pois sabia que ia me danar toda para me afastar dela depois, mas não conseguia. Fiz somente um sinal afirmativo com a cabeça, mirando a cor de seus olhos.

Senti seus lábios sobre minha pele. Ela beijava de leve, em todas as partes de meu dorso, deslizando sua boca. Sentia como um carinho intenso e delicado ao mesmo tempo. Era uma sensação ímpar. Quando desceu pelo meu abdômen, percebi a língua molhando minha pele. Havia fechado meus olhos, há algum tempo, apreciando a cálida carícia. A respiração dela batia forte contra a epiderme eriçada. As terminações nervosas de meu corpo reagiam a Eva, como nunca outra pessoa conseguiu fazer. Os sons de prazer que ela emitia, ao me beijar, aumentavam a sensibilidade de meu corpo, provocando mais arrepios.

Olhei o teto de pintura branca, me perdendo nos sentidos, como uma névoa que encobre os sonhos. Tentei acariciar suas costas nuas, mas ela deslizou sua mão sobre meu ombro e braço até alcançar minha mão e segurá-la, voltando seus lábios para ela e beijando meus dedos. Retornei meu olhar para a minha mão, que sentia ser molhada pela língua que salivava abundante. – Ah!.. – Gemi não suportando a visão da boca, rubra, abarcar meu dedo médio e suga-lo com devoção. O rosto de Eva estampava um prazer sereno, não obstante uma força que demonstrava o seu deleite. Quando ela falou que queria me amar, nada do que pudesse passar por minha cabeça, alcançaria o que experimentava com ela ali, naquele terno e aprazível momento.

A boca abandonou meu dedo, deixando-o molhado, porém a mão impaciente, o conduziu até o bico de um dos seios dela, fazendo-o cinzelar de leve sobre ele. – Ah!.. – O gemido saído dos lábios dela me fez acompanha-la. Seguindo aquele gesto simples, ela me fitou, com olhos de desejo. As pupilas dilatadas e a expressão serena de outrora, deram passagem a um olhar selvagem. Segurou minha mão e a empurrou espalmada de encontro ao seio, apertando forte. Aproximou de meu rosto e tomou minha boca. O beijo molhado era acompanhado de gemidos que faziam meu coração pular e meu ventre contrair, além da conta. Quis segurá-la pela cintura e trazê-la para cima de mim. Ansiava pelo corpo dela sobre o meu. Ela não permitiu.

O que veio depois, só consigo definir com o termo comer. Ela me comeu. Não no sentido libertino que essa palavra dá ao ato sexual. Eu falo do sentido de me sentir degustada, apreciada e profundamente saboreada por aqueles lábios, corpo e mãos, que me fizeram flutuar num deleite sem fim.

Ela me empurrou pelos ombros de encontro aos travesseiros. O toque era suave. Sua boca se alojou em meu pescoço e a língua burilava a pele num carinho tão tranquilo, quanto agoniante. Resvalou para o meu ouvido, lambendo, mordendo de leve e arfando, demonstrando toda a excitação que ela mesmo acumulava de seus próprios atos. Gemi. – “Vira para mim…” – pediu – “… o seu gosto é bom demais.” – falou entre os ofegos.

Nada me deu mais prazer do que ficar de bruços e sentir o peso do corpo dela sobre mim. Ela não cansava de me atormentar com sua língua, desenhando figuras de amor em meu corpo. Os lábios pintando um quadro contemporâneo em minhas costas. A saliva a gotejar sobre a minha coluna até o martírio de minha fenda e em seguida, minhas dobras úmidas, sedentas do toque morno de textura firme de sua boca. – Ah!. – Não era mais outro gemido. Era o som de algo indizível, algo difícil de descrever dentro de todos os sentidos que me acometiam e eu não conseguia mais compreender. Como descrever? Prazer? Luxúria? Amor? Não. Não era nada disso e, sim, era tudo e mais coisas que sentia e não conseguia denominar.

A língua rígida burilava meu bulbo e eu… eu joguei meu quadril para trás, me apoiando nos cotovelos para facilitar a incursão dela em meu sexo. Nunca me imaginei, sequer, nesta postura que muitos traduziam como vulnerável. – “De quatro” – foi o que pensei –  “estou de quatro para ela e ela nem me pediu. ” – Não me importava. Ela pediu para me amar e eu concedi. A culpa era minha e o prazer também foi meu. – “Ah, Olívia! Como vou me livrar de você”… – Ela não queria uma resposta vinda de mim, pois ela mesma estava fazendo de tudo para que eu não me livrasse da embriaguez que era ela.

Tomou o que queria. Sugou minha intimidade como um artesão constrói as tranças de um cesto de vime. A sua língua moldava as minhas dobras e pincelava meu clitóris, resvalando num vai e vem ritmado, difícil de não querer dançar junto. Eu dancei. Embalada naquele marcador que era sua boca a me sugar, me consumir num crescente. Eu sentia meu orgasmo se aproximar como um bólido e ela me penetrou por completo, com os dedos encharcados no meu regalo. Urrei. Era a minha opção. Inclemente, chegou ao fundo de meu âmago, de corpo e, na alma, deixando que meu gozo dilacerasse minha mente, turvada pela falta de percepção do que acontecia. A única coisa sentida por mim, após o gozo, foi a marca no lençol molhado, embaixo de meu corpo.

Estirada e sem reações, voltava aos poucos e sentia o corpo dela junto ao meu, num carinho delicado sobre minhas costas. Virei meu rosto para o lado em que Eva estava e vi seu rosto pousado no travesseiro a meu lado. Estava serena. Não sorria, mas sua face estava branda e parecia que me contemplava. Apenas isso. Olhava para mim, acariciando minha pele e apreciando o momento. “Deus! O que eu faço com essa mulher?!” Era o que pensava diante de tudo e de meus sentimentos por ela. “Ela quis me amar e me amou…” As sensações do amor feito, continuavam a correr por mim e por minha mente que não cansava de revivê-las.

Ela beijou meus lábios com delicadeza e sorriu, levemente. Fechou os olhos devagar e inspirou, como que tentando capturar os aromas que circulavam pelo ar. Eu não sabia o que fazer ou o que esperar dali para frente, nem em relação a mim, e muito menos em relação ao que ela me pedia. Uma coisa era certa. Eu sofreria. Das duas formas, eu sofreria.

Tinha certeza que não aceitaria a sua condição. E sofreria com a separação, que eu sei que aconteceria. Eu me conhecia muito bem para não me permitir àquela vida que ela propunha. Sofreria por ela também, pois eu escutei de sua própria boca que não conseguiria mudar o jeito que levava a vida. Eu a entendia. Não poderia me fazer de enganada. Não queria dizer que aceitasse, porque me revoltava pensar em me afastar. Eu fui para a vida na adolescência e tudo que vivi, apesar do sofrimento que passei, me fez não querer aceitar essas imposições.

Estendi meus dedos em direção a sua face. Meus olhos estavam tristes, tenho certeza, pois vi refletido no semblante dela, essa mesma tristeza. Tateei seu rosto num carinho desolado. Meus olhos se encheram de lágrimas e deixei-as vir silenciosas. Ela beijou meus olhos e os dela se encheram de lágrimas. Eva permitiu que também transbordassem. Saí de minha letargia. Abracei-a, cobrindo seu corpo com o meu. Beijei todo o seu rosto, desci por seu pescoço e colo. Um carinho angustiado que travava minha garganta e deixava um gosto trevoso na boca.  Ela merecia mais de mim, mas não todo o meu ser. Apenas não sabia como iria me distanciar dela e de meus sentimentos, depois.

Amei-a como ela havia me amado. Beijei seu corpo como se fosse algo sagrado. Traguei seus gemidos como se fossem o ar que necessitava para viver. A pele alva, o sexo em minha boca, as entranhas dela abarcando meus dedos em contrações. O movimento que fazia em seu interior não era melhor do que a mão que deslizava pelo ventre, percebendo as contrações do corpo esguio e forte, reagindo a mim. Percebia todo o ser de Eva, em cada toque que executava e, as marcas que minhas mãos produziam ao acaricia-la, deixando arrepios visíveis nos mamilos. Minha boca encheu-se de água, quando por fim, o orgasmo aflorou e veio derramar sobre minha mão. Eu também queria ter o gosto dela em mim. Alcancei as dobras molhadas e com a boca, sequei seu gozo.

O que veio depois foi desolação. Um sentimento de plenitude substituído pelo vazio que se formou em mim… nela… Almoçamos caladas, ensimesmadas em nossos pensamentos. Já era hora da aula e de retornarmos para o clube. Eu a deixei no estacionamento e segui para minha sala. Ela iria passar na sede e depois voltaria para dar seu treino. Mais tarde, quando terminei minha aula, não a encontrei. Ela já havia saído.



Notas:



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