Valência

Capítulo 25 – Outono

– Continua.

– Eu acabei dizendo para a polícia que fui cercada na rua por moleques e como eu não tinha dinheiro, me bateram. Acreditaram, pois eu dizia que não me lembrava de muita coisa e que minha memória estava difusa. O conselho tutelar entrou em contato com a minha mãe. A sorte dela e minha também, é que meu avô disse à ela me esquecer e que havia sumido comigo. Por conta disso, ela fora no dia seguinte em que ele havia me ecado, numa delegacia dar parte de meu desaparecimento. O registro estava lá e eu fui liberada sob a tutela dela, quando me deram alta do hospital.

– É. Você me falou que sua mãe tinha lhe ajudado.

– Se não fosse por ela… Enfim, ela me levou para um hotel e em uma semana, alugou um pequeno apartamento para mim. Meu avô nunca foi de segurar dinheiro para ela e minha mãe também trabalhava, então, ele não percebeu. Terminei os estudos e depois, passei para uma faculdade pública. No quinto período eu já estagiava. Quando me formei, me inscrevi num programa que existia dentro de um acordo de cooperação Brasil-França e, fui trabalhar numa empresa em Paris por dois anos.

– Que curso fez e com quantos anos se formou?

– Fiz administração. – Sorri, pois sabia que Eva também tinha se formado em administração. – Entrei com dezessete, quase dezoito anos e consegui me formar com vinte e dois anos.

– E assim veio parar na Europa. – Eva sorriu, brevemente.

 – É. Só que meu avô descobriu que ela havia me ajudado. Mandou ela embora e o pior, apenas com a roupa do corpo. Ela saiu até sem a bolsa. Isso ela me contou quando retornei para o enterro dele.

– Por isso vocês perderam o contato.

– Exato. Eu não tinha celular naquela época, era muito caro e o dela, ficou na casa de meu avô com toda a agenda. Teve que procurar uma amiga, para que a ajudasse. Ela não passou muito aperto, pois tinha um salário razoável e tinha feito um “pé de meia” também e eu, só me preocupava em tentar fugir.

– Por que não procurou sua mãe?

– Só existia uma rede social naquela época, e mesmo assim, a internet não era lá essas coisas. Eu também não tinha nenhum perfil na rede, isso não era difundido como é hoje. Minha mãe não ligava com muita frequência, por conta dos valores de ligações para o exterior. A verdade é que, quando minha mãe deixou de me ligar, eu ainda imaginava que meu avô pudesse fazer algo contra ela.

– Entendo.

– Depois do emprego em Paris, fui para Abu Dhabi, em um outro contrato que consegui pelo período de um ano. Depois fui para Portugal e, há quase dois anos, vim parar aqui. Nunca esquentei muito lugar.    

Eva se aproximou, abarcou meu rosto com as duas mãos e beijou meus lábios, suavemente. Me fitou, acariciando minha face e falou, pausadamente, quase num sussurro.

– Eu te amo. Eu te quero muito, Olívia.

Meu coração acelerou. Eu não esperava essa declaração de Eva. A nossa relação ainda era delicada. Nunca imaginei que tivesse que me esconder, novamente e, ao mesmo tempo, ela me deixava tão segura do que sentia por mim, que me dava a certeza de que daria certo.

– Vem. – Ela falou.

Pegou minha mão e caminhamos para o quarto dela.  Quando entramos e ela trancou a porta, eu a agarrei dando beijos brincalhões no pescoço. A nossa conversa tinha me angustiado muito e eu precisava, desesperadamente, do calor do corpo dela. Precisava do riso frouxo que ela deixava escapar quando estava feliz e relaxada em meus braços.

– Para, Olívia. Está me fazendo cócegas!

Eu parei por momentos e fiz uma cara safada.

– Mas essa é minha intenção. Eu gosto de escutar seu riso.

Voltei a lhe fazer cócegas com os beijos estalados e ela correu de mim. Foi em direção a porta do solário particular, que era contíguo ao quarto. Quando passamos pela porta, foi que percebi que nunca tinha estado ali. Ela já tinha comentado que aquela porta dava para esse espaço. Ele era fechado entre muros de pedra, porém com teto retrátil. Parei de persegui-la.

– Então, você tem essa maravilha aqui e nunca me apresentou?

Apesar da noite estar estrelada, estava bem fria também, o que me chamou atenção para o fato de estar quente ali.

– Desembucha, vai? Aqui tá quentinho…

Ela riu do meu jeito de falar. Ela apontou para o teto fechado e disse:

– Você acha que eu não colocaria aquecimento na casa? Olívia, aqui no inverno chega a seis graus, e algumas vezes a zero grau, quando o inverno está rigoroso. Nunca percebeu que a casa é “quentinha”?

– Desculpa, aí. É que eu só tenho aqueles aparelhinhos que a gente coloca na beirada da cama para esquentar o quarto. – Mexi com ela escutando, outra gargalhada. – Brincadeira minha. – Falei rindo. – Tenho aquecimento no apartamento também. De qualquer forma, eu gostei. Aqui está bom.

– Ah, bom! Achei que o seu apartamento era o único de Valência sem aquecimento. – Eva sorriu de lado.

– Ah, deixa de ser metida! Tem muitos apartamentos e casas antigos que não foram reformados e não tem aquecimento.

– Sim, mas tem esses “aparelhinhos”, como você mesma falou, espalhados pela casa. – Sorriu.

Olhei o espaço todo. Tinha uma jacuzzi ladeada por um deck em madeira e um caminho de pequenas pedras arredondadas que levavam a outro deck, onde duas espreguiçadeiras estavam dispostas. As plantas que ornavam o ambiente, junto com luzes indiretas, davam ao local um clima acolhedor.

– É, gostei.

Falei displicente, fazendo uma cara sapeca. Ela não me escaparia. Agachei, com os braços e mãos abertos, fazendo uma postura de ataque. Ela começou a recuar rindo e tentando me convencer a parar.

– O que você está querendo, Olívia? Deixa de brincadeira, vai. Já está tarde! – Riu sem controle.

– Eu sou um monstro enorme que vai te pegar e engolir toda!

Comecei a avançar, e ela, de repente parou, me olhando com um enorme sorriso no rosto. Quando me aproximei, ela abriu os braços e disse:

– Me pega… Me engole toda!

A brincadeira poderia perder a graça, se não fosse o desejo que vi estampado na face dela. Mordeu o lábio, esperando a minha reação. Eu me aproximei, olhando aquela mulher maravilhosa. Caí de joelhos à sua frente, pousando minhas mãos em seus tornozelos. Comecei a acariciar suas pernas, de baixo para cima, até alcançar as coxas sob o vestido. Olhei para cima e vi que ela fechara os olhos, apreciando meu carinho.

Eva afagava meus cabelos e quando deslizei minha mão entre as coxas para chegar até a calcinha, ela elevou uma delas, apoiando o pé na espreguiçadeira ao lado. A barra do vestido subiu deixando o sexo à mostra. Levei minhas mãos até as laterais rendadas e afastei para que meus dedos sentissem a umidade de Eva entre as dobras.

– Tira a calcinha para mim, mas volta à essa posição.

Eva olhou para baixo, mirando meus olhos e me vendo de joelhos entre as suas pernas. Foi quando percebi que a respiração dela ficara mais pesada. Retirou a calcinha e hesitou em colocar o pé, novamente, sobre a espreguiçadeira.

– Coloca o pé ali de novo. – Pedi arfante. –  “Me deixa” ver.

Eva não era uma mulher de melindres, no entanto a posição deixava-a exposta demais. Hesitante, segurou as barras laterais de seu vestido, trazendo-os para cima, até a altura dos quadris e posicionou o pé sobre a espreguiçadeira. Dedilhei pelo meio das coxas, seguindo um caminho iniciado nos joelhos até a interseção delas. Meus olhos acompanhavam apreciando as nuances daquela pele delicada que se arrepiava. O corpo dela estremeceu, quando no contato de meus dedos com a vulva.  Deixei escapar de meus lábios um lamento prazeroso. Segurei-a com a outra mão para ampará-la, no pequeno momento de desequilíbrio no instante que a penetrei.

Ela se apoiou em meus ombros, jogando seu tronco ligeiramente à frente para se escorar. Seu joelho se dobrava, perdendo as forças. Se recompôs e me surpreendeu, ao segurar meus cabelos e forçar minha boca a tocar seu sexo. Aquele era o meu paraíso. Ela era o meu paraíso. Os dedos deslizavam em seu interior e a minha língua cinzelava o clitóris, fazendo os sons vindos da boca de Eva ecoarem no ar, sem freios.  Retirei meus dedos, resvalando minha língua por toda sua fenda, parando na abertura, forçando a entrada. Outra vez o corpo dela dava sinais de perder as forças. Voltei a penetra-la com meus dedos e burilar seu bulbo de nervos com mais intensidade.

Em cada movimento que imprimia dentro dela, tinha a percepção das paredes se contraindo e relaxando em torno deles. O gozo escorreu por meus dedos e mão e, finamente, deixou-se cair em meus braços. Segurei firme para conduzi-la até a espreguiçadeira para que se deitasse. Sentei a seu lado, vendo-a languida, apreciando a face afogueada e a respiração voltar ao normal.

– Me faz um favor? Liga a jacuzzi.

Estreitei meus olhos, tentando entender a intenção dela.

– O que foi? – Perguntou.

– Você encheu a que horas essa jacuzzi? A água deve estar gelada e aqui fora tá quentinho.

Ela riu vendo minha expressão cismada.

– Deixa de ser molenga. O que tem demais a água estar fria?

– É isso mesmo o que estou pensando? Você quer entrar numa água fria, depois de fazer um amor gostoso?

Ela foi diminuindo o riso até deixa-lo leve no rosto.

– Na verdade, não. Eu acho que ainda temos mais amor gostoso para fazer e enquanto isso, a água esquenta quando você a ligar.

– Mmm. Agora entendi. Você já tinha intenções de me pegar hoje aqui.

– Entendeu certo, garota esperta. – Abriu mais o sorriso. – Agora vai lá. É só apertar os dois botões na lateral e depois você vem até aqui.

– Hum, mandona!

Levantei para ligar a tal “banheirona” e pude escutar mais um riso gostoso vindo dela, por conta do meu comentário. Eu precisava disso. Depois de voltar no tempo, relembrando tudo que me ocorreu anos atrás, eu precisava rir. Precisava amar e do conforto dos braços de alguém que me amasse. Liguei e vim caminhando de volta.

– Para. – Me pediu. – Tira o seu vestido aí e vem andando nua até mim.

Às vezes, Eva me deixava envergonhada com as coisas que pedia, ao mesmo tempo que me sentia compelida a realizar as suas vontades. Eu não era exibicionista, no entanto o jeito que me olhava me excitava enormemente.

Fitando-a, levei minhas mãos até o zíper em minhas costas e o abri. Deixei que o vestido caísse no chão. Deus! Aquele olhar que ela exibia nesses momentos me fazia arrepiar até a nuca. Comecei a caminhar na direção dela e quando cheguei perto, retirei a minha calcinha. Ela se sentou apenas observando. Tragou o ar entre os dentes e passou as mãos por meu abdômen, numa carícia sutil.

– Amo olhar você assim.

Murmurou e pegou minha mão me conduzindo para cima dela.

– Não. Assim, não. Eu quero que você venha para mim.

Eva se deitou e fez com que eu me posicionasse com a cabeça dela entre minhas coxas. Eu fiquei de joelhos na espreguiçadeira, com o corpo dela estirado embaixo de mim. Me ofereci.

A língua de Eva tocava todas as partes de meu sexo, caminhando devagar entre as dobras, através da fenda e pincelava as laterais em minha virilha. Pequenos beijos foram depositados com delicadeza e por fim, burilou meu clitóris. “Ah! Chupa, Eva!” Expressar meus desejos, além dos gemidos quando fazíamos amor, se tornava constante nos nossos momentos. Agora era ela que me engolia. Fazia minhas vontades e realizava todos os meus anseios. Lambeu meu clitóris e eu pressionava meu sexo de encontro aquela boca que me enlouquecia. Movia minha pelve no compasso que ela marcava. Empurrava mais e mais, ao ponto de fazer a aflição pelo gozo crescer absurdamente dentro de mim. Quando o orgasmo chegou, achava que não suportaria. Flexionei meu tronco, me apoiando no espaldar da espreguiçadeira, e senti as pernas fraquejarem, enquanto ela se saciava com o gozo que escorria.

****

Sete horas da manhã; o celular de Eva tocou na cabeceira. Tínhamos dormido tarde e eu havia perdido a hora. Acordei alarmada.

– Já são sete horas?

Perguntei saltando da cama, enquanto Eva falava com alguém ao telefone. Quando a escutei falar “Calma, Pepa”, parei e tentei ouvir a conversa.

– Eu já estou indo… Tá, eu te encontro lá.

– O que foi, Eva? – Perguntei assustada, vendo-a levantar e entrar no closet.

– Meu pai. Teve uma parada cardiorrespiratória agora cedo. A enfermeira reanimou e Pepa chamou a emergência. Estão levando para o hospital.

Ela falava numa verborragia. A segurei pelos ombros.

– Ei, calma! Eu te levo até lá. Se Pepa chamou a emergência, está tudo sob controle.

– É lógico que não está, Olívia! Pepa ainda não tem dezoito anos e eu deixei tudo nas costas dela. Que merda de mãe eu sou?!



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