Mulheres na Literatura – Voz

Seguimos homenageando as Mulheres. Dessa vez trazemos Conceição Evaristo. Vale a pena conhecer sua obra.

VOZ

“O meu texto é um lugar onde as mulheres se sentem em casa.”  – Conceição Evaristo –

Quando me debrucei sobre a escrita dessa mulher, senti vertigens. Devia ter me preparado melhor para o impacto dessa voz. Tolice. A sua imagem já delineia a sua força; suas palavras escancaram o cotidiano do negro nesse solo. Surpreendo-me com a doçura das histórias, rudes, vibrantes, cruas, poéticas.

Conceição Evaristo é uma das maiores autoras nacionais afro-brasileiras que, em suas obras de poesia, ficção e ensaio traz a notória valorização da cultura negra e a imprescindível análise do panorama social brasileiro. Mineira, de origem humilde, nasceu em 1946; mudou-se para o Rio de Janeiro, na década de 1970, graduou-se em Letras pela UFRJ e trabalhou como professora na rede pública fluminense. É Mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro e Doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense.

Ponciá Vicêncio é uma de suas obras mais célebres e acompanha o percurso de vida da protagonista, descendente de escravos, do meio rural até à periferia urbana. A autora, narrando essa diáspora, propõe reflexões sobre o presente e o passado, deixando evidente uma herança de exclusão e marginalização.

Militante dos movimentos sociais, Conceição Evaristo imprime na sua poesia marcas de discriminações raciais, de classe e de gênero. Ela questiona a representação das identidades negras na literatura nacional, expõe os preconceitos que continuam presentes na cultura e no imaginário do povo brasileiro.

A autora também chama a atenção para a situação vulnerável das mulheres negras, através da denúncia das desigualdades; mulheres oprimidas simultaneamente pelo racismo e o machismo da sociedade.

A literatura de Conceição Evaristo é sinônimo de representatividade e, através dela, uma mulher negra reflete sobre a sua condição social e as lutas inerentes que trava.

Vozes-mulheres

A voz de minha bisavó

ecoou criança

nos porões do navio,

ecoou lamentos

de uma infância perdida.

A voz de minha avó

ecoou obediência

aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe

ecoou baixinho revolta

no fundo das cozinhas alheias

debaixo das trouxas

roupagens sujas dos brancos

pelo caminho empoeirado

rumo à favela.

A minha voz ainda

ecoa versos perplexos

com rimas de sangue

e

fome.

A voz de minha filha

recolhe todas as nossas vozes

recolhe em si

as vozes mudas caladas

engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha

recolhe em si

a fala e o ato.

O ontem – o hoje – o agora.

Na voz de minha filha

se fará ouvir a ressonância

o eco da vida-liberdade.

Poemas da recordação e outros movimentos (2008)

Ler Conceição Evaristo é imprescindível nesses estranhos tempos.

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Fontes:

http://www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/188-conceicao-evaristo

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