Who You Are

Capítulo 30 – Perguntas e Respostas

O salão do hotel era grande, pude ver quando deixei a sala para tomar um pouco de ar e espiei por entre as cortinas. Várias mesas estavam afastadas nos cantos, as cadeiras formavam dez ou doze filas com dez acentos cada, eram de madeira com um estofado cinza no acento. Sobre o palco estava uma mesa retangular e comprida, quatro cadeiras atrás dela, quatro copos posicionados sobre a toalha branca. Algumas cadeiras estavam sendo colocadas no canto oposto do palco, parcialmente escondidas pelas cortinas opostas. Havia uma movimentação na entrada, mas tudo o que eu podia distinguir eram os ternos pretos enormes em frente a um cordão de isolamento e o movimento em frente a eles.

Voltei para a sala onde estavam todos e me sentei no chão embaixo da poltrona onde minhas mães haviam sentado juntas. Não demorou para que os ruídos de pessoas entrando e se acomodando nas cadeiras surgisse. Logo depois Melissa surgiu pedindo para que meus amigos a acompanhassem que ela os colocaria sentados perto da nossa mesa. Cinco minutos depois foi a nossa vez de sermos conduzidos. Paramos no limite das cortinas vermelhas e Tia Melissa soltou um longo suspiro ouvindo algo pelo fone. Ela entrou primeiro pedindo para que eu esperasse, seria o último.

Sussurros se espalharam pelo salão quando ela apareceu, a voz autoritária dela pediu silêncio dizendo que apenas quando ela autorizasse os jornalistas poderiam fazer perguntas. A lutadora estava como sempre, um tênis preto, uma regata branca e o conjunto do agasalho com o emblema de sua academia. A guitarrista também estava no seu normal, jeans azul desbotado incrivelmente sem rasgos, um all star branco, uma camisa azul clara e a jaqueta azul escuro por cima.

Minhas mães entraram depois,novamente o som de vozes sussurradas e murmúrios preencheu o ambiente numa mistura pouco agradável. Erika se sentou numa das pontas da mesa, Melissa estava em outra e Alex se sentou ao lado da esposa do melhor amigo. A cadeira restante para mim ficava entre as duas e eu agradeci por isso. Respirei fundo quando fui chamado e entrei de cabeça erguida ocupando o lugar entre minhas mães. Melissa controlou o burburinho que se formou com a minha entrada exigindo silêncio por um microfone. Reparei nos jornalistas a minha frente, vários estavam sentados, mas haviam alguns em pé, um pouco afastados das cadeiras sob um olhar atento dos seguranças.

Melissa explicou que seriam permitidas um número reduzido de perguntas porque não tínhamos o dia todo. Um dos seguranças apareceu com um bloco de notas e outro com um pote transparente.Ela pediu que cada um pegasse um papel, escrevesse seu nome e quem estava representando e dobrasse o papel duas vezes antes de colocá-lo no pote. Durou poucos minutos e logo o pote foi posicionado em frente a ela, sobre a mesa.Então o microfone foi estendido a mim, era a hora da minha declaração pública antes das perguntas.

– Boa tarde a todos, de certa forma agradeço a presença, mas acredito que é apenas o trabalho de vocês – disse contra o microfone e pude ouvir minha voz se espalhar pelo salão –Primeiramente, gostaria de esclarecer o motivo de ter me mantido longe dos holofotes e flashes por todos esses anos. Foi uma escolha minha, porque queria apenas ter uma vida mais normal. Tanto quanto sempre incomodou minhas mães o excesso de exposição com o qual elas eram obrigadas a conviver, também me era algo inconveniente. Com os esforços delas em me manter longe disso tudo passeia realmente sentir essa vontade e, assim que compreendi todas essas questões de pessoas famosas entre outras, decidi que não queria me expor com elas. Não há nenhuma razão por trás disso além do meu desejo de poder agir e de ser tratado como qualquer outro garoto. Entretanto, no momento, compreendo que por mais que queira, esse meu ‘anonimato’ não poderia ter durado eternamente, o que nos leva a questão que trouxe todos vocês aqui. Na noite de sexta para sábado fui visto,junto de minhas mães, saindo de uma delegacia. O motivo que me levou até lá foi uma denúncia que eu apresentei as autoridades naquela noite, por ser menor deidade só pude ser liberado depois de todos os esclarecimentos com a presença de um responsável. O conteúdo da denúncia não vem ao caso no momento. É um processo do qual todos podem tomar conhecimento pela justiça e pelas autoridades, não pretendo dar declarações a esse respeito enquanto tudo não for julgado e tiver seu desfecho. No mais, acredito que não há nada além a ser dito, exceto pedir que vocês não invadam a minha vida privada ou a das pessoas próximas a mim para criar falsas histórias. Vivi meus 17 anos até hoje em anonimato e sem ser perseguido e gostaria que as coisas voltassem a ser dessa forma.

Um silencio perdurou por alguns momentos, até que Tia Melissa esticou a mão para pegar o microfone que eu lhe entreguei e ela anunciou que quatro pessoas seriam sorteadas para fazer perguntas. O pote com os nomes dos jornalistas foi passado para Erika que puxou o primeiro papel. Era um homem de meia idade que trabalhava para uma coluna de fofocas em um jornal da cidade. Ele se ergueu da cadeira, se apresentou mais formalmente e fez a pergunta.

– Você tem duas mães famosas – ele começou e o tom já não agradou a nenhum de nós – Como um adolescente da sua idade, porque continuou até hoje mantendo em segredo que é filho delas e só revelou esse fato quando precisou da influência das duas na questão da denúncia contra o filho mais velho da família Corbb?

Ouvi o movimento dos meus amigos em suas cadeiras, mas não desviei o olhar. Senti também a mão de minha mãe se fechar em punho sobre a mesa, mas os olhos azuis se mantiveram inexpressivos encarando o jornalista. Do meu outro lado, porém, mamãe parecia a ponto de se levantar e partir para cima do homem. As duas viraram os rostos na minha direção ao mesmo tempo esperando que eu me posicionasse ou que eu permitisse que elas respondessem. Me apressei a negar que elas fizessem algo e encarei o sujeito que mantinha a expressão profissionalmente neutra. Tomei uma longa respiração antes de começar a falar.

– O senhor está pressupondo que eu sou uma criança mimada que quer a atenção dos pais – falei em tom tranquilo,mas não menos desgostoso – Antes de tudo, minhas mães me criaram muito bem para que eu fosse capaz de entender que não é correto se utilizar da fama de alguém ou da própria para obter vantagens ou atenção. Mas o ponto mais crítico da sua pergunta é que ela parece considerar que a denúncia que fiz precisa da influência de alguém para se sustentar. A única coisa para a qual foi necessária a presença das minhas mães na delegacia naquele dia foi para que me liberassem, por eu ser menor de idade. Quando a polícia investigar e apresentar os resultados dessa investigação você vai compreender melhor que o Senhor Corbb cometeu um crime e que tudo o que eu fiz foi exigir, no meu direito, que ele fosse punido pelas atitudes erradas. Como qualquer cidadão tem o direito de denunciar algo errado que presencie eu me utilizei do meu naquela circunstância.

Ele tentou falar algo mais,entretanto a voz de Melissa nas caixas de som pedindo que se sentasse o cortou e Erika passou o pote para Alex que fez o mesmo processo e entregou o papel dobrado para Tia Melissa que leu o nome. A mulher, de um jornal local,questionou o conteúdo e o motivo da denúncia que fiz contra a “Família Corbb”,como se eu estivesse tentando, de alguma forma, atingir alguém e não apenas exigindo justiça. Reforcei que não iria falar sobre a denúncia ou nenhum dos fatos envolvidos nela até que as autoridades se pronunciassem e Tia Melissa cortou-a antes que ela tentasse dizer algo mais.

Melissa retirou o próximo papel e o repórter quis saber o se eu tinha algo contra Mattheus para fazer uma denúncia a polícia, novamente respondi que não falaria a respeito disso e peguei o próximo nome. Era de um repórter de uma revista de ‘atualidades’, mas que só se preocupava mesmo em publicar histórias dos famosos, fossem elas falsas ou não. Eu diria que o repórter tinha em torno de 25 anos e carregava um gravador que parecia já estar ligado quando se levantou indo diretamente para a pergunta.

– Eu tenho informação de fontes sigilosas a respeito do seu envolvimento com pessoas de índole duvidosa e seu provável envolvimento com substâncias ilícitas. O que tem a dizer sobre isso? – ele me perguntou com um sorriso divertido e convencido no rosto como se tivesse certeza de que havia me colocado em uma posição desconfortável.

Notei todos a minha volta ficarem tensos, principalmente minhas mães e meus amigos, mas mantive a calma e segurei as mãos de Erika e Alex que estavam próximas as minhas por um segundo antes de soltá-las e encarar o repórter.

– Sinto informar que o senhor precisa encontrar uma fonte mais confiável, ou talvez confiar menos em fontes sigilosas – respondi com um sorriso contido – Nunca me envolvi com drogas nem qualquer outra substância lícita ou ilícita do tipo.

– Mas não pode negar os fatos, está envolvido com pessoas de caráter duvidoso, ou melhor, pessoas conhecidamente de origem não bem vista – rebateu o repórter e pudemos notar o olhar dele se dirigir para as cadeiras onde estavam meus amigos.

Jill quase se levantou da cadeira, mas o braço de Lillian sobre sua cintura a impediu de sair do lugar. Carlos se encolhia na cadeira olhando para os pés e o resto deles se entreolharam e me encaravam desconfortáveis. Enquanto eu os encarava Tia Melissa se intrometeu e disse que o repórter não poderia fazer mais de uma pergunta, ele respondeu que eu ainda não havia respondido a pergunta dele e que não havia feito nenhuma outra e os dois pareciam estar para entrar em um pequeno debate, mas me levantei empurrando a cadeira para trás provocando o irritante barulho dos pés do móvel arrastando no chão.

– Tia – a chamei num pedido mudo para que me deixasse falar e então voltei meu olhar para o repórter – Senhor –comecei com um tom irônico que não pude controlar – Diga-me, se você nascesse numa família pobre, isso faria de você uma má pessoa? – perguntei e ele me encarou confuso.

– Senhor Anderson, eu gostaria deu ma resposta a minha pergunta inicial – o repórter falou tentando sustentar o sorriso de antes.

– É exatamente o que estou tentando fazer, para isso preciso que me responda – disse deixando um sorriso claramente falso surgir em meu rosto.

O homem me encarou sem graça,depois voltou seu olhar para as cadeiras a sua volta notando os diversos pares de olhos o encarando em espera pela resposta. Quando se virou para mim novamente, ajeitando a roupa em seu corpo ele respondeu que ‘obviamente não’.

– Então, por qual motivo você e suas “fontes sigilosas” – fiz aspas com as mãos – Pressupõem algo do tipo a respeito dos meus amigos? – todos me encaravam naquele momento, eu podia ver alguns olhares culpados, outros indignados, mais tantos entediados e até alguns nitidamente revoltados; o repórter que me fez a pergunta estava entre o último grupo – Assim como não diz nada sobre você, a origem de uma pessoa também não diz coisa alguma sobre meus amigos. Então, antes de usar sua imaginação para criar fatos inventivos e falsos, sugiro que passe a usá-la para coisas mais úteis para o resto da humanidade. Inventar boatos não os faz reais, mas cria-los e divulga-los pode causar sérios danos para as pessoas envolvidas neles. Então, da próxima vez, porque não tenta usar fontes confiáveis que não tenham medo de aparecer e confirmar suas informações e não usar fontes sigilosas que, claramente estão mentindo, sem pensar a respeito ou confirmar as informações que recebe? – devolvi o microfone para Tia Melissa dando aquela entrevista por encerrada e me virei deixando o repórter ainda sem reação e coma mesma expressão furiosa e revoltada, mas antes que eu conseguisse dar um passo sequer uma voz ao fundo do salão se fez ouvir sobre o silêncio do lugar.

– Já que estamos falando de confirmar informações, o que tem a declarar sobre o fato de estar usando sua privacidade como desculpa para não ser ligado a um casal de lésbicas para o público em geral por vergonha ou medo de se assumir? – disse um repórter desconhecido.

N/A: VOLTEI!

Geeeente, fiquei tanto tempo sumida que esse site mudou quase tudo pra publicação do novo capítulo kkkkkkk Espero que eu esteja fazendo tudo certo porque não vou poder corrigir nada hoje =P

Com um pequeno presentinho de Natal pra vocês. Espero que gostem.

Um feliz Natal pessoinhas, com muito amor e alegria pra todos nós. E que 2019 seja como aquela comida exótica que a gente experimenta pela primeira vez achando que vai ser péssimo e já fazendo cara feia, mas que depois descobrimos que é uma delícia.

Até ano que vem

Bjinhos

;]



Notas:



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2 Respostas para Capítulo 30 – Perguntas e Respostas

  1. Ôlaaaa…
    Que bom que voltou, obrigada por não abandonar a história e espero que suas notas na faculdade sejam as melhores, porque não é justo me deixar esperando o semestre inteiro ??.
    Brincadeira ?

    • Não vou abandonar mesmo =]

      Mas as atualizações aqui serão mensais até o fim de Argentum

      ;]

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