Era perto das duas da madrugada quando eu vi as duas passando pelas portas de vidro da delegacia. Alex com um jeans rasgados nos joelhos e na coxa esquerda, uma jaqueta preta por cima de uma regata azul grande demais para ela e que eu sabia ser da minha outra mãe. Ela ainda tinha seus inseparáveis óculos escuros presos no cabelo que, depois de muito tempo, estava voltando a ser castanho. Ao lado dela, segurando sua mão direita, estava Erika.
A lutadora usava uma calça solta da addidas e um tênis baixo de corrida, ambos pretos. O moletom branco tinha o símbolo da academia dela discretamente bordado sobre o peito esquerdo e estava fechado quase por completo. Logo atrás dela entrou o advogado, Joshua era advogado da família além de trabalhar para Alex com a gravadora. Ele passou direto para a mesa da recepção, mas minhas mães vasculharam o lugar com os olhos me procurando.
Me levantei e senti Jill se levantando junto comigo. No mesmo instante em que me viram as duas quase correram na minha direção e fui abraçado por ambas. Alex logo a minha frente, ficando um pouco menor que eu, e Erika por trás dela abraçando a nós dois ao mesmo tempo. Assim quem e soltaram Erika segurou meu rosto com suas mãos tocando a parte que já deveria estar começando a ficar levemente roxa. Ela apenas me olhou com uma expressão preocupada enquanto acariciava meu rosto e eu segurei suas mãos lhe dando um sorriso calmo.
– Como você está? – perguntou Alex segurando meu ombro esquerdo ao mesmo tempo em que eu abaixava as mãos de Erika.
– Estou bem, mãe. Não tem que se preocupar – digo calmo olhando para ela e, vendo a expressão desolada de Alex, solto as mãos de Erika e passou um braço em volta dos ombros da minha mãe – Está tudo bem mamãe, não me aconteceu nada demais – digo tentando passar calma para ela que parecia estar a beira de explodir, ou em uma crise de choro ou em uma crise de raiva.
– Jill – disse Erika notando minha amiga pela primeira vez e a puxando para um abraço também – Você ficou esperando com Arthur?
– Fiquei – disse ela dando um abraço em minha mãe com um sorriso no rosto – Não quis deixa-lo sozinho esperando vocês e, como já estava aqui, decidi ficar.
– Mesmo que não precisasse – reforcei enquanto elas se soltavam e Alex ia dar um abraço em Jill também.
– Você estava quando aconteceu? – perguntou Alex mantendo uma mão nos ombros de Jill depois do abraço.
– Infelizmente não – disse Jill ficando séria – Se estivesse garanto que os idiotas não iriam ter coragem de enfrentar a gente. Apenas dois amigos nossos estavam, mas Carlos não saberia se defender e Lilli muito menos.
– Não se culpe – falou Erika passando a mão pelos cabelos de Jill e por seu rosto também, como costumava fazer comigo quando eu estava chateado – Talvez tenha sido até melhor assim. Caso contrário vocês dois poderiam ter se machucado.
– Senhoras – falou Joshua, o advogado, se aproximando de nós – Uma de vocês precisa assinar os termos de responsabilidade devido ao Arthur ser menor de idade. Precisam deixar claro que estão cientes do que aconteceu.
– Eu vou – disse Erika dando um beijo na minha testa, um na testa de Jill e um selinho em Alex antes de se afastar.
– Sua tia Melissa mandou avisar que vai te acertar um tapa quando te ver por ter nos feito acordá-la no meio da noite – contou Alex dando um riso baixo – Mas disse também que se achar esse garoto que provocou você é bom que ele esteja avisado que vai levar uma boa surra – ela completou fazendo Jill e eu rirmos.
– Não precisavam ter acordado a Tia Mel – falo ainda sorrindo.
Alex nos explicou que precisavam sim porque se não fossem elas poderiam ser os primeiros repórteres querendo informações oficiais assim que descobrissem sobre a presença delas na delegacia. No fundo eu sabia que elas tinham razão em fazer isso. Olhando em volta pude notar como a delegacia tinha praticamente parado para assistir a presença das duas. Era impossível não reconhece-las e eu podia ver muitos celulares discretamente apontados na nossa direção.
Depois de tudo assinado Erika voltou para perto de nós e, assim que chegou, a mão de Alex circulou a cintura dela. Joshua foi até a porta ver como estavam as coisas do lado de fora, voltou dizendo que aparentemente os paparazzi ainda não haviam descoberto elas. Disse que iria buscar o carro que as trouxe do aeroporto, mas disse que meu carro estava do lado de fora e poderíamos voltar nele. Erika então dispensou os serviços do advogado dando apenas algumas orientações do que ela queria que fosse imediatamente feito.
Joshua tinha ordens para dar prosseguimento à denúncia de agressão e entrar com um processo contra Mattheus por lesão corporal e o que mais ele conseguisse caracterizar. Dei a chave do Dodge para Erika que me deu um beijo na testa. Alex abraçou Jill outra vez agradecendo-a por ter ficado ali por mim e, logo depois, Erika fez o mesmo. Quando as duas se afastaram um pouco Jill e eu ficamos frente a frente.
– Você não precisava ter ficado, mas eu agradeço que tenha – disse com um sorriso muito mais calmo.
– Claro que eu precisava – ela me disse com um suspiro cansado – Você é meu amigo, Arthur. E eu não costumo ter muitos amigos.
– Eu diria que tem vários aqui – falei e ela logo entendeu que eu fiz referência à Carlos, Lillian, Frederick, Louis e Georgia.
– Talvez tenha mesmo – ela respondeu com um sorriso – Mas não confio tanto neles quanto confio em você – ela me respondeu – Apesar de adorar Carlos e Lillian, acho que posso dizer que meu melhor amigo é você, mesmo que a gente se conheça pouco ainda.
– Fico feliz com isso – digo sorrindo e a puxo para um abraço – Obrigada mesmo por ter ficado – falo ainda segurando, então a solto – Melhor você sair antes de nós. Vá pra casa descansar, qualquer coisa eu te aviso.
– Certo – ela concordou comigo pegando o capacete que estava em cima das cadeiras onde tínhamos estado sentados – Eu vou avisar Carlos e Lillian sobre você estar bem e que tudo deu certo – ela me falou de uma forma um tanto preocupada.
– Chame-os para ir lá em casa amanhã – falo notando que a preocupação dela era também se deveria falar sobre minhas mães ou deixar que eles descobrissem pelas notícias – Chame todos eles. Quero contar tudo antes da mídia resolver distorcer algo. Além de que preciso dizer tudo o que aconteceu para o James também.
– Tudo bem, amanhã estaremos na sua casa. Vou garantir que todos compareçam – ela concordou com a cabeça e se aproximou de mim dando um beijo no meu rosto – Até amanhã, Art. Se cuide – ela disse antes de sair passando por minhas mães e dando mais abraços nelas antes de ir para a porta.
Eu acompanhei com o olhar e então soltei um suspiro antes de pegar minha jaqueta e seguir até minhas mães. Vesti a jaqueta e senti o braço de Alex passar pela minha cintura por baixo da jaqueta quando ela se colou ao meu lado direito e eu passei meu braço sobre seus ombros. Logo em seguida o braço de Erika envolveu meus ombros e ela se juntou ao meu lado esquerdo comigo envolvendo sua cintura. Saímos da delegacia assim.
Ninguém apareceu em nosso caminho até meu carro, Erika se sentou no banco do motorista e eu fui para o banco de trás. Saímos do pátio da delegacia e fomos para casa. Não falávamos nada, estávamos todos cansados. Eu estava quase cochilando no banco de trás, mas ainda notei a mão de Alex indo até o rosto e pescoço de Erika fazendo um carinho nela. Logo depois Erika segurou a mão da esposa levando-a aos lábios e deixando um beijo demorado na palma sem desviar os olhos da estrada. Fechei meus olhos com o pensamento de que, não importando o que acontecesse, havia uma única certeza que eu sempre teria na vida. A de que minhas mães se amavam verdadeiramente assim como me amavam da mesma forma.
Apenas no dia seguinte descobriríamos que haviam fotógrafos do outro lado da rua esperando para terem fotos boas o bastante para comprovar que eram elas saindo da delegacia.
