Vontade Ferrenha.

Capítulo 10

Após o sepultamento do pai, Layse ficou o resto da tarde com a mãe. A noite tomou um banho avisando que iria dar uma volta. Foi direto até a casa de Valentina. Era noite já e viu que as luzes da casa estavam acesas. Parou diante da porta tocando a campainha. Ouviu passos e a porta foi aberta. Valentina estava com o celular na mão. Usava um vestido azul e estava linda. Layse encostou-se ao umbral da porta para conter a emoção. Como amava aquela mulher.

Valentina permaneceu olhando-a enquanto segurava a porta. Seus olhos analisaram a roupa que ela vestia atentamente. A blusa cropped que deixava a barriga à mostra causou um impacto sobre ela. Reparou na calça preta colada ao corpo. Layse calçava um tênis de duas cores.

Enquanto se despedia de Paloma, seus olhos se afastaram do corpo de Layse.

– Te ligo mais tarde. Tchau!

Guardando o celular no bolso da calça, Valentina falou:

– Oi, Layse! O que faz por aqui?

– Oi, Valentina! Vim te procurar.

– Isto eu estou vendo, só não estou entendendo o motivo de ter vindo.

– Ora, vim para te ver. Não queria me ver também?

– Não seja convencida! Isto nem passou pela minha cabeça.

– Sou convencida coisa nenhuma.

– Acha mesmo que é uma boa ideia ter vindo até aqui?

Valentina a questionou fitando-a por um momento. Logo, escapou dos olhos dela. Fitou a rua, como se o fato dela estar ali não lhe importasse, como se fosse um incomodo. E não era, mas não sabia mais se comportar diante de Layse, porque o olhar dela simplesmente a desestabilizava.

Layse nada respondeu e nem responderia, porque o que aconteceu estava mais do que óbvio, tinha enterrado o pai, estava triste e se sentia só. Muito mais, necessitava estar com ela para olhar nos seus olhos e respirar o mesmo ar que ela respirava. Raro era ter a felicidade de saber que estavam na mesma cidade e poder procurá-la. Sempre que Valentina vinha só ficava sabendo depois que partia.

– Te fiz uma pergunta. Não me diz nada, Layse?

– Digo. O meu dia está sendo cinza. Só quis vir aqui… Algo me trouxe, não sei te explicar. Podemos conversar, se você quiser. Se não for um fardo enorme para você gastar um tempo comigo.

– Conversar sobre o que aconteceu no seu quarto?

– Não me parece que você queira falar sobre este assunto.

– Não quero mesmo, porque aquilo não deveria ter acontecido. Ainda não percebeu que foi um erro?

Feita a pergunta Valentina continuou segurando a porta, aguardando pela resposta. De repente, percebendo que Layse não iria responder, respirou fundo, falando:

– Cinza, sei! Há dias mesmo muito cinzas, eu entendo. Espere um instante só, vou pegar um casaco, está ventando muito. Com licença!

Entrou fechando a porta dando a entender que não queria que ela entrasse. Layse deu de ombros enfiando as mãos no bolso da calça fitando a rua. Algumas pessoas passaram olhando para ela de forma curiosa. Naquela cidade todos davam fé de tudo.

A porta voltou a se abrir. Valentina a trancou, saindo a caminhar. Virou a cabeça perguntando:

– Não vem?

Layse tinha ficado parada por um instante admirando o corpo dela, mas já estava seguindo em seu encalço. Apertou os passos, passando a caminhar ao seu lado.

Valentina se perguntava por que ia com ela, se não queria. Caminhava olhando para o chão. Olhou para o outro lado para não olhar para Layse, depois olhou para o céu admirando as estrelas.

– O céu está repleto de estrelas. Vi quando vinha para a sua casa. E elas estão lindas, não acha?

Layse questionou admirando-a enquanto Valentina fitava as estrelas emudecida. Queria só puxar conversa com ela e a beleza das estrelas pareceu um ótimo tema. Valentina voltou o rosto fitando Layse nos olhos.

– Por que veio realmente, Layse? Não tem ninguém nesta cidade que possa te fazer companhia? Que tenha gosto em acabar com o seu dia cinza? Com este vazio e aperto que você sente? Sempre tem alguém com quem se pode contar. Não me diga que você não tem ninguém.

– Meu peito está mesmo apertado, como sabe?

– Já tive dias assim. Dias em que nada está bom, que parece que falta algo mesmo quando não falta nada. Existem pessoas que são felizes 365 dias no ano. Não entendo isto, bom, se uma pessoa convence a si mesma de que é feliz a cada segundo da vida dela, deve conseguir realizar essa proeza.

– Nunca tive um dia inteiramente cinza, este é o primeiro. Não conhecia essa sensação. Geralmente os meus dias são bons.

– Ainda bem. Pensei que acontecia sempre com você.

– Não, só hoje porque enterrei o meu pai.

– É, eu sei. Sinto muito por isto.

– Pensei em ir dormir, mas não conseguiria.

– Se ficar pensando assim, não vai conseguir dormir mesmo.

– Você não pensa quando deita?

– Ah, sei lá, muitas vezes sim, outras não. Há dias que estou tão cansada que apago logo.

– Você dorme nua? Deve ficar mais linda sem nada no corpo.

Valentina enrubesceu, e ali, na rua, com a iluminação pública não tão eficiente, seu rosto não ficou perceptível.

Layse balançou a cabeça acrescentando, pois se deu conta de que foi longe demais pelo silêncio de indignação dela. Sabia que estava indignada porque a ouviu respirando profundamente. Notou a impaciência que ela tentava disfarçar, sem se deixar afetar.

– Desculpe, minha pergunta foi indiscreta.

– Foi pior, foi bem indelicada.

– Tem razão.

– Não tem vergonha?

– Tenho não.

– Pois deveria ter. Não se pergunta uma coisa destas para uma pessoa.

– Não mesmo, mas, você não é uma pessoa qualquer.

– Bela justificativa.

– É estranho para você, não é?

– O quê? A sua pergunta foi sim!

– Não, o silêncio desta cidade. São Paulo deve ser bem barulhenta.

Valentina ficou desconcertada. Julgou que ela estava falando do mesmo assunto, quando na verdade mudará de assunto diplomaticamente. Percebeu que Layse estava fazendo de tudo para não bater de frente com ela. Ao mesmo tempo sentia uma ansiedade crescente nela, que inteligentemente, tentava disfarçar. No entanto, se Layse era inteligente, ela não ficava para trás.

– Sim, realmente é um pouco estranho porque me desacostumei daqui, mas eu amo este silêncio. São Paulo é uma cidade grande, não tem como não ter barulho. Contudo, Cielo mora no meu coração, sou parte desta cidade. O barulho de São Paulo ficará para trás quando eu voltar. 

– Lá não deve ter só barulho, deve ter também muitas mulheres.

– Exato, tem muitas mulheres sim.

– Você já se deitou com muitas mulheres?

– Céus! Você ficou muito intrometida! Quem te disse que te dou essas confianças?

– Estamos conversando, o que tem demais te fazer algumas perguntas?

– É que são coisas íntimas, também não é assim, você pergunta e recebe todas as respostas. Não, esquece!

– Vou esquecer.

– Acho melhor.

Valentina a olhou por uma fração de segundos.

– Por que não ligou para uma amiga te dar uma força?

– Tanto te incomoda que tenha preferido vir ter com você a procurar outra pessoa?

– Eu não moro mais nesta cidade. Tenho o direito de estranhar.

– Nunca fiquei sabendo das suas vindas. Se você quisesse que eu soubesse iria a minha casa como foi desta vez.

– Fui porque o meu pai me contou que o seu pai tinha falecido.

– Já sei que o seu pai te impôs que fosse. 

– Ele não me impôs! Você pensa que eu sou o quê, um bloco de gelo? O seu pai faleceu, é lógico que eu estando na cidade iria ao velório, mas que coisa!

– Tá, mas nós éramos amigas e não entendo porque não me procurou mais. Você me esqueceu depois que foi embora.

– Olha aqui Layse, não esqueci coisíssima nenhuma. Não tenho obrigação nenhuma de te procurar, é só isto. Por que o faria? Aff…

Layse enfiou a mão nos bolsos da calça incomodada com as palavras que ouviu.

– Não precisa se chatear. Até parece que não sabe mais conversar.

– Você está me cobrando e isto não faz o menor sentido. Não está percebendo o que está fazendo?

– Não estou cobrando, só estou falando a verdade…

– Não se faça de coitadinha porque eu sei o que está rolando. Você está atrás de mim feito cadela no cio. Já que está tão desesperada para transar arranje-se como puder, sem mim de preferência, porque não vim para Cielo para cuidar do seu tesão!

Layse engoliu aquelas palavras como se tivesse levado um tapa na cara. O tapa que ela havia dado quando a beijou não doeu tanto quanto aquelas palavras. Foram como chibatadas que atingiram o seu o orgulho em cheio.

Olhou-a tentando se justificar:

– Não te pedi nada…

– Ainda! Ainda não pediu, mas está na cola, está marcando em cima. Quer saber de uma coisa? Se estiver fazendo isto para contar para as suas amigas está perdendo o seu tempo. Não caio nesta coisa de adolescente boba que quer transar para aparecer para a galera.

– Não precisa me ofender.

– Se ofendi é porque você é muito emotiva! Tem que ser forte e segura. Neste mundo pessoas sensíveis se ferem por qualquer coisa. O que falei demais? A verdade doeu? Acostume-se com ela! Você não tem que ficar me rondando, não vai rolar nada entre nós. Eu não fico com meninas que querem transar só para se exibir para as amigas, me erra!

– Ah, não?

Valentina estacou sustentando os olhos dela.

– Não! É lógico que não!

Layse buscou forças onde nem soube como encontrar. Deu um sorriso frio, falando em seguida:

– Tudo bem, tem toda a razão, estou muito a fim de transar com você! Talvez eu esteja tipo isto aí que você falou: Como uma cadela no cio. Não tenho vergonha de admitir, afinal você é um mulherão e pensei que poderia ser uma boa transa. Por que não? Até me esqueci de que deve estar acostumada com mulheres vividas, que te pegam e te fazem gemer como uma puta ou uma cadela qualquer. É isto mesmo, não sou como as fodonas da capital. Sou café pequeno se comparada a elas, já saquei. Para transar com você eu teria que saber dar prazer para uma mulher. Infelizmente não devo saber, não para uma mulher tão exigente como você, que fica com qualquer uma e sabe tudo relacionado a sexo!

– Estúpida! Estúpida e ridícula! É isto que você é!

Foi pelo impacto que aquelas palavras causaram que Valentina reagiu daquela forma dando um tapa no rosto dela. Não queria machucá-la, mas odiou o que ouviu.

Depois ficou parada olhando-a para ver o que ela faria. Layse não demonstrou que o tapa doeu. Sustentou o olhar dela perguntando aparentemente calma:

– Pensa que eu não tenho sentimentos?

– O que você tem é essa sensação pulsando entre as suas pernas. Isto é tesão, é uma reação fisiológica. Não confunda sentimento com tesão.

Layse fez uma careta que Valentina não conseguiu compreender.

– Se está dizendo, deve ser isto. Você é a adulta aqui.

– Com certeza é sim. Na sua idade os hormônios estão em ebulição. Não se esqueça de que já tive dezesseis anos e não faz muito tempo.

– Esqueço não. Vamos voltar agora? Não vou mais tomar o seu tempo.

Continuaram andando. Valentina seguiu pensando no que acabara de escutar. Subiu uma coisa quando ouviu aquelas palavras que não aguentou dando aquele tapa como resposta. Não entendia porque Layse conseguia tirá-la do sério com tamanha facilidade. Nunca tinha dado um tapa em ninguém, mas, ela a enlouquecia completamente. Mesmo se não tivesse admitido que quisesse transar, sabia que aquela era a intenção dela. Via o desejo saltando dos seus olhos. Era um puta de um desejo que a perturbava a ponto de mal conseguir sustentar aqueles olhos. Parecia que via labaredas de fogo saltando deles. Tão impressionante era, que Layse não precisava falar, os olhos falavam, gritavam o que ela ansiava e queria dela. Podia imaginar a buceta dela encharcando a calcinha tamanha a excitação que demonstrava enquanto a devorava com aqueles olhos pidões. Havia sedução naqueles olhos e sabia, sentia pela reação do seu próprio corpo que Layse era boa em fazer aquilo. Pois, para sua revolta maior, estava completamente excitada. Tanto quanto ela. Isto sem que tivessem se tocado.

Layse caminhava engolindo seu orgulho. Valentina não fazia ideia como fervia por dentro. Até chegarem a casa não trocaram uma única palavra. Layse foi com ela até a entrada. Valentina pegou a chave destrancando a porta. Abriu-a entrando e voltou-se a fitando por um instante.

– Se falei algo que te magoou não leve a mal. Acho que peguei pesado, mas você precisava cair na real.

– Por que eu levaria a mal se só me disse verdades?

– Espero que o tapa não tenha… Ah, eu fui horrível com você! Desculpa, não sei o que me deu.

– Tem nada não.

– Ufa, que alívio! Que bom que não ficou magoada comigo.

– Se tivesse me magoado faria alguma diferença para você?

– Layse, por favor, já esclarecemos as coisas. Você precisa ir descansar agora.

– Do que preciso, eu que sei.

– Tudo bem, mas eu preciso entrar. Boa noite!

Valentina estava fechando a porta, mas Layse travou-a com o pé forçando a entrada. Empurrou a porta para fechá-la após passar. Envolveu o corpo dela em seus braços, vendo-a olhando-a admirada. Desta forma, puxou-a para o sofá, sentando ao seu lado beijando-a desvairadamente. Surpresa e ainda aturdida, Valentina não conseguiu reagir.

Continua…

“Alguns dizem que o amor é um rio, alguns dizem que o amor é uma música boba, alguns dizem que o amor está ao nosso redor, nos eleva para onde pertencemos, alguns dizem que o amor é ouvir risadas durante a chuva, mas… Todos nós sabemos que o amor é um sofrimento.”

Gossip Girl.



Notas:



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2 Respostas para Capítulo 10

  1. A Layse vai ter que possuir uma vontade ferrenha mesmo viu, porque a valentina não é brincadeira não…sujeita mais bravinha rsrsrsrrs

    • Olá, Sophiebrt!

      Cada mulher é de um jeito. Eu entendo a Valentina e percebo que ela não quer magoar a Layse. Por isto ela tenta afastá-la de uma forma não muito gentil. Mas como todo mundo erra, não seria ela a primeira a fazer tudo certinho. =D
      Muito obrigada!

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